“Patrício”Eu voltei do almoço mais tranquilo. Ouvi tudo o que os meus amigos tinham a dizer e entendi que eles se divertiram as minhas custas. Eu estava bem com isso, teria feito o mesmo no lugar deles. Mas a Srta. Lisandra, essa não estava perdoada e eu faria a vida dela bem difícil enquanto trabalhasse pra mim.Até que numa coisa eu tinha que dar razão ao Alessandro, ela parecia ser realmente boa no trabalho, pelo menos tinha sido muito diligente em todas as vezes que a solicitei alguma coisa e pelo telefone ela era até muito simpática.Passei pela mesa da minha assistente e ela estava concentrada em algo que digitava no computador, sequer desviou os olhos da tela para me olhar. Sobre a sua mesa, a caixa de bombons que ela havia ganhado estava aberta, mas eu não via por ali os turrones que eu trouxe para ela. Ela preferiu aqueles bombonzinhos aos doces espanhóis que eu havia lhe dado? Isso me ofendeu um pouco.Entrei em minha sala e antes de passar pela porta eu vi a sacola colorid
“Lisandra”Eu saí da sala do Patrício atordoada! Eu precisava falar com a Manu, eu estava confusa e com milhares de pensamentos conflitantes. O que aconteceu naquela sala? Eu não era boba, nem tão inocente para não perceber que ele admirou os meus seios e esteve prestes a me beijar. Mas ele me detesta, porque iria querer me beijar? Porém, eu não pude me deter nesses pensamentos por muito tempo.- Ah, pronto, pela cara já teve outra briga. – O Flávio parou em minha frente, me avaliando.- Não teve briga nenhuma, Flávio. O que você está fazendo aqui? – Me desencostei na porta e me sentei o mais depressa que pude, pois eu estava de pernas bambas.- Soube que o Patrício voltou. Vim falar com ele.- Vou perguntar... – Mas meu irmão não esperou eu falar, abriu a porta e foi entrando. Eu precisava falar com a Manu. Chamei uma pessoa da limpeza para dar um jeito nos bombons pelo chão e assim que a funcionária entrou na sala, eu fui para a mesa da Manu.- Cunhadinha, preciso falar com você. –
“Patrício”A Lisandra havia acabado de sair da minha sala e eu estava olhando os bombons pelo chão, com o coração ainda acelerado, quando o Flávio irrompeu pela porta. Pronto! Se ele chega cinco minutos antes teria me pegado numa situação difícil de explicar, com a irmã dele no meu colo e a centímetros de beijá-la.- Finalmente você voltou! – Flávio caminhou em minha direção e eu me pus de pé para abraçá-lo.- Meu amigo! Como você está?- Caminhando nas nuvens. – Flávio sorriu. – E você, como você está?- Estou bem, foi bom ter ido. Já não é tão difícil. – E realmente não era, mas também esse dia estava tão cheio de novidades que eu nem tive tempo para pensar no que havia passado.- Que bom! – O Flávio me encarou e eu sabia o que ele queria dizer. – Patrício, sobre a minha irmã, eu avisei milhões de vezes para ela te contar.- Flávio, eu sei, o Alessandro me explicou tudo, está tudo bem. Não estou chateado com vocês. Eu me resolvo com a esquisita.- Patrício, ela é minha irmã e não é
“Patrício”Eu saí da empresa com o Flávio e decidi ir pra casa. Eu estava com a cabeça cheia de coisas sobre a Lisandra e eu não gostava que ela voltasse a assombrar meus pensamentos. Sim, ela já assombrou os meus pensamentos por muito tempo antes.Desde que a Lisandra nasceu eu sentia uma coisa muito esquisita em relação a ela, era algo que eu não conseguia explicar. E eu não queria remexer nesses sentimentos estranhos e contraditórios.Eu tinha oito anos quando a Lisandra nasceu e ela era um bebê lindo, eu ainda me lembro disso. Logo que eu a vi pela primeira vez eu fiquei encantado com ela e eu me apeguei. Ela foi uma criança encantadora, cheia de sorrisos e muito carinhosa. E ela grudou em mim, parecia tão encantada por mim como eu por ela, como se algo muito especial nos aproximasse. Eu me sentia como um dos guardiões dela, como se devesse protegê-la.Mas a medida que eu fui ficando adolescente, eu me afastei dela e comecei a achá-la irritante, pois ela continuava grudada em mim
