Capítulo 3

- Alô? 

- Onde andas srta. Machado? 

- Comprando flores, sr. Gusmão. Dando voltas na cidade, para ser exata! 

- Deve estar um dia lindo? 

- Sim está! Fui resolver o problema com a carteira. 

- Eu te falei para ter tirado aqui. 

- Eu deveria ter lhe ouvido. 

- Me conta, o que eles disseram? 

Bem eles... Sentei-me em um banco próximo a fruteira, e expliquei a situação, o Gusmão me disse tudo o que talvez aconteceria, e me orientou. Eu estava animada, me desejando sorte. 

- Logo quero estar com você, nos iremos em todas as cafeterias da cidade. Fizemos planos. 

- Conheci a Lê Café. 

- Tem goiabadas? 

- Sim! Muitas! 

O Gusmão e desses que adora tudo que vai goiaba. Estou aprendendo a fazer pasteis, que fiquem sequinhos para quando ele vier. 

- Tem uma fruteira de frente para mim, sr. Gusmão com um churros de nutella, você precisa provar. 

-Claro, srta. Machado, iremos. 

- Me chama de sra. Por favor. Não me sinto confortável. 

- Esta bem senhora. Mas não casamos ainda! 

- Eu acho senhorita muito peculiar. 

- Desculpa sra. 

- Por nada Sr.! 

Nos tratamos assim, nesse respeito. Nos tratamos a moda antiga. Achamos gostoso dividir os mesmos gostos clássicos, temos muito em comum. E mesmo que não tivéssemos, eu daria um jeitinho, tentaria ao menos, mas seria frustrante ele não colaborar. É lindo quando há reciprocidade, essa troca de afinidade e ideias mutuas. Eu diria perfeito para qualquer relacionamento. Me encanta! 

Eu estou sozinha, o Gusmão está no Rio de Janeiro, estamos longe, mas está tudo certo, ele me mantêm aquecida dentro desta relação. Talvez porque ele me encha de promessas e eu sei disso, mas estou preparada se ele não as fizer mais. Quem sabe. Eu sou muito segura. Acredito que após a nossa, ele não terá outra relação melhor. Eu acredito que terei, após superar aqueles lindo pares de olhos pretos de um cenho franzido. Seu jeito sério me chamava atenção, nessas horas eu via que não era de ferro, e me mantinha ao extremo para não ser tentada pelo jeito sedutor que ele tinha ao me olhar sério, e me encarar profundamente, como se dissesse eu quero só você. Mantínhamos um respeito mutuo também. Lembrei-me de um assunto marítimo do blog esses dias, ele estava segurando a onda dele, mas estávamos quase afundando. Brincadeira boba. Bem, o que eu esperava daquela relação? Nós começamos devagar, dessas relações que não se esperava nada, de repente já estávamos dando conta de tudo. Eu estou muito satisfeita com a proporção que as coisas aconteceram. Nosso primeiro beijo foi muito demorado, eu estava quase desistindo quando ele finalmente tocou no assunto “namoro”. Se ele não tocasse nesse assunto, eu ia desistir dele naquele final de semana na praia. Eu não quero ficar com um cara que me pega de vez em quando. Eu abriria mão do cara mais legal da cidade! Mas enfim, o destino como sempre, foi sábio, no tocante daquele dia, levando discernimento para o Beto, que me pediu em namoro, da forma mais simples e modesta. De um jeito natural “ah é isso” quando me referi sobre namoro. Sim exatamente isso. Suspirei tranquila ao perceber que ele não negou a conversa, não desviou ou tentou mudar de assunto, eram bons sinais do universo. Você não precisa pedir isso a um cara! Está na cara quando uma menina o quer. E geralmente quando a gente quer alguém, a gente  quer estar com ela, de todas as formas possíveis, dentro do nosso jeito, mas encaixando essa pessoa ali, dentro do nosso mundo. 

No início eu fiz terapia, precisava saber se era isso  o que eu queria. Me sujeitar a alguém de alguma forma, entrando no seu mundo. Se ele entrasse no meu, qual o problema de eu enfrentar o dele? Mas eu tive sorte, outra vez o universo me ajudando, somos muito parecidos. Concordávamos em tudo, mantínhamos os mesmos interesses, os mesmos gostos, e claro as mesmas ideias. Era natal quando ele me pediu em casamento. Fazendo uma surpresa, linda ao meu coração. Ele ficou um pouco bravo comigo nesse tempo em que estamos namorando, pois no dia em que me pediu em namoro, era meu aniversário. Eu escondi dele até o dia do seu aniversário, o mesmo dia da minha, o dia do nosso noivado, primeiro de janeiro, meia noite. Era seu aniversário e nosso noivado. Como coisas que acontecem, assim impremeditado. Eu havia o chateado, pelo fato de não ter falado, que aquele domingo eu estava de aniversário. 

- Como assim Daniela, você me escondeu esse tempo todo? 

- Mas foi o presente mais lindo! 

Ele sempre me surpreendia, e as coisas aconteciam sem a intenção de planejarmos ou coisa assim. Era a certeza que o universo me dava, sinais, de que estávamos em rumos certos. Sem cobranças de datas, sem marcar presenças juntos, sem ciúmes dos nossos amigos, sem estar o tempo inteiro grudados! A relação mais gostosa possível. Eu estou vivendo um sonho, que eu não quero acordar. Eu me senti crescendo dentro dela a cada semana que íamos vivendo dentro dela. 

- Você não tem ciúmes dele! Homem não pode ficar sozinho! Disse a dona Neire. 

Eu fiquei morrendo de vergonha outro dia. Eu não sinto ciúmes do Gusmão, ao menos ele não havia despertado esse sentimento em mim. Eu não sabia o que era isso. Eu não fazia ideia. Seria um assunto a ser tratado com a minha psicóloga. 

