Enquanto o caos se espalhava, um segurança, que até então havia mantido uma postura contida, tentou intervir. Ele avançou em direção a um dos capangas que se aproximava de Daniel, mas foi facilmente contido por dois homens que, com movimentos precisos, o imobilizaram e o arrastaram para longe.
Olhares se cruzavam em silêncio, e alguns poucos corajosos tentavam, mesmo que em vão, auxiliar o que restava de Daniel, que agora estava prostrado no chão, a respiração difícil e o olhar fixo no teto, como se buscasse uma última centelha de esperança. Um jovem, com voz embargada pela emoção, sussurrou para sua amiga:
— Ele era tão cheio de vida... Como isso pôde acontecer?
Sua amiga, sem conseguir conter as lágrimas, respondeu:
— Nunca imaginei que um dia veríamos tamanha brutalidade num momento que deveria ser de celebração.
Os murmúrios de desespero se espalhavam e a figura de Brian Hawk havia retornado no centro do caos, como se fosse o maestro de uma sinfonia macabra.
Sophie havia sido trazia de volta, e lágrimas escorriam pelo seu rosto no momento em que sua mente fervilhava em pensamentos, o amor por Daniel, a incredulidade diante da brutalidade que testemunhara e o terror de Brian.
— Daniel, meu amor, não me deixe... — ela sussurrava, quase como uma prece, enquanto o som dos gritos e dos passos dos homens ecoava.
Brian Hawk, que a observava de perto, inclinou a cabeça num gesto quase imperceptível, como se quisesse saborear cada momento daquele sofrimento. Ele se levantou lentamente e, com um tom que misturava frieza e um toque de sadismo, falou:
— Você viu o que aconteceu com ele, não é?
Sophie, ainda tentando se recompor entre soluços e tremores, ergueu o olhar com a esperança de encontrar alguma palavra de conforto, ou de explicação, naquele semblante enigmático. Seus olhos, vermelhos de tanto chorar, se fixaram na figura que agora se aproximava. Brian Hawk, com a expressão que misturava impassibilidade e uma satisfação sádica, parou a poucos passos dela. O ambiente, impregnado de dor e desolação, parecia se silenciar para que suas palavras pudessem ser ouvidas com clareza.
— Sophie Lancaster – começou ele, a voz fria e controlada cortando o silêncio como uma lâmina, sua voz com puro sarcasmo –, hoje venho trazer uma notícia que, embora cruel, você precisa ouvir.
Ela, com a garganta apertada e o coração batendo em descompasso, tentou formular uma resposta, mas as palavras se embargaram diante da inevitabilidade do que estava por vir.
Brian continuou, sem demonstrar qualquer emoção que pudesse amolecer a mensagem:
— O seu marido, ou melhor, ex marido, está morto.
Aquelas palavras pairaram no ar como um eco fúnebre. Por um longo instante, o tempo pareceu se congelar ainda mais, e o mundo inteiro de Sophie desabou em dor. Seus olhos se encheram de lágrimas, e um soluço profundo, carregado de desespero, escapou de seus lábios.
— Não… não pode ser verdade! — ela gaguejou, a voz fraca e embargada pela emoção, como se o próprio fato não pudesse ser assimilado. — Daniel… meu amor…
Brian inclinou levemente a cabeça, observando-a com uma frieza que contrastava com o sofrimento evidente em seus olhos. Ele falou novamente, sua voz permanecendo inalterada, mas agora com um toque de ironia cruel:
— O destino, Sophie, tem seus próprios planos, e hoje ele se mostrou implacável. Daniel lutou, mas não resistiu. Isso mostra que ele não era forte o suficiente para te proteger. Não como eu irei.
Enquanto ele falava, Sophie se esforçava para compreender, tentando absorver cada palavra como se pudesse, de alguma forma, reconstituir os fragmentos de um amor que agora estava irremediavelmente perdido. Seu rosto contorcido misturava incredulidade e dor e as lágrimas escorriam sem cessar.
— Como… como isso pôde acontecer? — ela murmurou, a voz embargada e os olhos fixos no chão, como se evitar o olhar do homem pudesse, de alguma forma, amenizar a dor.
— Você sempre foi a luz dos meus dias, Sophie. Eu vou te amar mais do que qualquer um.– sussurrou ele.
Ela sentiu como se cada letra pronunciada por Brian corroesse um pouco mais de sua alma, deixando um vazio que ameaçava engoli-la.
— Como vou continuar sem você? — Sophie estava em choque.
