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Annecy, França — 1994

ELLA COLEMAN

Eu sempre soube dos negócios ilícitos do meu pai e tudo que me confortava era saber que ele jamais tirou a vida de ninguém. Ter sido um dos maiores agricultores a exportar trigo para fora do país foi uma jogada de mestre para Louis Coleman, que usou disso para que o esquema de tráfico de drogas se intensificasse por diversos territórios. Eu jamais imaginei

que casaria tão cedo e muito menos que fosse com o homem por quem eu tinha grande repulsa por saber de quem se tratava, mas ao conhecê-lo fui tomada por uma sensação que fez com que meu coração batesse intensamente

e um sentimento avassalador tomasse conta de todo o meu ser.

Quando ele decretou que não se casaria com Jamilla, eu tentei ir contra tudo que estava sentindo, pois sabia que ela havia sido preparada semanas atrás para

que viesse a se casar com ele. Os meus pais não ousaram a ir contra a escolha do temido chefe da Sacra Corona e meu casamento logo chegou e toda felicidade que estava sentindo só duplicou com a notícia da minha gravidez.

Meses de muita ansiedade se passaram e no instante em que peguei o meu pacotinho de amor nos braços, já não conseguia explicar tudo que estava sentindo, o quanto o meu coração estava transbordando de tanta alegria, era tanta felicidade que parecia que o espaço dentro do meu peito era pequeno para acomodá-lo.

Dias de grandes emoções, semanas de aprendizados e meses da mais pura felicidade até que esta foi substituída por uma tristeza que parecia não ter fim quand... Meus pensamentos são interrompidos quando ouço a voz da minha

irmã.

— Ella! Olha quem eu trouxe — em meio a tanta tristeza, foi o amor que sinto por aqueles que ainda estão ao meu lado que não me deixou sucumbir à dor. Esboço um largo sorriso ao ver Jamilla com o meu pequeno tesouro em seus

braços. Sei que não está sendo fácil para ela ter sido a única sobrevivente do incêndio que tirou a vida das duas pessoas que tanto amávamos. Faz exatamente dois meses que tudo aconteceu e Louis atendeu de imediato ao meu pedido para que ela viesse morar conosco. Afasto as lembranças e ao estender os braços na direção dos dois, um sorriso banguela surgiu no rosto

lindo de king.

Embora o meu esposo insista em dizer que ele puxou a mim, tirando os belos olhos azuis, ele é a cópia em miniatura do pai. Sem contar que para uma criança de um ano, seu temperamento é forte. É como se ele sempre soubesse exatamente o que queria: colo ou carrinho, dormir ou ficar acordado, sorrir ou chorar. Tirando eu e Louis, era difícil para alguém conseguir acalmá-lo e não foi diferente com a chegada de Jamilla. Toda vez que ela chegava próximo a ele, a pequena criança acabava por dar um choro irritadíssimo, mas minha querida irmã com o seu jeitinho, foi ganhando território e hoje sinto que ele já está se acostumando com a sua presença. Apreço-me em pegá-lo, já que ela não faz nem duas semanas que tirou o gesso do braço.

— Você sabe que não pode pegar peso.

— Eu já estou boa e como ele acordou, acabei o pegando para trazer até você.

—Vem aqui com a mamãe, meu amor — o seguro e ao levantá-lo um pouco no ar, ele logo começou a sorrir. O trago para junto de mim, distribuindo vários beijos em seu rosto. Em meio a suas gargalhadas, volto minha atenção por

alguns segundos para Jamilla.

— Ella, você amava tanto cavalgar. Não sente falta?

Logo me veio as lembranças de quando ainda morava com os meus pais e meus olhos marejaram. O meu pai me ensinou a montar, algo que Jamilla não conseguiu aprender, pois desde que caiu, acabou por criar uma espécie de trauma. Eu, desde os meus 10 anos, ao estar em cima de um cavalo, me sentia

feito um pássaro e começava a fazer graça, abrindo os braços como se fosse alçar voo. O rosto da minha mãe sempre se cobriu de nostalgia, pois se lembrava da sua infância. Ao contrário de Jamilla, eu havia herdado o amor pela terra e assim como os meus pais, era muito boa com a plantação.

— Louis, algum tempo atrás, comprou alguns Selle français, porém, com tudo que aconteceu, não tive tempo para conhecê-los.

— Não vejo a hora em vê-la em cima de um. Sei que são cavalos usados para esportes hípicos e todos vão saber como a pequena Ella é uma verdadeira amazona. Sorrio com suas palavras, mas o ciumentinho do meu filho não estava gostando

nem um pouco de dividir minha atenção com sua tia.

— Vou dar um banho nele, logo Louis chegará de viagem.

— Vou dar uma passada na cozinha para ver como está o andamento do jantar.

— Obrigada!

— Não precisa agradecer, você é a minha irmã favorita.

Dou uma gargalhada e antes de ela sair, digo.

— Engraçadinha, sou a única que você tem.

Com passos lentos, ela caminhou para fora do lugar, ainda estava andando com dificuldade, pois havia machucado o pé esquerdo. Minha querida irmã era uma guerreira e ao ver como ela está enfrentando tudo que aconteceu, me alegra por saber que mesmo amando tanto os nossos pais, assim como eu, Jamilla não

deixou a amargura tomar conta do seu coração. Ela acabou renascendo de novo, pois ao contrário deles, que dormiam no primeiro quarto, ela por estar no último, teve a chance de reagir e acabou se jogando pela janela antes que o fogo tomasse conta do ambiente. Como consequência do seu ato, além de ter fraturado um dos braços, acabou por torcer o pé esquerdo.

Decidida a deixar esses pensamentos de lado, caminho até minha cama, onde está meu tesouro, retiro em seguida a roupa do meu filhote e antes de seguir para o banheiro, meu olhar ficou cravado nos dois porta-retratos em cima do

móvel luxuoso perto da cama. Havia uma foto onde eu estava com meu esposo e o nosso filho, no outro, os meus pais e Jamilla. Fiquei ali por alguns segundos,olhando fixamente para aquela imagem, tentando conter as lágrimas que teimavam descer pelo meu rosto, entretanto, um único pensamento ocupava a

minha mente.

"Jamilla, tenha certeza que farei de tudo para que você seja muito feliz".

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