No instante em que saiu da casa, Enrico entrou no carro. Dirigiu como um louco pela estrada. O trânsito estava livre, mas do jeito que estava, atropelaria a primeira pessoa que atravessasse o seu caminho.— Como pude ser tão estúpido? — Girou a moeda de ouro na mão esquerda.Enrico aumentou a velocidade até chegar a casa do tio em Florença. Freou bruscamente em frente ao portão, homens armados saíram de trás das árvores.— É o chefe! — Ele meneou a cabeça para os homens que lhe saudaram.Conduziu o Rolls-Royce e pulou do carro depois que parou próximo a varanda da entrada principal.— Onde está o meu tio? — Enrico perguntou ao mordomo que pegou o blazer e saiu andando pelo hall.— Don Bianchi acabou de chegar de um evento. — informou o leve sotaque britânico.— Preciso conversar com ele, é urgente — pisou no primeiro degrau.— O Don Bianchi ainda não se recolheu, está no escritório.Voltando, ele passou por ele às pressas. Abriu a porta sem anunciar.— Que modos são esses, Enrico?—
Enrico passou pelos seguranças em silêncio, tinha medo de que o nó se formando em sua garganta ficasse aparente em sua voz, afinal, seria o futuro Capo, precisava manter a postura. Já dentro do carro, ele tirou o blazer e afrouxou o colarinho, sentia a raiva sufoca-lo. Sentia-se estúpido por ter sido enganado por um rabo de saia. Enrico baixou os vidros, permitindo que o ar gelado condesasse sua respiração irregular, o vento frio açoitou o seu rosto. A voz do tio ainda reverberava em sua mente, as informações colhidas, junto com a moeda e o pendrive, confirmavam o que Enrico tinha tanto medo de admitir para si mesmo: ele estava errado sobre a própria esposa. A mulher que ele amava era uma farsa, mas Enrico estava cansado de brincar de casinha, estava na hora de dar uma lição na mulher que o enfeitiçou com os seus encantos. Enrico entrou na sala, olhou para o sofá onde Lívia estava encolhida, envolta em um cobertor. Por breves segundos, ele se compadeceu da mulher com marcas de lágrim
Lívia recuou rapidamente e escondeu o desenho atrás das costas. Entre as respirações irregulares, ela virou-se. — Buongiorno. — disse a governanta ao entrar com a mesinha de café. — Se eu fosse a senhora, não mexeria nisso. — elevou o queixo, indicando o quadro. — O seu marido nunca deixou que outras pessoas entrassem nesse quarto. Apenas eu tenho permissão para limpar uma vez na semana. — Certo! — Lívia concordou. Permaneceu com as mãos atrás das costas. — Trouxe o seu desjejum. — A mulher de cabelos brancos exibiu a mesinha de café. — Obrigada! — É melhor a senhora colocar esse desenho no lugar. A funcionária arrumava aquele quarto desde que Enrico era um menino. Na época, ela ficou chocada com os primeiros desenhos, mas depois de um tempo, ela se habituou ao modo como o pequeno Enrico extravasava toda a sua dor e raiva, já que o tio nunca o levou para um acompanhamento adequado com um psicólogo. Lívia rapidamente, pôs o desenho no lugar. Pegou a mesinha e sentou-se em uma
As luzes se acenderam iluminando o palco do salão vazio. Enfarpelado, Enrico estava sentado em uma das cadeiras escondendo as suas dúvidas por trás de sua máscara sombria enquanto as garotas da casa da Madame Monroe ensaiavam para a apresentação daquela noite.— O que faz aqui docinho? — A dona do estabelecimento segurava uma cigarrilha entre os dedos.— Pensando… — Enrico apoiou o queixo contra o dorso da mão— Soube que estava casado.— Estou! — Corrigiu com dureza em seu tom de voz.— Hum, já sei! Quer experimentar coisas novas?— Não.— Se precisar, pode escolher qualquer uma. — indicou o palco.Ele olhou, avaliando os corpos que se exibiam no palco. Todas eram igualmente belas, mas a sua mente ainda era dominada pela médica. Fazia dias que não tinha contato íntimo. Tinham quase um mês de casado e só tiveram uma única noite de sexo. Enrico poderia esvaziar e lançar toda tensão numa daquelas mulheres que vendiam o corpo por dinheiro. Chegou a cogitar a ideia de passar algumas hora
