EmmaO tique-taque do relógio ecoa pelo quarto vazio enquanto me reviro pela milésima vez na cama king size. Três e quarenta da manhã. Do outro lado do corredor, separado por paredes grossas e uma porta trancada, Peter dorme em seu próprio quarto.Seu próprio quarto. A decisão dele ainda queima em minha memória.— Acho melhor mantermos nossos espaços separados — ele disse enquanto inspecionávamos a cobertura pela primeira vez. — Para evitar... confusões.— Claro — respondi na hora, erguendo o queixo. — Se você não tivesse sugerido, eu mesma o faria.Mentira. Uma mentira tão grande quanto esta cobertura luxuosa que agora dividimos. Porque a verdade, a vergonhosa verdade que admito apenas nas horas mais escuras da noite, é que queria dividir não só o quarto, mas a cama com ele.Fecho os olhos com força, mas a imagem volta como um filme em loop: Peter pressionando aquela mulher contra a parede do hotel, seus lábios em seu pescoço, as mãos deslizando por suas curvas. O som baixo que escap
EmmaO tecido de seda escorre por meus dedos como água enquanto trabalho nos detalhes do corpete. O ateliê está silencioso, exceto pelo suave zumbido da máquina de costura e o ocasional tilintar dos alfinetes caindo na mesa de trabalho.Este é meu santuário. Meu território. O único lugar onde posso ser completamente eu mesma, sem máscaras ou pretensões.— Senhorita Emma — Maria, minha assistente, coloca a cabeça pela porta. — Seu marido está aqui.O alfinete que segurava espeta meu dedo. Peter? Aqui?— Mande-o entrar — respondo, tentando manter a voz firme enquanto chupo o dedo machucado.E lá está ele, preenchendo a porta com sua presença imponente. O terno cinza escuro de hoje é tão pecaminoso quanto o preto de manhã, mas agora a gravata está ligeiramente frouxa, como se ele tivesse passado a manhã toda a ajustando nervosamente.— Pensei em te chamar para almoçar — ele diz, mas seus olhos percorrem o espaço, absorvendo cada detalhe.— Estou ocupada — respondo, voltando minha atenção
PeterO uísque queima minha garganta enquanto as imagens do dia não param de girar em minha mente. Emma em seu ateliê, tão linda, tão apaixonada por seu trabalho. Seus dedos delicados deslizando pelos tecidos, seus olhos brilhando ao falar de suas criações.Peço mais uma dose, tentando afogar estes sentimentos que crescem em meu peito. Como posso estar me apaixonando por minha própria esposa? Logo eu, que ela considera um mulherengo nojento, um playboy sem valor.— A conta, por favor — peço ao bartender, passando a mão pelo rosto cansado.Olho para o relógio: quase duas da manhã. Droga. Não pretendia ficar tanto tempo, mas como voltar para casa? Como deitar em minha cama sabendo que ela está do outro lado do corredor?Quando abro a porta da cobertura, encontro Emma me esperando na sala, braços cruzados e olhos faiscando.— Isso são horas? — ela dispara.— Não pedi que me esperasse acordada — respondo, mais ríspido do que pretendia, porque, porra. Ela está linda vestindo um robe de sed
PeterDeslizo o robe por seus ombros e então seguro a barra de sua camisola e dispo por sua cabeça e então ela está praticamente nua no meu colo, com apenas uma calcinha minúscula. Os seios dela diante de mim, trêmulos. Eu os admiro com um sorriso satisfeito.— Você é linda, Emma. — Eu os tomo em minhas mãos, acariciando os biquinhos escuros com meus polegares e ela rebola contra mim mais uma vez. Gemo baixinho torturado e umedeço meus lábios antes de prová-los. Faço isso encarando-a, capturando suas sensações. Sua linda boquinha está entreaberta, sua respiração pesada, observando minha boca agir junto a sua carne. Sua expressão de desejo me deixa louco e eu sugo um e depois o outro.Ela balbucia meu nome e eu aperto seu traseiro macia, fazendo-a se mover mais e mais contra mim.— Emma! — solto um grunhido contra sua boca. — Eu preciso de você.— E eu de você, Peter! Agora! — ela geme contra minha boca, inquieta. — Por favor!Ela não precisa pedir de novo. Eu a tombo no sofá, desço me
