“Patrício”Eu saí da empresa com o Flávio e decidi ir pra casa. Eu estava com a cabeça cheia de coisas sobre a Lisandra e eu não gostava que ela voltasse a assombrar meus pensamentos. Sim, ela já assombrou os meus pensamentos por muito tempo antes.Desde que a Lisandra nasceu eu sentia uma coisa muito esquisita em relação a ela, era algo que eu não conseguia explicar. E eu não queria remexer nesses sentimentos estranhos e contraditórios.Eu tinha oito anos quando a Lisandra nasceu e ela era um bebê lindo, eu ainda me lembro disso. Logo que eu a vi pela primeira vez eu fiquei encantado com ela e eu me apeguei. Ela foi uma criança encantadora, cheia de sorrisos e muito carinhosa. E ela grudou em mim, parecia tão encantada por mim como eu por ela, como se algo muito especial nos aproximasse. Eu me sentia como um dos guardiões dela, como se devesse protegê-la.Mas a medida que eu fui ficando adolescente, eu me afastei dela e comecei a achá-la irritante, pois ela continuava grudada em mim
“Lisandra”Eu fui para o apartamento me sentindo a estranha no ninho. Eu estava me sentindo tão fora de contexto naquela empresa e quando entrei no apartamento me senti fora de contexto ali também. Não parecia mais o lugar confortável onde eu me senti em casa. Olhei ao redor me sentindo magoada e sobrecarregada.O Patrício sempre disse que eu ficava me metendo em tudo e desde que ele chegou essa manhã eu me sentia exatamente assim, uma intrometida. Talvez eu devesse procurar um novo emprego. E talvez eu devesse ter aceitado o apartamento que o meu pai me ofereceu, mas eu queria ter o mínimo de coisas dadas por ele, queria provar que poderia me virar bem sozinha e que poderia crescer por meus próprios méritos, nem o carro que ele queria me dar eu aceitei.Por enquanto estava muito confortável pra mim, pois o Flávio sempre levava a Manu para o trabalho e eu pegava uma carona, e quando ele não levava, nós usávamos o carro dela.Hoje nós usamos o carro dela, e eu voltei para casa de metrô
“Patrício”Eu cheguei na casa do Alessandro para o jantar sentindo uma inquietação. Depois de tudo o que aconteceu, era a primeira vez que me reunia com todos os nossos amigos. Respirei fundo antes de entrar, esperava que nenhum deles tocasse no nome da Virgínia, eu não queria mais falar dela. O Alessandro abriu a porta com o Augusto no colo. Meu afilhado era uma coisinha mais fofa. Logo deu os braços e me abriu um sorriso.- Ah, garotão! O dindo morreu de saudade! – Peguei o menino e entreguei as sacolas com os presentes para o Alessandro. – Alê, tem nome nas sacolas, distribui pra mim, por favor, deixa eu paparicar meu afilhado.- Ah, que pena que você voltou, Guzman! Eu já estava quase roubando o Augusto. – Melissa apareceu e me abraçou.- Sem chance, Mel, esse aqui é meu. – Eu ri, pois ela não se conformava em não ser madrinha de um dos quadrigêmeos da Catarina.Olhei ao redor e meus amigos estavam ali, Alessandro e Catarina, Heitor e Samantha, Melissa e Fernando, Ricardo, Flávio
“Lisandra”Quando o dia começou a amanhecer eu me levantei, já não conseguia mais ficar deitada. Me arrumei para o trabalho, olhei a minha bolsa com aquele xale amarrado em laço nela, havia ficado tão bonito que decidi não tirá-lo, deixei um bilhete para a Manu avisando que já tinha saído e fui para o trabalho. Eu queria ficar mais um pouco sozinha, não queria ouvir as histórias de como o jantar entre os amigos foi legal. Eu era uma pessoa má por isso? Talvez, mas eu estava me dando esse direito, de ser má e estar magoada.Fui para o escritório de metrô e sentei naquela pequena cafeteria que ficava do outro lado da rua. Ela estava abrindo quando cheguei e ainda era muito cedo para ir para o escritório. Sentei, pedi um café e fiquei observando o movimento da rua que ainda era fraco.Às sete e meia eu fui para o escritório, ainda era cedo e ninguém deveria ter chegado. Entrei e fui logo para a minha mesa, eu escreveria um e-mail para o Patrício explicando porque eu deveria me demitir e