Duas semanas se passaram desde que Enrico a trancou naquela casa. Lívia passava as manhãs caminhando pelos jardins, cuidava de seu cachorro e fazia suas refeições na cozinha com a governanta. Nos dias em que ficou em casa, reparou que os homens faziam uma pausa para fumar e jogar conversa fora. Outras vezes, ela passeava pelo gramado e notou que um deles estava cochilando enquanto o outro fazia a ronda.Uma cor viva e alaranjada cortou o céu, o sol começou a sumir lentamente, desaparecendo atrás das montanhas. Lívia estava olhando para o belo céu, no momento que abaixou a cabeça, sentiu como se o verde girasse feito um carrossel. Ela pôs a mão na testa, já tinha sentido aquele mal-estar nos outros dias.Durante o jantar, Lívia ficou nauseada ao sentir o cheiro do tempero, o estômago estava embrulhado demais. Saiu da mesa, correu para a lata de lixo e pôs tudo para fora.A governanta pegou um copo com água gelada e colocou metade de um limão. Ficou parada ao lado de Lívia.— Beba, dout
Por um breve segundo, Mattia olhou para a amiga que dormia serenamente no banco ao seu lado. Engoliu em seco algumas vezes refletindo sobre o que faria. Mattia já tinha abastecido o carro e comprado o necessário para se alimentar no esconderijo. O som do trovão despertou Lívia. Com a mão no peito, tratava de acalmar o agitado coração.— Calma, foi apenas um trovão!!! — Os lábios de Mattia se comprimiam num sorriso. — Se me levar para a sua casa, o Enrico vai me econtrar.— Calma! Vou te levar para a fazenda da minha tia.— Não, não! — disse, nervosamente. — Eu não quero envolver mais pessoas nisso.— Fica tranquila, Lívia — Olhou de soslaio para a amiga. — A casa está vazia. A minha tia foi morar com a minha prima na França. — Atentou-se a estrada. — Descansa um pouco! Quando chegarmos, eu vou te acordar.Lívia se sentia segura ao lado dele. Confiava cegamente na boa vontade de seu amigo mesmo sem saber para onde estavam indo.…Logo que o carro parou em frente a casa de dois anda
A chama amarela derretia a cera da vela, não havia eletricidade naquele ambiente inospitaleiro. Depois que Don Bianchi se retirou, Mattia abriu duas latas de sopa e despejou em uma cuia. Parou diante da mulher silenciosa que evitou encará-lo. — Trouxe comida! — Ele puxou a cadeira e sentou-se de frente para ela. A direita de Lívia havia um sofá velho, ela observou o estofado florido com alguns rasgos e desviou o olhar para o cachorrinho que estava deitado ao seus pés. O cãozinho ficou o tempo todo ao lado de sua dona.— Por que fez isso? — Virou a cabeça levemente e se concentrou no rosto dele ao questionar.Por dentro, Mattia sentia como se a angústia fosse um fogo que lhe devorava a alma. Sustentou o olhar triste da mulher que amava:— Não tive outra escolha… — não podia contar muita coisa naquele instante. Ele sabia o que poderia acontecer se não cumprisse as ordens do capo da família Bianchi.— Como não teve? — Lívia retrucou. — Você me drogou, Mattia. Nunca pensei que fosse c
Enquanto Enrico perambulava à procura da esposa, a governanta passou pela sala de estar devagar quando avistou o olhar medonho do chefe.— O senhor deseja alguma bebida? — Não! — Exclamou grosseiramente. — Eu quero que me diga onde está o seu neto? — A voz máscula berrou ao questionar a governanta.As pupilas da idosa estavam dilatadas, pondo a mão no lado esquerdo do peito, ela recuou. Naquela altura do campeonato, o rapaz já devia estar em um trem partindo para a França. Ela já havia combinado tudo com um de seus parentes que daria abrigo ao jovem numa cidadezinha no interior da França. Fez tudo o que estava ao seu alcance para tirar o neto desta vida criminosa.— Eu realmente não a vi, senhor Bianchi! — gaguejou.— Por que continua mentindo? — O olhar inquisidor examinou as atitudes suspeitas da governanta. Tirando a pistola da cintura, ele apontou para o pé de sua funcionária. A atmosfera ficou ainda mais tensa quando Enrico percebeu que ela estava mentindo.— O senhor seria cap