Antes que ela pudesse protestar, Brian inclinou-se de súbito e colou seus lábios aos dela. O beijo foi tudo, menos carinhoso. Sua mão segurava firme a nuca de Sophie, o corpo colado ao dela, enquanto ele a beijava como quem marca território, como quem toma posse. Sophie gemeu em protesto, tentou empurrá-lo, mas ele a segurou com mais força, puxando-a contra si. Os dentes dele cravaram-se de leve no lábio inferior dela, arrancando-lhe um arfar sobressaltado, uma mistura de dor e repulsa.— Você vai aprender — sussurrou contra sua boca, antes de finalmente se afastar.Sophie ofegava. O coração batia tão rápido que parecia prestes a rasgar suas costelas. O gosto metálico do sangue misturado ao perfume dele a enjoava. Ela virou o rosto, enxugando a boca com o dorso da mão, como se quisesse apagar o toque dele da própria pele.Brian, por sua vez, parecia imperturbável. Com calma estudada, abriu o paletó com elegância e puxou de dentro uma pequena rosa branca, perfeita, intacta, como se tiv
A manhã mal havia nascido, mas o quarto em que Sophie estava permanecia mergulhado numa penumbra sufocante. As cortinas grossas de veludo ainda bloqueavam toda a luz, como se fossem cúmplices da prisão. O ar ali dentro parecia antigo, parado, e cada respiração exigia um esforço consciente.Sophie sentia o corpo cansado, os músculos doíam, a pele ainda carregava o ardor das últimas horas. Mas havia algo em seus olhos, uma chama quase imperceptível que teimava em não se apagar.Arrastou-se com dificuldade até o limite da corrente, o tornozelo latejava, mas ela não se importava. Seus olhos estavam fixos na porta.O único caminho.A única chance.Com movimentos contidos, ela estendeu os dedos e tocou o metal da corrente, seguindo-a até o ponto onde ela se prendia ao chão de mármore. A base era sólida, o ferro incrustado na pedra, como se fizesse parte da própria estrutura. Sophie puxou com força, depois, com mais força. O som metálico cortou o silêncio como uma lâmina, um estalo seco e ás
Brian arrastava Sophie pelos cabelos sem se importar com seus gritos abafados, com o sangue que escorria pelas pernas arranhadas, ou com os soluços desesperados que escapavam entrecortados por falta de ar. As portas se abriram para eles como bocas famintas, engolindo ambos no mesmo silêncio de mármore e ouro.Ele não disse uma única palavra.Apenas caminhou, firme, decidido, até chegar a uma porta estreita ao final de um longo corredor. Um local que Sophie nunca tinha visto, mas que exalava um frio diferente. Um frio que não vinha do clima, mas da sensação de que ali dentro não havia mais humanidade.Com brutalidade, Brian puxou a maçaneta e escancarou a porta. Do outro lado, escuridão.— Entre, agora! — rosnou.Sophie hesitou por um segundo. Foi o suficiente para que ele a empurrasse com força. Seu corpo foi lançado contra o chão de pedra, a dor da queda atravessou-lhe as costelas. Antes que conseguisse se levantar, ouviu o estalo da porta se fechando atrás dela e a escuridão a engol
As lágrimas voltaram a cair. Ela olhou para si mesma no espelho, os olhos vermelhos, o rosto machucado, a alma em frangalhos.— “Prometo te amar…” — murmurou, a voz embargada.— Mais alto.— Prometo te amar… na saúde e na doença.— Continua.— Prometo estar ao seu lado… em todos os dias difíceis.— E?— Prometo respeitar…— Obedecer — corrigiu Brian, aproximando a boca do ouvido dela. — Diga.— Prometo obedecer… suas decisões.— Isso. Agora diga que pertence a mim.— Eu…Ele apertou seus ombros com força.— Diga, Sophie.— Eu… pertenço a você.Brian sorriu no reflexo.E Sophie, diante de mil versões de si mesma, sentiu que uma parte dela havia morrido naquele momento.O silêncio que se seguiu após a última frase dita por Sophie parecia mais ensurdecedor que um grito.Ela mal reconhecia a própria voz.Ficou ali, estática, com os olhos cravados no reflexo, não apenas o seu, mas o dele atrás dela, como uma sombra eterna, um predador que se recusava a sair de cena. As mãos dele ainda pesa
