Claire – Uma nova obsessão
Capítulo 1 – Recaída
Liam Stevens
*Flashback on*
— Como assim eu não posso ver a minha filha? — Meu sangue ferve dentro de mim quando dois seguranças não me permitem entrar no prédio aonde eu costumava morar com Chloe e a mãe.
— Desculpe, senhor, mas não podemos deixá-lo entrar. — Afirmam novamente e viram as costas para mim.
Imediatamente, pego o celular e seleciono o contato de Maureen esperando que a mesma me atenda. Parecendo esperar por tal ligação, minha recente ex-mulher atende a minha ligação.
— Eu te vi ontem. — Ela afirma antes mesmo que eu a questione. — Liam, você não está bem. Isso não é normal, como você pode ficar me perseguindo pelo hospital? Como acha normal ficar escondido atrás de pilastras me observando? Você está passando de todos os limites, Liam.
— Eu não estou preparado para te perder. Você sabe que a nossa separação não está me fazendo bem, amor.... Maureen, eu te amo! Eu preciso de você, preciso da Chloe! Vamos, libera a minha entrada para que eu entre.
— Eu já contatei os meus advogados. — Ela sinaliza e eu escuto-a fungar, sei que ela está chorando. — Você não pode chegar muito perto de mim, Liam. É uma medida protetiva.
— Não, não, você não fez isso.
— É para o seu bem. — Afirma. — Liam, nós dois sabemos que isso não é de hoje. Você...
— Eu sou normal sim!
— Eu não sou sua primeira mulher, não sou a primeira a sofrer com sua obsessão e tantas desconfianças. Nem todas mulheres são como a sua mãe. — Quando ela cita a mulher que me colocou no mundo, meu estômago dá piruetas de enjoo.
— Não fala dessa mulher.
A mulher que me abandonou, a mulher que abandonou meu pai para fugir com o irmão rico. A mulher que não pensava em nada além de si mesma e dinheiro.
— Você não está psicologicamente bem. É por isso que não poderá ver a nossa filha daqui pra frente até apresentar equilíbrio emocional.
— Maureen, você não pode me impedir de ver Chloe.
— Me desculpa, Liam, mas isso também é pro seu bem. — Maureen afirma. — Eu só aguentei todos esses anos com você, esses cinco anos de casado, por causa da nossa menina. — Afirma entre soluços. — Porque éramos amigos e eu queria te ajudar a talvez descobrir que o amor não precisa ser doentio. Mas eu cansei, Liam! Cansei de tudo! Você me machucou, agora eu tenho medo de tudo e de todos.
— Para... Isso não é verdade. Eu te amei da minha melhor forma.
— Não, você não amou. Você não sabe amar, Liam, você é doente!
— Para de falar que eu sou doente! — Grito na calçada da rua e chamo a atenção dos seguranças que, por precaução, permanecem de pé ao lado da porta principal da portaria. Respiro fundo, fecho os olhos e tento me recompor. — Por favor, eu só quero ver a nossa filha.
— Ela te ama. — Afirma.
— Eu não quero ouvir de você. Quero ouvir dela, deixa eu ver a Chloe.
— Eu não quero que ela veja o monstro que você se transforma quando está tendo aquelas terríveis crises de ciúmes. — Afirma. — Me desculpa, mas eu estou seguindo as ordens da justiça. Os meus advogados já enviaram para os seus, Liam.
— Eu não acredito que você foi capaz de fazer isso comigo. — Sento-me no chão sem saber como reagir diante de tal realidade. — Está me afastando da minha filha como se eu fosse um criminoso.
— É para o seu bem... Eu já te amei, sabe que eu me sinto péssima em fazer isso, mas eu não tenho outra escolha.
— Não vem me falar de amor, Maureen. Você é a última pessoa que eu penso que me ama em todo o mundo.
— Você pode não acreditar, mas eu só estou cuidando de você. Liam, você é novo, não pode continuar vivendo assim, ou vai terminar amargo, sozinho e se suicidando, como o seu pai.
— Eu não sou como ele... — As lágrimas descem pelo meu rosto, enquanto minhas mãos passam pelos meus cabelos em desespero. — Eu não sou...
— Mas se continuar nesse caminho, aonde acha que vai chegar?
— Eu posso melhorar. — Afirmo tentando convencê-la. — Tire a queixa, tire a denúncia, nós podemos fazer terapia para casais, podemos... — Busco por palavras. — Eu faço o tratamento que você quiser, mas nós não precisamos nos separar para isso, Maureen. Por favor, me dê mais uma chance.
— Não, Liam, me desculpa. — Ela me nega. — Você se trata, melhora e poderá voltar a ter contato com a Chloe. Mas o nosso casamento... — Ela respira fundo. — Acabou, Liam, ele acabou.
