Leonardo conseguiu esconder a participação da mãe no assassinato de Hilal e a polícia classificou o crime como sem suspeitos.Providenciamos as passagens de volta para o Brasil e dentro de uma semana, arrumamos apenas nossos pertences pessoais e deixamos aquele país que tanto tinha nos causado tristeza.A Zaila veio conosco e ela não deu muitas informações sobre onde ia se estabelecer no Rio de Janeiro. Disse apenas que tinha parentes e que já tinha um lugar para morar.A Alina estava visivelmente aliviada de poder voltar para casa, mas eu percebi que Leonardo estava calado e pensativo. Com certeza estava apreensivo com o rumo que o casamente deles poderiam tomar, agora que não havia mais nenhum perigo para ela.De certa forma, eu ainda estava um pouco preocupado, pois o miserável do Zaruk tinha sumido após a morte de Hilal e eu sabia que ele poderia querer cobrar uma vingança. Era melhor ficar alerta.Chegando ao Rio fomos para o apartamento que Leonardo tinha comprado para estabele
Me aproximei devagar da porta do banheiro e girei o trinco. Estava fechada. Tentei ouvi algum som lá dentro. Nada.Fazia mais de meia hora que ela estava trancada lá dentro e eu não sabia o que fazer.Será que ela passou mal e desmaiou?Comecei a ficar nervosa.Bati na porta devagar.— Mãe...Silêncio.— Mãe, por favor, responde.Ouvi um gemido e o som de soluços.— Vá embora daqui, eu não mereço viver! Meu Deus! O que ela estava fazendo?— Mãe! Por favor abre a porta, eu estou ficando com medo.— Não vou mais atrapalhar você e seu irmão, eu não sirvo pra ser mãe de vocês.Ela não ia abrir a porta. Eu não podia perder tempo.Peguei o telefone e liguei para a Alina.Ela demorou para atender. Com certeza devia estar tão abalada quanto eu, devido à prisão do Léo e do Rafael.— Alina! Por favor me ajuda!— O que aconteceu criança?— Minha mãe. Ela se trancou no banheiro e disse que vai se matar.— Calma Sula, estou indo.Não sei como aguentei esperar a Alina chegar. Meu coração batia fei
Corri os olhos pela sala da audiência.Em minha frente estava o promotor sentado em uma cadeira alta. Mais parecia a cadeira de um juiz esperando para bater o martelo e me condenar.Ao lado dele estava a Alina e o Lucas e à minha direita Leonardo esperava a vez dele falar.O Lucas me encarou por um longo tempo e eu sustentei o olhar dele. Eu já tinha parado de procurar entender porque aquele cara me deixava tão desconfortável. Parecia que algo nos ligava de alguma forma. Ele fez um leve movimento de cabeça, como se estivesse me incentivando. Meu estômago se contraiu de nervosismo e eu tossi me ajeitando na cadeira. Era uma situação muito ruim.O promotor levantou a cabeça e me encarou.— Vamos lá, Rafael, me conte tudo.Respirei fundo. Era tudo ou nada.— Então... eu conheci Leonardo em uma ação policial.Não contei que a tal ação policial foi para impedir que ele entregasse uma mala cheia de cocaína para algum traficante.— Quando descobri que ele era turco eu pedi a ajude dele para
Pensei que tudo estava resolvido, mas não. O desgraçado do Hilal se foi, mas seu cumplice ainda estava disposto a tirar nossa paz.Depois que a Alina deu a notícia que Angélica tinha sido sequestrada por Zaruk Madal, fomos todos para a delegacia e agora estávamos na escuta da ligação entre ele e Leonardo tentando descobrir o paradeiro da mãe dele.A notícia foi como uma bomba sobre nossas cabeças. Nem bem tínhamos descansado dos dias naquela prisão, agora teríamos que salvar a mãe do Léo das mãos daquele miserável.O Lucas estava ali conosco e me olhava agora de forma estranha. Que porra aquele cara tinha a ver comigo?Voltei minha atenção para Leonardo que conversava com Zaruk estendendo a conversa para dar tempo de rastrear a ligação.— Fala, seu merda! Diz onde minha mãe está.— Você vai aliviar minha barra nessa porcaria de delação que sua mulherzinha arrumou ou não?Trinquei os dentes de raiva.— Não vou falar nada, agora solte minha mãe.O promotor escutava do aparelho, que est
