05

Annecy, França – 1996

ELLA COLEMAN

O tempo passou tão rápido, parece que foi ontem que o meu filho mal conseguia se sustenta nas próprias pernas e balbuciava somente algumas palavras, mas hoje, para uma criança de três anos, King parece que engoliu um gravador. Além de ser muito tagarela, o sapeca é muito inteligente, no entanto, seu temperamento forte e agressivo está me incomodando. Embora tão pequeno, sempre tenho que repreendê-lo porque ele vive dizendo que não gosta de Jamilla e quando tenho que assumir uma postura mais severa, ele sempre fala que ouve vozes o mandando dizer que elas não gostam dela porque é uma pessoa ruim.

Sei que preciso ter paciência para lidar com essa situação e fazê-lo entender que tudo isso é só fruto da sua imaginação, ele simplesmente tem ciúmes da sua tia, principalmente quando está perto de mim. Todavia, esses dois anos que se passaram foram carregados de muita felicidade e Emily, assim como Liam, estão radiantes, já que finalmente o sonho de ser pais se realizou e daqui a dois meses a minha doce amiga terá em seus braços as suas filhas, que mesmo antes de nascer, já são amadas por todos, sem contar que Liam vive esboçando um ar triunfante durante nossos encontros, pois sempre diz que demorou, mas o tiro certeiro foi dado, acertando dois alvos.

Maya e Mia chegarão para aumentar essa grande família e depois de tudo que eles passaram para viver esse amor, este sem dúvida é o maior presente que poderiam receber da vida.

Emily me contou toda a história de como teve que escolher entre sua família e Liam, já que seu pai foi totalmente contra essa união. Ela não deixou somente o seu lar, deixou o país que tanto amava, pois, a força do amor era muito maior que tudo. Em homenagem a sua mãe, que faleceu ano passado, eles decidiram que a menina que nascer primeiro vai receber o nome da sua avó, "Maya".

— Amore mio.

Deixo as lembranças de lado e me concentro no meu esposo. Louis como sempre está impecável, os cabelos bem alinhados e um terno sob medida, sem contar que o perfume do meu marido me deixa enfeitiçada. Ele encurtou a distância e suas mãos logo enlaçam a minha cintura, me puxando para junto dele, beijando em seguida o meu pescoço.

— Achei que sairia só mais tarde. Hum... — solto um gemido quando ele enfiou uma de suas mãos por debaixo do meu vestido, deslizando-a em seguida para dentro da minha calcinha, usando seus dedos ágeis e dando ao meu clitóris o estímulo que fez meu corpo ferver de tanto desejo.

— Tenho uma reunião em Genebra — respondeu enquanto continuava a explorar o meu sexo e embora a cidade ficasse em outro país, a distância se resumia a minutos.

— Quando eu chegar, teremos aquela conversa com a sua irmã — falou no instante que seus dedos pararam de se mover.

— Não podemos obrigá-la a se casar sem a sua vontade — digo firme, sabendo que nem sempre as mulheres nesse mundo da máfia têm tanta sorte quanto eu e Emily.

— Mas já está na hora de ela construir a sua família e tenho certeza que Leonel será o bom partido — falou num tom seco.

Leonel era um empresário bem renomado que conheceu minha irmã meses atrás no aniversário do nosso filho e ficou encantado pela beleza de Jamilla, só que ao contrário dele, eu não vi nenhuma demonstração de interesse da parte dela.

— Só peço a você que a deixe escolher o que é melhor para a vida dela. A minha irmã já sofreu muito com a morte dos nossos pais — ele não disse mais nada sobre o assunto, aproximou a sua boca da minha e me deu um beijo ardente que abalou todas as minhas estruturas.

Horas mais tarde...

— Vamos Ella, será bom para ele um passeio ao ar livre.

Jamilla adentrou o quarto e já estava com a bolsa de King em mãos. Olhei para o relógio na parede, já eram quase 16 horas, Louis de certo chegaria antes que o sol se pusesse e como ela disse que seria bom para o king ficar longe das paredes dessa fortaleza, resolvi aceitar.

— Está bem, você venceu — falo levantando as mãos em sinal de rendição e ela começou a sorrir.

Instantes depois...

O trajeto até o estábulo durou quinze minutos, a propriedade tem cerca de 400 hectares e um estábulo que abriga 20 cavalos puro-sangue. Quando chegamos ao lugar, o meu cavalo já estava pronto, mesmo tentando disfarçar, não passou despercebido por mim o olhar de Elói para Jamilla, ele era um dos tratores de animais e muito bem afeiçoado por sinal. Peguei o Tornado e seguimos para o local onde já estava preparado para que ela ficasse com King.

— Eu quero ir mamãe.

