A luz fluorescente acima da minha cabeça brilhava intensamente, mas não conseguia iluminar o coração de uma pessoa.A verdade seria eventualmente esclarecida pelas autoridades competentes. O que era certo era que a verdade sempre viria, ainda que com atraso, mas não seria ocultada ou distorcida pelos maus.Como Karina disse, Gisele realmente enlouqueceu. Eu poderia acreditar nas palavras dela?Quando Gisele percebeu que eu não reagia, ela se ajoelhou no chão e começou a chorar desesperadamente.— Ana, eu estou dizendo a verdade! Eu não quero viver por mim mesma, mas por meu irmão! Ele vai morrer sem mim!Bruno morreria sem ela...Eu levei alguns segundos para refletir sobre aquilo, e não consegui conter uma risada. Aquela afirmação era simplesmente ridícula.Se fosse no passado, eu poderia achar que Gisele estava tentando me impressionar com essas palavras, uma tentativa clara de me tirar do sério. Mas agora, eu e Bruno já não tínhamos mais nenhuma ligação. Quem ele escolhesse para viv
Minha mente foi invadida por uma enxurrada de questionamentos, e naquele momento, parecia que até minha respiração havia perdido o ritmo. Desconfiança, confusão. Eu deveria optar pela indiferença ou, pelo menos, tentar buscar a verdade dos fatos? A expressão de comoção em meu rosto foi captada com precisão por Karina. Ela sabia que Bruno estava realmente doente, mas Gisele estava longe de ser tão altruísta quanto afirmava. Cuidar de Bruno? Aquilo não passava de uma desculpa carregada de interesses pessoais. No passado, ela apenas havia mencionado casualmente se não seria melhor acabar com Pietro enquanto Bruno estivesse ausente. Sua intenção era simples: garantir a herança o mais rápido possível. Contudo, o plano saiu pela culatra quando descobriram que Pietro não havia deixado um centavo para elas. Porém, Gisele levou a sugestão a sério. Ela agiu, não pelo dinheiro, mas para eliminar mais um vínculo emocional de Bruno, tornando-se, assim, a pessoa mais importante na vida del
A viatura policial seguia a uma velocidade constante, afastando-se cada vez mais da cidade e adentrando uma área desolada. Meu estado de espírito acompanhava a paisagem, mergulhando em uma sensação de vazio e melancolia. Na minha mente, ecoava incessantemente uma frase que Gisele havia me dito: — Ana, você simplesmente não faz ideia do quanto machucou meu irmão. Os grandes olhos de Gisele já não demonstravam medo. Em vez disso, ela me observava com um olhar cheio de curiosidade, como se quisesse avaliar o impacto de suas palavras. Era como se, ao pintar o sofrimento de Bruno da maneira mais sombria possível, ela esperasse que eu me afogasse em culpa. Ela me mostrou um vídeo em seu celular. Era uma gravação de baixa qualidade, tirada de uma câmera de vigilância, mas as imagens eram nítidas o suficiente para revelar o que Bruno estava fazendo. Ele escrevia algo. Então, de repente, ele parou, como se fosse uma figura de um jogo virtual que, ao receber comandos demais, travas
No celular, Dr. Délcio também ouviu as palavras de Gisele e concordou: — Se o paciente demonstrar reações exageradas, é melhor que você não o provoque. O ideal seria que alguém em quem ele confie o leve ao hospital. Assim, nossos especialistas podem realizar uma avaliação mais precisa. Caso contrário, mesmo que ele seja trazido até aqui, pacientes assim têm uma forte resistência e talvez se recusem a cooperar... Eu fiquei ouvindo em silêncio. Se, na primeira vez que descobri que Bruno estava tomando remédios, eu tivesse escolhido acreditar nele, em vez de achar que ele estava me enganando, talvez aquela pessoa de confiança seria eu. Mas eu nunca tive coragem de acreditar. Era o Bruno! Aquele que, desde a minha infância, sempre foi meu objetivo, o homem que admirei e segui por toda a vida. Como ele poderia estar doente...? Mas era o Bruno! O mesmo que, desde pequeno, sabia esconder seus sentimentos, e que, ao crescer, aprendeu a não demonstrar suas emoções. Como eu poderia p
