Heitor — Será que podemos conversar um momento a sós, minha irmã? — ele pede. Isa agora parece ainda mais desconcertada. Contudo, eu cruzo os braços em desafio para esse pedido absurdo. Minha esposa parece protelar uma resposta.— Pode falar, John. Heitor e eu não temos segredos um para o outro. — O infeliz não esconde o seu desagrado e insiste com a irmã.— Querida, leve-o para a biblioteca. Lá vocês poderão conversar mais à vontade — sugiro.— Tem certeza?— Sim. De qualquer forma você me contará tudo. — Volto a encará-lo, porém, ele me olha com desdém e no segundo seguinte os observo se afastar.Uma porra que os deixarei sozinhos! O fato de John Dixon entrar na minha casa após todos esses anos desaparecido e sequer perguntar pela mãe me incomoda e muito. Algo me diz que ele veio apenas para causar problemas. Penso e assim que os perco de vista, sigo direto para o corredor da biblioteca, abro uma pequena brecha na porta e me encosto na madeira para ouvir o que ele tem a dizer real
Zyan MasonUma criança deveria crescer em um lar feliz, com pais felizes e atenciosos, e ainda ser protegido por eles, certo? Eu cresci em um lar assim. Tive a suprema proteção dos meus pais, o amor incondicional deles, a alegria de uma família completa e ainda assim não era uma criança completamente feliz. Então você pode dizer que eu era uma criança ingrata e egoísta, ou que eu queria o mundo inteiro só para mim. A verdade é que mesmo que Lisa Mason nunca tivesse me contado sobre o seu passado, eu sabia que bem lá no fundo ela guardava uma tristeza consigo. E era essa tristeza que não completava um quadro que deveria ser perfeito. Ela sorria para mim, brincava comigo, mas por muitas vezes não parecia estar ali realmente. Eu sei, eu era apenas uma criança e não podia ter certeza disso. Contudo, eu cresci e essa sensação me acompanhou até o dia que perdemos o meu pai e ficamos apenas eu e ela. Lisa guardava segredos dolorosos, sonhava com um filho que lhe foi arrancado brutalmente e c
Zyan Mason— Porra, Zyan, acorda! — Heitor rosna revoltado, mas dou de ombros.— De lavada, Zyan? — Tadeu ralha fazendo graça. — Se tivesse apostado levaria até as suas calças comigo. — O idiota debocha, arrancando mais gargalhadas dos rapazes. Horas depois, ninguém tem mais forças para mais nada. As garrafas de uísque estão todas vazias e espalhadas pela areia. E nós estamos literalmente caídos do chão e jogando palavras fora.— Hora de ir para casa, negada! — Meu irmão fala e automaticamente explodimos em uma nova crise de risos.— Negada? Que porra é essa? Quem imaginava esse homem usando esse termo algum dia? — Max retruca e droga, a minha barriga já está doendo de tanto rir.— Vocês são uns idiotas. Sabem disso, não é? Vamos, porque eu não quero ser o culpado pelo noivo não sair da cama para ir para o seu casamento amanhã.— Bom, você é o padrinho. Portanto, deve isso a ele. — Tadeu rebate. Heitor deita a cabeça na areia e encara o céu semiescuro.— Não. Hoje eu sei exatamente o
HeitorSete anos depois...A cada dia que se passa eu me convenço de que fui um tolo. Lembrar que um dia fui um homem arrogante e igualmente duro comigo, com tudo e com todos ao meu redor me faz perceber que perdi muito tempo lambendo minhas feridas e tampando os olhos para ver somente o que me permitia ver. Por esse motivo o meu universo mudou de rota de um jeito radical e doloroso. Tive que enfrentar o medo cara a cara. Tive que aguentar o frio que por pouco congelou os meus ossos e as tempestades que quase me destruíram para chegar até aqui. Penso, enquanto assisto os preparativos para a festa de aniversário de cinco anos da minha filha caçula.— Vovó? Vovó? — Lisa grita com a sua animação infantil que contagia os gêmeos e eles correm na mesma direção que ela, fazendo-me despertar dos meus devaneios.É exatamente isso que vocês estão entendendo. Tivemos mais uma filha ao longo desses anos e qual não foi a minha surpresa quando a minha linda esposa lhe deu o nome de minha mãe. Lisa
