Capítulo 2

Sentamos quase a beira do rio pela tarde na sombra fresca, acompanhando cada ruído e o barulho da natureza ao som dos pássaros. Tínhamos muitos assuntos em comum, o que nos trazia cada vez mais para perto uns dos outros. Arriscamos falar do mar, de botes e segurança. Assunto perfeito para o meu texto no blog, achei interessante quando falávamos de vagalhões, o assunto me fez refletir, como em momentos hostis da vida e era o que eu traria para os leitores como texto de inspiração. 

Ter uma vida significativa as vezes é bom, porque a gente se empenha muito. Imagina agora você estar em alto mar, e se deparar com a insegurança do mau tempo? Para que lado vamos nos apoiar, onde buscar ajuda? Será que estaria preparado para navegar? A pergunta que tenho feito ultimamente: será que estou preparada para me aventurar em auto mar? Faço essas perguntas com frequência, pois minha terapeuta me ensinou a avaliar a vida, de maneira que eu pudesse entender e buscar sentidos. 

Um canário! Fomos interferidos por um canário amarelo, seu canto nos trouxe alegria. Ficamos parados, quietos ouvindo o cantar dos pássaros. E os pensamentos forma voltando para auto mar, que emergia em mim naquele momento, me trazendo os acontecimentos dos últimos dias. Eu estava um pouco ansiosa com algo! No fundo ninguém percebia, eu sabia internamente o que eu estava sentindo. Viver nesse mar de ilusões me fazia dar uma ida a terapeuta todo final de semana. Agora com encontros online, devido a distância que eu estou dela, não procurei nenhuma outra, porque tenho certeza que esse processo será demorado. Aprendi com ela a me auto avaliar. Agora eu sabia o meu valor, não apenas como mulher, mas como humana de carne e osso, e me colocava no lugar que eu deveria estar. Onde eu quisesse! E quem gostasse de mim, teria de aceitar e me acompanhar. Respeitar o que eu escolher. Eu estou feliz onde estou, mas falta coisas ainda para acontecerem, falta pessoas para estarem junto comigo. Não que eu as precise o tempo inteiro, mas é desperdício de tempo ficar adiando as vezes o que já está marcado a acontecer. Para que insistir em promessas ou adiar o tempo? Para que interferir na obra do acaso? Viver essa vida marítima que estávamos falando á alguns segundos atrás, o mar de ilusões? 

O dia estava terminando, arrumei minhas coisas para que pudéssemos ir embora mais cedo. 

De encontro a casa, lá estávamos nós, atropelando nossos passos outra vez no sítio. Vivendo nossas vidas como de costume. Eu não sou muito boa nesse negócio de escrever sobre a minha própria vida. Gosto de escrever roteiros para maras, artigos para empresas, mas a minha vida está sendo difícil. Vamos lá, o que quer saber? Se pudesse falar comigo agora? O que gostaria de ler aqui, uma recomendação de trabalho? Uma superação de vida? Um relacionamento fracassado? Vai me conta! Eu sou aquela pessoa que vive no terapeuta, buscando estabilizar suas crises, seus anseios de forma natural, onde me sinto feliz até com a sugestão de um filme. Eu diria “cuidado, altamente frágil”. Dessas de sorriso largo, mas o coração apertado de tanto drama! Sério. Dessas que passa o dia com a roupa de heroína mas chega em casa coloca pijama e fica encolhida diante da vida. Fazer-se de difícil tem seu preço, pois você tem que ser difícil quando não deseja ser forte, naquele momento que você olha e pensa, nossa mas a carne é fraca, e agora? Mas, sim você luta, com todas as forças porque não quer escandalizar uma vida inteira que você lutou para manter, seriam anos jogados fora com uma pessoa qualquer. Desculpa mas não sou dessas. Eu me importo, e muito com a minha vida, levo-a a sério. Eu estou colocando as coisas que acho importantes. Talvez você não concorde comigo por ter uma vida mais solta, mas bonito, eu respeito isso. 