“Lisandra”Eu fui para o apartamento me sentindo a estranha no ninho. Eu estava me sentindo tão fora de contexto naquela empresa e quando entrei no apartamento me senti fora de contexto ali também. Não parecia mais o lugar confortável onde eu me senti em casa. Olhei ao redor me sentindo magoada e sobrecarregada.O Patrício sempre disse que eu ficava me metendo em tudo e desde que ele chegou essa manhã eu me sentia exatamente assim, uma intrometida. Talvez eu devesse procurar um novo emprego. E talvez eu devesse ter aceitado o apartamento que o meu pai me ofereceu, mas eu queria ter o mínimo de coisas dadas por ele, queria provar que poderia me virar bem sozinha e que poderia crescer por meus próprios méritos, nem o carro que ele queria me dar eu aceitei.Por enquanto estava muito confortável pra mim, pois o Flávio sempre levava a Manu para o trabalho e eu pegava uma carona, e quando ele não levava, nós usávamos o carro dela.Hoje nós usamos o carro dela, e eu voltei para casa de metrô
“Patrício”Eu cheguei na casa do Alessandro para o jantar sentindo uma inquietação. Depois de tudo o que aconteceu, era a primeira vez que me reunia com todos os nossos amigos. Respirei fundo antes de entrar, esperava que nenhum deles tocasse no nome da Virgínia, eu não queria mais falar dela. O Alessandro abriu a porta com o Augusto no colo. Meu afilhado era uma coisinha mais fofa. Logo deu os braços e me abriu um sorriso.- Ah, garotão! O dindo morreu de saudade! – Peguei o menino e entreguei as sacolas com os presentes para o Alessandro. – Alê, tem nome nas sacolas, distribui pra mim, por favor, deixa eu paparicar meu afilhado.- Ah, que pena que você voltou, Guzman! Eu já estava quase roubando o Augusto. – Melissa apareceu e me abraçou.- Sem chance, Mel, esse aqui é meu. – Eu ri, pois ela não se conformava em não ser madrinha de um dos quadrigêmeos da Catarina.Olhei ao redor e meus amigos estavam ali, Alessandro e Catarina, Heitor e Samantha, Melissa e Fernando, Ricardo, Flávio
“Lisandra”Quando o dia começou a amanhecer eu me levantei, já não conseguia mais ficar deitada. Me arrumei para o trabalho, olhei a minha bolsa com aquele xale amarrado em laço nela, havia ficado tão bonito que decidi não tirá-lo, deixei um bilhete para a Manu avisando que já tinha saído e fui para o trabalho. Eu queria ficar mais um pouco sozinha, não queria ouvir as histórias de como o jantar entre os amigos foi legal. Eu era uma pessoa má por isso? Talvez, mas eu estava me dando esse direito, de ser má e estar magoada.Fui para o escritório de metrô e sentei naquela pequena cafeteria que ficava do outro lado da rua. Ela estava abrindo quando cheguei e ainda era muito cedo para ir para o escritório. Sentei, pedi um café e fiquei observando o movimento da rua que ainda era fraco.Às sete e meia eu fui para o escritório, ainda era cedo e ninguém deveria ter chegado. Entrei e fui logo para a minha mesa, eu escreveria um e-mail para o Patrício explicando porque eu deveria me demitir e
“Patrício”Eu acordei essa manhã pensando no que fazer para me entender com a Lisandra. Meus amigos tinham razão, eu precisava deixar de tratá-la como se ela fosse uma menina, pois ela não era mais e isso ficou bem claro pra mim ontem quando eu a vi. Aquela menininha adorável se tornou uma mulher estonteante, como uma deusa que espalha seu feitiço e cega os homens de amor por ela. No entanto, eu sabia que não poderia ser um desses homens e talvez por isso estivesse tentando manter viva a imagem da garotinha em minha mente.Não, eu não podia olhar a Lisandra como mulher, isso seria uma catástrofe, pois eu certamente iria me encantar por ela e ela era proibida pra mim. Ela não podia ser simplesmente uma conquista ou passatempo. Ela era irmã de um dos meus melhores amigos e eu a vi nascer, eu a segurei no colo quando ela era só um bebê. Mas agora, parece que ela nunca foi aquele bebê de que me lembro.De toda sorte, eu estava decidido, teria que me acertar com a Lisandra para o bem da pa