Por Lucas

Já se passaram duas semanas, desde então Andréa não me atende, não deixa eu ver meus filhos, já fui inúmeras vezes na casa da minha sogra e nada dela me receber, eu estou ficando louco, afinal foram dez anos de convivência diária, sinto falta dela com o cabelo para o alto, mexendo aquele quadril que depois dos dois filhos aumentou de tamanho, sinto falta da comida, sinto falta do bom dia que as vezes eu mal respondia, apesar do sentimento de amor não existir no meu peito, eu gosto dela, ela faz falta, se eu tivesse colocado um pouco a empresa de lado, talvez nosso casamento tivesse dado certo, eu teria aproveitado mais as crianças, teria aproveitado mais os domingos. 

Depois de ter mandado aquela mensagem e que não obtive nenhuma resposta dela, eu tive a certeza que ela queria o divórcio, e como já disse eu não sei o que sinto por Andrea no momento, talvez o amor tenha acabado mesmo e tenha ficado apenas a convivência e o carinho.  

Hoje estou aqui, domingo à tarde, a casa está uma bagunça, tudo fora do lugar, começo a sentir cheiro de comida estragada, assisto mais alguns filmes, olho nosso porta retrato de família pela milésima vez, e acabo pegando no sono. 

Acordo na segunda quebrado, lembrar de não dormir no sofá mais, o cheiro da casa piorou, vou ao meu quarto e vejo que tenho só mais duas roupas sociais limpas, vou ao banheiro, o papel higiênico acabou, a pasta de dente também, tive que tomar banho com shampoo das crianças já que era o único cheio, é minha vida virou de pernas para o ar em duas semanas, vou pro trabalho e faço uma lista mental do que tenho que fazer. 

-Encontrar uma equipe de limpeza 

-Levar a roupa na lavanderia 

-Ir ao mercado (com urgência) 

-E não dormir no sofá. 

Chego no escritório, falo com minha secretaria, a mantive no emprego dela, na segunda após eu ter chegado da viagem, cheguei aqui, muito louco da vida, queria mandá-la embora e nunca mais a ver na minha frente, porém a mesma disse que a mãe teve um problema de saúde e ela foi direto para o hospital e acabou esquecendo de avisar minha esposa sobre a minha viagem inesperada. A perdoei e ela continua no seu cargo, mas ninguém da empresa sabe que estou em processo de divórcio.  

-Bom dia Isadora- Falo e sigo para a minha sala.

-Bom dia Sr. Lucas. Ela me responde e vem com a sua agenda até minha sala.

-Isadora tenho reunião a que horas? - Pergunto ligando meu computador e abrindo as cortinas da minha sala.

-As nove horas senhor. - Me responde olhando para a sua agenda. 

-E com quem é?

-Com senhor Orlando Martinelli.

-Ah sim claro. Pode se retirar e organize a sala de reuniões por favor e traga alguns petiscos, café e alguma bebida suave.

Ela confirma com a cabeça e sai da minha visão. 

Entro no meu escritório preocupado, Orlando Martinelli será um grande investidor, ele está com um projeto de construção de trinta e dois prédios nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, se eu conseguir esse projeto minha empresa vai se elevar muito em questão de fama, e também por ter cerca de milhões em torno desse projeto. 

-Sr. Lucas, já estão na sala de reunião o senhor Orlando e seus convidados, só falta o senhor. - Avisa Isadora.

-Sim claro, já estou indo pra lá. - Agradeço e vou ao encontro de Sr. Orlando.

Tento relaxar um pouco que é em vão, estou muito nervoso, espero conseguir esse projeto. 

-Senhor Orlando. Falo e faço um gesto de cumprimento. 

Senhor Orlando deve ter seus setenta anos, educado e muito simples, ele fala até de forma caipira, porém é um dos homens mais importantes na construção de prédios comerciais no país e no exterior. 

-Olá filho vamos começar a nossa reunião, ainda tenho muitas coisas para fazer na cidade.

-Claro senhor Orlando, não vamos perder tempo.

