Capítulo 4 – Fim

Claire – Uma nova obsessão

Capítulo 4 – Fim

Claire Morris

— Eu senti tanto a sua falta... — Os lábios de Richard passeiam pela minha nuca e trilham um caminho até o meu ombro, enquanto suas mãos se preocupam em acariciar um dos meus braços e envolver minha cintura ao abraçar-me por trás.

Eu adoraria sentir o mesmo arrepio de desejo que os seus lábios causavam em mim toda vez que me tocavam, eu adoraria sentir aquela corrente elétrica de desejo que eu sentia toda vez que sua mão apertava minha cintura ou quando seu corpo se chocava atrás do meu.

Mas agora eu não consigo sentir. Eu não sinto nada além de desanimo.

— Nós precisamos conversar. — Afasto-me dos seus braços e encaminho-me até o centro da sua sala deixando minha bolsa sobre o sofá.

— A gente não pode conversar amanhã pela manhã? — Ele pergunta com as mãos no bolso de sua calça de moletom e um sorriso de canto no rosto.

— Você acha que eu vou empurrar esse relacionamento com a barriga por mais cinco anos? — Declaro séria. — Richard, a vida não é uma piada! Eu juro que ver você tratando a vida como se fosse uma brincadeira, é algo que me incomoda muito! — Exclamo exausta.

— Talvez o problema não seja eu tratar a vida de forma mais leve, mas sim você achar que tudo tem que ser certo demais.

— Eu só queria que a gente casasse. Só queria uma casa para a gente ao invés de irmos morar com os seus pais. É difícil pra você deixar a vida de farra, arrumar um emprego e começar a pensar em um futuro para nós? — Questiono o homem que se senta no grande sofá de couro brando e cruza os braços na altura do peito me encarando com certo ar de deboche. — Você não me ama. — Eu nego e viro minhas costas.

— Claro que eu amo! — Ele exclama, mas não move um músculo do seu corpo para vir até mim.  

— Eu só permaneço na sua vida, pois sou a noiva troféu que seus pais acham que será capaz de te consertar um dia. Aliás, eu sei que você só está comigo porque eu sou o que faz os seus pais ainda te darem dinheiro.

— Você vai parar de me chamar de vagabundo e me deixar falar ou será que... — Ele se levanta e fica frente a frente comigo.

— Eu não quero mais ficar nesse relacionamento. — Declaro olhando em seus olhos.

A expressão no rosto de Richard, depois da minha declaração é de surpresa. Talvez esteja surpreso, pois após cinco anos de noivado, idas e vindas, eu nunca tive a coragem que estou tendo hoje. De bater de frente, falar tudo o que sempre engoli e terminar definitivamente.

— Por quê? — Ele pergunta com o olhar vacilante.

— Dá para mim um simples motivo que me faça acreditar que há amor da sua parte e eu fico.

— É por causa daquele cara? Quem é aquele homem, Claire? — Ele pergunta.

— Está vendo? Você sempre transferindo a culpa para outro! — Grito exausta sem acreditar. — Sempre, Richard! Impossível acreditar que você não é capaz de se responsabilizar nem pelo fracasso do nosso relacionamento. — Gargalho incrédula.

— Eu fui até você pra te pedir desculpas por ter sido infantil, pra te falar que eu arranjei um emprego e tudo o que você faz é continuar me humilhando?  — Ele declara e pelo visto se acha na razão. — Por favor, me fale o que eu tenho que fazer pra agradar a vossa majestade! — Há deboche em sua voz e, cara, eu odeio deboche!

— Aceitar o fim dessa merda de relacionamento. — Afirmo. — Parabéns pelo emprego, por finalmente estar tomando atitudes responsáveis sobre si, mas eu estou exausta! Não aguento mais um dia brigando com você e me sentindo tão oprimida quanto minha mãe foi pelo meu pai. — Vou até o sofá e pego minha bolsa indo até a porta, mas meu ex corre e se coloca no meu caminho.

— Eu só preciso de mais uma chance... — Sua mão busca pela minha e ele tenta entrelaçar nossos dedos, mas eu fujo do seu toque.

— Eu te dei várias chances ao longo desses cinco anos. — O olho nos olhos por uma última vez. — Se você tem algum respeito por mim, sai da frente dessa porta e me deixa em paz de uma vez por todas.

— Vidinha... — Ele tenta acariciar o meu rosto, mas não consegue, pois eu dou um passo para trás.

— Acabou, Richard, acabou. — Afirmo.

Contra sua vontade, o moreno dá um passo para o lado e libera minha passagem para sair da casa.

É impossível não me sentir mal diante de mais um término com ele. Foram cinco anos me dedicando a um relacionamento e carregando o fardo sozinha por nós dois. Mesmo com tantas diferenças aos meus pais, às vezes eu me sentia tão igual que era até mesmo sufocante. Ele sequer me agredia como meu pai agredia minha mãe, mas como casal mais velho, estávamos fadados a um fim triste, vazio, sem amor, nem consideração.

Não tinha mais porquê continuar sustentando um relacionamento onde eu não tinha mais prazer em planejar, nem sonhar nada ao lado daquele que jurava a mim um amor puro, mas que facilmente me trocaria por festas, viagens e partidas de futebol com os amigos.

Quando finalmente chego ao meu apartamento, após trancar a porta, eu me encaminho para o banheiro onde eu tiro todas as peças da minha roupa, sento-me na banheira e ligo a água morna que cai sobre aminha cabeça e me dá a liberdade de liberar o choro preso na minha garganta.

Choro pela morte de Hannah, a garota que me fez sorrir por tantos dias, mesmo com os seus últimos dias de vida podendo ser contados nos dedos das suas pequenas e delicadas mãos. E choro por Richard... Tínhamos tudo para dar certo, tínhamos tudo para ser um casal perfeito, mas não fomos... A culpa do nosso fim é inteiramente dele.

Olhar-me no espelho nos últimos dias estava se tornando cada vez mais difícil. Meu olhar já não possuía o mesmo brilho, meu sorriso não possuía tanta verdade quanto antes. Eu não estava feliz, não era mais a mesma jovem esperançosa, livre e sonhadora que cantarolava alegre por onde quer que fosse.

Eu perdi a verdadeira essência de Claire, eu espero conseguir encontrá-la novamente.

Ana Beatriz Henrique

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