*Flashback off*
— Aqui está a sua liberação, Liam. — Doutora Liza me entrega o papel atestando minha ‘’melhora’’ psicológica. — Mas é importante que nos encontremos ao menos uma vez por mês, por favor.
— Estou bem, Liza... Não vou mais me apaixonar por ninguém, agora eu só quero focar no hospital que meu pai deixou para mim e na minha filha. Vou ficar tão ocupado que não terei tempo nem de pensar em amar alguém.
— Meu querido, eu preciso que você entenda que não há problema em amar. — Ela afirma com os seus olhos negros presos aos meus. — Você pode amar, agora você só precisa controlar a intensidade dos instintos que você desenvolveu como forma de defesa. Para o seu bem e para o bem dos outros.
— Eu sei... Mas acho que vai dar menos trabalho, entende? — Solto uma risada e me levanto. — Obrigado por todos esses doze meses de terapia.
— Estarei aqui sempre que precisar, meu querido. — A mulher se levanta e me abraça forte. — Te espero no próximo mês e espero que venha com boas novidades.
— Eu também espero vir com novidades, Liza. Eu também espero...
Foram longos doze meses de terapia. Longas quatro semanas depois do incidente até que meus advogados recorressem e eu conseguisse voltar a ver minha filha, longos dois meses onde eu tive recaída ao descobrir que Maureen ia se casar com outro, tiraram novamente minha permissão para ver minha filha e, só então, eu me permiti cair de cabeça no tratamento.
Me machucaram de todas as formas possíveis. Me tacharam como maluco, me pintaram como o pior pai do mundo para a minha filha. Contudo, no final, tudo isso só me ajudou a ter forças para me reerguer e redirecionar meu foco.
A partir de agora, sou um novo Liam Stevens. A partir de agora a minha vida se resume ao hospital que meu pai deixou para gerir e a minha filha. Serei o melhor profissional, o melhor médico que poderia dirigir o hospital que meu pai tanto lutou para erguer. Serei também o melhor pai que Chloe poderia ter, serei o seu orgulho.
Sem mais distrações, sem mais machucados, apenas eu, minha filha e meu trabalho.
Do consultório da doutora Elizabeth Taylor até o hospital, eu tenho apenas que atravessar a rua. Com meu paletó em minhas mãos, minha maleta em outra, ando pelos corredores às pressas a fim de chegar à minha sala e iniciar os trabalhos do dia.
— O senhor tem uma cirurgia marcada para meio-dia. Outra à noite... — Susan, minha secretária sinaliza assim que entramos no elevador.
Aperto o botão do último andar, as portas do elevador começam a se fechar, mas uma mulher corre em nossa direção e grita chamando minha atenção e fazendo Susan rir por tamanho desespero.
— Segura a porta, por favor! — É o que ela pede e me faz colocar a mão na frente para que as portas não se fechem.
A mulher nos alcança, entra no elevador e só então eu tiro minha mão da frente das portas permitindo que as mesmas se fechem.
— Bom dia e obrigada.
Com um sorriso gentil em seus lábios vermelhos, tingidos por um batom vermelho, a mulher me olha com seus olhos, dotados de um intenso verde e brilhantes como duas esmeraldas, contrastam perfeitamente com a cor de seus cabelos, escuros como a noite. Ela é linda. Pequena, como uma fada, se me abraçasse, sua cabeça bateria facilmente no meu peito, mas isso só a torna ainda mais encantadora. Dona de lábios volumosos, sobrancelhas grossas, nariz levemente arrebitado e um sorriso cativante, a mulher ainda possui um perfume extremamente familiar.
— Chanel nº 5. — Falo em voz alta o nome do seu perfume. — Suave e floral...
A mulher, um tanto quanto envergonhada, olha para Susan que está parada como um poste ao meu lado e digita freneticamente em seu celular. Depois, com o cenho franzido, ela olha para mim.
— Já disseram que é estranho falar o nome dos perfumes alheios? E mais estranho ainda descrevê-los?
Seus olhos são instigantes como um mistério, me faz querer desvendá-lo, ou até mesmo sentar e ficar o admirando pelo dia inteiro.
O andar dela chega e eu não consigo dar-lhe uma resposta.
— Bom dia, Doutor. — É tudo o que ela diz antes de virar as costas para mim e sair da grande caixa de metal que nos trouxe até aqui.
— Bom dia, doutora... — Aceno com uma das minhas mãos livres e a vejo voltar seu olhar para mim novamente e sorri.
Seu perfume lembra minha mãe. Ele é uma das poucas memórias boas que me remetem à mulher que me colocou no mundo. Seu perfume me lembra as vezes em que ela me colocava para dormir sobre o seu peito nas noites de tempestade, ou então às tardes chuvosas que passávamos juntos no sofá assistindo filmes enquanto meu pai não chegava do trabalho. Ele também me lembra de todas as vezes que ela ia me buscar na escola.
