A cerimônia de casamento se desenrolava como um conto de fadas moderno. O salão organizado para a festa, decorado com elegância, brilhava sob a luz suave das velas e dos lustres pendentes, enquanto os sorrisos e as lágrimas de felicidade dos convidados criavam uma atmosfera repleta de promessas e sonhos.
Enquanto os convidados se entregavam nas danças e risadas, um som distante, mas cada vez mais ameaçador, começou a aumentar. O murmúrio de conversas e risos foi lentamente substituído por um silêncio carregado de apreensão. Do lado de fora do casarão, motores potentes rugiam e o som de passos firmes se aproximava, anunciando a chegada de algo.— Vocês ouviram isso? — perguntou uma madrinha, com a voz trêmula.— Deve ser apenas o trânsito lá fora... — respondeu alguém, tentando disfarçar o desconforto, mas os olhares de dúvida já diziam que algo estava muito errado.De repente, as grandes portas de vidro do salão foram quebradas e uma rajada de vento frio invadiu o ambiente decorado com tanta delicadeza. O clima ensolarado foi trocado por um tempo fechado e com ameaça de tempestade, se transformando num cenário de pesadelo. À entrada, sob a luz difusa que agora se misturava à escuridão repentina, surgiu uma figura imponente.
Tiros foram disparados contra os arranjos de flores, enquanto as pessoas começaram a correr de forma desesperada. Daniel foi o primeiro a notar, enquanto Sophie parecia estar imersa em seus sentimentos a ponto de não ter percebido o clima que estava caindo sobre seu casamento. Movimentações começaram a acontecer do lado de fora, quando uma figura surgiu de forma rápida e incisiva
Vestido com um terno impecável, seus olhos frios e calculistas varriam o salão com uma expressão de desprezo e determinação. Ao seu redor, um grupo de homens, todos com trajes escuros, armas carregadas e semblantes de pura indiferença, seguia em perfeita ordem, como soldados prontos para cumprir uma missão letal.
— Esse espetáculo termina aqui.
Seus homens começaram a se espalhar pelo salão com passos precisos e ameaçadores, e um murmúrio de pânico percorreu os presentes. A música suave que embalava a cerimônia foi subitamente abafada pelos sons de botas batendo no piso polido.
— O que está acontecendo? — gritou um dos convidados, enquanto olhava para a cena que se desenhava diante de seus olhos.
— É o Brian Hawk! — gritou outro, mas o pânico já havia se instalado.
No meio desse caos, Daniel, que há poucos instantes estava radiante no altar, se viu cercado por homens que emanavam uma frieza desumana. Brian Hawk avançava lentamente, e cada gesto seu transmitia a certeza de que nada poderia deter sua fúria. Com um olhar gélido, o CEO poderoso ordenou, sem deixar margem para questionamentos:— Peguem-no!
Os homens de Brian se lançaram sobre Daniel e em poucos segundos, o ambiente se transformou num verdadeiro campo de batalha. Os convidados assistiam enquanto o amado Daniel era brutalmente espancado diante de todos.Daniel tentou se esquivar, levantou os braços em desespero, mas a força dos agressores era muito maior. Cada soco, cada chute, fazia seu corpo se contorcer de dor. O som das pancadas ecoava pelo salão, misturando-se aos gritos desesperados dos presentes.
Enquanto os agressores continuavam sua investida, o olhar de Daniel encontrava, de relance, o de Sophie. Ela, ainda radiante e confiante instantes antes, agora via seus olhos se enchendo de terror e desespero. Seu coração se apertou ao ver o homem que amava ser torturado por tanta crueldade.
— Pare! Por favor, parem! — implorou Daniel, sua voz se perdendo entre o barulho ensurdecedor da violência. O suor e o sangue misturavam-se em seu rosto, enquanto ele tentava, sem sucesso, se defender dos ataques impiedosos.
— Sophie, corra!
Sophie, que até então permanecia em estado de incredulidade, viu-se cercada por uma sensação de pavor indescritível. Ela deu um passo para trás, tentando se afastar da violência que se instalava, mas antes que pudesse reagir, um dos capangas avançou com agilidade surpreendente, agarrando-a pelo braço com força brutal.
