Nos dias que se sucederam, Lívia já subia a escada e realizava os seus afazeres. Em alguns momentos, sentia falta do trabalho e dos colegas da clínica. Certa tarde, ela divergiu com o marido porque ele insistia para que Lívia ficasse mais alguns dias em casa. Enrico saiu do quarto batendo a porta, em seu íntimo, ele acreditava que a esposa sentia falta do amigo.Ao cair da noite, Lívia estava com o cãozinho Bob, na sala de estar, quando foi surpreendida pelo rapaz que fazia parte da gangue. O cãozinho correu direto para o seu cuidador.— O chefe mandou te entregar. — deu o ramalhete com arranjo de margaridas amarelas, vermelhas e brancas para Lívia. — Vamos, passear Bob! — Colocou a coleira no cão e saiu.Havia um pedido de desculpas e um convite para o jantar no bilhete que ela retirou de dentro do buquê.— Buonasera, doutora Ricci! — A governanta de cabelos grisalhos cumprimentou a médica. — Buonasera!Lívia ainda tinha um sorriso no rosto quando olhou para o embrulho e para a saco
Já em casa, Lívia tropeçou num degrau. Realmente não estava acostumada a beber.— Ui! — Ela deu um gritinho quando Enrico a pegou no colo e a levou até o segundo andar. — Estou ficando mal acostumada.Lívia tocou o furinho no queixo de Enrico e passou o indicador nos lábios.— Pare de olhar para os meus seios. — ela falou, sorrindo. — Olhe para mim! — Forçou-o a levantar o rosto para encará-la. — Seus olhos são tão lindos.Ele tentou manter a seriedade, mas Lívia era engraçada quando estava bêbada. Enrico deixou escapar um sorriso quando atravessou a porta do quarto.— Não consigo mais! — A voz máscula confessou. — Eu preciso sentir você! — Colocou-a sobre a cama.Olhos azuis e olhos negros se encaravam. Enrico acarinhou o rosto anguloso e traçou a curva dos lábios vermelhos com os dedos.— Você está linda demais essa noites… — tocou o seu lábio com o dedo indicador.Deitada sobre os lençóis de seda, ela suspirou com o carinho da mão de Enrico tocando-lhe o contorno dos seios. Sem tir
Ela tomou distância do homem enfurecido, as pernas bateram contra a cadeira onde ela caiu sentada.— Eu nunca vi essas coisas antes! Sentindo que o esposo se comportava de forma estranha, Lívia desviou o olhar e tentou fugir para o banheiro. Movimentando-se com destreza, ele impediu-a de se esconder. Queria saber a verdade.— Onde você conseguiu essa moeda?— Eu nunca vi isso antes, Enrico! — ela sacudiu o braço para se desvencilhar, mas ele não soltou.— Você disse que não pegou o pen drive da minha mochila! — Esbravejou. — Não peguei— Para de mentir! — Falou aos berros. — Aonde você conseguiu essa moeda, — segurou-a pelo braço. — Eu não sei!— Isso estava na sua bolsa, mas você não sabe nada sobre isso.— Enrico, por favor, você está me assustando! — Ela puxou o braço com um pouco mais de força — Por que está tão estranho? O que está acontecendo?— Pobre Lívia, sempre tão ingênua! — Havia um certo desdém em seu tom de voz — Até quando você vai continuar fingindo? — questionou, i
No instante em que saiu da casa, Enrico entrou no carro. Dirigiu como um louco pela estrada. O trânsito estava livre, mas do jeito que estava, atropelaria a primeira pessoa que atravessasse o seu caminho.— Como pude ser tão estúpido? — Girou a moeda de ouro na mão esquerda.Enrico aumentou a velocidade até chegar a casa do tio em Florença. Freou bruscamente em frente ao portão, homens armados saíram de trás das árvores.— É o chefe! — Ele meneou a cabeça para os homens que lhe saudaram.Conduziu o Rolls-Royce e pulou do carro depois que parou próximo a varanda da entrada principal.— Onde está o meu tio? — Enrico perguntou ao mordomo que pegou o blazer e saiu andando pelo hall.— Don Bianchi acabou de chegar de um evento. — informou o leve sotaque britânico.— Preciso conversar com ele, é urgente — pisou no primeiro degrau.— O Don Bianchi ainda não se recolheu, está no escritório.Voltando, ele passou por ele às pressas. Abriu a porta sem anunciar.— Que modos são esses, Enrico?—
