“Patrício”Eu estava enfurecido! Sentia uma raiva correr pelas minhas veias como há muito tempo eu não sentia. Eu fui feito de idiota e não foi só por essa garotinha mimada, foi por todos os meus amigos. O que eles tinham na cabeça para me fazer de idiota assim?Entramos na sala da minha assistente, que era contígua a minha, e ela parou em sua mesa, um tanto reticente. Eu passei por ela e abri a porta da minha sala, voltando a encará-la.- Na minha sala! – Repeti, com uma raiva saindo pelos meus poros.Ela passou por mim de cabeça baixa e entrou em minha sala, parando a meio caminho da minha mesa. Eu fechei a porta atrás de mim e passei o trinco, ninguém iria interferir nisso. Caminhei em direção a ela e parei em sua frente, com as mãos no quadril, olhei atentamente o seu rosto, bem de perto, estava ali, na minha cara, ela tinha os olhos da mãe, os mesmos olhos negros profundos que o meu amigo tinha. Como eu não a reconheci? Eu examinei cada detalhe do seu rosto em breves segundos. El
“Lisandra”Eu quis que um buraco se abrisse no chão quando li o cartão no presente que o Patrício deixou sobre a minha mesa, quis sair correndo quando aquele entregador falou o meu sobrenome e quis morrer quando o Patrício fechou a porta da sala dele e começou a falar. Mas agora, agora eu queria matá-lo! Como ele podia ser tão babaca assim? E todo mundo ficava repetindo pra mim que ele era um cara legal, que ele era o máximo. Ele era o máximo de um babaca, isso sim.Como ele se atrevia a se referir a mim daquele jeito, me chamando de mentirosa, de garotinha mimada, bichinho do mato! Quem ele pensava que era? Ah, mas ele não ia proferir nem mais meia ofensa contra mim.Eu realmente ia me demitir, facilitaria a coisa para nós dois, mas ele tinha que mostrar o babaca que ele era, não poderia ter só aceitado que eu estava tomando uma boa decisão. Mas aí ele disse que eu não cresci, que eu continuava sendo uma garotinha pronta para fugir e me esconder. Ah, Sr. Guzman, você não tem idéia do
“Patrício”Saí da minha sala e minha assistente não estava em seu posto de trabalho. Olhei sobre a mesa dela a caixa de bombons e vi o cartão. Ah, mas a garotinha já tinha um fã! Eu teria que resolver isso, por mais que ela fosse irritante, eu não poderia deixar qualquer um se aproximar, ela era irritante, mas era irmã de um amigo. Eu coloquei o cartão sobre a mesa no momento em que ela entrou.- Deseja alguma coisa, Sr. Guzman? – Essa garotinha tinha se tornado atrevida. Era até engraçadinha assim.- Que você esteja no seu posto de trabalho e não perambulando por aí. – Ela aprenderia a ser responsável, eu me encarregaria disso.Ela passou por mim, esbarrando de leve no meu peito, me deixando sentir seu perfume mais uma vez, e se sentou, guardou o cartão e os chocolates na sacola e tirou de cima da mesa, colocando sobre o móvel que ficava atrás da cadeira. Então ela ligou o computador, como se eu não estivesse mais ali. Eu saí da sala dela e parei na recepção, encarando a Manu.- Por
“Patrício”Eu voltei do almoço mais tranquilo. Ouvi tudo o que os meus amigos tinham a dizer e entendi que eles se divertiram as minhas custas. Eu estava bem com isso, teria feito o mesmo no lugar deles. Mas a Srta. Lisandra, essa não estava perdoada e eu faria a vida dela bem difícil enquanto trabalhasse pra mim.Até que numa coisa eu tinha que dar razão ao Alessandro, ela parecia ser realmente boa no trabalho, pelo menos tinha sido muito diligente em todas as vezes que a solicitei alguma coisa e pelo telefone ela era até muito simpática.Passei pela mesa da minha assistente e ela estava concentrada em algo que digitava no computador, sequer desviou os olhos da tela para me olhar. Sobre a sua mesa, a caixa de bombons que ela havia ganhado estava aberta, mas eu não via por ali os turrones que eu trouxe para ela. Ela preferiu aqueles bombonzinhos aos doces espanhóis que eu havia lhe dado? Isso me ofendeu um pouco.Entrei em minha sala e antes de passar pela porta eu vi a sacola colorid