Eu fui jantar, mas agora estou de volta, fizemos algumas perguntas uns para os outros após o jantar. Nossas dúvidas eram sobre nossos planos! O que faríamos daqui para frente. Bom eu queria muito ser promovida. Ser freelancer na empresa da B, está sendo difícil manter-me. Estou também com outra empresa, avisei a Laura que se me chamarem eu abro mão e fico com ela. Estou na verdade trabalhando para quatro empresas, das quais mandei meu currículo. Como eu já disse a Laura foi a pessoa que incentivou-me escrever este livro, como eu disse escrever um artigo é uma coisa, agora uma historia é outra. Eu precisaria de uma vida inteira de situações importantes. Das quais eu não tenho. Mas estou indo bem, eu acho! 

Como eu estava falando antes, estou na B, tem alguns meses, minhas parcerias na rádio é aquela coisa que no ar estamos bem, uma vida tranquila, mas a realidade é outras, as vezes presenciamos situações chatas que precisamos manter em segredo, claro, para não prejudicar a fama da rádio. Quem quer ver sua empresa ir de mal a pior? Como coisas que acontecem, esse é o tipo de coisa que está presente nesses meio de comunicação. A Claudia é minha colega, outro dia ela deixou minha reserva na portaria, eu estava ao ar, pedi para pegar, ela demonstrou pouco caso deixando assim a minha comida na portaria. Mas eu mão ligo. Sério, eu não me importo. Porém as vezes eu pergunto a mim mesma, qual o problema hein? O que há? É como se eu tivesse feito algo de errado, mas eu não sei o que é? Será que ela não gosta do meu cabelo? Eu tento ser simpática, juro! Mas ela insiste em me dobrar no meio e guardar no bolso. Ainda é melhor que amassar e jogar no lixo. Eu disse que não ligo, está bem eu não ligo mesmo da porta da rádio para fora, mas quando estou perto dela e a vejo fazendo isso, eu sinto um aperto, uma coisa diferente do que eu sinto nos outros momentos, é diferente de liberdade, me sinto presa ali naquele momento, naquela situação, inferno, como diz a dona Neire. Mas eu estou ciente que o problema dela é comigo, e não eu com ela. Entende a diferença? Então no ar eu não posso passar isso para o público. O que eu chamo de verdadeira farsa. Mas estou ganhando para isso. Eu consegui o trabalho pela internet, comecei a pesquisar as principais rádios da região, me inscrevi e me chamaram na semana seguinte. Está sendo importante para mim. 

Fui dar uma volta pela cidade, enquanto precisaria resolver alguns problemas, tentando achar alguma solução! Dessas que a maneira fique bom para as ambas as partes. Além do barulho da movimentada cidade, minha bolsa fazia muito barulho, tentei diminuir um pouco o ritmo dos passos. Talvez você me pergunte, não era melhor tirar o penduricalho? Enquanto eu caminho eu fico prestando a atenção nas pessoas , na cidade, pois assim quando tiver de me referir a algum lugar, eu já sei onde e o que indicar, e como indicar o quê acho importante. 

Minha carteira de habilitação, era o tão esperado sonho a ser realizado! Depois lutar para ter o próprio carro, parecia interessante se não fosse a nova adaptação que estão tendo, os módulos online! Eu nunca conseguia logar. A empresa não dava um bom suporte. Meu prazo de pagamento estava quase vencendo eu precisava dar um jeito. 

- 30% de ressarcimento para o reembolso. 

- Está brincando? 

- Ordens de contrato! 

E porque não me disseram antes?  Porque o consumidor não tem o hábito de ler contratos. Eu não imaginava que iria desistir, mas como coisas que acontecem, aconteceu. 

Alguns novos amigos e também parentes, me sugeriram procurar o Procon da cidade. 

Esses circuitos internos funcionam da maneira deles, dificilmente o órgão do consumidor funcionaria na legalidade. 

- Não com o Procon não tem, eles dão um jeito. Disse uma tia minha na boa fé. Então eu fui procurar o recurso e meus direito, claro! 

- Tem que marcar, liga na quarta. Disse um moço bem simpático. 

Expliquei toda a minha situação e ainda complementei, “eu me proponho a pagar, mas não tudo isso.” 

