Do nada, Daniel foi pego pelo pescoço, sendo jogado no chão. Fiquei imóvel ao ver Heitor por cima dele, soqueando-o como se fosse continuar a fazer aquilo até vê-lo morto.Anon me ajudou a levantar. Eu estava tonta, não conseguia mover-me direito, pois a sala girava descontroladamente.Fechei os olhos, ouvindo os estouros das mãos de Heitor na cara de Daniel, tentando voltar ao normal, inutilmente.Quando consegui voltar a mim, Anon levantava Daniel, com o rosto completamente ensanguentado, enquanto Heitor seguia com seus socos descontroladamente, agora na área dos bíceps.Fui até ele, tentando andar sem cair e me pus na frente. Jamais, em toda a minha vida, vi um olhar com tanto ódio como via naquele momento.- Não me diga... Que vai defendê-lo. – Heitor perguntou, cansado, quase sem voz, a camisa aberta até metade do peito, os cabelos completamen
- Estou tão horrível... Que preciso de um banho? – Sorri, confusa.- Sim... Muito – ele me abraçou – E juro que eu queria muito esfregá-la... E tocar cada parte do seu corpo para tirar todo o stress do seu dia, ou noite. Mas... Talvez eu também esteja muito cansado.- Eu estou confusa... Cansada... E com medo.- Eu estou aqui, Bárbara. E vou ficar, mesmo que me mande embora. Foi a última vez que a deixei partir... Isso não vai mais acontecer.- Eu... Vou tentar tomar um banho rápido. E se Maria Lua acordar... Você precisa tirá-la do berço... E...- Não! – ele se afastou – Eu... Nunca peguei um bebê... Nem uma criança. Não sei fazer isso.- Eu também nunca tinha pego. Mas descobri que não quebram – sorri – Só posso ir para o chuveiro se me disser que vai cuidar dela.<
- Mandy, é um prazer conhecê-la. – Heitor apertou a mão dela educadamente.- Não sei se devo dizer o mesmo, Casanova – ela me olhou dos pés à cabeça – Por Deus, o que houve com você?- Vó, é uma longa história.Ela levantou meu rosto, tocando o pescoço:- O que houve, menina? Isso... Está horrível.- Foi Daniel.Ela sentou no sofá, jogando a bolsa para o lado, deitando a cabeça no encosto.- Vó, está tudo bem? Por favor, me diga que sim. – Sentei, preocupada, ao lado dela.- Me diga que está tudo bem com Maria Lua.- Maria Lua está segura, no quarto.- Deus, você fez tudo isso por esta menina? – os lábios dela tremeram – Ninguém vai tirar esta criança de você, meu amor. Eu juro. O que fez do dinheiro?Ab
- Pai, como você consegue? – Heitor ficou admirado.- Não é difícil. Quer tentar? – Ele olhou para Heitor, que deu dois passos para trás, assustado.- Não.- Eu... Preciso entender tudo que está acontecendo. – Allan disse.- Eu vou contar, Allan. – Mandy falou, sentando no sofá.- Eu também preciso saber – disse Heitor – Mas Bárbara definitivamente precisa de um banho e descansar. Você comeu algo?Neguei com a cabeça, não lembrando a última vez que havia comido. Então lembrei que eu estava com fome.- Quem sabe pedimos algo para comer? – Heitor sugeriu – Porque o jantar do pedido de casamento foi todo fora.- Pedido de casamento? – Mandy me olhou.- Você não sabia? – Allan riu, olhando novamente para Maria Lua, que dormia como um anjo no seu colo.<
Enquanto a avó dela trocou a fralda da bebê, obriguei Bárbara a comer um pouco. Mandei que trouxessem comida de verdade. Depois que ela viu que a menina estava bem, achei que não fosse mais parar de comer.Enquanto a observava, alegre e falante, tentava não lembrar do que havia acontecido horas antes. Sinto que eu envelheci um ano naquela noite. Estava esgotado física e psicologicamente.Quando percebi que finalmente ela estava satisfeita, e sinceramente nunca vi alguém comer tanto em tão pouco tempo, me dirigi para perto do meu pai, que parecia querer conversar com Mandy por mais tempo.Sentei no sofá, que não era nada confortável, e perguntei a ele:- Bebês nunca acordam? E quando acordam só choram?- Não – ele sorriu – Mas vou deixar você ver como funciona isso bem de perto.- Não, eu não quero ver isso.- Acho que agora é tarde. Não a convidou para ir com você? A criança vai junto. Ela não vai deixá-la por nada.- Eu sei.- O que o fez voltar atrás? Sequer pensei que fosse deixá-l
- Já que tem orgulho de mim, poderia, por favor, levar a “vovó” e ir embora?- Quer que eu leve a bebê junto? – Me indagou debochadamente.- Não... Bárbara me mataria.Allan gargalhou e se dirigiu com facilidade entre o cômodo pequeno até à mesa, onde os demais seguiam concentrados nas histórias de Bárbara, de como ela havia sido sufocada, quase chegado à morte.Sinceramente, quando ela disse, sorrindo e olhando para o meu guarda-costas, que o que lhe veio à mente quando pensou em morrer foi de que o ex a estaria esperando na porta da eternidade e pensou em voltar, eu achei que ela estava fazendo graça. Afinal, quem, antes de morrer, pensaria na porra do ex-namorado. Mas dela, Bárbara, então não se podia duvidar de nada. Nada, literalmente... Nem de que ela realmente me daria um tiro se tivesse uma arma. Não que eu tivesse medo dela. Ok, um pouquinho, confesso.A menina era o ponto fraco dela. Mas se depois de tudo que houve, com um enorme hematoma no pescoço, estando prestes a morrer
Ela me olhou firmemente. Os olhos eram verdes e a pele extremamente clara. O nariz era pequeno e os poucos cabelos refletiam com a luz artificial da lâmpada em louros acobreados.- Será que acharam que somos parentes só porque temos olhos da mesma cor? É engraçado, porque tirando isso, não temos nada parecido. Acho que projetam em você muitas expectativas. E nem sempre a gente consegue fazer o que o outro espera...De repente ela parou de sorrir e os lábios contorceram-se num leve beicinho. Caralho, eu falei algo errado? Tinha culpa de não ser o pai dela? Não, claro que não.- Ok, desculpe. Eu nem sabia que você era capaz de entender. Mas se entende, por que não fala?Ela seguia fazendo menção de chorar e fiquei completamente confuso e preocupado com o que eu poderia ter dito que a ofendeu.- Quem sabe falamos sobre outra coisa? Tipo... Bem... Por
- Mamãe.- E Ben vai ser o papai?- Claro que não. “Você” vai ser o papai.- Eu? – Quase gritei.- Ou você não quer a mamãe dela?- Eu quero a mamãe – olhei no fundo dos olhos azuis dela – E tudo que vem junto... Absolutamente tudo.Ela sorriu e disse:- Obrigada por tudo, Heitor. Eu não pediria sua ajuda ou sequer abusaria da sua boa vontade. Mas não é por mim, juro. É por ela. Não quero fugir... Porque posso ter feito coisas erradas, mas não agi de má fé, nunca. Tudo que fiz por Maria Lua foi por amor. E se Breno e Anya ficarem com a guarda desta criança, eu jamais voltarei a acreditar na justiça... Divina ou dos homens.- Isso não vai acontecer – garanti – Estarão sob minha proteção. Nada nem ninguém vai tirar sua criança...