Anna narrando.Um mês. Mais um dia e eu estou aqui, sentada sobre o túmulo do meu marido, pensando em quantas coisas nos foram tiradas, quantas oportunidades de um final feliz foram simplesmente jogadas fora em uma única noite. Um momento vivido que eu preferia ter esquecido para sempre, se não fosse o fato de ter levado o amor da minha vida.Todos os dias é uma luta acordar e não sentir o corpo dele ao meu lado. Aquele braço pesado que praticamente me sufocava quando ele queria um abraço. Aquelas mãos macias e, ao mesmo tempo, grandes, me envolvendo no calor dos seus braços e me fazendo simplesmente derreter por inteira.— Por que, meu amor… — Eu sussurrei alisando a sua foto.Todos os dias, a Julieta e o Dudu perguntam onde está o papai, quando o papai volta, e eu não estou mais sabendo lidar com tantas perguntas, com a ausência dele na minha vida e na das crianças.As coisas não são como nós planejamos, isso eu já aprendi desde o dia em que fui forçada a me casar com ele. Mas, dent
Eu já tinha perdido muita coisa nessa vida, e o que eu menos queria, neste momento, era perder a minha família ou ver algum deles mal. Mas, infelizmente, vivemos de escolhas. Às vezes escolhas ruins, outras vezes boas. O que eu tinha em mente era que eu precisava preservar e proteger aquilo que era mais importante para mim, e por eles, eu era capaz de tudo, até mesmo de fazer o que eu fiz. Por mais que esteja doendo em todos, era o que eu tinha que fazer.Nós estávamos na mira, ou eu, ou eles… que seja eu, e eles fiquem bem, fiquem seguros, e todos esqueçam que eu existi… pelo menos por enquanto.Não sei quando vou voltar, não sei se um dia eu vou voltar, porque primeiro preciso acabar com tudo. Só assim eu vou me sentir confortável para estar ao lado das pessoas que eu amo de verdade.Início da ligação.— Como estão as coisas aí? — Perguntei para o Nathan.— Bem complicadas… — Ele respondeu, me deixando bastante preocupado.— Tem que segurar as pontas aí, isso não vai durar para semp
Anna Narrando.Todos os dias têm sido iguais, chatos e cheios de saudades. As crianças estão começando a sentir muita falta do Viktor. Acho que agora estão percebendo que o papai não está mais aqui… O Dudu vive chamando pelo papai pelos cantos, e a Julieta, toda vez que vê uma foto, abraça e diz que está com muita saudade.Acho que a pior coisa é ter que lidar com as perguntas e ter que explicar sempre a mesma coisa em relação a ele, sempre dizendo que ele não vai voltar e que está descansando em um lugar muito melhor.Mas, para falar a verdade, ainda não estou convicta de que isso realmente aconteceu, ainda mais depois que vi a lápide trincada. Era como se alguém tivesse forçado para retirar algo de lá, ou alguém… E todas as vezes que penso nisso, meu coração dispara e me faz perceber que posso estar completamente errada quanto a isso, ou posso estar 100% certa.A questão é que ninguém nunca me dá ouvidos. Estou ficando de saco cheio disso. Eu insisto, insisto, e sempre quebro a cara
Anna Narrando:Assim que cheguei e pude usar o telefone, mandei uma mensagem para o Bernardo, pedindo que me encontrasse na saída do portão C. Seria mais fácil marcar um local do que ficar procurando por ele. Desci do avião com minha pequena mala — como seriam poucos dias, não vi necessidade de levar uma maior, e caso precisasse de algo, poderia comprar por aqui — e fui ao encontro de Bernardo, que me aguardava com uma rosa vermelha na mão.Assim que ele me viu, abriu um sorriso enorme e me abraçou forte, oferecendo seus pêsames pela morte de Viktor e me entregando a rosa.— Obrigada — sorri, um pouco sem graça. — Muito gentil da sua parte.— Eu traria a floricultura inteira para você, mas acho que seria exagero — ele disse rindo.— Engraçadinho como sempre — falei, dando um tapa leve no braço dele, enquanto ele me puxava em direção à saída.Ele colocou minha mala no carro e abriu a porta do passageiro para mim. Em seguida, entrou no carro e colocou o cinto de segurança.— Então, para
