Eu e Ben chegamos ao Hazard em torno de dez horas da noite.O Hazard era um bar simples, mas bem frequentado. Começava com Happy Hour e seguia até quase amanhecer o dia com bebidas, música no jukebox, mesa de sinuca e vez ou outra nos finais de semana Karaokê ou bandas cover. Na maioria das vezes, era frequentado por pessoas com boas condições financeiras e sociais, exceto quando um amigo resolvia pagar alguém de fora para seduzir jovens inocentes e lhes oferecer prazer a perder de vista. Poderia ter este tipo de gente também, camuflado entre os de bom coração.- Precisa de dinheiro, Babi? Eu tenho para nós dois. Não quero que gaste do seu. Eu convidei, eu pago.- Nem pensar. Eu tenho.- Sei que está dura, amiga.- Não mais. Vendi um blazer no mercado negro. – Pisquei.- Bárbara Novaes... Sua louca de pedra. E se o Casanova quiser o casaco?- Ele nem vai lembrar... Aquele... Desclassificado dos infernos deve ter vários iguais.- Dos infernos você quer dizer por causa do fogo, não é m
Ele me abraçou, repentinamente:- Eu gosto de você... E nem sei ao certo porque... Afinal, você é uma mulher completamente maluca e diferente de todas que já conheci.Me senti acolhida. E gostei do abraço dele. Ficou nítido a falta de interesse sexual dele em mim. Talvez pudesse surgir uma amizade... Daquelas que você só é amigo quando vê a pessoa no mesmo lugar, quando se encontram coincidentemente... Passando disto, nunca se conheceram na vida.Me afastei:- E então... Viu sua família?- Sim. Mas isso não chega a ser uma coisa boa. – Sorriu, parecendo distante.- Você... Tem algum problema de relacionamento mau resolvido? – perguntei.- Tipo o seu com o ex que morreu?- Sim... Mas só para constar: eu não matei ele.Ele enrugou a testa:- Eu não cogitei isso.- É que o desclassificado do Heitor Casanova disse com todas as letras que achava que eu matei o meu ex.Sim, aquele que me agarrou no elevador dias atrás e eu gostei. Aliás, eu odeio ele, mas a pegada não tem igual. Acho que po
- Este chove não molha entre você e Tony está me dando nos nervos. – falei, enquanto colocava a chave na porta. – Quero ver um beijo, daqueles de cinema.- E eu então? Quero beijá-lo como no cinema, Babi.Assim que a porta se abriu, Salma e Daniel se afastaram rapidamente. Ficamos nós quatro nos olhando, confusos.- Daniel me deu uma carona. – Salma disse, rapidamente.- Legal! – sorri, já imaginando que aquilo poderia acontecer.- Hoje nem é dia de foda, baby. – Ben falou, fechando a porta.- Ben... Não tem nada a ver. Não é o que vocês estão pensando. – Daniel disse.- Não? – Salma olhou para ele. – Achei que era. – Ela levantou do sofá, ainda com a roupa que havia saído de casa.Salma saiu, reclamando. Ben deu de ombros, pegou um suco na geladeira e sumiu no corredor.Fiquei olhando para Daniel.- Tudo certo? – ele levantou, botando as mãos no bolso e não pude deixar de notar a ereção sob sua calça.Os olhos dele seguiram os meus:- Me... Desculpe. – Colocou a almofada no sofá na f
- É ela.- Aqui é a secretária do RH da North B. Estou ligando para saber se você gostaria de participar da fase de testes para as vagas de Marketing.Levantei rapidamente, sentindo meu coração bater mais forte:- Sim, eu tenho interesse. Mas achei que não tinha passado na entrevista. – falei.- Amanhã oito horas, no sétimo andar. – Ela disse.- Estarei aí.Certamente tinha dedo de Allan Casanova. Porque eu acabei com o carro novo de Heitor Casanova. Não tinha como eu ter passado na entrevista.Levantei, abri a janela e vi o sol brilhando lá fora:- Oi vida... Oi sorte... Você enfim está sorrindo para mim. E não vou desperdiçar a chance.Peguei o restante da grana do blazer de Casanova e comprei um vestido novo, sapatos novos e um perfume mais caro. E não sobrou mais nada.Eu precisava investir em mim mesma. E parecer uma mulher séria. Aquele emprego era o sonho da vida de qualquer pessoa.Me olhei no espelho e me impressionei com o resultado. Faltava uma hora para oito, mas já saí de