— Você vai ficar com a sua tia e vai ver como o Tornado e a mamãe, fazemos uma bela dupla juntos e assim que ficar maiorzinho, eu vou te ensinar a cavalgar.

Ele começou a bater palmas, eu podia ver seus olhos brilharem. Enquanto eles se acomodaram, montei em cima do meu cavalo. Tornado parecia inquieto, o que achei estranho, mas assim que já estava equilibrada sobre a cela, disse:

— Vamos lá garotão — feito, usei as pernas e ele começou a galopar, usei novamente para que ele viesse a correr.

—Vai Ella — gritou Jamilla, eu olhei para o lado e king começou a gritar.

— Cuidado mamãe — ele parecia com medo, mas precisava mostrar confiança para o meu filho, para que no futuro não tivesse um trauma semelhante ao da sua tia.

Usei novamente as pernas e Tornado começou a bufar e saiu em disparada como se tivesse assustado, puxei as rédeas mais de nada adiantou.

— Pare Tornando — comecei a gritar em desespero quando ele foi de encontro a um muro de pedras, dei um puxão nas rédeas usando toda a minha força para pará-lo, mas havia algo de errado com ele e de repente o cavalo levantou as pernas dianteiras ao ponto que o meu corpo girasse, me jogando de encontro aos penedos. Senti como se minha cabeça estivesse prestes a estourar, e em meio a dor, ouvia os gritos do meu filho amado, mas meus olhos já não me obedeciam e insistiam em fechar. Algo dentro de mim foi sugado para fora do meu corpo, era como se tivessem usado um aspirador gigante e toda a dor havia desaparecido quando meus olhos se abriram, achei que tudo ficaria bem, mas aquela escuridão já não existia e sim uma forte claridade que me puxava para junto dela. Olhei para os lados e antes que eu fosse envolvida por uma sensação sublime de paz, olhei para o meu filho que tinha o rosto banhado por lágrimas e estava junto ao meu corpo. Eu queria tocá-lo, mas não consegui, no entanto, ao olhar para a mulher que se aproximou dele, havia um sorriso maquiavélico e satisfeito em seu rosto. Naquele momento eu já não conseguia mais vê-lo e só conseguia pedir que o senhor que sempre estivesse com o meu pequeno king.

Horas mais tarde

LOUIS COLEMAN

Sinto como se um buraco negro tivesse sido aberto em meu peito. Meu coração está mergulhado em uma tristeza mortal e minha alma está afogando em uma dor extrema. 

Eu matei.

Eu sempre senti prazer em infligir dor.

Louis Coleman esmagou com suas próprias mãos vários corações, ceifando a vida daqueles que ousaram a cruzar o seu caminho. Mas, hoje sinto como se tivesse chegado a hora do juízo final e todos aqueles a quem eu exterminei, se juntaram e cravaram uma adaga em meu coração.

Conhecer Ella foi como se algo dentro de mim tivesse sido restaurado. Ela era como um anjo que veio para mostrar ao demônio que monstros também são capazes de amar. No entanto, novamente a vida me roubou alguém que eu tanto amava. 

Durante todo o percurso de volta para casa, senti uma queimação no meu peito. Os monstros internos que habitam no meu interior estavam descontrolados e no fundo eu sabia que algo sombrio estava me rondando, só não estava preparado para o que encontrei ao chegar em casa.  Os gritos de King estavam carregados de dor, eu jamais havia visto o meu filho naquele estado. E quando me aproximei, foi como se tudo tivesse parado, minha respiração engasgou, meu coração começou a errar as batidas e meus membros inferiores já não me obedeciam. Assim como ele, ao recuperar o controle do meu corpo e volta a minha lucidez, me negava acreditar que aquilo fosse verdade. Gritos, berros tomaram conta do espaço. Liam tentou me acalmar, mas eu já não tinha mais controle do monstro que se apossou do meu corpo. 

Eu precisava saber tudo que havia acontecido, mas diante daquele que foi o responsável por aquela fatalidade, só me restava uma opção: enviar aquele maldito ao inferno, porém, ao ficar frente a frente com Tornado, tudo que surgiu em minha frente foi o belo rosto da minha mulher. Um clarão se fez presente e como em um filme, vários flashes se passavam em minha frente com imagens dela cavalgando e como seu sorriso era radiante e encantador, pois, Ella amava aquele animal e o animal a ela. 

Desolado e consumindo por uma dor que parecia não ter fim, é assim que me encontro. Quando entrei novamente em casa, Emily foi a única que conseguiu fazer com que King tomasse o copo com água que tinha um calmante e viesse a dormir, mas antes que seus olhos se fechassem, eu pude perceber que dentro daquelas órbitas que antes tinham um azul tão cristalino, agora estavam carregadas de um ódio mortal.

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