RAFAELNão sei o que se passa na cabeça de Ana Jorge. Sei que ela quer que eu desista do meu plano de me colocar para dormir, mas ela não entende — não é um plano, é necessário.Não posso ficar aqui por muito tempo. Este não é meu mundo. Estou no lugar errado. Eu a encontrei no momento errado.Por um tempo, pensei em fazer deste momento meu. Aprendi os costumes deste mundo, me forcei a continuar na esperança de que, se permanecesse vivo, poderia me vingar das pessoas que me fizeram passar por isso, as pessoas que mataram minha mãe. No final, estava vivendo uma mentira — mais uma vez.Este nunca poderá ser meu mundo. E minha mãe está muito viva e respirando.Era apenas eu. Fui o único que sofreu. Às vezes, quero sentir autopiedade e superar essa dor monótona e entediante no meu peito, mas não posso. A culpa foi minha, desde o início. Se eu tivesse controlado minha sede de sangue séculos atrás, os Originais nunca teriam descoberto sobre mim. A culpa é toda minha, então não posso me senti
ANATomamos café da manhã que eu preparei depois de uma tentativa desastrosa de cozinhar. Não foi minha culpa ter perdido o foco nas panquecas quando ele invadiu a cozinha falando besteira. A culpa era do Rafael por ser tão atraente e naturalmente chamar minha atenção.Gemendo, bato minha testa no balcão da cozinha pela terceira vez. Não importa o quanto eu tente desviar meus pensamentos, volto a pensar nele em questão de segundos.Não tenho dúvidas. Aos poucos, estou começando a perder o juízo por causa dele.Suspiro e me endireito. Sei que tenho que ficar aqui por um tempo depois de ouvir a resposta do Rafael ao meu pedido.Ele tomou sua decisão. Será difícil convencê-lo de que ele pertence a este mundo — onde o destino nos trouxe e nos uniu. Ele sempre deveria estar aqui. Se fosse em outra linha do tempo ou outra pessoa... nunca nos encontraríamos.Deveria acontecer dessa maneira e o que acontece daqui para frente depende das nossas decisões. Ele pode escolher estar aqui e esquecer
ANA Irrompo na casa da alcateia e corro imediatamente para o escritório do Alfa, esperando que Rafael já tivesse voltado.Quando abro a porta, encontro-o sentado na cadeira, seus olhos fixos em mim como se soubesse que eu estava chegando.Solto a respiração que estava prendendo há algum tempo antes de entrar. Um peso enorme sai do meu coração quando vejo Rafael, vivo, respirando, bem na minha frente.— O que você está fazendo? — Bufo, encarando-o.Ele me assustou por um momento quando percebi que estava fazendo todas essas reformas que nunca teve interesse em fazer. Pensei que ele fosse fugir enquanto eu estivesse fora e depois de ter dado todas as ordens. Esses pensamentos estão me matando.Rafael permanece em silêncio, esperando que eu elabore sobre do que o estou acusando desta vez.Inspiro profundamente. Meu olhar demora em seu rosto antes de percorrer seu corpo, a mesa, o chão e então voltar ao seu rosto.— Por que você está mudando os costumes da alcateia? — Pergunto, fechando
RAFAEL— Você está com um cheiro diferente hoje. — menciona Edith ao abrir a porta para mim.Permaneço imóvel no meu lugar, me recusando a entrar na cabana da bruxa onde está mais escuro que o resto do mundo.Seus olhos experientes me analisam, tentando descobrir por que estou aqui. Isso é uma coisa que eu aprecio nesta bruxa em particular — ela nunca faz perguntas. Ela sempre sabe o que eu quero e por que quero.Seus lábios formam um O quando seus olhos pousam na marca em meu pescoço. Agora está visível para todos. Ana me marcou como dela quando não deveria ter feito isso.— Posso perceber por que você está aqui hoje. — A bruxa ri, zombando de mim.— Me diga uma maneira. Preciso me livrar disso. — Digo a ela sem rodeios.— Você sabe que isso só vai desaparecer se sua companheira de alguma forma te rejeitar. — Ela revela o que eu já sei.Mas também sei que uma vez que Ana toma uma decisão, ela não desiste. Ela nunca vai me rejeitar.— Deve haver alguma poção de bruxa para se livrar...