Enrico passou pelos seguranças em silêncio, tinha medo de que o nó se formando em sua garganta ficasse aparente em sua voz, afinal, seria o futuro Capo, precisava manter a postura. Já dentro do carro, ele tirou o blazer e afrouxou o colarinho, sentia a raiva sufoca-lo. Sentia-se estúpido por ter sido enganado por um rabo de saia. Enrico baixou os vidros, permitindo que o ar gelado condesasse sua respiração irregular, o vento frio açoitou o seu rosto. A voz do tio ainda reverberava em sua mente, as informações colhidas, junto com a moeda e o pendrive, confirmavam o que Enrico tinha tanto medo de admitir para si mesmo: ele estava errado sobre a própria esposa. A mulher que ele amava era uma farsa, mas Enrico estava cansado de brincar de casinha, estava na hora de dar uma lição na mulher que o enfeitiçou com os seus encantos. Enrico entrou na sala, olhou para o sofá onde Lívia estava encolhida, envolta em um cobertor. Por breves segundos, ele se compadeceu da mulher com marcas de lágrim
Lívia recuou rapidamente e escondeu o desenho atrás das costas. Entre as respirações irregulares, ela virou-se. — Buongiorno. — disse a governanta ao entrar com a mesinha de café. — Se eu fosse a senhora, não mexeria nisso. — elevou o queixo, indicando o quadro. — O seu marido nunca deixou que outras pessoas entrassem nesse quarto. Apenas eu tenho permissão para limpar uma vez na semana. — Certo! — Lívia concordou. Permaneceu com as mãos atrás das costas. — Trouxe o seu desjejum. — A mulher de cabelos brancos exibiu a mesinha de café. — Obrigada! — É melhor a senhora colocar esse desenho no lugar. A funcionária arrumava aquele quarto desde que Enrico era um menino. Na época, ela ficou chocada com os primeiros desenhos, mas depois de um tempo, ela se habituou ao modo como o pequeno Enrico extravasava toda a sua dor e raiva, já que o tio nunca o levou para um acompanhamento adequado com um psicólogo. Lívia rapidamente, pôs o desenho no lugar. Pegou a mesinha e sentou-se em uma
As luzes se acenderam iluminando o palco do salão vazio. Enfarpelado, Enrico estava sentado em uma das cadeiras escondendo as suas dúvidas por trás de sua máscara sombria enquanto as garotas da casa da Madame Monroe ensaiavam para a apresentação daquela noite.— O que faz aqui docinho? — A dona do estabelecimento segurava uma cigarrilha entre os dedos.— Pensando… — Enrico apoiou o queixo contra o dorso da mão— Soube que estava casado.— Estou! — Corrigiu com dureza em seu tom de voz.— Hum, já sei! Quer experimentar coisas novas?— Não.— Se precisar, pode escolher qualquer uma. — indicou o palco.Ele olhou, avaliando os corpos que se exibiam no palco. Todas eram igualmente belas, mas a sua mente ainda era dominada pela médica. Fazia dias que não tinha contato íntimo. Tinham quase um mês de casado e só tiveram uma única noite de sexo. Enrico poderia esvaziar e lançar toda tensão numa daquelas mulheres que vendiam o corpo por dinheiro. Chegou a cogitar a ideia de passar algumas hora
Duas semanas se passaram desde que Enrico a trancou naquela casa. Lívia passava as manhãs caminhando pelos jardins, cuidava de seu cachorro e fazia suas refeições na cozinha com a governanta. Nos dias em que ficou em casa, reparou que os homens faziam uma pausa para fumar e jogar conversa fora. Outras vezes, ela passeava pelo gramado e notou que um deles estava cochilando enquanto o outro fazia a ronda.Uma cor viva e alaranjada cortou o céu, o sol começou a sumir lentamente, desaparecendo atrás das montanhas. Lívia estava olhando para o belo céu, no momento que abaixou a cabeça, sentiu como se o verde girasse feito um carrossel. Ela pôs a mão na testa, já tinha sentido aquele mal-estar nos outros dias.Durante o jantar, Lívia ficou nauseada ao sentir o cheiro do tempero, o estômago estava embrulhado demais. Saiu da mesa, correu para a lata de lixo e pôs tudo para fora.A governanta pegou um copo com água gelada e colocou metade de um limão. Ficou parada ao lado de Lívia.— Beba, dout