Matt
Lugar desconhecido.
— O que aconteceu? — pensou ele, após abrir os olhos lentamente. Sua cabeça doía e a luz quase o cegou, forçando-o a fechar os olhos novamente. Podia ouvir carros em uma rodovia, e muitas pessoas conversando ao mesmo tempo, tudo muito alto, como se estivessem dentro de sua cabeça.
Cheiros diversos invadiram suas narinas, gasolina, flores, colônias, animais em decomposição, excrementos, dentre outros, mas podia distingui-los com perfeição.
Tateando o móvel de cabeceira, encontrou um óculos de sol, e colocando-o, conseguiu abrir os olhos.
— Que lugar é esse? — indagou, e, percorrendo o quarto com o olhar, constatou que não conhecia nada ali.
— Será que levei um "Boa noite cinderela"? — pensou, tateando o corpo em busca de algum corte, por onde algum órgão poderia ter sido extraído, mas para sua surpresa, o que encontrou foram músculos de um abdômen bem definido que não estavam ali na noite anterior.
Na parede contrária à cama onde estava, havia um espelho, onde pode ver o seu reflexo, sua pele estava levemente empalidecida, e os braços e pernas também continham músculos que nunca teve.
Tentando dobrar os joelhos a fim de levantar-se, percebeu que o tornozelo estava acorrentado à cama, e ao forçar as correntes, sentiu uma dor aguda enquanto os elos da mesma brilhavam incandescentes. A dor o fez recuar o ímpeto de fugir, então ele se deixou repousar vencido na cama, notando que a corrente perdia o brilho e a dor diminuía à medida que sossegava.
Depois de recuperar o fôlego, tentou mais uma investida que durou apenas tempo suficiente para perceber que a corrente era ativada pela sua intenção.
— Eu devo estar sonhando! — pensou, agora em voz alta, mas sabia que em um sonho, não sentiria aquela dor, e por um instante, apenas fechou os olhos, tentando se lembrar de como chegou ali. Tentou se concentrar, mas apenas flashes sem sentido brotaram em sua mente.
Procurando ao redor por algum objeto que pudesse lhe ajudar a lembrar de algo, ele avistou, no mesmo criado-mudo onde encontrara o óculos, algumas folhas, e um lápis, olhou novamente para o tornozelo acorrentado, e pegou os objetos.
— Já que não vou à lugar algum... — ele ponderou e, tendo lápis e folhas na mão, ajeitando o corpo com cuidado para não ativar novamente as correntes, começou a rabiscar o papel, com a destreza de quem sabia o que estava fazendo.
A imagem que começou a se formar no papel, era de um rosto feminino, e cada traço a mais, revelava uma beleza ímpar, digna de obras de arte.
— Eu não sei quem é você — disse, como se conversasse com o desenho no papel —, mas o seu rosto não sai da minha cabeça, aliás, ele é a única coisa em minha mente nesse momento.
Continuando com os traços, o desenho revelou cabelos compridos e um corpo atlético e forte, em uma postura de guerreira, empunhando uma espada curta em cada mão, além da armadura que protegia suas curvas.
— Você parece uma princesa guerreira saída de um livro de fantasia — disse novamente ao desenho, que estava incrivelmente detalhado, com técnicas apuradas de luz e sombreamento —, quem será você?
Para ele, não se lembrar era algo estranho, já que tinha uma memória fotográfica de tudo que via, e uma perfeita percepção de tudo que o cercava. Ele usava essas habilidades para seus desenhos e pinturas, e era assim que ganhava a vida, como artista itinerante nas ruas da cidade, mas, por mais que tivesse grande habilidade com desenho, não se lembrava de ter um traço tão preciso, e nem uma técnica tão apurada. Sentia que tinha algo diferente com ele, como se os seus sentidos estivessem mais apurados que o normal.
— Será que você tem alguma coisa a ver com o fato de eu estar neste lugar? — perguntou, e fez uma pausa, como se esperasse resposta, ou a buscasse em algum lugar da memória, mas, outra vez, sem sucesso.
Sem conseguir se lembrar de nada, pensou mais uma vez em forçar a corrente, mas o simples pensamento fez com que os elos começassem a acender, então simplesmente deixou o desenho de lado, encostou a cabeça no travesseiro, e fechou os olhos tentando se concentrar em alguma lembrança.