“Patrício”Eu acordei essa manhã pensando no que fazer para me entender com a Lisandra. Meus amigos tinham razão, eu precisava deixar de tratá-la como se ela fosse uma menina, pois ela não era mais e isso ficou bem claro pra mim ontem quando eu a vi. Aquela menininha adorável se tornou uma mulher estonteante, como uma deusa que espalha seu feitiço e cega os homens de amor por ela. No entanto, eu sabia que não poderia ser um desses homens e talvez por isso estivesse tentando manter viva a imagem da garotinha em minha mente.Não, eu não podia olhar a Lisandra como mulher, isso seria uma catástrofe, pois eu certamente iria me encantar por ela e ela era proibida pra mim. Ela não podia ser simplesmente uma conquista ou passatempo. Ela era irmã de um dos meus melhores amigos e eu a vi nascer, eu a segurei no colo quando ela era só um bebê. Mas agora, parece que ela nunca foi aquele bebê de que me lembro.De toda sorte, eu estava decidido, teria que me acertar com a Lisandra para o bem da pa
“Patrício”Minha mãe era uma mulher ainda muito bonita e cheia de energia. Era uma mulher preta, com fartos cabelos crespos, que ela tratava como um verdadeiro tesouro. Meu pai, filho de espanhóis, sempre dizia que havia se apaixonado por ela à primeira vista, pois ela parecia uma princesa guerreira. E ela era mesmo uma guerreira.- Meu filho voltou de viagem e eu fiquei sabendo disso por meio de uma amiga. Você não tem consideração com a sua mãe? – Minha mãe era uma mulher determinada e uma mãe amorosa. – Lisa! Querida, que bom vê-la aqui. Fiquei tão feliz em saber que você está trabalhando com o meu filho!Lisandra se levantou e a abraçou. Vi os seus olhos brilharem com ternura ao encarar minha mãe.- Tia Lucinda! – Lisandra abraçou a minha mãe com afeto.Meus pais a adoravam, estavam sempre falando dela em casa. Eu fiquei muitos anos sem ver a Lisandra, mas os meus pais iam muito a Europa e sempre a visitavam. Eles não cansavam de dizer o quanto ela era linda e especial e ressaltav
“Lisandra”Eu saí da sala do Patrício aliviada pela chegada da tia Lucinda, eu estava prestes a começar a chorar na frente dele. Me sentei em minha cadeira e me dediquei ao trabalho, mas eu estava cansada e com a cabeça cheia de preocupações. A porta foi aberta e tia Lucinda parou ao meu lado.- Querida, nós vamos ver o Alessandro e depois vamos sair para almoçar. Você vem conosco? – Tia Lucinda tinha um sorriso acolhedor.Eu adorava essa mulher e a admirava, sempre tão cheia de disposição e com uma energia tão positiva, tia Lucinda espantava a tristeza onde chegava.- Ah, tia, não vai dar. Tenho planos. – Respondi.- Se for com o Rick, com certeza ele também será intimado a almoçar com a minha mãe. – Patrício respondeu e sorriu pra mim. Ele sorriu pra mim? Ah, com certeza estava mantendo as aparências para a tia Lucinda.Eu não tinha nenhum plano para o almoço, mas não ia me intrometer no almoço deles, não daria mais essa deixa para o Patrício jogar em mim. Eu precisava pensar rápido
“Patrício”Mas eu fiquei muito irritado pela Lisandra recusar almoçar com a minha mãe para ir almoçar com aquele gerente de marketing. Esse cara ia ser um problema e eu já estava imaginando o Flávio vir reclamar por eu deixar qualquer um se aproximar da irmã dele. Deixei a minha mãe pra trás e fui depressa para a sala do Alessandro.- Alê, podemos enviar o gerente de marketing para Miami? – Perguntei aflito.- Qual o problema com o gerente de marketing? – Alessandro me olhou confuso.- Ele se candidatou há uns meses para um posto em Miami, mas a vaga foi preenchida internamente na filial. Contudo, o funcionário que havia ocupado o cargo não está apto. – Quando vi o cartão sobre a mesa da Lisandra com a caixa de bombons eu tinha me informado sobre o gerente de marketing e sabia tudo sobre ele, era um ótimo profissional e estava interessado em trabalhar fora do país, eu daria uma força e o tiraria do pé da Lisandra.- Ah, eu soube disso. Mas o nosso gerente dá conta da função lá? – Ales