“Flávio”Peguei o celular e liguei para o meu irmão, mas não esperava pelo que o Raul me contou. Desliguei o telefone e vi três pares de olhos me olhando ansiosos do sofá da sala.- O que ele disse, maninho? – Lisa logo quis saber.- Manu, você tem noção do tamanho dos negócios da sua família? – Perguntei e olhei para a Manu que parecia não ter idéia do que eu falava.- É um laticínio especializado em produtos de leite de cabra. Foi começado pelo meu avô e eu sei que o negócio cresceu com o meu pai e o meu irmão. Mas é um negócio pequeno, familiar. – Manu explicou. – Mas eu já te falei isso, Flávio.- Manu, você já conversou com seu irmão sobre isso? – Eu insisti.- Não! Meu avô deixou o meu irmão Camilo como o responsável por administrar a herança que ele me deixou, quando ele morreu eu era menor de idade. Assim que fiz dezoito anos o meu irmão quis me entregar tudo, mas eu nem quis saber o que era, antes que a minha mãe tivesse tempo de fazer qualquer coisa eu assinei uma procuração
“Manuela”Eu passei o dia remoendo tudo o que o Flávio disse que o pai dele descobriu sobre a empresa da minha família. Eu nunca soube de nada porque nunca quis saber, muitas vezes o meu irmão quis me explicar e me entregar o que ele dizia que era meu, mas isso não me interessava. A única coisa que eu sempre quis na vida, além de estudar e ser independente, foi que minha mãe me amasse e me tratasse bem.- O que está se passando nessa cabecinha linda? Eu posso ouvir as engrenagens girando aí dentro. – Flávio me abraçou por trás. Eu estava de pé na sacada do quarto olhando para as estrelas no céu como se elas tivessem a resposta.- Só pensando sobre essa herança que o meu avô deixou. – Falei.- Quer conversar? – Flávio me virou e encarou os meus olhos.- Eu fico me perguntando se o único interesse da minha mãe em mim é por esse dinheiro. – Suspirei e o Flávio me pegou no colo, indo se sentar comigo na poltrona do quarto.- Por que você diz isso?- Porque ela não me deixa em paz, mas ela
“Manuela”Entre a visita do pai do Flávio no sábado e o almoço de domingo na casa do Alessandro e da Catarina, acabei não ligando para o meu irmão, mas eu queria saber logo do Camilo o que estava acontecendo. Aproveitei a minha hora de almoço para fazer isso.- Oi, Manuzinha! Como você está minha irmã? – Camilo me atendeu com o mesmo tom carinhoso de sempre. Não importava o que ele estivesse fazendo, ou como estava o seu humor, ele sempre me atendia assim.- Estou bem. E o meu irmão preferido, como está? – Ele riu, desde criança eu dizia que ele era o meu irmão preferido e ele dizia que adorava isso. Mas ele realmente era o preferido.- Estou bem. Com tanta saudade de você que vou te visitar no fim da semana. Posso me hospedar na sua casa? – Achei estranho, pois eu passei um ano nessa cidade e ele não podia vir me ver, agora, poucos dias depois de me fazer uma visita ele já faria outra.- Você e a Olívia sempre podem ficar em minha casa. Eu fico feliz que você venha me ver, mas tem al
“Manuela”O resto da semana passou como um borrão, eu andava preocupada com o que o meu irmão tinha para me dizer, ele chegaria hoje e me explicaria tudo, mas eu já tinha decidido o que fazer e meu irmão teria que aceitar. Quando o número do meu pai piscou na tela do celular eu não pude deixar de sorrir.- Pai... – Atendi com alegria.- Filha! Querida, seu irmão me contou que você anda preocupada. – No momento, era o meu pai quem parecia preocupado.- Vocês estão mudando as coisas aí e eu fui pega de surpresa.- Não se preocupe, querida, confie no Camilo, ele sempre vai cuidar de você e te proteger. – Disso eu sabia, o Camilo se colocaria na frente de um trem por mim.- Eu confio nele. Você também virá hoje?- Não, o Camilo vai passar uns dias aí e eu tenho que ficar na empresa. Manu, tome cuidado, a Rita está totalmente fora de controle.- Eu estou com medo da minha mãe, pai.- Eu sei, filha, mas coloquei uma pessoa de confiança para vigiá-la, assim saberemos se ela sair da cidade. S