- Vania o que é o ciúmes afinal? 

Ela me disse da melhor forma possível que seria um estado de posse de algo ou alguém, a pessoa coraria, mas não de vergonha, mas de furor quando a outra se referisse de seus amigos, sejam do sexo oposto ou não. Por pensar que poderia ser trocada até por amigos. Deve ser horrível, pensei. Essas pessoas brigam por qualquer motivo, ou mudam suas caras. Pessoas ciumentas fazem de tudo para que ninguém tenha a tua atenção, a não ser a delas. 

- Elas se sentem proprietárias de você Daniela! Disse a Vânia durante a conversa. 

O Roberto está com ciúmes? Perguntou. 

- Não, eu quis levantar o assunto para saber se nossa relação está indo bem. Ouvi dizer aqui pelo sul, que a relação quente tem de ter ciúmes. A minha andava morna, pensei. 

- Bobagem! Vocês tem sintonia, não que os outros casais não tenha, a de vocês é diferente. Ciúmes e bom, dizem, desde que não seja ao extremo. E você gostaria que ele sentisse ciúmes de você? Responde com cuidado Daniela. 

- Não! 

- Porque? 

Ela fazia perguntas difíceis. Me colocava na parede. Será que ela me achava algum tipo de psicopata? 

- Bem eu não quero ser propriedade de ninguém, não quero ninguém tomando conta da minha vida o tempo inteiro. Acho interessante quando o Gusmão pergunta onde estou por educação, não por sentir-se meu dono. Gosto quando estamos alinhados e respeitamos opiniões. Entende? 

- Entendi! 

A verdade era esta, eu gostava de dividir com ele, não tirar ou só acrescentar. 

- Mas se fosse um problema nele Daniela? 

Me vi estreita o dia que ele perguntou isso. Ela me ensinou a me colocar sempre no lugar do outro. 

- Eu faria o possível, para não despertar o ciúmes dele. 

- E se fosse inevitável? 

- Não daríamos certo Vânia! 

- Exatamente! Alguém ia ter de encarar o término querida! Você ou ele! E teriam de superar com as caras mais impertinentes, com boas ou más lembranças. 

Bem, eu acho que se eu ou o Gusmão terminássemos agora, eu ia seguir a minha vida normalmente. E ele também, pois vive ocupado. 

- Você não sabe os sentimentos dele. Dani, ele me procurou, um dia desses. 

- O quê? 

Ela não quis entrar em detalhes por motivos de ética profissional, mas adiantou-me que estava ajudando ele. 

- Por favor Vânia, fiquei curiosa. 

- Não posso Daniela. Ele está se conhecendo. Ele tem vindo ás terças, em seu horário. Ele não falou? 

Não havia se manifestado, talvez me contaria assim que julgasse necessário. Homens! O que eu menos queria era despertar algo de ruim nele e acabar com todo aquele conto de fadas, porque bastava qualquer coisa que acontecesse eu perderia o interesse nele, e ficaria visível. Mas por em quanto estava tudo certo. É muito difícil namorar, e ser namorada. Não é qualquer pessoa que podemos chamar de namorados hoje em dia. E eu tinha esse cuidado. 

- Ele está querendo te entender, e está se entendendo, Daniela. 

Me entender? Sou tão complicada assim? 

- Ele me procurou na curiosidade, igual você, querendo saber os motivos que te trouxeram, mas eu disse que te acompanho não para sair falando de sua vida. Eu sugeri ajudá-lo com terapia. Ele traria problemas do casal e trataríamos. 

- Muitos problemas até agora? 

- Nenhum, ele só tem falado dele. Como eu disse está se conhecendo. 

A Vânia é esperta, ela não me falaria. Ela pensa que sou dessas que ia sair ligando e reclamar com ele. Mas não, eu manter-me-ia ansiosa (talvez por isso) e esperaria o momento certo. Eu sofro por dentro, não sou de ferro ou aço. Embora isso pareça por fora. 

- Vamos focar em você! Esta relação está te trazendo algum benefício pessoal? 

Sim, era a resposta. 

- Eu estou criando responsabilidades com outro ser humano Vânia. Eu tenho compromisso com alguém que eu já pedi para não me chamar de meu amor. 

- Porque? Daniela você é engraçada. 

- Acho pegajoso... 

- Entendi. Muitas meninas gostariam de serem chamadas de meu amor sabia? 

- Sério? 

- Sério! Elas dariam tudo para ter um relacionamento em que fossem chamadas de meu amor e o namorado tivesse ciúmes delas. 

- E existiria o feminismo para quê mesmo? 

- Para as que são feministas. 

Eu não sou feminista, mas sério eu acho clichê tudo isso. 

A primeira vez que o Gusmão disse meu amor, eu o encarei e pedi “não me chame mais assim”. Será que era por isso que ele foi matar a curiosidade sobre mim, com a Vânia? Eu pareço tão estranha? 

- Ah Daniela, não, só um pouco diferente. 

Eu fico atenta a cada palavra da Vânia, pois o que ela fala reflete muito sobre o que ela vê em mim. E eu precisava saber, afinal, espelhos não falam, só em contos de fadas e contos de fadas, não existem. 

Bem, agora eu vou esperar o sr. Gusmão vir falar porque procurou a Vânia, entre nós dois não haveria contrato de ética. 

Por um longo período eu fico no quarto, aqui estudando italiano. Quero muito aprender para poder entender a nona, e quem sabe eu e o Gusmão não viajamos juntos por Itália? Sinto uma necessidade enorme de aprender. Eu passaria férias talvez com ele, em qualquer lugar do planeta. 


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