Me sentei e apresentei o projeto por cerca de meia hora, expliquei de forma detalhada cada etapa, os materiais usados, os responsáveis pelas obras assim como eu, falei sobre a formação de nossos funcionários e principalmente sobre o nosso compromisso com o trabalho, ele gostou muito de tudo e ficou maravilhado com as plantas. 

-Bom seu Orlando Martinelli essa é a minha proposta, espero que o senhor goste? - Falo encerrando minha apresentação, suando frio na verdade de tanto nervoso.

-Sim gostei muito, mas antes de assinar um contrato dessa proporção para que sua empresa seja responsável por todos os meus prédios das principais capitais brasileiras, te dou seis meses para construção de um dos prédios, para que aí sim a gente formalize e você se torne meu construtor oficial no país e quem sabe internacionalmente num futuro próximo.

-Sim claro será uma honra! - Um passo de cada vez, hoje já é muito melhor que ontem, sorrio com a proposta e vejo o quanto Sr. Orlando é inteligente, se fosse ele faria o mesmo, não dá para confiar apenas em uma apresentação e entregar o trabalho de uma vida na mão de um estranho, mas este vai ser o meu melhor projeto dentro dessa empresa e eu vou conseguir esse contrato, para quem sabe assim ter mais tempo para minha família.

Lembro-me da minha atual situação com Andrea e meu semblante fecha, queria sair correndo e contar para ela essa novidade sobre a nossa empresa, mas me lembro que não poso, pois ela resolveu me evitar.

-Mas o que importa para mim filho, é a sua honestidade, o seu caráter. - Diz me tirando dos pensamentos que estão acabando comigo por dentro.

-Você tem filhos Lucas? -Pergunta seu Orlando me olhando nos olhos.

-Sim seu Orlando dois. -Falo mostrando uma foto que tenho na minha mesa, nela estamos Andrea, Melissa, Daniel e eu, estávamos sorrindo, tiramos aquela foto em um dos nossos poucos passeios. 

-Nossa que família linda, gostaria de conhece-los, você me dá honra? - Pergunta entusiasmado com a foto de minha família em suas mãos.

Eu gaguejo um pouco, justo agora com todo este problema que eu e Andrea estamos passando, um possível divórcio, o meu melhor investidor quer conhecer minha família. 

-Claro seu Orlando, que tal um jantar no sábado? - Falo automaticamente e já fico pensando no que vou fazer para ter minha família em casa.

-Sim será perfeito, vou levar minha esposa. -Ela adora crianças.

-Sim será uma honra, estarei ansioso pela presença de vocês em minha casa.

Me despeço de seu Orlando, passo meu endereço e meu telefone particular e refaço minha lista mentalmente. 

-Contratar uma equipe de faxina

-Ir ao mercado

-Levar a roupa na lavanderia

-Não dormir no sofá

-Escolher o prato do jantar de sábado.

-E TRAZER MINHA FAMÍLIA PRA CASA.

Por Andréa

Já faz duas semanas que aquele resto de aborto me deixo, ele até que me ligou algumas vezes, o que eu fiz questão de ignorar já que estava organizando a minha vida, ele também veio aqui na minha mãe, me mandou mensagens, mas nunca falando que estava com saudades, ou que ainda me amava, e que o divórcio seria um erro e sim perguntando dos nossos filhos, pelo menos ele sentiu falta dos filhos, agora a minha falta creio que nem um pouco. 

Bom, durante essas duas semanas dei uma reviravolta na minha vida, eu precisava me estabilizar, voltar para o mercado de trabalho, enfim, fiz a matrícula de Melissa em uma escolinha de tempo integral, e não é que ela se acostumou rapidinho, chorou só no primeiro dia, agora até já me pede para ir a escolinha, Daniel estuda no período da tarde, e no período da manhã faz natação de segunda, quarta, e sexta, e faz judô nas terças e quintas, resumindo, não tenho nada para fazer durante a semana. 

Com a adaptação de Melissa, na primeira semana cortei meu cabelo, para ter mais praticidade, e colori de preto, estava cansada daquele cabelo com luzes laranjas, quis logo mudar de vez, e os cabelos pretos serão mais fáceis de cuidar, fiz minhas unhas, nem acredito, depois de décadas, elas até cresceram um pouco, fiz minhas sobrancelhas, tirei o famoso bigode, e depilei a virilha, mas dessa vez tirei tudo, costumava deixar o bigode de Hitler, porém a moça da depilação falou que devia tentar tirar tudo, cai na dela, quase ela me arranca o útero, mas no final, ela tinha razão quanto mais praticidade e conforto melhor para minha nova vida. 