Passei metade da noite acordado, vigiando o sono da Sulamita. Sono era apenas maneira de dizer, porque a cada instante ela acordava, se debatendo e chorando.Meu coração estava apertado. Achamos por bem, contar logo a ela o que tinha acontecido a respeito do sequestro da mãe dela, e do fim do Zaruk. A Sula precisava encarar os problemas da vida e aprender a se fortalecer com eles, mas para ela, que era uma menina tão cheia de traumas, aquilo não era fácil.De tudo aquilo que vivemos nos últimos meses, a única coisa boa foi a presença da Alina em nossas vidas. Ela chegou e revirou tudo ao nosso redor. A mulher era uma fortaleza e meu amigo estava louco por ela.Eu estava feliz por ele. Leonardo passou por maus bocados na vida e desde que estávamos juntos há mais de dez anos, tudo que ele fez foi pensando na mãe e na irmã e agora ele merecia um pouco de felicidade.Olhei o relógio da mesinha de cabeceira: 05:00 e o dia ameaçava clarear pela cortina da janela. Fui até lá e fechei, escure
Nunca pensei que uma pequena reforma demorasse tanto.Já fazia um mês que o idiota do pedreiro arrumava as mais variadas situações para atrasar a reforma do apartamento.Primeiro ele inventou que precisava tirar todo o forro do teto e refazer. Concordei. Realmente estava ruim.Depois foi a pintura das paredes. Precisava.E lá se foram quatro semanas, trocando fiação, vidros, portas e janelas, consertando banheiros e armários.Quando pensei que tudo estava terminando, ele inventou de trocar o piso.Nem fodendo.— Quanto tempo para isso?Ele fez um milhão de contas nos dedos.— Mais um mês.De jeito nenhum. Eu não esperaria mais um mês para casar com a Sula. Eu enlouqueceria.— Não! pode deixar como está.— Mas...Encarei-o firme.— Eu quero deixar assim.— A Dona Sula disse que queria tro...Cortei.— Deixe a dona Sula comigo. Não vou trocar nada. Posso me mudar que dia?— Amanhã. Só preciso limpar.— Ótimo. Limpe, que a dona Sula, quer vim ver como ficou.Pronto. Agora era só comprar
Era uma sensação estranha.Quantas vezes eu já tinha sonhado com aquela cena? Eu e minha mãe passeando juntas, fazendo compras, tomando sorvete. Eu nunca tive esses momentos quando criança e agora parecia que estava acontecendo com outra pessoa.Eu tomei coragem e a convidei para sairmos. Ela andava muito triste e cabisbaixa e eu achei que deveria dar um passo para nos aproximarmos.O Rafael me disse que ela estava um pouco depressiva e que cabia a nós tentar trazê-la para perto de nós. Eu concordava.Ela resistiu um pouco ao meu convite, mas o Léo insistiu.— Vai mãe. Vai ser bom sair um pouco só vocês duas. Eu deixo vocês no shopping e vocês voltam de taxi.Eu ainda não sabia dirigir. O Rafael disse que me matricularia em uma auto escola, por que agora eu ia estudar e poderia me virar sozinha, já que ele voltaria a trabalhar.Confesso que eu estava com um pouco de medo de enfrentar o mundo. Passei minha vida inteira escondida dentro daquele mausoléu e agora a vida me apresentava um
Olhei por um bom tempo para a farda estendida sobre o sofá. Ela tinha chegado no dia anterior e a Sula tinha passado a ferro com cuidado.Eram apenas 07:00 da manhã e minha apresentação na polícia estava marcada para as 09:00. Daria tempo, mas eu estava nervoso.Eu tinha conversado muito com a Sula sobre minha decisão de voltar e ela, mesmo com medo de me ver trabalhando como policial, ficou do meu lado.— Não queria você nessa vida, é muito perigoso.Estávamos arrumando o apartamento. Alguns móveis tinham chegado e a gente estava naquela de colocar tudo no lugar do nosso jeito.Puxei-a pela mão e sentamos no sofá novo.— Eu sei meu bebê, que é uma vida cheia de risco, mas é o que eu sei fazer.Ela tinha me abraçado com força.— Então tudo bem, mas eu vou morrer de preocupação todos os dias.— Você acostuma, tudo vai dar certo.Agora não tinha mais volta.Vesti a roupa lentamente, saboreando a sensação de me senti de novo na polícia.Aquilo não foi meu sonho de infância, na verdade eu