Lívia estava prestes a acordar o homem deitado à sua frente, mas recuou quando um pensamento cruzou sua mente. “Se quisessem nos matar, já teriam atirado”, ela refletiu, talvez aquela fosse a sua chance de pedir e ajudar a escapar dali. Em passos lentos, Lívia deixou o quarto onde Enrico estava deitado e seguiu pelo corredor até a entrada da clínica, mas antes que pudesse chegar à porta, homens de terno preto entraram no local. Antes mesmo que pudesse imaginar uma maneira de fugir, Lívia já havia sido dominada com truculência por um dos homens que a imobilizou contra ao chão. — Eu não fiz nada! — Ela se defendeu em voz baixa, imaginou que aqueles homens eram detetives e que estavam ali para prender o mafioso. — Sou médica, trabalho aqui na clínica. — O rosto estava pressionado contra o piso de madeira frio. — Fica quieta, maledita! — Tapou a boca da médica.Sem emitir qualquer som, Lívia reparou nas roupas dos quatro homens, eles não eram quem a médica imaginava.— Olha, o chefe
Os pensamentos de Lívia estavam acelerados e, enquanto escutava aqueles homens, o medo dominava à sua mente. Ouvia os gangsters chamarem o chefão de louco enquanto lembravam de tudo o que o tio de Enrico fez contra os seus rivais e, até mesmo, contra os seus próprios comparsas que falavam em suas missões. Depois de esperar por cinco minutos o motorista deu a partida no automóvel. Lívia permanecia em silêncio sentindo os cílios roçarem na venda em seus olhos, estava apreensiva, pois já há algum tempo não ouvia à voz de Enrico. — Depressa! — Um deles falou. — Onde está o senhor, Bianchi? — O motorista indagou. — O chefe está no outro carro!“Desta vez, ele me abandonou”, ela pensou. …Lívia foi retirada do carro bruscamente, não tinha noção de onde estava, apenas seguia os passos do homem que puxou-a com pressa. Ela tropeçou em alguma coisa dura.— Cuidado com os degraus!Colocando um pé atrás do outro, continuou dando passos inseguros ao descer a escada. Quando pararam de anda
Sozinha naquele cubículo frio, Lívia se deitou no banco reto onde se encolheu, por um instante pensou no pobre homem que foi agredido por Enrico sem piedade, o pobre homem nem ao menos pôde ver a filha recém nascida. Ela enfiou as mãos no meio das pernas para tentar se aquecer do frio. As pálpebras já estavam quase se fechando quando ela ouviu o barulho da porta se abrindo.A médica se levantou imediatamente, enquanto os passos pesados ecoavam pelo corredor, Lívia segurou as grades da cela tentando espionar, mesmo sem conseguir ver, imaginou que fosse Enrico, então começou a esbravejar sobre a demora para libera-la e à julgá-lo por sua tamanha ingratidão com as pessoas que lhe ajudaram.— Você nem mesmo o agradeceu! — Ela repreendeu — Eu vi o que fez com o pobre homem! Tratou os seus seguranças com tanta grosseria e violência. — disse, indignada. — Você nem mesmo deixou o homem ver a filha recém-nascida! — berrou. O corpo de Lívia ficou paralisado e a voz falhou quando viu o hom
A cela ficava a poucos passos da entrada do porão e, lá dentro, ela estava encolhida, dormindo feito um anjo. Puxando uma cadeira, ele se sentou enquanto a observava, a doutora devia estar realmente cansada para dormir daquele jeito em um lugar como aquele, sem qualquer conforto.Mesmo dormindo, a sensação de estar sendo observada era crescente, as pálpebras tremeram e, ainda sonolenta, Lívia abriu os olhos, a visão estava um pouco embaçada.— Buongiorno! — disse a voz rouca. — Dormiu bem?Lívia abriu mais os olhos e então reparou que Enrico não usava mais a faixa, os olhos se concentraram no inchaço na testa do mafioso. Percebendo o olhar clínico da médica, ele passou a ponta dos dedos sobre o hematoma.— O médico da família disse que vou sobreviver.Ela desviou o olhar, ajeitou o corpo e ao se levantar e se aproximou da grade.— Me solte agora mesmo! — Exigiu. — Eu salvei você e cuidei dos seus ferimentos. Se há um pingo de gratidão em algum lugar nesse coração de pedra, você dever