— Quem é essa garota? Eu nunca a vi por aqui. — Eu pergunto a Susan que deixa o celular de lado quando alcançamos nosso andar e as portas do elevador se abrem.
— Às vezes eu a encontro no refeitório. Ela começou como psicóloga há pouco tempo.
Psicologia...
— Trabalha lá na oncologia. — Completa a informação.
— Tem nome? — Debruço-me sobre a mesa de Susan quando a mulher para ali e senta.
— Claire, doutor. Claire Morris.
Eu pensei ter controle sobre mim mesmo até vê-la. Mas não, agora eu sei que eu estava muito enganado... Enquanto o seu perfume permanece em minhas narinas e seu olhar ainda assombra minha mente, eu só consigo pensar no quão beijáveis os seus lábios pareciam. Eu pensava estar curado daquele sentimento doentio que eu costumava chamar de amor.
Eu não tive culpa. Foi só vê-la que tudo saiu do meu controle mais uma vez.
Claire – Uma nova obsessãoCapítulo 2 – Claire Jude MorrisLiam StevensEu não consigo explicar o que aconteceu. Todo o meu mundo girou em volta da moça de baixa estatura que eu encontrei no elevador mais cedo. Claire permeou meus pensamentos antes, durante e depois de todas as duas cirurgias que tive ao longo do dia.— Conseguiu o que te pedi? — Pergunto para Susan escorando-me em sua mesa pouco antes do seu horário de saída.— Como sempre. — Ela sorri vitoriosa e me estende o envelope de papel pardo. — Entreguei aquele papel de alta que a sua terapeuta te deu. Seus advogados disseram que amanhã te retornam com uma resposta.Um pai não deveria ser impedido de ver sua filha por meses como eu fui. No mínimo, se eu dei a eles um atestado, eles deveriam liberar imediatamente minhas visitas à Chloe.— Obrigado. — Seguro o papel e volto para minha sala onde me tranco.Eu não consigo me controlar. Eu quero saber mais sobre Claire, quero saber muito mais sobre a mulher de olhar tão marcante
Claire – Uma nova obsessãoCapítulo 3 - Quem é ele?Liam Stevens Juntos, saímos do estacionamento do hospital ainda em silêncio. Preciso adicionar à minha lista que a moça, além de tudo, ainda é tímida. Passamos por algumas pessoas que nos encaram descaradamente e, através dos seus olhares nada discretos, eu sei o que estão pensando.Eles conhecem a minha história. Há um ano que eles não me veem acompanhado de ninguém e isso, me ver andando ao lado de Claire, deve está sendo uma boa razão para novas fofocas. A última foi o término do meu casamento com Maureen que também era médica aqui do hospital. Depois dessa fofoca, veio o casamento da Maureen, meus escândalos e eu sendo impedido de ver minha própria filha.O que me deixa esperançoso é que Claire parece nem saber quem eu sou, muito menos do meu passado podre, no entanto, até quando isso deve durar?Quando saímos do hospital, escuto o telefone de Claire tocar e a vejo olhar rapidamente para a tela e negar a ligação, voltando a guar
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 4 – Fim Claire Morris — Eu senti tanto a sua falta... — Os lábios de Richard passeiam pela minha nuca e trilham um caminho até o meu ombro, enquanto suas mãos se preocupam em acariciar um dos meus braços e envolver minha cintura ao abraçar-me por trás. Eu adoraria sentir o mesmo arrepio de desejo que os seus lábios causavam em mim toda vez que me tocavam, eu adoraria sentir aquela corrente elétrica de desejo que eu sentia toda vez que sua mão apertava minha cintura ou quando seu corpo se chocava atrás do meu. Mas agora eu não consigo sentir. Eu não sinto nada além de desanimo. — Nós precisamos conversar. — Afasto-me dos seus braços e encaminho-me até o centro da sua sala deixando minha bolsa sobre o sofá. — A gente não pode conversar amanhã pela manhã? — Ele pergunta com as mãos no bolso de sua calça de moletom e um sorriso de canto no rosto. — Você acha que eu vou empurrar esse relacionamento com a barriga por mais cinco anos? — Declaro séri
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 5 – Centro das atenções Liam Stevens Há muito tempo eu não me sentia assim. A imagem de Claire não sai da minha cabeça, assim como o seu olhar, sua boca se movendo enquanto falava, e principalmente o que ela deve ter feito depois de ter ido embora com aquele cara. O jeito como ela estava chorosa, nervosa, tão fragilizada... Vê-la assim foi terrível para mim. Eu precisei lutar muito contra todos os meus instintos para não voltar até o hospital e desamassar aquele papel de dentro do meu lixo para ir até a casa dela e tentar descobrir o que lhe aconteceu. Ter limites nunca foi o meu forte. Passar a noite sem saber de Claire foi uma terrível tortura que parecia não ter fim, já que o sol não demonstrava a mínima vontade de voltar para o céu, e meu telefone parecia não querer despertar nunca para que eu voltasse ao trabalho. Finalmente, quando chego ao hospital para dar início a mais um dia de trabalho, consigo ver o motivo de toda a minha inquieta
