Havia uma ironia irrecusável naquele acordo, era o primeiro homem que tinha colhões para fazer tal proposta. Enrico estava se aliando ao seu inimigo para espiar o capo de seu clã. Não tinha dúvidas de que seu tio escondia coisas sobre o passado e nada mais justo do que usar a magia utilizada pelo próprio feiticeiro. A contragosto, ele tirou a pistola do rosto de Mattia, segurou a mandíbula forçando a abrir a boca onde enfiou o cano da glock.— Se você tentar me enganar e der um passo em falso, vou arrancar cada um dos seus dentes e estourar seus miolos, — ameaçou num tom petulante. — Estamos entendidos?Mesmo com o rosto desfigurado após a sessão de pancadas, Mattia concordou com a cabeça.Já em pé, Enrico enxugou o suor da testa com a manga da camisa. Ainda segurava a semiautomática enquanto Mattia se apoiava no sofá para levantar do chão.— Um dos meus homens vai te acompanhar, — tencionou a boca. — Desapareça até que esses ferimentos cicatrizem e mantenha o celular ao seu lado. Em
Em casa, Enrico já estava preparado para o ataque. Andou pelo quarto onde a Lívia dormiu nas últimas noites em que esteve naquela casa e sentou-se na cama. A imagem de sua mãe ensanguentada estava gravada em sua memória. Toda a história que seu tio contou acerca de seu pai era uma terrível mentira. Enrico olhou para o carpete e então, prometeu:— Vou me vingar dele, mamãe!Um traçante seguido de outro atravessou o céu escuro. Enrico abaixou quando dois tiros atravessaram o vidro e acertaram a parede acima de sua cabeça.Arrastando-se, Enrico foi para a janela. Encostado na parede, levantou devagar. Esticou o pescoço para ver o exército de homens que defendiam a sua casa bravamente.Enrico correu e pegou a submetralhadora que estava em cima da cama, era hora de lutar contra o tio que o enganou por todos aqueles anos. Quebrou o vidro e em seguida, disparou uma rajada de tiros contra os homens que tentavam invadir a casa pelo jardim da sua mãe.Saindo do quarto, correu até as escadas. Já
A batalha entre as gangues demorou menos do que os homens da Gaspipe esperavam. Eles invadiram a sede inimiga em apenas cinco minutos.— Essa crise realmente derrubou os Bianchi, — pulou um dos homens mortos.A sede tinha apenas dois homens vigiando. Bonano foi até o escritório, queria ficar de frente com aquele desgraçado que liderava toda aquela merda.— Olha o que temos aqui, chefe! — Um dos homens puxou o conselheiro.— Quanto tempo? — Bonano sorriu. — Seus conselhos não ajudaram muito os Bianchi! — Ergueu as mãos ao girar devagar. — Onde está o seu chefe?— Não sei!— Você sempre foi o fiel escudeiro daquele capo maledetto! — Don Bonano apontou a pistola para o joelho do consigliere, — onde ele está?— Você nunca vai saber, estúpido!Um grito surgiu após o disparo, a dor lancinante fez com que o consigliere caísse no chão.— Isso dói, não é mesmo! — Afirmou com ironia. — Onde está o garoto? — Apertou o cano da pistola contra o joelho esquerdo e começou a contar: — Um, dois, três…
Assustada, Lívia ficou em silêncio no trajeto até o local marcado. O homem ao seu lado conduzia o automóvel com uma fisionomia sombria. Ao chegar, os dois andaram até um galpão abandonado no meio de uma vegetação rasteira. Enrico abriu a porta, entrou na frente de Lívia. A voz ecoou no local mal iluminado.— Estão atrasados!Enrico tentou sondar de onde vinha a voz de seu tio. Tirou a pistola e olhou para cada lado daquele balcão com madeiras tomadas pelos cupins.— Atire nela! — ordenou ao sobrinho.Enrico tinha forças para lutar contra o desejo que sentia por aquela mulher, mas não tinha coragem de matar Lívia.— Prefere ver o seu filho morrer?Don Bianchi surgiu das sombras segurando um criançpa de cabelos castanhos que parecia estar dopado. Ele botou o menino no chão e então sorriu.Impaciente, o velho capo empunhou a arma e disparou na direção de Lívia. Mattia surgiu como num passe de mágica e entrou na frente de sua ex-amiga.Aproveitando a oportunidade, Enrico se esgueirou pela