“Camilo”Depois do café da manhã, deixamos a Manu e a irmã do Flávio no escritório. Manu estava muito preocupada e ela não se acalmaria, o medo estava nos olhos dela e eu a entendia, ao longo da vida minha irmã já havia sido bastante punida por aquela mulher que se dizia mãe dela.- Flávio, eu estou muito preocupado com a minha irmã. Ela está com medo. – Comentei com o Flávio no caminho até o hotel onde nos encontraríamos com o pai dele.- É. – Flávio respirou fundo. – Vou ser franco com você, eu tenho vontade de matar aquela mulher. A Manu me contou que ela a chicoteava. Cara, isso é horrível de muitas maneiras. – Os olhos do Flávio estavam em chamas. Eu me lembrei da minha reação quando descobri.- Eu só não fiz nada com ela porque a Manu implorou, pois é a mãe dela. Humpf... mãe, que mãe que nada! Eu tenho certeza, Flávio, esse DNA vai dar negativo. – Eu estava bem ansioso pelo resultado que pegaríamos à tarde.- Tomara! Se for assim, eu acabo com a raça dessa mulher se ela se apro
“Flávio”Camilo estava sentado em minha frente boquiaberto. Ao seu lado a Olívia nem respirava. Eu fiquei apreensivo. Ele me estendeu o papel e eu o olhei, não dava para acreditar.- Positivo? Como assim positivo? Não, a Manu não pode ser filha daquela mulher! – Me custava a acreditar que a Manu tinha aquele monstro por mãe.Quando o Camilo começou a contar sobre suas suspeitas, num primeiro momento pareceu fantástico demais, mas depois foi como se tudo fizesse sentido. Agora eu tinha em minhas mãos um teste de DNA que confirmava que a Manu era filha daquele monstro da Rita.- Não pode ser, Flávio, não pode ser, a Manu não pode ser filha dessa cobra da Rita. A Manu é a cara da minha mãe, Flávio, você viu a foto. – Camilo estava chorando. Ele beirava o desespero e eu também estava inconformado.Olívia se levantou e foi até o balcão, minutos depois voltou acompanhada do responsável pelo laboratório. Ele se sentou ao nosso lado e explicou que o exame era confiável e não havia chance de e
“Flávio”Depois que o gerente me passou todas as informações sobre a Sabrina e para qual hospital ela havia sido levada, desliguei o telefone sem dizer uma palavra. Isso tudo seria uma grande confusão.- O que foi, Flávio? Algum problema com a Manu? – Camilo vendo a minha cara assombrada logo se preocupou com a irmã.- Não. – Balbuciei. – Só espero que não me cause um problema com a Manu. – Pensei por um momento antes de falar. – A desvairada da minha ex mulher tomou uma grande quantidade de pílulas e álcool, foi levada inconsciente para o hospital e deixou um bilhete para que me ligassem.- Que barbaridade! – Camilo comentou. – O que você vai fazer?- Eu preciso ir até o hospital, Camilo, apesar de tudo eu fui casado com essa doida. Vou pedir ao meu pai que avise aos pais dela para virem, mas até que cheguem não é correto que eu a deixe sozinha, você não acha? – Olhei para ele buscando aprovação.- Eu acho que você deveria falar com a Manu primeiro. – Olívia tinha razão, eu não podia
“Manuela”O tempo foi passando lentamente enquanto estive sentada naquele sofá no quarto de hospital ocupado pela Sabrina. O Flávio estava quieto ao meu lado, mas o pai dele estava se desdobrando em atenção comigo. Ele chegou a ir a lanchonete do hospital e voltar com um lanche e café, dizendo que nós deveríamos comer. Quanto mais ele tentava ser gentil, mais eu o comparava com a minha mãe e percebia que o dinheiro poderia fazer as pessoas mudarem a forma como me viam. Quanto mais eu pensava nisso, menos eu queria aquela herança.- Humm... ai... Flá-flávio... – Sabrina se mexeu na cama parecendo desconfortável.Flávio me olhou, ele parecia caminhando sobre um terreno minado. Eu apenas fiz um sinal com a cabeça, indicando que ele deveria se aproximar dela. Ele soltou a minha mão, se levantou apreensivo e caminhou até a cama.- Estou aqui, Sabrina. – Ele falou ao se aproximar, porém não a tocou.- Você veio. – De onde eu estava vi o sorriso dela e a mão estendida para que ele segurasse.