Era uma sexta-feira fria e chuvosa, no mês de junho, estava sentada no café da Faculdade sozinha, estudando para apresentação do meu TCC, quando vi, um moço alto, forte, a barba por fazer, olhos claros, me cumprimentou de longe, balancei a cabeça retribuindo o gesto, me lembro como se fosse hoje, ele sorri para garçonete, pediu uma Coca-Cola e umas balas de hortelã, e veio até mim: 

-Oi nunca te vi por aqui, meu nome é Lucas e o seu? - Fala e me encara com os olhos claros, mais lindos que já vi. 

-Oi prazer me chamo Andrea! - Fico vermelha. 

-Posso me sentar com você? Não tem lugar vago em outro lugar. Diz Lucas já colocando seu material sobre o meu em uma cadeira no canto. 

-Claro fique à vontade. - Ele se senta e começamos a falar sobre nossos cursos. 

-Está em que ano da Faculdade? Ele me pergunta. 

-No último. 

-Nossa, mas nunca te vi aqui, por que? 

-Vim de uma transferência faz três meses, talvez seja isso. - Falo e minhas bochechas queimam, a beleza dele me deixa um pouco nervosa. 

-E você faz qual curso e está em que ano? - Pergunto tentando criar um diálogo.  

-Faço Engenharia civil e também estou no último ano, você faz qual curso? - Pergunta levando sua Coca-Cola na boca eu observo tudo e engulo em seco para responder. 

-Faço arquitetura, mas vou me especializar em design de interiores. - Digo colocando meu olhar de volta no que estava fazendo. 

-Nossa que legal, e está estudando para sua apresentação no TCC? 

-Sim, e você deveria fazer o mesmo. - Digo para conseguir voltar a estudar. 

Começamos a rir, e a partir daí nunca mais nos separamos, a beleza de Lucas foi o que me chamou a atenção de início, depois foi o jeito engraçado, os sonhos muito parecidos com os meus, e a forma de ver a vida, a vontade de viajar o mundo e ter uma família. 

-Me apaixonei.  

Foi quando no mês de agosto, sim o mês do desgosto de acordo com o ditado popular, eu engatei um relacionamento com Lucas. 

Lucas sempre foi amoroso, carinhoso, sempre foi um homem perfeito, mas depois que concluímos a faculdade ele se empenhou em fazer a empresa que ele criou crescer, só namorávamos na época, morávamos uns trinta quilômetros longe, mesmo assim Lucas era muito presente na minha vida, bem mais que hoje que moramos sobre o mesmo teto. 

Era tudo perfeito, Lucas de empenhava em fazer a empresa crescer e eu trabalhava em uma empresa líder no mercado de design, tinha um salário descente, meu apartamento, meu carro, tinha minha vida na palma da minha mão. 

No ano de 2005 Lucas me pediu em casamento, eu fiquei muito feliz, sabia que tudo ia mudar, porém meu amor por ele era e é tão grande que me joguei nesse casamento de ponta, sem pensar que poderia dar errado, claro que não vai dar errado, nós nos amamos, mal eu sabia que o amor as vezes não é suficiente. 

Nos casamos em maio de 2006, nunca vi noivo mais lindo que meu Lucas, estava perfeito, seu terno se ajustava perfeitamente no corpo forte que ele tem, é ele tem, nunca abandonou a academia, sempre cuidou da saúde. 

Já eu era magra, foca no era magra, hoje as coisas mudaram um pouco, alta, estava deslumbrante, sei disso por que Lucas quando me viu abriu a boca a chorar, ele chorou o casamento inteiro, até hoje brinco com ele, não sei se era de felicidade ou desespero. 

Foi o dia mais feliz da minha vida, depois do casamento passamos nossa lua de mel na Bahia ficamos uma semana por lá, nesses dez anos de casados, foi nossa única viagem, não é falta de dinheiro, é falta de tempo, principalmente do meu marido que passa boa parte do seu tempo na empresa. 

Depois de um tempo resolvemos, Comprar uma casa maior em um bairro nobre de Belo horizonte, já planejando ter filhos, aproveitamos bem só nos dois por um ano, mas já estava na hora de aumentar a família, foi então que em abril de 2008 nasceu Daniel, e ai começaram os problemas, não que meu filho seja o problema, ele nunca foi e nunca será, o problema foi que quando nos tornamos mães, as prioridades mudam, eu deixei de trabalhar, tirei licença maternidade por seis meses, porém no dia que teria que voltar para a empresa, meu coração doeu, ver Daniel ali, tão indefeso, aos cuidados de uma babá, não era o que eu queria, eu queria ficar com meu bebê, foi assim que decidi pedir demissão, e Lucas começou a controlar a minha vida financeira. 

De certa forma, ele nunca me negou dinheiro, nunca me tratou mal por não trabalhar, na verdade nem tinha motivo já que Lucas nesses anos fez com que a empresa fosse muito além do que imaginamos, mas ficar sem meu próprio dinheiro me deixou chateada, sem minha liberdade, cem porcento dependente dele, não é uma coisa que sonhei para mim, porém, prometi para mim mesmo, que assim que Daniel completasse dois anos voltaria a ativa e colocaria ele em uma creche, pelo menos iria ficar com meu filho na fase digamos em que ele mais precisa de mim. 

Daniel já estava com um ano, eu e Lucas ainda tínhamos uma ligação forte, conversávamos toda noite, fazíamos cinema em casa no final de semana, regado a pipoca e refrigerante, era uma vida sem muita emoção, mas estar com ele já era o suficiente, eu não precisava mais das noites quentes em motéis, da rapidinha no banco de trás do carro, o simples fato dele estar comigo jogado no chão da sala, assistindo filme e comendo pipoca para mim era o suficiente, mal sabia eu que aquilo estava acabando com meu casamento, não éramos mais amantes, éramos um casal que planejava a noite de sexo, e isso certamente não é inteligente. 

Quando Daniel completou um ano e meio já estava programando minha volta à ativa, minha independência de Lucas, apesar de estar dez quilos acima do peso, ainda estava com um corpo bonito, eu iria ficar linda em meus conjuntos sociais, nos meus saltos, minha maquiagem leve, não via a hora de sair daquelas camisetas de bichinhos da Disney. 

Esse também foi um grande erro, eu estava esperando voltar à ativa no trabalho para me vestir melhor, parecia uma andarilha dentro de casa, sempre com aquele coque para o alto, com meus chinelos havaianas de oncinha, as unhas sempre curtas

Foi então que a vida me jogou um balde de água fria, mesmo tomando meus remédios regularmente, mesmo me prevenindo de uma gravidez, adivinha quem resolveu aparecer, ela mesma, a princesa da casa, Melissa, chegou com aquelas bochechas rosadas, fez o pai dela pirar quando no sexto mês de gestação inventei de dizer a ele, que ela quando tivesse a nossa idade, quando começamos a namorar, ia fazer o que nós dois fazíamos.  

Lucas sempre ia até minha casa "assistir" filmes, ele ficou doido, falou que se ela viesse com essas historinhas ia internar ela no colégio de freiras, nunca ri tanto na minha vida. 

E para tirar da cabeça dele a ideia de comprar um sítio, como se o sítio fosse proteger a filhinha dele dos meninos, ele me deu muito trabalho com Melissa. 

Por fim tive que adiar o sonho de voltar à ativa novamente, e não sabia por quanto tempo, afinal dois filhos, não é brinquedo não.