Claire – Uma nova obsessão
Capítulo 2 – Claire Jude Morris
Liam Stevens
Eu não consigo explicar o que aconteceu. Todo o meu mundo girou em volta da moça de baixa estatura que eu encontrei no elevador mais cedo. Claire permeou meus pensamentos antes, durante e depois de todas as duas cirurgias que tive ao longo do dia.
— Conseguiu o que te pedi? — Pergunto para Susan escorando-me em sua mesa pouco antes do seu horário de saída.
— Como sempre. — Ela sorri vitoriosa e me estende o envelope de papel pardo. — Entreguei aquele papel de alta que a sua terapeuta te deu. Seus advogados disseram que amanhã te retornam com uma resposta.
Um pai não deveria ser impedido de ver sua filha por meses como eu fui. No mínimo, se eu dei a eles um atestado, eles deveriam liberar imediatamente minhas visitas à Chloe.
— Obrigado. — Seguro o papel e volto para minha sala onde me tranco.
Eu não consigo me controlar. Eu quero saber mais sobre Claire, quero saber muito mais sobre a mulher de olhar tão marcante que me fez pensar nela o dia inteiro. Quero saber mais sobre tudo que a torna tão inocente, meiga, mas ao mesmo tempo tão atrevida.
Tudo está começando novamente. O mesmo sentimento de ansiedade, aquela curiosidade, vontade de saber toda a vida da pessoa em apenas um segundo, vontade de estar perto, fazê-la sorrir, escutar suas risadas... O mesmo sentimento de estar mergulhando de cabeça em uma piscina.
Antes de abrir o envelope e saciar minha curiosidade sobre a vida da menina, vou até a minha mesa e sento-me sobre a minha cadeira. Respiro fundo, livro-me do meu jaleco, abro alguns botões da minha blusa social e, só então tiro os papéis do envelope pardo.
— Claire Jude Morris, vinte e cinco anos... — Leio atentamente o currículo da moça.
Ela é nova, bem nova.
— Passou como primeira da turma do seu curso de Psicologia, se formou com honras no colegial... Aluna exemplar e... — Meus olhos percorrem outra informação importante. — Solteira. — Meus olhos continuam lendo palavra por palavra do papel e, pouco mais abaixo do seu estado civil, o endereço de sua residência.
Respiro fundo, largo o papel sobre a mesa e levanto-me da cadeira secando minhas mãos que começaram a suar. Andando de um lado para o outro, eu só consigo lembrar-me de todas as sessões de terapia e as palavras de Liza direcionadas a mim.
‘’Nem todas as mulheres são como a sua mãe.’’
‘’Você não precisa agir como o seu pai.’’
‘’Liam, você é você. Precisa confiar em si mesmo e controlar seus impulsos.’’
Depois de escutar a voz de Liza ecoando na minha cabeça em mais um de seus sermões dotados de sua extrema razão, volto até minha mesa às pressas, pego o papel com o currículo da moça, o amasso e jogo o mesmo dentro da lixeira como se o papel estivesse contaminado.
O problema não é o papel, o problema sou eu mesmo.
Eu não posso me dar ao luxo de recair. Eu preciso ser mais forte que minha impulsividade...
Sem vontade nenhuma de dar chance para que eu mude de ideia, pego meu paletó, minha maleta e saio da minha sala. Vejo a recepção, já está escura e vazia. Susan já se foi, me deixando só no andar. Quando verifico as horas no relógio de parede, vejo que já passa das sete da noite e só então compreendo o ambiente deserto. Caminho pelo corredor, aperto o botão do elevador que não demora a atender o meu chamado. Entro na grande caixa de metal, antes vazia, aperto o botão que se refere ao subsolo e a porta se fecha descendo os andares. Cantarolo alguma musiquinha de desenho infantil e fecho os olhos tentando recordar-me de Chloe, minha filha, para que eu não tenha espaço nos meus pensamentos para a moça de mais cedo.