Sophie, ainda se ajoelhando no chão frio, deixou escapar um soluço profundo, a voz carregada de um misto de desespero e uma determinação forçada pela dor:
— Eu… eu não sei se consigo… mas não vou deixar que a morte do Daniel seja em vão. Eu lutarei… por ele, por nós, por tudo o que acreditávamos.
— Então vá, Sophie. Mas saiba que agora você é minha mulher, somente minha e de mais ninguém. Mas não se preocupe, meu bem, eu vou te dar muito mais do que esse cara te deu. Você será tratada como uma rainha.
Brian Hawk se deteve por um breve momento, olhando fixamente para ela, como se quisesse gravar aquele instante de dor e desafio em sua memória. Então, num gesto final de dominação, ele ordenou aos seus homens:
— Levem-na! Não deixem que ela se recupere. Ela precisa aprender a obedecer.
Os capangas se aproximaram novamente de Sophie, e com movimentos firmes a agarraram pelos braços, arrastando-a para fora do corredor e longe do que restava do salão de celebração. Seus gritos, mesclados de desespero e revolta, se perderam no tumulto, mas ecoaram na alma de quem, mesmo distante, testemunhava aquela cena de horrores.
O clima no recinto era de silêncio, interrompido apenas pelo soluço contido de alguns presentes e pelo eco distante de sirenes. Após a brutalidade que fizeram Daniel, o ambiente se transformou num cenário de luto. Os amigos e familiares, com os rostos marcados pelo horror, se mobilizavam para recolher o corpo gravemente ferido de Daniel, que agora estava em uma maca improvisada, coberto por um lençol branco manchado de sangue.Entre os presentes, Maria, mãe de Daniel, não conseguia conter o desespero e seus olhos, vermelhos de tanto chorar, varriam a cena. Ela se aproximou lentamente, como se cada passo tivesse toneladas e, com a voz trêmula, tentava suplicar aos que ali se encontravam:— Por favor, tragam-no para mim... Eu preciso vê-lo. Não pode ser que ele se vá assim, tão brutalmente...Um dos amigos mais próximos de Daniel, André, que estava ajudando a sustentar a maca, aproximou-se de Maria e, colocando a mão suavemente em seu ombro, disse:— Nós fizemos tudo o que pudemos para s
Sophie mal podia acreditar no que estava acontecendo. Enquanto os dois homens a empurravam para dentro da van preta, seus olhos se enchiam de terror e determinação. Ela gritava por socorro, sua voz ecoando pela rua deserta, mas os poucos pedestres apenas a observavam de longe, amedrontados pelas armas reluzentes que os sequestradores ostentavam.Dentro da van, o cheiro de couro e o som abafado dos passos se misturavam em um cenário que parecia saído de um pesadelo. Sophie lutava com todas as forças, tentando se desvincilhar das mãos que a seguravam com firmeza, mas cada movimento era sufocado pelo peso do medo e pelo domínio dos homens. Seu corpo tremia, e lágrimas surgiam sem que ela conseguisse reprimi-las.Do lado de fora, a cidade continuava sua rotina. Pessoas apressadas, alheias ao drama que se desenrolava na calçada, desviavam o olhar. A tensão do momento era palpável, mas o temor das armas impedia qualquer um de se aproximar. Em meio a esse mar de indiferença, Sophie sentia-se
No silêncio frio do hospital, o tempo parecia se arrastar em uma cadência melancólica, marcada pelo som intermitente do monitor e pelos sussurros de uma esperança que se esvaía a cada instante. Daniel permanecia imobilizado em uma maca, envolto em lençóis brancos que contrastavam tragicamente com as sombras da sala. Sua mãe, de olhar cansado e coração apertado, estava ao lado dele, segurando sua mão com uma ternura desesperada, como se pudesse, através daquele gesto, trocar de lugar com o filho, desejando que aquilo nunca acontecesse. Preferia passar por uma morte com mil cortes do que ver seu amado filho nesse estado. Enquanto uma luz pálida invadia o ambiente, o médico se aproximou com passos contidos e voz baixa, tentando oferecer respostas que, no fundo, pareciam insuficientes para aliviar a dor que se instaurava. Ele falou com precisão, mas com um olhar que traía o desespero de quem sabe que nem todas as batalhas podem ser vencidas. Ele a conduziu para fora da sala, levando a um
