DANIEL ALENCAR
As rusgas com os sócios mais importantes da Medeiros Alencar estavam sendo sanadas em encontros onde reforçava o compromisso com minha futura esposa e lambia uma bola ou outra de quem realmente precisava agradar.
Meu pai também andava bastante ocupado dando o rabo para o seu futuro presidente e parou com a importunação assim que a mídia passou a me rotular como vítima situação. Ainda tive que participar de encontros enfadonhos com políticos de moral questionável mas, depois de fazer de conta que o barão e eu mantínhamos uma relação fraterna sincera, pude me poupar de qualquer contato indigesto com meu progenitor por algum tempo.
Porém, como nada do que é verdadeiramente bom permanece intocado por muito tempo em minha vida, a calmaria das primeiras semanas de namoro com Maria Clara se transformou em uma espécie de pânico que foi crescendo exponencialmente.
Numa tarde em meados de novembro o telefone vibrou sobre a mesa de mogno em meu es
DANIEL ALENCAR E o fatídico dia em que toda a minha vida iria desmoronar em menos de vinte minutos começou como qualquer outro... Dei um beijo em minha namorada com muita delicadeza para não acorda-la e parti rumo a empresa, convicto de que minha estratégia para a permanência como presidente seria bem sucedida. Havia muita agitação entre os funcionários da repartição, todos sabiam que receberíamos naquela tarde os homens que decidiriam os rumos das empresas para o próximo ano, e isto incluía aumentos de salário, cortes de gastos e proporções para cargos importantes. A diretoria dos setores já estava em polvorosa há semanas, enviando todo tipo de relatório e solicitações a serem avaliadas durante a reunião. Eu, Laura e Emilio também estávamos ansiosos para que aquela merda saísse como o planejado e por isto nos mantivemos por toda manhã discutindo os argumentos que tínhamos para apresentar. Após o almoço chegaram alguns dos sócios mais próximos, que pa
DANIEL ALENCAR Até então, tudo que passava em minha mente era tirar Clara da mira doSniper, tudo o que queria era que ficasse segura outra vez. Foi só quando o cara usou as palavras "público" e "imoralidade" na mesma frase que entendi que se quisesse mantê-la viva o preço a pagar seria realmente exorbitante: _ O que quer que eu diga? Não sei do que está falando. _ tentei ganhar tempo, mas não deveria ter feito aquilo. _ Não se faça de idiota Alencar _ no instante seguinte ouvi o estampido da arma de alto calibre ao mesmo tempo em que Clara pareceu levar um grande susto na transmissão _ Da próxima vez que sentir que está tentando me enganar o tiro será no meio da testa da sua coelhinha, entendeu? Agora conte por que a contratou. Meu coração batia completamente fora do ritmo, estava em choque e as palavras saíram transbordando desespero: _ CONTRATEI PORQUE SOU UM BOSTA. PORQUE VIVO FAZENDO MERDA E COMENDO
DANIEL ALENCAR Continuei esperando qualquer resposta do desconhecido, mas o cara não disse nada. Desesperado, voltei a afirmar que era desonesto, que era estupido e arrogante, disse que merecia ser punido por meus erros e mais dois minutos se passam em meu auto linchamento moral. Voltei a esperar por resposta e só recebi o silencio. O vídeo do site desconhecido continuava exibindo o rosto choroso de Clara que se mantinha imóvel e segurando o telefone com as duas mãos desde que falei com ela pela última vez. Nunca tinha rezado em minha vida, mas naquele momento pedia a Deus para que aquela não fosse a última vez que via seu lindo rosto, implorava para que pudesse ouvir a suavidade em sua voz outra vez, rogava à força divina para que protegesse a vida daquele anjo que não merecia pagar por meus pecados. Mas a imagem da pessoa que mais amei neste mundo simplesmente desapareceu da tela e meu coração explodiu: _ NÃAAAOOOOOOO!!! POR