Infelizmente, sinto um impulso no meu corpo. O elevador para e abre as portas, fazendo-me abrir os olhos em um instinto de defesa contra prováveis surpresas. E... para minha surpresa, por estranha coincidência, Claire entra no elevador.
Não consigo ver seu olhar já que sua cabeça está baixa. Escuto um fungar vindo de sua direção e isso só me deixa ainda mais inquieto e preocupado.
Por que ela tinha que aparecer? Eu não deveria estar sentindo o que estou sentindo...
A moça que distribuía sorrisos hoje cedo não parece tão alegre... O que deve ter acontecido?
— Dia ruim no trabalho? — Pergunto e rapidamente tiro do bolso do meu paletó um lenço, estendo na direção da moça e espero que ela aceite.
— Obrigada. — Ela levanta sua cabeça, pega o lenço e enxuga seu rosto molhado pelas lágrimas.
Seus olhos perderam todo brilho que tinham mais cedo, seus olhos estão em um tom mais escuro, quase castanhos, agora sem vida e em sua volta, possuem um tom avermelhado que me deixam ainda mais apreensivo.
— Dia péssimo, aliás. — Ela força um sorriso, mas eu sei que não há verdade nele. Ela apenas está sendo irônica.
A mulher não tem tempo de terminar seu desabafo, logo chegamos ao subsolo e ela parece cair em si de que não está no local desejado. Sei disso, pois vejo o jeito como bufa estressada e a sua mão vai à sua testa. É instantâneo, eu rio.
— Até você? — Ela me olha com a testa franzida e um olhar bem raivoso.
— Vamos fazer assim? Eu te pago uma bebida e escuto suas lamúrias. — Proponho.
— Eu não sei... — Ela parece analisar a situação enquanto olha para o visor do celular.
Ela está esperando alguém? Tem algum compromisso? Alguém a esperando em casa?
— A não ser que você tenha algo para fazer, aí...
— Eu nem te conheço. — Ela diz quando conclui, me levando a acreditar que tem medo. — E eu não vou mesmo entrar em um carro com um estranho. — Declara. — Nada contra o senhor, ok?
— Sem essa de senhor. — Rio de lado. — E, olha, eu posso deixar minhas coisas no carro e podemos ir andando até um pub que tem na esquina.
— Eu não bebo nada alcoólico, acho que é perda de tempo. — Ela balança a cabeça um tanto envergonhada e coça a nuca.
— Tem uma cafeteria aqui na frente também. — Dou a ela uma solução. — A gente pode ir para onde você preferir, eu só não acho que devo deixar alguém triste ir embora sem nem ouvir.
— Não é problema seu, sabia? — Ela abre um sorriso largo. — É do tipo que tenta ajudar todos e ignora os próprios problemas? — Ela dá um passo em minha direção e me olha nos olhos.
Não é que ela acertou mesmo?
— Talvez. — Devolvo-lhe o mesmo sorriso desafiador. — Você pode descobrir tomando um café comigo. — Dou de ombros.
Com uma risada tão gostosa quanto a risada de um bebê, Claire se dá por vencida e assente com sua cabeça aceitando meu convite. Sendo assim, em passos largos, eu alcanço meu carro no qual eu abro, deixo minha pasta, meu paletó e arrumo minha blusa de forma que eu me sinto muito mais à vontade sem a gravata e com alguns botões abertos.
— Podemos ir. — Me coloco ao lado da mulher que cruza os braços e segue a caminhada ao meu lado.