EmmaA luz do sol invade o quarto através das cortinas entreabertas, mas não é isso que me acorda. São os beijos suaves que Peter deposita em meu ombro nu, subindo lentamente até meu pescoço, provocando arrepios por todo meu corpo.— Bom dia — ele murmura contra minha pele, sua voz ainda rouca de sono.Me viro para encará-lo, ainda mal acreditando que isso é real. Que passamos a noite juntos, que finalmente nos permitimos este momento. Seu cabelo está despenteado, os olhos sonolentos, e nunca o achei tão bonito quanto agora.— Bom dia — respondo, correndo os dedos por seu peito nu, memorizando cada detalhe.Seus olhos escurecem com meu toque, e logo estamos nos beijando novamente. Devagar, preguiçosamente, saboreando cada momento como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Como se este quarto fosse nosso próprio universo particular.— Você é linda — ele sussurra entre beijos. — Tão linda. Não sei como resisti tanto tempo.Suas mãos deslizam por minhas costas, reacendendo memórias da noi
PeterNão consigo parar de sorrir enquanto reviso os relatórios em minha mesa. As palavras dançam diante de meus olhos enquanto minha mente vagueia para a noite anterior. Emma em meus braços, seus beijos, seus suspiros, a forma como sussurrou meu nome...— Senhor Blackwood? — Sarah me chama pela terceira vez.— Desculpe — ajusto a gravata, tentando me recompor. — O que dizia?— A reunião das duas foi confirmada.Olho para o relógio. Ainda tenho algumas horas até precisar buscar Emma. Emma. Só pensar em seu nome faz meu corpo inteiro reagir, lembrando de cada momento que compartilhamos.A forma como ela arqueou sob meu toque, como seus dedos delicados exploraram meu corpo, como seu perfume impregnou meus lençóis... Droga. Preciso me concentrar.Pego o celular para mandar uma mensagem checando como ela está. É a quinta desde que a deixei no ateliê, mas não consigo evitar. A imagem de seu tornozelo inchado ainda me preocupa.É então que vejo a mensagem de Jessica."Preciso te ver com urg
Emma ParkerA música suave tocada pelo quarteto de cordas ecoa pelas paredes de pedra da catedral, reverberando nos bancos e altas colunas. Caminho lentamente pelo corredor central, meu braço entrelaçado ao do meu pai, Albert. O vestido branco que visto parece pesar toneladas, não tanto pelo tecido, mas pelo fardo que ele carrega: hoje, estou prestes a me casar com Peter Blackwood, um homem que não escolhi. A cada passo, sinto o olhar atento dos convidados, todos aguardando o momento em que direi “sim” e selarei o acordo que minhas famílias teceram.Meu coração está apertado, minha respiração, instável. Eu não quero esse casamento. Nunca quis. Vi Peter poucas vezes, e, embora ele seja um homem muito bonito, nunca houve nenhuma afinidade real entre nós. Ele sempre traz um sorriso debochado e arrogante nos lábios. E sei que faz sucesso entre as mulheres, mas eu não sou uma dessas. Eu acredito no amor genuíno e relacionamentos monogâmicos. Antiquado? Talvez. Mas sou assim. No entanto, pa
EmmaA atmosfera no salão da catedral é de celebração contida. Os convidados agora se movimentam, preparados para seguir até o local da recepção, onde fotos, discursos e brindes os aguardam. Estou parada perto de uma coluna, tentando digerir o que acabei de testemunhar. Peter beijando outra logo após nos casarmos. Uma traição escancarada, consumada segundos após a cerimônia. Meu marido. Minha amiga de longa data, ou ao menos alguém que eu considerava próxima. Quanta ironia.Eu me mantenho imóvel, o buquê ainda entre os dedos, a respiração curta. Minha mãe passa por mim, disfarçando, e sussurra em tom baixo:— Não faça um escândalo agora, Emma. Lembre-se do que está em jogo.Ela segue adiante, cumprimentando alguém. Estou sozinha com minha raiva e minha humilhação. Deveria confrontá-los? Deveria gritar? As palavras do meu pai ainda ecoam na minha cabeça: não estrague tudo, ou perderemos o que temos. Maldita chantagem emocional.Então vejo Peter se aproximar. Vem da direção do corredor