CLARA ASSUNÇÃO Passavam das 23hrs quando aceitei resignada que a única coisa que poderia a fazer naquele momento era voltar para casa. Haviam dezenas de policiais bloqueando a horda de jornalistas que se aglomeravam na saída da 78° DP e, quando notaram minha presença, a explosão de flashes me forçou a proteger os olhos com a mão. Fomos escoltadas entre o mar de pessoas pelos seguranças da equipe pessoal de Daniel, quem me conduziu foi Navarro, o conhecia bem pois o chefe da segurança estava sempre em casa e acompanhava meu namorado em quase todo lugar que ia. Quando começamos a descer o senhor levemente grisalho jogou um casaco sobre minha cabeça para que escondesse o rosto e me senti como os criminosos que via nos noticiários. Enquanto o guarda-costas mantinha minha cabeça abaixada, podia ouvir as perguntas terríveis que os repórteres disparavam sem piedade ou respeito algum. Queriam saber quanto recebia para ser a noiva do empresári
CLARA ASSUNÇÃO No dia seguinte as notícias eram as piores. Os maiores veículos de informação do mundo davam a notícia sobre o atentado cinematográfico que revelou os crimes cometidos pelo jovem empresário. Nossa foto chegou a aparecer no The New York Times, que divulgou toda a história sobre o noivado por conveniência fazendo alusões ao filme sobre relacionamento por contrato que havia sido lançado alguns anos antes. As chamadas dos jornais na TV eram terríveis, afirmavam que Daniel havia usado de meios ilícitos para enriquecer, o chamavam de corrupto e a mim de "ambiciosa". Nas redes sociais a coisa era ainda pior. Ninguém tinha a menor noção de como tudo havia acontecido, mas os julgamentos e opiniões de todo tipo se amontoavam em comentários cruéis. O chamavam de ladrão, escroque, mentiroso, machista e todo o tipo de merda que se possa imaginar. Já eu estava sendo massacrada por comentários e memes onde me chamavam de coelh
CLARA ASSUNÇÃO O observava enquanto a água escorria por suas costas, Daniel parecia distante e deprimido... Quando comecei a tirar minhas roupas seus olhos vieram para mim e logo a expressão de desejo surgiu em seu rosto, começamos a matar nossa saudade ainda debaixo d'agua e terminamos com nossos corpos molhados sobre o lençol. Fizemos amor de forma apaixonada, sem grandes movimentos ou mudanças de posição, desejávamos sentir um ao outro, nos consumir e absorver toda a alegria de estarmos juntos depois de passar pela angustiante incerteza sobre quando poderíamos nos amar daquela forma outra vez: _ O que fez enquanto esteve lá, Dani? _ perguntei quando lanchávamos. _ Nada... me faziam um milhão de perguntas todos os dias e me levavam de volta para uma pequena sala com uma cama em que não cabia. Foi tedioso pra cacete, mas tenho certeza que poderia ter sido muito pior. Confesso que não aguentava mais ficar naquele lugar, nem quero imag
CLARA ASSUNÇÃO Já o presente de Daniel, por mais simples que fosse, foi algo bem difícil de conseguir. Queria lhe dar algo que fosse muito especial, no entanto, nada do que encontrava me parecia significativo o suficiente. Foi quando uma ideia maluca me passou pela cabeça e precisei desenvolver um plano mirabolante. Com a ajuda de Camila fiz uma grande pesquisa atrás de todos os vídeos que pudéssemos achar de sua mãe na internet. Encontramos algumas entrevistas antigas onde pude ver pela primeira vez como os dois eram mesmo bem parecidos, principalmente no jeito de olhar. Depois de reunir os arquivos, enviei para uma equipe de editores e pedi para que montassem algumas frases usando a voz de dona Tereza e o resultado ficou simplesmente inacreditável! Todos riram ao me ver entregar um chaveiro retangular nas cores amarelo, vermelho e preto como presente para o grande senhor Daniel Alencar: _ O que é isso coelhinha? Sei que gost
DANIEL ALENCAR Quando assinei o contrato com a adorável e atrevida senhorita Assunção, não poderia imaginar o destino ao qual aquele acordo me levaria. Eu era muito bom em prever as mudanças de mercado ou quedas na bolsa de valores, com uma pequena análise podia identificar se um investimento seria bom ou um completo desastre, mas não pude conjecturar o abalo sísmico que aquela funcionária com carinha anjo causaria em minha realidade. Não previ que Maria Clara me faria enxergar tantos erros, nem o quanto realmente me faria desejar ser uma pessoa melhor. Não achei que me apaixonaria e em hipótese alguma pensava em me render a qualquer sentimento. “Sentimentos são sinônimo de fraqueza.” O velho adorava repetir em toda vez que eu demonstrava qualquer comoção. Sabia que sentimentos podiam ser perigosos, mas não poderia imaginar que amar Maria Clara significaria meu fim. Ao menos foi o fim do homem que achei que queria ser até o dia em que a conhec