Claire – Uma nova obsessãoCapítulo 3 - Quem é ele?Liam Stevens Juntos, saímos do estacionamento do hospital ainda em silêncio. Preciso adicionar à minha lista que a moça, além de tudo, ainda é tímida. Passamos por algumas pessoas que nos encaram descaradamente e, através dos seus olhares nada discretos, eu sei o que estão pensando.Eles conhecem a minha história. Há um ano que eles não me veem acompanhado de ninguém e isso, me ver andando ao lado de Claire, deve está sendo uma boa razão para novas fofocas. A última foi o término do meu casamento com Maureen que também era médica aqui do hospital. Depois dessa fofoca, veio o casamento da Maureen, meus escândalos e eu sendo impedido de ver minha própria filha.O que me deixa esperançoso é que Claire parece nem saber quem eu sou, muito menos do meu passado podre, no entanto, até quando isso deve durar?Quando saímos do hospital, escuto o telefone de Claire tocar e a vejo olhar rapidamente para a tela e negar a ligação, voltando a guar
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 4 – Fim Claire Morris — Eu senti tanto a sua falta... — Os lábios de Richard passeiam pela minha nuca e trilham um caminho até o meu ombro, enquanto suas mãos se preocupam em acariciar um dos meus braços e envolver minha cintura ao abraçar-me por trás. Eu adoraria sentir o mesmo arrepio de desejo que os seus lábios causavam em mim toda vez que me tocavam, eu adoraria sentir aquela corrente elétrica de desejo que eu sentia toda vez que sua mão apertava minha cintura ou quando seu corpo se chocava atrás do meu. Mas agora eu não consigo sentir. Eu não sinto nada além de desanimo. — Nós precisamos conversar. — Afasto-me dos seus braços e encaminho-me até o centro da sua sala deixando minha bolsa sobre o sofá. — A gente não pode conversar amanhã pela manhã? — Ele pergunta com as mãos no bolso de sua calça de moletom e um sorriso de canto no rosto. — Você acha que eu vou empurrar esse relacionamento com a barriga por mais cinco anos? — Declaro séri
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 5 – Centro das atenções Liam Stevens Há muito tempo eu não me sentia assim. A imagem de Claire não sai da minha cabeça, assim como o seu olhar, sua boca se movendo enquanto falava, e principalmente o que ela deve ter feito depois de ter ido embora com aquele cara. O jeito como ela estava chorosa, nervosa, tão fragilizada... Vê-la assim foi terrível para mim. Eu precisei lutar muito contra todos os meus instintos para não voltar até o hospital e desamassar aquele papel de dentro do meu lixo para ir até a casa dela e tentar descobrir o que lhe aconteceu. Ter limites nunca foi o meu forte. Passar a noite sem saber de Claire foi uma terrível tortura que parecia não ter fim, já que o sol não demonstrava a mínima vontade de voltar para o céu, e meu telefone parecia não querer despertar nunca para que eu voltasse ao trabalho. Finalmente, quando chego ao hospital para dar início a mais um dia de trabalho, consigo ver o motivo de toda a minha inquieta
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 6 – Quem é Liam Stevens? Claire Morris — Você sempre se preocupa comigo, mas hoje eu posso perguntar sobre você? — No final da sessão, Emma me surpreende com tal pergunta. Emma é um caso do paliativo. Isso significa que sua doença é tão grave e já avançou tanto que tudo o que fazemos é tentar dar a ela a melhor qualidade de vida o possível, enquanto ela ainda vive. Sem mais quimio, sem mais cirurgias, exames e mais exames, apenas esperar que sua hora chegue da melhor forma que pudermos. Acompanhamento psicológico é essencial tanto para a família, como para pacientes nesse estado. Eu sou responsável por acompanhar alguns que vivem internados aqui no hospital. Emma é uma doce jovem senhora com seus quarenta e cinco anos de idade. Vítima da leucemia, luta há meses com garra pela sua vida. — Aqui o foco é você, mocinha. — Brinco com ela, sentando-me novamente na poltrona. — Você está diferente hoje, Claire. — Ela afirma com sua voz baixa. — O que