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 6 – Quem é Liam Stevens? Claire Morris — Você sempre se preocupa comigo, mas hoje eu posso perguntar sobre você? — No final da sessão, Emma me surpreende com tal pergunta. Emma é um caso do paliativo. Isso significa que sua doença é tão grave e já avançou tanto que tudo o que fazemos é tentar dar a ela a melhor qualidade de vida o possível, enquanto ela ainda vive. Sem mais quimio, sem mais cirurgias, exames e mais exames, apenas esperar que sua hora chegue da melhor forma que pudermos. Acompanhamento psicológico é essencial tanto para a família, como para pacientes nesse estado. Eu sou responsável por acompanhar alguns que vivem internados aqui no hospital. Emma é uma doce jovem senhora com seus quarenta e cinco anos de idade. Vítima da leucemia, luta há meses com garra pela sua vida. — Aqui o foco é você, mocinha. — Brinco com ela, sentando-me novamente na poltrona. — Você está diferente hoje, Claire. — Ela afirma com sua voz baixa. — O que
Claire – Uma nova obsessão Capítulo 7 – O monstro que eu sou Liam Stevens — Que cookie delicioso, papai! Não valorizamos a presença de alguém até que somos impedidos de ter o contato. Há alguns meses atrás, eu trocava as refeições ao lado de Chloe só para participar de alguma reunião, ou até mesmo acompanhar alguns pacientes. Contudo, a partir do momento em que fui impedido de vê-la, incontáveis foram as vezes que eu desejei ver minha menina sentada perto de mim saboreando qualquer coisinha simples de chocolate que sempre a fazia sorrir. — Não deixa mamãe saber que eu te dei muito chocolate, ok? — Limpo o canto de sua pequena boca e a vejo sorrir tão abertamente que seus pequenos olhinhos quase se fecham. Chloe é uma versão em miniatura e feminina de mim. Seus olhos castanhos, sua pele clara, até mesmo a pinta que possui no pescoço... Seu narizinho pequeno e fino, sua pequena boca rosada. Acho que nunca vi criança mais linda que minha filha. — Será nosso segredo, papai. — A men
Capítulo 8 – Você tá a fim dele?Claire Morris— Se não fosse eu chegando, você estava ferrada. — Meghan gargalha histericamente enquanto subimos as escadas até seu apartamento. — Ele é tão lindo de perto, né? Confesso que nunca tinha ficado tão perto daquele homem. Até o perfume dele é sexy, minha nossa! — A loira afirma e se abana, o que me faz rir.A primeira vez que eu rio desde que encontrei Liam há alguns minutos naquele lugar.Por que eu tinha que levá-lo lá? Agora toda vez que eu for vou ter que esbarrar nele?— Ele é sim muito bonito, mas o perfume é novidade, pois eu não tinha reparado. — Respondo a loira quando chegamos ao seu andar e eu consigo respirar com mais facilidade por não estar subindo mais degraus.— Eu acho que ele está a fim de você. — Ela declara séria e procura pelas chaves do seu apartamento na grande bolsa que carrega sobre os seus ombros.Meghan destranca seu apartamento, entra e libera espaço para que eu entre também. Já íntima da minha amiga, deixo-a fal
Capítulo 9 – O que eu devo fazer?Liam Stevens— Eu me assustei quando você me mandou mensagem perguntando se eu poderia te atender. — A senhora de cabelos brancos e óculos de armação vermelha afirma com um sorriso tímido ao me atender na chamada de vídeo.— Obrigado por me atender mesmo tão tarde.São pouco mais de nove na área de piscina da minha cobertura e coloco meus pés dentro da água e sinto-me um pouco mais confortável sob o céu ligeiramente estrelado na noite de hoje.— Aconteceu algo? Juro que pensava que não te veria mesmo antes do próximo mês. Você sempre pareceu muito ansioso para me deixar, lembra?— Sempre gostei da senhora. — Afirmo sorrindo. — O problema era que eu ia obrigado pela lei, isso não me deixava confortável. — Rio um tanto nervoso.— E o que te trás aqui, meu jovem? — Vejo-a sentar sobre uma poltrona marrom e eu aposto todo o meu dinheiro que ela cruzou as pernas. É uma mania de Elizabeth.— Eu preciso da sua opinião em algo, pois sinceramente não sei o que