- Nós somos da parte administrativa! Disse-me ele. E o meu caso é o que? Não perguntei, mas pensei e já estava me preparando para o próximo encontro. 

- Nós vamos te orientar e acompanhar o caso, tentar entrar em um acordo com eles. Se não encaminhamos para um juiz. Ou seja, fórum, lá ele determina a situação. 

- E você desistiu da carteira? 

- Ah, desisti sim. 

- Que pena! Disse-me ele. 

Afinal no Brasil, o preço da gasolina, manutenção, gasolina ou carro! Não estou pronta. 

- Ok, obrigada! Falei para o moço simpático. 

Sentei um pouco no Lê Café, fiquei observando as pessoas tão em comuns com suas vidas corridas. Será que haveria solução para o meu problema? 

- Um expresso, por favor. Pedi. 

Eu era nova naquela cidade, na pequena cidade, precisava me localizar. 

O cheirinho de café me fazia esquecer todos os meus problemas. Fiquei lendo alguns artigos, dos quais eram interessantes, e terminei meu café. Levantei-me e fui embora. 

Fui dar uma volta pela praça da cidade, sentei-me no local. De um lado música regional, do outro um rapaz tamborilando, o tambor estava agradável. O banco em que seu estava, batia um sol forte. Avistei então do outro lado um banco com um senhor debaixo de uma sombra de árvore. Entenderam? Debaixo de uma sombra de árvore, que me socorreu do sol forte. 

- Licença, vou sentar aqui, pouco sol. Falei. 

- Toda, moça! Disse o homem sentado no banco. 

Observei alguns minutos e logo após me disse ele: 

- Te importa se eu fumar? 

- Claro que não, á vontade! Falei. Eu me importava sim, mas não sairia da sombra e o vento estava contrário, possibilitando o ar puro e me favorecendo. 

O tocador de tambor, parou de tocar, observou um pouco, levantou- se e deu uma volta pela praça. Deixara seu tambor ali, sobre o banco da praça. Parecia segura a cidade. 

Quantas pessoas ocupadas com suas vidas, quem roubaria um tambor? É, mas como coisas que acontecem, tudo é possível. 

Eu estava tranquila sobre a minha desistência, a poucos dias havia desistido de um curso técnico. As condições em nosso país e na minha vida, não me davam muitas escolhas, ou eu tomava um decisão de desistir ou nada. Não tinha outra opção. Mas a minha sorte que eu sou daquelas que acredita que algo melhor está por vir sempre. Acredito nessa coisa de vento a favor do ser humano, mesmo bagunçando todo seu cabelo. O vento me traria soluções. Como o vento pode trazer solução além de poeira? Eu falo no sentido figurado, onde o vento universal gira sobre uma vibração boa em favor das pessoas e de suas preces. Esse mesmo vento que nos traz boas novas. Uma espécie de ilusão espiritualista, mas que eu acreditava que estava em sintonia comigo, por isso não me permitiu tirar a carteira. 

As crianças corriam na praça, como se tudo fosse maravilhoso, que tempo bom, elas que aproveitem, pois não sabem que a vida de adultos seja tão chata. As nossas vidas ocupadas com afazeres, preocupações com contas, dúvidas sobre trabalhos, términos e etc. 

Era um ciclista o homem que estava sentado ao meu lado, que se despediu ao sair. 

Comecei a escrever um pouco para o meu blog. Ele estava sem movimento alguns dias, estava bem parado. Precisava mexer nele. Então escrevi alguma coisa que as pessoas pudessem ler. Eu não queria qualquer coisa para estas pessoas. Então escrevi algo sobre aquelas crianças e sua nostalgia naquele dia de sol, sobre os brinquedos bem cuidados, daquela cidade. 

Ao sair da rua que dava da praça em direção a minha, me deparo com uma fruteira orgânica, dessas que a gente encontra tudo sem agrotóxico, conferi alguns preços e comprei flores. Também havia uma bela banca de suco e churros. Estava conhecendo novos lugares e aproveitei para caminhar um pouco por Viamão, que era admirável. 

As vezes fico pensando, se eu tivesse um pouco mais de paciência, não perderia as coisas tão belas desta vida. 

Meu telefone toca...


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