ANA— Você faz o pior café do mundo. — Franzi o nariz com nojo, encarando a xícara de café fumegante entre minhas mãos.— Você nem provou ainda. — Rafael deu de ombros e veio ficar ao meu lado na varanda, seu olhar fixo nas residências da alcateia que podíamos ver à distância.Suspirei, virando-me e contemplando a mesma vista que ele. A noite estava silenciosa, com uma calma pairando sobre toda a alcateia. Eles organizaram suas casas e aceitaram os lugares que lhes foram designados, mas não acredito que fosse apenas sobre a moradia. Era muito mais do que isso. As regras da hierarquia dos lobisomens estavam gravadas em suas mentes.Ninguém consegue apagar essa mentalidade.Nem eu. Nem Rafael. Nem ninguém mais.Suspirando mais uma vez, olhei de relance para o perfil de Rafael. A marca em seu pescoço estava exposta. Eu podia ver a adorável saliência rosada contra sua pele dura. Isso só me lembrou do que ele disse quando partiu. Dizer que estou deliberadamente evitando falar sobre isso ser
ANADepois de beijar Rafael intensamente, o deixei na varanda e voltei para meu quarto. A marca estava mexendo com minha cabeça. Por um momento, senti suas emoções tão cruas, tão próximas, como se fosse eu mesma sentindo todas aquelas coisas, e não ele.Isso me assusta.Agora posso dizer com certeza que Ricardo não consegue perceber o que se passa dentro de Rafael, porque eu consigo. Somente eu consigo.Colocando o cabelo atrás das orelhas, peguei o celular que vibrava sobre a cama. Natália tinha ligado pela milésima vez, mas eu não atendi.Tenho evitado ela e Diana. Não quero que elas descubram a bagunça que está na minha cabeça. Finalmente teriam uma chance única na vida de me chamar de idiota.Suspiro, recusando sua ligação novamente. Meus olhos se voltam para a janela aberta quando o ar frio toca minha pele. Tremo levemente, meu olhar caindo sobre a cama e o edredom.E agora? Como vou convencer Rafael? Como se convence alguém a não odiar o mundo? Eu mesma não acredito que este mund
ANANem percebi quando comecei a adormecer enquanto observava Rafael silenciosamente na noite passada. Ele não disse nada depois que prometi levá-lo para um encontro.Deve ter soado tão infantil para ele que ele sorriu para mim — literalmente sorriu para mim. Gemo, envergonhada de mim mesma, mas preciso ir.Quando acordei, ele já tinha ido embora e a cama estava vazia, mas no meu coração, eu sabia que ele não tinha partido na escuridão. Ele saiu do quarto quando teve certeza de que eu não ficaria assustada.Hoje, não precisei procurá-lo. Podia sentir que ele estava na casa da alcateia, provavelmente no escritório do Alfa, então não fui até lá.Tomei banho, peguei emprestada sua camiseta cinza para vestir, e desci até a cozinha apenas para me deparar com duas visitas muito inesperadas me esperando furiosamente.— Finalmente decidiu acordar. — Natália Silva estreita os olhos para mim, seguida por Diana Mendes que parece igualmente irritada.— Oi pessoal! — Aceno para elas sem jeito.Minh
ANA— Não quis dizer dessa maneira. Eu só estava me certificando que você não estava brincando com Rafael... que você estava ciente de todas as coisas negativas e não estava num estado temporário de que-tudo-está-bem. — Natália suspira quando volto à cozinha depois de mandar Rafael embora.Olho feio para ela. — Você quase arruinou tudo que eu estava me esforçando tanto para construir.— Ana. — Ela desce do banquinho.— Poupe-me. Qualquer coisa que você queira dizer, guarde para si mesma. Não quero ouvir. — Digo antes de me jogar no banquinho.Quase perdi o controle e me sinto tão irritada.— Você está sendo muito dura agora. — Diana murmura.— Estou? — Lanço um olhar furioso para ela desta vez.— Ela não teve essa intenção. — Diana sibila em resposta.Mantenho meus lábios em uma linha fina para me impedir de dizer algo doloroso. Não quero machucá-las. Sei que Natália não teve essa intenção. Ela tentou me convencer a dar outra chance ao Rafael antes. Me contou sobre a vida dele e todas