Viktor narrando.A saudade da minha família está me destruindo dia após dia, todas as vezes que pego o tablet e vejo a Anna da mesma forma, as crianças correndo pela casa, e a angústia que ela sente toda vez que vê minha foto. Eu não tinha ideia de que seria tão difícil ficar longe deles, mas sei o quanto foi necessário para mantê-los a salvo.Tudo o que eu quero agora é que isso acabe logo, e eu possa finalmente voltar para os braços do meu amor e aproveitar o crescimento dos meus filhos.Eu tenho medo de que a Anna comece a superar tudo isso e queira seguir com a vida dela. Corro o risco de, daqui a algum tempo, fazer parte apenas do passado dela, mas sei que, se isso acontecer, a culpa será minha. Estou tentando o melhor para nós, preferindo mantê-la distante e protegida, então só eu posso conviver com minhas escolhas.Por mais que saiba como eles estão, vendo pelas câmeras e sempre falando com o Nathan, parece que nunca é suficiente. Eu preciso ouvir a voz dela, abraçá-la, e mais
Anna narrandoEu só posso estar ficando louca, ou não sei, estou vendo miragem, porque agora mesmo eu vi o homem da minha vida, que está enterrado em Barcelona, do outro lado da rua… Eu sou louca, fiquei louca, não existe outra explicação. E o pior é que eu simplesmente esqueci da presença do Bernardo aqui, e agora não tenho ideia de como vai ser.Nós estávamos prestes a nos beijar e eu simplesmente surtei, gritando o nome do Viktor… Não é possível… minha cabeça está uma loucura… eu estou confusa… sei lá…Senti uma mão tocar a minha e então me sentei, ainda extasiada com o que tinha acabado de acontecer. Olhei para o Bernardo, envergonhada, e ele simplesmente abaixou a cabeça. Em seguida, me olhou de novo, e seu olhar era triste.Eu não queria insistir nisso, não queria que ele tivesse se declarado e, muito menos, permitir que por um segundo ele se aproximasse de mim. O Viktor é muito presente na minha mente e sempre será. Não vai ser em apenas um mês que eu vou conseguir esquecer a e
Viktor narrandoEu entrei em um conflito terrível. Ter a minha mulher tão perto de mim e, ao mesmo tempo, tão longe não me deixaria em paz. Eu precisava ficar com ela, nem que fosse por uma noite, e tentar explicar o motivo de tudo o que planejei. Tudo o que eu queria era que ela me entendesse e não me culpasse pela minha atitude, já que foi completamente pensado nela e nos nossos filhos que fiz isso.Com meus pensamentos a mil, fui até o quarto que a senhora simpática me indicou e entrei. Foi até fácil, parece que o cartão magnético destrava qualquer porta, uma falha terrível deles, mas nesse momento eu não me importei. O que eu queria era encontrá-la o mais rápido possível.Eu não pensei nas consequências que esse reencontro poderia trazer. Talvez, ela perto de mim e longe das crianças seja o ideal. Assim, eu me preocupo em proteger apenas a Anna, enquanto as crianças estão a salvo.Eu sei que pode parecer que não valeu de nada tudo o que aconteceu, o meu desaparecimento, mas agora
Anna narrandoMeu coração sempre esteve certo. Eu tinha razão quando disse que a lápide estava trincada. Tinha absoluta certeza de que algo estava acontecendo, e eu era a única que não sabia… bingo! Acabei descobrindo da forma mais simples do mundo, sem imaginar que isso fosse acontecer. Eu vim exatamente para o lugar onde ele estava, e o mais incrível foi nossa conexão. Parecia que não tinham se passado quase dois meses desde que ele foi dado como morto.Quando eu coloco algo na minha cabeça, não tiro por nada. Graças a Deus que sou assim. Se eu tivesse abandonado tudo e seguido em frente, hoje poderia estar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, enquanto ele fazia de tudo para proteger nossa família e me proteger diretamente, pois eu era o maior alvo para o Russo.Nós dormimos juntos. Estava com tanta saudade que eu jamais aceitaria que ele saísse de perto de mim, ainda mais agora que estava de volta à minha vida.— E agora… qual o próximo passo? — perguntei, deitada no pe