Na segunda semana, comprei algumas roupas pra trabalhar, pois as minhas antigas estavam apertadas, comprei saias, calças, blazers sociais, alguns sapatos, e o melhor com o cartão do meu ex-marido, ele me devia esse favor, depois de tantos anos sendo a empregada dele, ele que se DANE com a fatura, você faria o mesmo vai, não me olhe com essa cara. 

Fiz alguns currículos, mandei em algumas empresas que fazem design de interiores, porém a maioria precisava trabalhar até aos sábados, e eu queria algo pra trabalhar até na sexta-feira, não quero deixar meus filhos sem mim, já não chega sem a presença do pai, aliás do doador de espermatozoides. 

Então resolvi ir na minha antiga empresa, e fui recebida pelo meu antigo chefe, senhor Jonas, e seu filho que deve ter uns vinte e cinco anos, se chama Henrique, um garotão bem apresentável, forte, moreno, lábios carnudos, é já comecei a me queimar por dentro, afinal pra quem era viciada em sexo ficar um ano sem prazer é complicado. 

-Bom dia senhor Jonas. -Falo e sorrio para ele.

-Pode me chamar só de Jonas Andrea, esse é Henrique meu filho, acho que você se lembra dele. - fala Sr. Jonas e Henrique me estende a mão.

-Sim acho que quando trabalhava aqui vi ele umas duas vezes vim pedir dinheiro para o senhor para comprar jogos de Xbox. - Falo rindo e vendo Henrique jogar a cabeça para trás em uma gargalhada.

- Bons tempos, sem preocupações. -Diz Henrique me encarando.

-É minha querida esse mesmo, o meu menino virou homem. - Fala e desfere dois tapinhas no peito do filho.

-Bom Andrea recebi seu currículo e não acreditei que poderia ter a melhor design de volta. - Fala segurando minha mão. -E é claro que te quero aqui de novo, com toda certeza minha filha o emprego é seu.

-Que bom seu Jonas, fico muito feliz de poder voltar, pode ter certeza. - Falo agradecendo.

-Vamos até minha sala para conversarmos melhor. Seu Jonas me chama e vamos nós três para a sala.

-Então minha filha, vou me aposentar em torno de seis meses, e gostaria que você fosse o braço direito de Henrique, ele vai assumir a empresa, gostaria que você com sua experiência e ele com a sua criatividade fizessem um excelente trabalho, aliás sei que vão fazer.

-Claro seu Jonas será um prazer, vamos nos dar muito bem, e vamos fazer projetos maravilhosos. - Digo e Henrique concorda.

Negociamos valores e meu período de trabalho.

Sai do escritório com um cargo melhor do que o anterior e o melhor tem uma creche no prédio, e não vou trabalhar de sábado e domingo, está tudo perfeito. 

Saio quase pulando de alegria do escritório, vou caminhando pela rua feliz e me sentindo realizada, quando senti alguém segurar o meu braço. 

Foi quando encontrei com os olhos que já havia alguns bons anos que não me encarava assim, meu coração bateu mais forte e eu tive a certeza que sou completamente apaixonada por este idiota. 

-Andrea? - Fala e observa meu cabelo, meu rosto, minha boca, estou perdida com seu cheiro e com seu toque que já não sinto a algum tempo, quando resolvo falar alguma coisa.

-Lucas? - Foi a única coisa que saiu.

-Vem precisamos conversar. - Fala e me puxa pela mão pela avenida, atravessando no meio dos carros, e me levando até um pequeno café.

Quando chegamos no café percebi que suas coisas estavam ali e ele já tinha tomado seu cappuccino, então com toda certeza ele me viu e saiu correndo atras de mim.

-Mas o que você quer afinal? - Falo e ele continua me observando com os lábios entre abertos e que se fosse numa outra época, já teria o beijado.