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 7 – O monstro que eu sou Liam Stevens — Que cookie delicioso, papai! Não valorizamos a presença de alguém até que somos impedidos de ter o contato. Há alguns meses atrás, eu trocava as refeições ao lado de Chloe só para participar de alguma reunião, ou até mesmo acompanhar alguns pacientes. Contudo, a partir do momento em que fui impedido de vê-la, incontáveis foram as vezes que eu desejei ver minha menina sentada perto de mim saboreando qualquer coisinha simples de chocolate que sempre a fazia sorrir. — Não deixa mamãe saber que eu te dei muito chocolate, ok? — Limpo o canto de sua pequena boca e a vejo sorrir tão abertamente que seus pequenos olhinhos quase se fecham. Chloe é uma versão em miniatura e feminina de mim. Seus olhos castanhos, sua pele clara, até mesmo a pinta que possui no pescoço... Seu narizinho pequeno e fino, sua pequena boca rosada. Acho que nunca vi criança mais linda que minha filha. — Será nosso segredo, papai. — A men
Capítulo 8 – Você tá a fim dele?Claire Morris— Se não fosse eu chegando, você estava ferrada. — Meghan gargalha histericamente enquanto subimos as escadas até seu apartamento. — Ele é tão lindo de perto, né? Confesso que nunca tinha ficado tão perto daquele homem. Até o perfume dele é sexy, minha nossa! — A loira afirma e se abana, o que me faz rir.A primeira vez que eu rio desde que encontrei Liam há alguns minutos naquele lugar.Por que eu tinha que levá-lo lá? Agora toda vez que eu for vou ter que esbarrar nele?— Ele é sim muito bonito, mas o perfume é novidade, pois eu não tinha reparado. — Respondo a loira quando chegamos ao seu andar e eu consigo respirar com mais facilidade por não estar subindo mais degraus.— Eu acho que ele está a fim de você. — Ela declara séria e procura pelas chaves do seu apartamento na grande bolsa que carrega sobre os seus ombros.Meghan destranca seu apartamento, entra e libera espaço para que eu entre também. Já íntima da minha amiga, deixo-a fal
Capítulo 9 – O que eu devo fazer?Liam Stevens— Eu me assustei quando você me mandou mensagem perguntando se eu poderia te atender. — A senhora de cabelos brancos e óculos de armação vermelha afirma com um sorriso tímido ao me atender na chamada de vídeo.— Obrigado por me atender mesmo tão tarde.São pouco mais de nove na área de piscina da minha cobertura e coloco meus pés dentro da água e sinto-me um pouco mais confortável sob o céu ligeiramente estrelado na noite de hoje.— Aconteceu algo? Juro que pensava que não te veria mesmo antes do próximo mês. Você sempre pareceu muito ansioso para me deixar, lembra?— Sempre gostei da senhora. — Afirmo sorrindo. — O problema era que eu ia obrigado pela lei, isso não me deixava confortável. — Rio um tanto nervoso.— E o que te trás aqui, meu jovem? — Vejo-a sentar sobre uma poltrona marrom e eu aposto todo o meu dinheiro que ela cruzou as pernas. É uma mania de Elizabeth.— Eu preciso da sua opinião em algo, pois sinceramente não sei o que
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 10 – Eu acho que precisamos conversar Claire Morris — Última caixa, gata. — Meghan se j**a no chão ao lado da caixa que acabou de subir junto comigo. — A nossa sorte é que vocês moram no segundo andar. — John, melhor amigo de Meghan/peguete, declara ofegante jogado ao lado da loira, enquanto eu gargalho. — Para recompensar vocês, farei o que faço de melhor... — Abro a porta com minha bolsinha em mãos. — Macarrão com queijo e coca cola pra janta. — Pisco para meus amigos e fecho a porta atrás de mim para ir até o mercado. Felizmente, hoje acordei me sentindo bem melhor. Sem precisar ir trabalhar hoje e sendo encorajada por Meghan, já resolvemos boa parte da minha vida. negociei com o dono do meu apartamento, consegui me mudar — já que eu não tinha muita coisa — e agora só vou ter o trabalho de me acomodar no minúsculo quarto de hóspedes que Meg tem em seu apartamento. Se tudo der certo, segunda-feira eu já estarei com tudo na mais perfeita ordem