— Me soltem! — gritou ela, a voz tremendo de desespero enquanto tentava se desvencilhar dos dedos frios e impiedosos que a seguravam.
Um outro homem, de expressão impenetrável, agarrou seu outro braço e a empurrou para trás, em direção à saída do salão. Sophie lutava, gritava, implorava por ajuda, mas o caos e o medo tornavam cada movimento um esforço quase impossível.
— Não, por favor, vocês não podem fazer isso! — ela berrava, a voz carregada de lágrimas.
Brian Hawk, observando a cena com um olhar frio e calculista, aproximou-se de Sophie. Seu rosto, marcado por uma expressão de superioridade e desdém, se iluminou por instantes com um sorriso perverso.
— Sophie Lancaster, você está prestes a entrar em uma nova fase da sua vida, e não há nada que você possa fazer para evitar — murmurou ele, em um tom que não admitia questionamentos.
Sophie, com lágrimas escorrendo pelo rosto, tentou se soltar dos homens que a arrastavam, mas a força deles era esmagadora. Em meio ao tumulto, ela ouviu um grito abafado vindo de Daniel, um grito de dor e de protesto, que a fez estremecer.
*****
No meio daquele tumulto, um velho amigo de Daniel, que havia chegado às pressas com a esperança de celebrar o amor do casal, tentou se aproximar para ajudar. Seus olhos, arregalados de horror, varriam a cena enquanto ele gritava:
— Algum de vocês precisa fazer alguma coisa! Não podemos deixar isso continuar!
Mas suas palavras se perdiam no estrondo dos gritos. Brian, com passos firmes e uma postura imperturbável, caminhava pelo salão, como se o ambiente fosse apenas um cenário a ser dominado por sua vontade. O tempo parecia se arrastar em câmera lenta. Cada golpe desferido contra Daniel era um choque brutal e as lágrimas dos convidados se misturavam à raiva contida e ao medo palpável. Entre os sussurros de indignação e as orações silenciosas, a voz de Brian Hawk soava novamente, desta vez mais alta e implacável:
— Este é apenas o começo.
Enquanto essas palavras ecoavam, Sophie foi empurrada com força para fora do salão. Seus gritos se misturavam aos gritos dos outros, mas nenhum som parecia ser capaz de interromper aqueles que a levavam. Seu coração batia descompassado, e a mente se recusava a aceitar o horror que se desenrolava.
Em um corredor mal iluminado, onde a única luz vinha de lâmpadas piscantes e de janelas entreabertas, Sophie foi jogada ao chão. Ela rolou por alguns instantes, tentando se proteger, enquanto os gritos de Daniel e o som distante dos golpes ainda ecoavam no salão. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, enquanto ela lutava para se recompor e se levantar. Em meio ao desespero, ela conseguiu se arrastar, apoiada contra a parede fria, enquanto seu olhar procurava por alguma esperança.
— Sophie! – gritou uma voz ao longe, mas ela mal conseguiu entender de onde vinha o som, tão distante e, ao mesmo tempo tão próximo. Seu corpo tremia, e cada movimento parecia um esforço hercúleo.
Dentro daquele corredor, Brian reapareceu, aproximando-se com um olhar que misturava frieza e satisfação. Ele se agachou ao lado de Sophie, que agora estava encostada na parede, e falou com voz baixa, mas carregada de uma autoridade ameaçadora:
— Eu prometi a você, meu amor. Eu prometi que você seria minha, apenas minha! Desde o dia em que me salvou, eu sabia que fomos feitos um para o outro.
— Você é louco! Me solta. — ela gritou, tentando se desvincilhar de seu aperto, mas a força dele era absoluta. — Por favor!— Não há como voltar atrás, minha querida.
Enquanto essas palavras penetravam em sua alma, Sophie sentiu seu olho se encheu de lágrimas.