Após terminar de falar com os pacientes, Lívia olhou para os dois homens parados do lado de fora, em seguida, ela perscrutou Enrico.— Posso usar o lavabo?— Depende! — Andou ao seu encontro e se sentou. — Pretende aceitar a proposta ou quer continuar presa nesse lugar? — Olhou em torno do cubículo.— Eu disse que preciso de um tempo para pensar, mas quero tomar um banho e tirar essa roupa suja. — Ela tocou a blusa branca que, naquela altura, já estava encardida. — Você já sabe o que precisa fazer.— Que diabos você quer? Pretende se casar com uma mulher suja ou me deixar trancada aqui, fazendo as minhas necessidades naquele balde? — A médica desafiou o mafioso. Enrico torceu os lábios, o cheiro de Lívia não era dos melhores, mas não queria dizer isso para a médica.— É assim que os gângsteres tratam as mulheres? — Ela olhou para os seguranças que trocaram olhares com o chefe, mas ficaram em silêncio. — Eu pensei que os mafiosos fossem mais religiosos e cuidassem bem de suas famíli
Sem emitir qualquer som, Enrico estendeu a mão para que ela devolvesse o celular, o olhar furioso poderia fulminá-la. — Venha logo, tenho alguns assuntos para resolver enquanto você pensa na minha proposta. — Enrico deu dois passos e abriu a porta enquanto puxava a médica.— Eu aceito!— Que rápida. — Ele se encostou no batente da porta. — Eu presumo que essa decisão seja por causa da mensagem que você recebeu.— Isso não vem ao caso. — desviou do assunto. — Firmarei o acordo com você, mas tenho algumas imposições.Enrico estava com a testa vincada quando endireitou a postura. Ele bateu a porta com tanta força que Lívia recuou. — Temos que acertar os termos. Ele foi até o armário onde pegou a pistola glock e colocou na cintura antes de fechar o botão do blazer preto.— Pode começar. — Os olhos tão azuis quanto o céu se concentraram em Lívia.— Vou conviver com você, mas não quero que me toque.— Isso não será problema! Quando eu quiser trepar, vou procurar fora de casa. — Ele li
Em uma jogada rápida de autodefesa, Mattia bateu no ferimento de Enrico com bastante força na intenção de se livrar, entretanto, o homem continuou à força-lo contra a parede, o sangue de Enrico estava quente demais para sentir qualquer dor, o rosto avermelhado pela fúria, estava prestes a estrangular o pobre homem quando Lívia interviu:— Vamos conversar lá dentro! — Gritou. Nervosa, ela indicou a entrada da Clínica quando Enrico virou o rosto e estreitou o olhar em sua direção.Lívia ficou assustada diante da atitude do gângster, tinha medo que ele matasse o seu melhor amigo como fez com o próprio funcionário pouco antes de chegarem na clínica.— Solte o Mattia ou o nosso contrato será anulado! — Ela se encheu de coragem para enfrentá-lo.Embora imaginasse que aquela ameaça a levaria de volta para atrás das grades no calabouço de Enrico, Lívia não se deu por vencida, precisava se impor e evitar que o amigo fosse morto em plena luz do dia na frente de sua clínica. A contragosto Enric
O som da chuva deixava a tarde mais agradável. Acomodando as costas na poltrona, Lívia vigiou Enrico por quase uma hora, estava preocupada com a concussão. Prestou atenção no relógio com moldura metálica pendurada na parede do quarto, eram quase cinco da tarde.A enfermeira baixinha passou pela porta, trazia os insumos para o consultório.— Como está o paciente bonitão? — A enfermeira sussurrou a pergunta.— Vai sobreviver. — Lívia respondeu no mesmo tom.— Que bom, seria um desperdício se ele morresse! — A enfermeira se retirou. “Nem o inferno quer esse homem por lá”, Lívia quase riu ao imaginar Enrico tentando tomar o lugar do diabo no inferno.Ela estava cansada, lutando para se manter atenta à volta de Mattia, sentia as pálpebras pesadas e o corpo mais relaxado até adormecer. Lentamente, Enrico recuperou os sentidos, os olhos confusos passeando pelo quarto de paredes neutras se mantiveram fixos na mulher adormecida na cadeira ao seu lado. Ela ficava tão serena quando dormia, ne