Mesmo cometendo tantas atrocidades, Don Bianchi ainda queria que Enrico matasse Lívia e se desfizesse de seu grande amor pessoalmente. Lívia atrapalhou o seu plano de destruir Bonano Gaspipe. — O seu pai era apenas um capanga estúpdio, — o velho respondeu em meio a dor. — Ele queria deixar a gangue para ter uma vida normal com uma vagabunda que tirou da casa da madame Monroe depois que ela engravidou.— O que fez com os meus pais, velho desgraçado? — Esmurrou-lhe o rosto. — diga a verdade, — Enrico desferiu mais um soco depois que Don Bianchi cuspiu sangue em seu rosto.— Depois de matarm o seu pai, eu trepei com sua mãe e mandei meus homens se divertirem com aquela vagabunda até se cansarem.— Onde está a minha mãe?— Morreu! — Mesmo com o rosto ferido e os olhos vazados, o tio de Enricou ria frenéticamente.Lívia ficou furiosa e correu para cima do velho capo.— Seu maluco, imbecil! — Começou a xingá-lo por ser tão egoísta.Se o Don Bianchi não tivesse estuprado sua mãe, ela não te
Em passos apressados, Enrico continuou andando. Um de seus subordinados o cumprimentou, mas ele o ignorou. Estava com receio de que o nó se formando em sua garganta ficasse aparente em sua voz, afinal, seria o futuro Capo, precisava manter a postura.Dentro do carro, ele tirou o blazer e afrouxou o colarinho, sentia a raiva sufocá-lo. Sentia-se estúpido por ter sido enganado por um rabo de saia.— Ela vai ter o que merece! — Desferiu um soco contra o volante. — Isso não vai ficar assim! — Outro soco. Depois outro, e mais outro.O carro deslizava tão rápido pela pista, que as árvores que ladeavam a estrada mais pareciam borrões vistas de dentro do automóvel. Enrico baixou os vidros, permitindo que o ar gelado condensasse sua respiração irregular, o vento frio açoitou o seu rosto. A voz do tio ainda reverberava em sua mente, as informações colhidas, junto com a moeda e o pendrive, confirmavam o que Enrico tinha tanto medo de admitir para si mesmo: ele estava errado sobre a própria espo
Três meses antes... Enrico Bianchi era o sottocapo de uma poderosa máfia italiana e desde criança aprendeu a derramar sangue. Para vingar a morte de seus pais, ele treinou rigorosamente.A cada chute e soco desferido contra o saco de pancadas, a mente evocava as lembranças da noite em que se escondeu embaixo da cama e ouviu os gritos desesperados de sua mãe.Após vinte e cinco anos, Enrico saía em missões, contudo, ele mantinha o treinamento rigoroso. Naquela manhã de sábado, ele ergueu a perna e deu um chute forte no saco de pancadas. O rapaz franzino caiu sentado.— Segura isso com mais força, — ordenou a voz prepotente.Enrico pegou a toalha e enxugou o suor que brotava de suas têmporas enquanto o outro homem se levantava.— Se você cair novamente, eu vou te chutar até cansar. — Ele espremeu os olhos enquanto o subordinado se colocava de pé.Com o passar do tempo, Enrico se tornou um assassino cruel e temido por todos os seus inimigos. Ele enterrou as suas emoções, não havia razão
Naquela noite chuvosa, as ruas estavam vazias. Enrico seguiu o homem de capa preta por um longo caminho sem ser notado. Queria ter certeza de que não havia testemunhas à sua volta antes de cumprir a sua missão.Ele cresceu sabendo que os traidores eram raças da pior espécie e que deveriam ser liquidados o quanto antes. Parado num beco mal iluminado, esperava que o contador chegasse mais perto, nesse ramo a paciência é indispensável. Em um movimento súbito, Enrico passou a corda no pescoço do homem que, instintivamente, lutou para sobreviver.— Seu traidor de merda! — ele impôs toda a sua força apertando a corda cada vez mais, o homem buscava freneticamente pelo ar sem conseguir se desvencilhar de seu algoz — Vou te ensinar a não se meter com a minha família!Segurando entre o queixo e a cabeça, ele virou o pescoço do traidor para o lado oposto e quebrou-lhe o pescoço. Enrico soltou o corpo do homem sem vida no chão e cuspiu sobre ele, não satisfeito, desferiu chutes contra o corpo esti