Enquanto o caos se espalhava, um segurança, que até então havia mantido uma postura contida, tentou intervir. Ele avançou em direção a um dos capangas que se aproximava de Daniel, mas foi facilmente contido por dois homens que, com movimentos precisos, o imobilizaram e o arrastaram para longe. Olhares se cruzavam em silêncio, e alguns poucos corajosos tentavam, mesmo que em vão, auxiliar o que restava de Daniel, que agora estava prostrado no chão, a respiração difícil e o olhar fixo no teto, como se buscasse uma última centelha de esperança. Um jovem, com voz embargada pela emoção, sussurrou para sua amiga:— Ele era tão cheio de vida... Como isso pôde acontecer?Sua amiga, sem conseguir conter as lágrimas, respondeu:— Nunca imaginei que um dia veríamos tamanha brutalidade num momento que deveria ser de celebração. Os murmúrios de desespero se espalhavam e a figura de Brian Hawk havia retornado no centro do caos, como se fosse o maestro de uma sinfonia macabra. Sophie havia sido t
O clima no recinto era de silêncio, interrompido apenas pelo soluço contido de alguns presentes e pelo eco distante de sirenes. Após a brutalidade que fizeram Daniel, o ambiente se transformou num cenário de luto. Os amigos e familiares, com os rostos marcados pelo horror, se mobilizavam para recolher o corpo gravemente ferido de Daniel, que agora estava em uma maca improvisada, coberto por um lençol branco manchado de sangue.Entre os presentes, Maria, mãe de Daniel, não conseguia conter o desespero e seus olhos, vermelhos de tanto chorar, varriam a cena. Ela se aproximou lentamente, como se cada passo tivesse toneladas e, com a voz trêmula, tentava suplicar aos que ali se encontravam:— Por favor, tragam-no para mim... Eu preciso vê-lo. Não pode ser que ele se vá assim, tão brutalmente...Um dos amigos mais próximos de Daniel, André, que estava ajudando a sustentar a maca, aproximou-se de Maria e, colocando a mão suavemente em seu ombro, disse:— Nós fizemos tudo o que pudemos para s
Sophie mal podia acreditar no que estava acontecendo. Enquanto os dois homens a empurravam para dentro da van preta, seus olhos se enchiam de terror e determinação. Ela gritava por socorro, sua voz ecoando pela rua deserta, mas os poucos pedestres apenas a observavam de longe, amedrontados pelas armas reluzentes que os sequestradores ostentavam.Dentro da van, o cheiro de couro e o som abafado dos passos se misturavam em um cenário que parecia saído de um pesadelo. Sophie lutava com todas as forças, tentando se desvincilhar das mãos que a seguravam com firmeza, mas cada movimento era sufocado pelo peso do medo e pelo domínio dos homens. Seu corpo tremia, e lágrimas surgiam sem que ela conseguisse reprimi-las.Do lado de fora, a cidade continuava sua rotina. Pessoas apressadas, alheias ao drama que se desenrolava na calçada, desviavam o olhar. A tensão do momento era palpável, mas o temor das armas impedia qualquer um de se aproximar. Em meio a esse mar de indiferença, Sophie sentia-se
No silêncio frio do hospital, o tempo parecia se arrastar em uma cadência melancólica, marcada pelo som intermitente do monitor e pelos sussurros de uma esperança que se esvaía a cada instante. Daniel permanecia imobilizado em uma maca, envolto em lençóis brancos que contrastavam tragicamente com as sombras da sala. Sua mãe, de olhar cansado e coração apertado, estava ao lado dele, segurando sua mão com uma ternura desesperada, como se pudesse, através daquele gesto, trocar de lugar com o filho, desejando que aquilo nunca acontecesse. Preferia passar por uma morte com mil cortes do que ver seu amado filho nesse estado. Enquanto uma luz pálida invadia o ambiente, o médico se aproximou com passos contidos e voz baixa, tentando oferecer respostas que, no fundo, pareciam insuficientes para aliviar a dor que se instaurava. Ele falou com precisão, mas com um olhar que traía o desespero de quem sabe que nem todas as batalhas podem ser vencidas. Ele a conduziu para fora da sala, levando a um