— O filho dele ainda está vivo. Diga a ele para viver também! — Senti um nó na garganta e minha voz tremeu. — Uma criança não pode crescer sem o pai! — O filho dele? — Gisele repetiu suavemente, surpresa, levantando os olhos para mim. — Você está esperando um filho do meu irmão!? Eu assenti com a cabeça. Um sorriso estranho e perturbador curvou os lábios de Gisele, e sua voz, subitamente doce demais para a situação, me deixou desconcertada: — Ana, venha comigo. Se meu irmão souber que você está esperando um filho dele, ele com certeza ficará muito feliz! Aquela que antes me impedia de ver Bruno agora estava me convidando a subir. Levantei os olhos mais uma vez para o topo do prédio, onde Bruno estava. O medo de que ele desaparecesse com o vento me consumia, e, em pânico, sem conseguir pensar sobre isso, concordei: — Tudo bem. Nelson, porém, segurou meu braço com firmeza, seu olhar sério fixo em mim. — Ana, deixe que Gisele suba. Se vocês têm algo importante a dizer, e
A silhueta de Bruno vacilava ao vento, e eu segurava com força a maçaneta da porta do carro, sentindo meu coração quase saltar pela garganta. Não podia mais me dar ao luxo de hesitar. Se isso continuasse, Bruno estaria em perigo! — Nelson, eu preciso tentar. E se ele quiser me ver... Antes que eu pudesse terminar a frase, ouvi o som do travamento das portas. — Os resgatistas e os especialistas em negociação já estão a caminho. Enquanto Gisele conseguir ganhar mais cinco minutos, mesmo que Bruno pule, ele não vai morrer! — E se ele não aguentar até lá? Nelson, seja profissional e deixe suas emoções de lado. Estamos falando de uma vida! — Meu rosto endureceu completamente. — Abra a porta! Nelson, sentado ao meu lado, tremia ligeiramente, seu rosto congelado em uma expressão fria. — Minha responsabilidade é garantir a segurança de todos, inclusive a sua! Olhe para a direção de uma hora, para a direção de três horas, e observe a troca meticulosa de posições da equipe que patr
Uma pessoa que normalmente tinha tanto medo de sentir dor, naquele momento já não se importava mais. O som agudo das algemas chacoalhando era claro e penetrante, enquanto a voz de Gisele, embargada pelo choro, soava ainda mais desoladora no vento uivante. — Irmão, a Ana mandou a polícia me prender. A mamãe também está na delegacia agora. Se você realmente acha que viver é tão difícil, que precisa nos abandonar, então vá mais devagar. Espere por mim e pela mamãe, porque a Ana com certeza vai nos matar! Ao ouvir isso, o olhar disperso de Bruno começou a focar nos pulsos de Gisele. Só então ele percebeu que ela estava algemada. Ele moveu os lábios, perguntando com dificuldade: — Por quê? — A mamãe foi incriminada pela Ana, envolvida em um caso econômico. Disseram que ela desviou dinheiro público. Eu não sei por quê! A mamãe só disse que a Ana fez isso para se vingar! Bruno olhou para o céu azul com uma expressão apática, acreditando que ele próprio era o motivo de Ana ter per
Meu cérebro parecia agir sem pensar, como se as palavras escapassem de minha boca sem custo algum, apenas para garantir que Bruno sobrevivesse. No meu mundo interno, além do nome dele, não havia nenhum outro pensamento coerente. Se eu considerasse o futuro, essa era a maior concessão que eu poderia fazer. Contanto que ele descesse daquele terraço, eu estaria disposta a destruir todos os planos que levei dois meses para construir. Eu não entendia como fui capaz de tomar uma decisão tão drástica em tão pouco tempo, mas tinha certeza de que não era porque ainda o amava. Talvez, eu só não quisesse me arrepender. Não queria passar noites sonhando com um homem saltando de um lugar alto, nem carregar o peso da culpa por minha frieza no passado. Não queria remorso, não queria ser consumida por essa dor! Por isso, não precisei pensar. Não precisei ponderar prós e contras. Eu só queria que ele vivesse! Mas o que eu não sabia era que, assim que proferi as palavras "jamais vou perdoá