“Lisandra”Eu saí da sala do Patrício atordoada! Eu precisava falar com a Manu, eu estava confusa e com milhares de pensamentos conflitantes. O que aconteceu naquela sala? Eu não era boba, nem tão inocente para não perceber que ele admirou os meus seios e esteve prestes a me beijar. Mas ele me detesta, porque iria querer me beijar? Porém, eu não pude me deter nesses pensamentos por muito tempo.- Ah, pronto, pela cara já teve outra briga. – O Flávio parou em minha frente, me avaliando.- Não teve briga nenhuma, Flávio. O que você está fazendo aqui? – Me desencostei na porta e me sentei o mais depressa que pude, pois eu estava de pernas bambas.- Soube que o Patrício voltou. Vim falar com ele.- Vou perguntar... – Mas meu irmão não esperou eu falar, abriu a porta e foi entrando. Eu precisava falar com a Manu. Chamei uma pessoa da limpeza para dar um jeito nos bombons pelo chão e assim que a funcionária entrou na sala, eu fui para a mesa da Manu.- Cunhadinha, preciso falar com você. –
“Patrício”A Lisandra havia acabado de sair da minha sala e eu estava olhando os bombons pelo chão, com o coração ainda acelerado, quando o Flávio irrompeu pela porta. Pronto! Se ele chega cinco minutos antes teria me pegado numa situação difícil de explicar, com a irmã dele no meu colo e a centímetros de beijá-la.- Finalmente você voltou! – Flávio caminhou em minha direção e eu me pus de pé para abraçá-lo.- Meu amigo! Como você está?- Caminhando nas nuvens. – Flávio sorriu. – E você, como você está?- Estou bem, foi bom ter ido. Já não é tão difícil. – E realmente não era, mas também esse dia estava tão cheio de novidades que eu nem tive tempo para pensar no que havia passado.- Que bom! – O Flávio me encarou e eu sabia o que ele queria dizer. – Patrício, sobre a minha irmã, eu avisei milhões de vezes para ela te contar.- Flávio, eu sei, o Alessandro me explicou tudo, está tudo bem. Não estou chateado com vocês. Eu me resolvo com a esquisita.- Patrício, ela é minha irmã e não é
“Patrício”Eu saí da empresa com o Flávio e decidi ir pra casa. Eu estava com a cabeça cheia de coisas sobre a Lisandra e eu não gostava que ela voltasse a assombrar meus pensamentos. Sim, ela já assombrou os meus pensamentos por muito tempo antes.Desde que a Lisandra nasceu eu sentia uma coisa muito esquisita em relação a ela, era algo que eu não conseguia explicar. E eu não queria remexer nesses sentimentos estranhos e contraditórios.Eu tinha oito anos quando a Lisandra nasceu e ela era um bebê lindo, eu ainda me lembro disso. Logo que eu a vi pela primeira vez eu fiquei encantado com ela e eu me apeguei. Ela foi uma criança encantadora, cheia de sorrisos e muito carinhosa. E ela grudou em mim, parecia tão encantada por mim como eu por ela, como se algo muito especial nos aproximasse. Eu me sentia como um dos guardiões dela, como se devesse protegê-la.Mas a medida que eu fui ficando adolescente, eu me afastei dela e comecei a achá-la irritante, pois ela continuava grudada em mim
“Lisandra”Eu fui para o apartamento me sentindo a estranha no ninho. Eu estava me sentindo tão fora de contexto naquela empresa e quando entrei no apartamento me senti fora de contexto ali também. Não parecia mais o lugar confortável onde eu me senti em casa. Olhei ao redor me sentindo magoada e sobrecarregada.O Patrício sempre disse que eu ficava me metendo em tudo e desde que ele chegou essa manhã eu me sentia exatamente assim, uma intrometida. Talvez eu devesse procurar um novo emprego. E talvez eu devesse ter aceitado o apartamento que o meu pai me ofereceu, mas eu queria ter o mínimo de coisas dadas por ele, queria provar que poderia me virar bem sozinha e que poderia crescer por meus próprios méritos, nem o carro que ele queria me dar eu aceitei.Por enquanto estava muito confortável pra mim, pois o Flávio sempre levava a Manu para o trabalho e eu pegava uma carona, e quando ele não levava, nós usávamos o carro dela.Hoje nós usamos o carro dela, e eu voltei para casa de metrô