- Eu penso que vinho todo mundo vende. E a Perrone aqui na frente produz os melhores, porque são feitos por eles mesmos... A família Perrone tem amor ao que faz.- Então nos recusamos a trabalhar no projeto porque você prefere o vinho da Perrone? – ele riu. – É só uma estória fake, hipotética. Já ouviu falar disso, não é mesmo? Ou é sua primeira seleção?- Já fiz mais seleções e entrevistas do que você imagina, acredite! E você não me deixou terminar.- Ok, termine.- Temos que ter um diferencial. Certamente não teremos o melhor vinho, mas podemos apostar numa garrafa diferenciada. Eu focaria no vinho pra presentear, ou para ser consumido em eventos. Para isso, o rótulo seria personalizado. Vendido sob encomenda, para qualquer ocasião: casamento, aniversário. Já imaginou ganhar um vinho com o seu nome no rótulo?- Não...- Talvez você o guardasse para sempre e nem consumisse, de tanto que ia gostar. Ou, caso consumisse, guardaria a embalagem... E lá, além do seu nome, estaria a da Nor
Sabia que não poderia interromper, mas não tinha o que fazer. Levantei a mão e todos me olharam:- Eu... Sinto muito interromper, mas vou pegar um copo de água. Não quis levantar sem avisar... Para que não pensassem que estou fazendo pouco caso com a apresentação da colega.- Não pode esperar para saciar sua sede, senhorita Novaes? – a mulher já sabia até o meu nome. Isso não era bom.- Não estou com sede... Preciso tomar um analgésico. – expliquei.- Traga água para a candidata, senhorita Macedo. – Heitor Casanova pediu secamente.Em pouco tempo foi trazia um copo de água numa bandeja, especialmente para mim. Abri a bolsa e retirei mais dois comprimidos. Olhei no relógio e não havia dado o intervalo de tempo que precisaria entre as doses, mas era impossível suportar mais.Tomei os dois comprimidos de uma vez e alguns goles da água para descer pela garganta.A mulher voltou a apresentar.- Então não está tudo bem... Ou não tomaria remédios. – Heitor falou baixo, virando na minha direç
Tentei abrir meus olhos, mas senti o cheiro bom que me envolvia por todos os lados. Era ele... Eu não tinha dúvidas. Sabia que estávamos num carro... Mas ele não estava dirigindo, porque... Me segurava nos braços... Metade do meu corpo estava sobre ele e o restante no banco.Que porra! Onde ele estava me levando? Casa?- Acha que pegou pesado com ela, senhor? – ouvi a voz no banco da frente.- A senhora Bongiove é forte. Não se preocupe, Anon.Ok, Anon me defendendo. Eu gostei mesmo dele desde o início. Eu devia abrir os olhos e dizer que me deixassem onde eu estava, que me virava sozinha. Eu só precisava de Ben ou Salma. Eu ligaria e tudo ficaria bem.Um nova e forte fisgada me fez gemer e me contorcer levemente. Senti os braços fortes me envolverem ternamente. E meu coração acelerou. Heitor Casanova tinha gentileza dentro de si? E um pouco de compaixão? Misturados com... Ah, porra, não importa. Eu não podia baixar a guarda. Eu era só a candidata que passou mal por culpa dele, por is
- Já o avisei no telefone de emergência, por mensagem. – O outro respondeu.- Eu estou morrendo? – perguntei, sentindo um nó na garganta ao ouvir a conversa deles.- Não. – Ele foi sério. – Mas ele fará todos os exames necessários e só será liberada quando ele achar que está tudo bem de verdade com a senhora.- Eu não posso ficar aqui... Eu... “Eu não tenho dinheiro para pagar, galera”. Mas como dizer-lhes isso?A enfermeira trouxe a cadeira de rodas até mim.- Sente-se, senhora, por favor. – Tentou me ajudar.Retirei as mãos dela. Eu estava bem. Não precisava de ajuda. Era só uma cólica, daquelas que só passava com muitos analgésicos, bolsas de água quente e Ben e Salma. Onde estavam meus amigos? Eu imaginei que estava morrendo, ou não chamariam um Ginecologista de emergência. E se não morresse de doença, morreria quando recebesse a conta do hospital. Certamente desta vez eu perderia meu rim, que tirariam ali mesmo para quitar as despesas. Ou se eu quisesse me manter com dois rins,