Sophie despertou com um grito sufocado, sua garganta áspera como se tivesse passado horas implorando por ajuda. O peito ardia, cada respiração vinha acompanhada de uma pontada cortante que fazia seus olhos lacrimejarem. Piscou algumas vezes, tentando entender onde estava, mas a dor de cabeça latejante tornava qualquer pensamento mais difícil. Teve o pesadelo mais sombrio de sua vida. Via pessoas atirando, gente ferida e seu noivo Daniel estava sendo espancado por pessoas que ela não conhecia. Um homem forte a levava de seu casamento e ela acabava sendo sequestrada e dopada. Nunca tinha sonhado aquilo, e esperava nunca mais sonhar. Foi quando olhou ao ambiente ao seu redor, percebendo ser um lugar totalmente diferente do que ela estava. Não era sua casa, seu quarto, muito menos a casa de Daniel. Não reconhecia aquele lugar. Suas mãos deslizaram sobre o tecido simples de seu vestido, e a confusão se intensificou. Onde estava seu vestido de noiva? Onde estava Daniel?As lembranças danç
Sophie passou horas naquele mesmo cômodo, onde o silêncio só era quebrado pelo soluço contido e pelo som irregular de sua respiração. Cada instante era uma eternidade de angústia, e a tristeza a afundava ainda mais em um abismo de desespero. Em meio a lágrimas e lembranças fragmentadas, sua mente viajava, quase que involuntariamente, aos dias em que tudo parecia tão perfeito.— Daniel… — ela murmurava para si mesma, com a voz embargada. — Como chegamos aqui?Os pensamentos a transportavam para a faculdade, onde seus olhos se encontraram pela primeira vez. Lembrou-se do sorriso tímido dele, do jeito desajeitado com que tentava puxar conversa, e da sensação inexplicável de que, por um breve instante, o mundo conspirava para uni-los. O primeiro encontro, repleto de risos e timidez, havia se transformado em um dos momentos mais lindos e felizes de toda a sua vida, um filme que se repetia incessante em sua mente.E então veio a primeira viagem com a família dele, onde o ambiente era acolhe
O dia estava propício para um passeio. Parecia que a escola de NortWester sabia disso ao marcar uma visita à reserva florestal da cidade, levando os alunos do 9º ano para uma atividade de biologia. A proposta era catalogar plantas estudadas ao longo do ano e registrar instantes da natureza, desde pássaros e insetos até paisagens encantadoras.De pé, no ônibus, a professora Clarissa, uma mulher de quarenta e poucos anos, passava as instruções: — Alunos, prestem bastante atenção. Não nos afastem do grupo, pois a reserva é extensa e temos horário para retornar. Vocês podem formar equipes de até cinco pessoas para tornarmos a atividade mais eficiente.Entre o grupo animado, destacava-se Sophie Lancaster, uma menina de 14 anos cuja energia contagiante e olhar curioso captavam cada detalhe do mundo ao seu redor. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caíam de maneira despretensiosa sobre os ombros, como se tivessem sido esculpidos pela própria natureza, combinando perfeitamente com su
Quando seus olhos finalmente encontraram o garoto, notou o quanto ele estava pálido, com os traços marcados pelo medo. Seus cabelos loiros, bagunçados, grudavam em sua testa suada, enquanto seus olhos se fechavam instintivamente, como se tentassem se proteger do terror que o dominava. Sem hesitar, Sophie alcançou o menino e, com firmeza, envolveu-o em seus braços, segurando-o com a segurança de quem já havia enfrentado muitos desafios.“Aguenta firme!”, bradou Sophie, a voz misturando urgência e cansaço. Ela conduziu o garoto para fora do ônibus, sempre focada, enquanto o grupo de alunos, agora acompanhado por professores, assistia em estado de alerta e desespero.Finalmente, quando seus pés tocaram o chão de fora, o grupo se mobilizou. Clarice correu para ajudar, enquanto Sophie, com o coração batendo forte, permanecia segurando o rapaz, certificando-se de que o pânico não voltasse a dominá-lo. Foi nesse exato instante, quando a adrenalina começava a ceder lugar à calma da segurança,
Os anos haviam passado, transformando a menina de olhar curioso e sorriso encantador em uma jovem determinada e cheia de sonhos. Sophie Lancaster, agora com 23 anos, era a herdeira de um império familiar construído com suor, dedicação e tradição e após estudar nas melhores escolas, concluir o ensino médio com distinção aos 17 anos e se formar em administração, curso que escolheu para honrar e cuidar dos negócios da família Lancaster, ela se via prestes a viver um dos dias mais importantes de sua vida: seu casamento com Daniel Moore, um homem apaixonante, que conhecera na faculdade e com quem havia construído uma história repleta de cumplicidade e afeto.A manhã do grande dia amanheceu com um brilho especial. O céu estava límpo e o sol, parecia abençoar a união, não havia um sinal de nuvem no céu. No elegante salão de um antigo casarão cercado por jardins bem cuidados, flores delicadas e arranjos que exalavam romantismo, os preparativos para a cerimônia seguiam com a perfeição de um so