Heitor— Hora dos parabéns, meninos. — A luz do meu dia avisa, abrindo apenas uma na porta. Os homens viram o resquício de suas bebidas na boca e largam os seus copos vazios em cima da mesinha de centro, saindo do escritório um por um. No entanto, continuo parado no meu lugar, devorando a minha esposa apenas com o meu olhar. Ela está em pé no espaldar da porta e após me cobiçar por um tempo, decide entrar no cômodo e caminha devagar na minha direção. Abro os dois primeiros botões da minha camisa em busca de ar, mas parece que ele está retido nos meus pulmões. Definitivamente nada mudou entre nós ao longo desses anos. Isa continua me dominando, me rondando, roubando o meu controle na cara dura e a minha capacidade também. Entretanto, eu não reclamo. Pelo contrário. Eu amo quando ela domina o meu universo e comanda toda a minha órbita. Penso completamente maravilhado quando ela para bem na minha frente.— Você está linda! — sussurro, largando o meu copo intocado em cima da minha mesa e
Heitor— Quanto? — pergunto seco até demais. Ele se vira para me olhar nos olhos.— Cinquenta mil dólares.— Isso é bem menos do que me deu da outra vez, não dá pra nada! — É tudo que terá de mim. Ou você aceita, ou pode voltar a sua vida de fugitivo. Garanto que não sobreviverá até amanhã de manhã.— Que droga, Heitor! — John leva as mãos aos cabelos e elas escorregam para sua nuca, fazendo-o encarar o teto. Uma respiração alta preenche o ambiente e ele volta o seu olhar para mim. — Eu aceito! — Ergo um dedo em riste, pedindo que espere e vou para a minha mesa. Abro a primeira gaveta e tiro um envelope pardo de lá, o arrastando em sua direção. — O que é isso?— Abra! — ordeno e desconfiando o meu cunhado se aproxima da minha mesa, abre o envelope e encontra algumas imagens sus lá dentro. Um sorriso sacana se abre nos seus lábios e ele volta a me fitar. — Filho da puta!— Achou mesmo que eu não descobriria? Estou de olho em você desde que saiu da minha casa. É uma lista longa de crim
Memórias de Isadora - parte 1Momentos antes da falência da família Dixon...Meu nome é Isadora Dixon, mas isso vocês já sabem. Assim com perceberam que sou uma garota bem extrovertida além de animada. Mas sou determinada e opiniosa também. Portanto, eu posso levar algumas coisas na boa, mas não pisem nos meus calos. Além dessa minha personalidade mista, tenho uma paixão exacerbada pelos números e isso desde que me conheço por gente. E é exatamente por isso que estudo contabilidade. Enfim, eu nasci no seio de uma família com veias italianas e acredito que é daí que vem a minha determinação. Tenho poucos amigos no momento e não pense que é por timidez, porque se tem uma coisa que eu não sou, é tímida. O fato é que desde que comecei a faculdade os meus amigos do colegial e de infância também seguiram seus rumos e estou tendo que começar do zero desde então. É claro que já estou praticamente terminando o meu curso e não foquei exatamente em fazer amigos, embora, eu tenha alguns, mas nada
Memórias de Isadora - parte 2— Ah, Isadora? — Ele larga imediatamente a caneta em cima dos papéis e fica de pé.— Queria falar comigo, professor? — Ele meneia a cabeça fazendo um sim para mim e me aponta uma cadeira que educadamente me acomodo.— Antes de tudo eu gostaria que soubesse que acabei de corrigir a sua prova.— E? — Arqueio as sobrancelhas petulantes, pois sei exatamente qual o resultado dela.— Você é mesmo incrível, menina! — Abro um sorriso amplo e presunçoso.— Obrigada, professor!— Enfim, não era sobre isso que eu gostaria de falar.— Então, sobre o quê?— Estou de olho em você já faz algum tempo, Isadora. E como estamos no final do curso gostaria de te chamar para sair. — Tá, engoli em seco agora. Ok, ele é realmente lindo e é atraente também. Só tem um probleminha nessa equação. Após o foco desse curso o meu segundo foco será entrar para uma das maiores empresas de contabilidade de Seattle – a D’angelo Corporation – e para isso terei que dar outro mergulho profundo