CatheCidade de Nova Yorque - Mundo humanoEnquanto abria a porta de sua casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível, para não acordar seu irmão, Cathe ainda pensava no jovem que deixou na cabana, inconsciente e acorrentado. Seria sua magia poderosa o suficiente para mantê-lo seguro?— Você deveria tê-lo matado! — Seu irmão diria — Como pôde ser tão irresponsável.Virando-se, após fechar a porta, viu que seu esforço foi em vão, e que Seu irmão, Cody, estava sentado na poltrona do patriarca, voltado para a porta, sem piscar. Chamas azuis em seus olhos, ocupavam o local onde devia estar a íris, e uma densa luz azulada fazia contorno em seu corpo. Estava imóvel, não esboçando sequer um movimento de respiração.— Ele está recarregando — ela pensou, aliviada, olhando o irmão inerte —, com certeza viu que eu não estava em casa e quis me esperar, mas como na última caçada ele se desgastou muito, teve de ceder à meditação.Vend
Barth Vila dos Lobisomens - Mundo humano— Um dia você será o Alfa, Bartholomeu — dizia seu pai, com o ar de superioridade costumeiro, enquanto o filho o observava apertar a mão de um vampiro engravatado —, você deve aprender a diplomacia com os vampiros, e isso nos garantirá paz e prosperidade.— Como pode haver paz e prosperidade usando uma coleira, como um cão domesticado! — o jovem gritou, algum tempo após a saída do vampiro, enfim explodindo, perante a passividade de seu pai. Mas antes que pudesse pensar no que disse, foi surpreendido por garras afiadas que lhe acertaram a face, rasgando-lhe a pele, em cortes diagonais que iam da testa até o queixo, e fazendo-o recuar com caninos e garras expostos.— Dobre a sua língua, rapaz! — bradou seu pai, enquanto sangue pingava da mão que desferiu o golpe — Não lhe dei a liberdade de contestar minhas decisões. Você é o herdeiro Alfa, mas enquanto eu estiver vivo, não admitirei sua insubordin
EillenNova Yorque - Mundo humanoEnquanto observava das sombras, ela não conseguia deixar de se lembrar daquela noite, quando era apenas uma criança inocente, alheia a toda essa disputa entre raças. Sua mãe havia acabado de lhe ajudar a lavar os cabelos negros e lisos, e os escovava enquanto cantava uma música, cuja melodia ecoava em sua mente. A letra falava sobre ser livre em campos floridos e sobre felicidade.Ela se lembrava com riqueza de detalhes os gritos de agonia que ouviu, vindos de fora junto com um som metálico, que ela soube depois que eram de espadas se chocando.Em nenhum momento a expressão de sua mãe não mudou, exceto quando aquela mulher apareceu através de uma fenda luminosa na parede. Linda, em sua armadura prata reluzente, e seus olhos azuis grandes e expressivos, transmitindo puro amor e compaixão.Com lágrimas nos olhos, a sua mãe a entregou para a estranha sem brigar, e só então pôde entender que aquilo era uma separa
Eve Vila dos Lobisomens - Mundo humanoOlhando pela janela na direção do lago, ela o viu caminhando com passos apressados e decididos, provavelmente seguindo na direção do dojo, que era onde ele passava a maior parte de sua vida.O ódio que ela sentia em seu peito era latente, e aquelas crianças brincando no lago, a fizeram se lembrar de porquê o odiava tanto.Era uma manhã ensolarada como aquela, e ela brincava no lago despreocupadamente, enquanto sua babá a observava. De onde estava viu o momento em que um empregado da casa principal veio chamá-las, e ao chegarem em casa, viram que sua mãe estava arrumando as malas, e disse para a babá juntar as suas coisas também, pois, teriam que se mudar.Ela tinha apenas quatro anos, e não entendia porque tinham que deixar aquela casa, e nem porque o seu pai não iria junto com elas e passou a vê-la com menor frequência, até que parou de aparecer.O nascimento de um bebê, o prime
MattCidade de Nova York — Mundo HumanoDois dias atrás— Não está se esquecendo de nada, Matthew? — a garota lhe disse de trás do balcão, após entregar-lhe um copo com café-com-leite e um pacote de papel quase cheio, um pouco engordurado e com um cheiro delicioso e instigante — Você me deve alguns desenhos!— Você sabe que eles não são de graça, não sabe, Lilly? — Matt perguntou, após tomar um gole da sua bebida.— E você acha que os meus pastéis são? — ela perguntou, fechando o semblante e cruzando os braços ofendida.— Lógico que não, sua besta! — ele disse, rindo da carranca que ela fez — Você sabia que fica linda quando tá nervosa.— Não adianta me adular, Matt — ela respondeu, fazendo um biquinho —, quero meus desenhos!— Oownn! — ele fez um som, zombando do drama dela — Eu não resisto a esse biquinho!Colocando o copo e o pacote em cima do balcão, ele pegou um envelope que havia deixado
MattCidade de Nova York - Mundo humanoDois dias atrás— Matt, é você quem está aí? — a voz de Lilly o fez despertar, e ao abrir os olhos viu que estava em seu quarto. Sentou-se na cama meio confuso, e só quando se levantou, que percebeu que estava completamente nu — Estamos precisando de você lá em baixo!— Sou eu sim, Lilly — ele respondeu —, vou tomar um banho e já desço!Olhando para um relógio na parede de seu quarto, viu que eram dezessete e trinta, e não fazia idéia de como chegara até ali. Uma
BarthAlgum lugar na floresta - Mundo humano.Seguindo para as coordenadas que Nash lhe passou, Barth se lembrou do que seu mestre lhe disse um pouco antes de deixar o dojo, e não pode deixar de estremecer. Um híbrido é um ser terrivelmente poderoso e o que esse jovem podia se tornar poderia vencer a guerra para quem ele lutasse. Era por isso que os vampiros o queriam.Era estranho que os demônios estivessem tão quietos e
Eileen estranhou encontrar apenas Pete na sala de reuniões ao entrar no recinto junto com mestre Kaghan. A sala tinha uma grande mesa redonda no estilo da távola dos cavaleiros da lenda do Rei Arthur, a diferença é que essa mesa era uma das maravilhas tecnológicas de Pete e tinha sensores digitais holográficos que eram usados para discutirem estratégias.A Sala era uma das maiores de a toda colônia da resistência e assim como o restante do esconderijo, ficava em uma espécie de bunker esculpido em na montanha, provavelmente por mineiros tocados pela febre dos minerais preciosos que atingiu os humanos da região há muitos anos atrás, mas que haviam aprendido que toda fonte não renovável tende a se esgotar em algum momento, e como algumas marcas da exploração permanecem para sempre, agora esses túneis e salas subterrâneas vieram be