Sophie despertou com um grito sufocado, sua garganta áspera como se tivesse passado horas implorando por ajuda. O peito ardia, cada respiração vinha acompanhada de uma pontada cortante que fazia seus olhos lacrimejarem. Piscou algumas vezes, tentando entender onde estava, mas a dor de cabeça latejante tornava qualquer pensamento mais difícil. Teve o pesadelo mais sombrio de sua vida. Via pessoas atirando, gente ferida e seu noivo Daniel estava sendo espancado por pessoas que ela não conhecia. Um homem forte a levava de seu casamento e ela acabava sendo sequestrada e dopada. Nunca tinha sonhado aquilo, e esperava nunca mais sonhar. Foi quando olhou ao ambiente ao seu redor, percebendo ser um lugar totalmente diferente do que ela estava. Não era sua casa, seu quarto, muito menos a casa de Daniel. Não reconhecia aquele lugar. Suas mãos deslizaram sobre o tecido simples de seu vestido, e a confusão se intensificou. Onde estava seu vestido de noiva? Onde estava Daniel?As lembranças danç
Sophie passou horas naquele mesmo cômodo, onde o silêncio só era quebrado pelo soluço contido e pelo som irregular de sua respiração. Cada instante era uma eternidade de angústia, e a tristeza a afundava ainda mais em um abismo de desespero. Em meio a lágrimas e lembranças fragmentadas, sua mente viajava, quase que involuntariamente, aos dias em que tudo parecia tão perfeito.— Daniel… — ela murmurava para si mesma, com a voz embargada. — Como chegamos aqui?Os pensamentos a transportavam para a faculdade, onde seus olhos se encontraram pela primeira vez. Lembrou-se do sorriso tímido dele, do jeito desajeitado com que tentava puxar conversa, e da sensação inexplicável de que, por um breve instante, o mundo conspirava para uni-los. O primeiro encontro, repleto de risos e timidez, havia se transformado em um dos momentos mais lindos e felizes de toda a sua vida, um filme que se repetia incessante em sua mente.E então veio a primeira viagem com a família dele, onde o ambiente era acolhe
O dia estava propício para um passeio. Parecia que a escola de NortWester sabia disso ao marcar uma visita à reserva florestal da cidade, levando os alunos do 9º ano para uma atividade de biologia. A proposta era catalogar plantas estudadas ao longo do ano e registrar instantes da natureza, desde pássaros e insetos até paisagens encantadoras.De pé, no ônibus, a professora Clarissa, uma mulher de quarenta e poucos anos, passava as instruções: — Alunos, prestem bastante atenção. Não nos afastem do grupo, pois a reserva é extensa e temos horário para retornar. Vocês podem formar equipes de até cinco pessoas para tornarmos a atividade mais eficiente.Entre o grupo animado, destacava-se Sophie Lancaster, uma menina de 14 anos cuja energia contagiante e olhar curioso captavam cada detalhe do mundo ao seu redor. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caíam de maneira despretensiosa sobre os ombros, como se tivessem sido esculpidos pela própria natureza, combinando perfeitamente com su
Quando seus olhos finalmente encontraram o garoto, notou o quanto ele estava pálido, com os traços marcados pelo medo. Seus cabelos loiros, bagunçados, grudavam em sua testa suada, enquanto seus olhos se fechavam instintivamente, como se tentassem se proteger do terror que o dominava. Sem hesitar, Sophie alcançou o menino e, com firmeza, envolveu-o em seus braços, segurando-o com a segurança de quem já havia enfrentado muitos desafios.“Aguenta firme!”, bradou Sophie, a voz misturando urgência e cansaço. Ela conduziu o garoto para fora do ônibus, sempre focada, enquanto o grupo de alunos, agora acompanhado por professores, assistia em estado de alerta e desespero.Finalmente, quando seus pés tocaram o chão de fora, o grupo se mobilizou. Clarice correu para ajudar, enquanto Sophie, com o coração batendo forte, permanecia segurando o rapaz, certificando-se de que o pânico não voltasse a dominá-lo. Foi nesse exato instante, quando a adrenalina começava a ceder lugar à calma da segurança,