O dia estava propício para um passeio. Parecia que a escola de NortWester sabia disso ao marcar uma visita à reserva florestal da cidade, levando os alunos do 9º ano para uma atividade de biologia. A proposta era catalogar plantas estudadas ao longo do ano e registrar instantes da natureza, desde pássaros e insetos até paisagens encantadoras.De pé, no ônibus, a professora Clarissa, uma mulher de quarenta e poucos anos, passava as instruções: — Alunos, prestem bastante atenção. Não nos afastem do grupo, pois a reserva é extensa e temos horário para retornar. Vocês podem formar equipes de até cinco pessoas para tornarmos a atividade mais eficiente.Entre o grupo animado, destacava-se Sophie Lancaster, uma menina de 14 anos cuja energia contagiante e olhar curioso captavam cada detalhe do mundo ao seu redor. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caíam de maneira despretensiosa sobre os ombros, como se tivessem sido esculpidos pela própria natureza, combinando perfeitamente com su
Quando seus olhos finalmente encontraram o garoto, notou o quanto ele estava pálido, com os traços marcados pelo medo. Seus cabelos loiros, bagunçados, grudavam em sua testa suada, enquanto seus olhos se fechavam instintivamente, como se tentassem se proteger do terror que o dominava. Sem hesitar, Sophie alcançou o menino e, com firmeza, envolveu-o em seus braços, segurando-o com a segurança de quem já havia enfrentado muitos desafios.“Aguenta firme!”, bradou Sophie, a voz misturando urgência e cansaço. Ela conduziu o garoto para fora do ônibus, sempre focada, enquanto o grupo de alunos, agora acompanhado por professores, assistia em estado de alerta e desespero.Finalmente, quando seus pés tocaram o chão de fora, o grupo se mobilizou. Clarice correu para ajudar, enquanto Sophie, com o coração batendo forte, permanecia segurando o rapaz, certificando-se de que o pânico não voltasse a dominá-lo. Foi nesse exato instante, quando a adrenalina começava a ceder lugar à calma da segurança,
Os anos haviam passado, transformando a menina de olhar curioso e sorriso encantador em uma jovem determinada e cheia de sonhos. Sophie Lancaster, agora com 23 anos, era a herdeira de um império familiar construído com suor, dedicação e tradição e após estudar nas melhores escolas, concluir o ensino médio com distinção aos 17 anos e se formar em administração, curso que escolheu para honrar e cuidar dos negócios da família Lancaster, ela se via prestes a viver um dos dias mais importantes de sua vida: seu casamento com Daniel Moore, um homem apaixonante, que conhecera na faculdade e com quem havia construído uma história repleta de cumplicidade e afeto.A manhã do grande dia amanheceu com um brilho especial. O céu estava límpo e o sol, parecia abençoar a união, não havia um sinal de nuvem no céu. No elegante salão de um antigo casarão cercado por jardins bem cuidados, flores delicadas e arranjos que exalavam romantismo, os preparativos para a cerimônia seguiam com a perfeição de um so
A cerimônia de casamento se desenrolava como um conto de fadas moderno. O salão organizado para a festa, decorado com elegância, brilhava sob a luz suave das velas e dos lustres pendentes, enquanto os sorrisos e as lágrimas de felicidade dos convidados criavam uma atmosfera repleta de promessas e sonhos. Enquanto os convidados se entregavam nas danças e risadas, um som distante, mas cada vez mais ameaçador, começou a aumentar. O murmúrio de conversas e risos foi lentamente substituído por um silêncio carregado de apreensão. Do lado de fora do casarão, motores potentes rugiam e o som de passos firmes se aproximava, anunciando a chegada de algo.— Vocês ouviram isso? — perguntou uma madrinha, com a voz trêmula.— Deve ser apenas o trânsito lá fora... — respondeu alguém, tentando disfarçar o desconforto, mas os olhares de dúvida já diziam que algo estava muito errado.De repente, as grandes portas de vidro do salão foram quebradas e uma rajada de vento frio invadiu o ambiente decorado c