Siran terminou todos os papéis num maço, para começar pela contabilidade. A pressão do facto de o seu alfa não estar na alcateia colocava-lhe nos ombros uma grande responsabilidade que não devia delegar em ninguém. Estava grato por a sua mulher estar a tratar de outras coisas, como organizar os novos membros, controlar as provisões e arranjar desculpas para todos aqueles que perguntavam porque não viam o seu alfa há dias, mesmo quando a sua cio já devia ter terminado. Para além disso, a pergunta sobre o paradeiro da sua noiva era a mais frequente, sobretudo por parte das crias, que não paravam de questionar Sara sobre o paradeiro da mãe. O pretexto de que tinham ido com Layan para resolver alguns assuntos urgentes não tardava a desaparecer. Siran tinha pena dela. Já lhe estavam a aparecer manchas escuras debaixo dos olhos, arruinando a sua beleza natural. Ouvia-a suspirar de vez em quando e, embora ela respondesse com o seu sorriso habitual, ele via que a preocupação a dominava cad
Siran continuou a lavar o corpo da sua mulher e companheira, desta vez passando as mãos pela cintura estreita e pelo abdómen, onde parou durante alguns segundos. Sara reparou que os olhos dele estavam a olhar fixamente para esta altura. -Queres ter cachorrinhos? -perguntou ela casualmente. Ele abanou a cabeça. -Ainda não. Sara sorriu discretamente, sem que as palavras dele a magoassem. Para ser sincera, ela sabia da carga de trabalho que tinha como beta, e ainda mais agora que tinha de estar atenta a tantas outras coisas, como terminar a reunificação das duas alcateias e as mudanças que viriam com a nova rainha, mas não lhe tinham passado despercebidas as vezes que o tinha visto a observar outros lobos com os filhotes nos braços e as carinhas inocentes. Dou-te todos os cachorros que quiseres- passou os dedos pela bochecha dele para depositar um beijo na outra. Ainda és jovem, haverá tempo para isso- calou todos os protestos, atacando-lhe de novo os lábios. O beta prestou espec
Satisfeito não era a palavra certa para descrever o que Hades sentia naquele momento. Ele apreciou, com um leve sorriso, os contornos do corpo de Nebraska enquanto ela caminhava alguns passos à sua frente. Reconheceu que gostava de a ver tão bem disposta. Suspirou de prazer e sacudiu o cabelo, que estava despenteado e ligeiramente húmido devido às suas acções anteriores. Passou a língua pelos lábios e sentiu, ainda, o sabor da loba neles. A ideia de ir para cima dela e de a saborear, agora que estavam mais confiantes, estava a materializar-se lentamente. Ele observou-a fazer uma pausa até estar ao seu lado e colocou uma mão na curva da parte inferior das suas costas, um sítio que ele gostava de tocar, mais do que queria admitir, e que mostrava até que ponto tinha posse dela. -Tem alguma coisa errada? -perguntou ele, suavemente. Ela virou o rosto para ele e os seus olhos voltaram a tirar-lhe o fôlego, eram simplesmente lindos. Ela era linda. -Estamos perto dos limites do núcleo d
Siran e Leoxi cumprimentaram-nos à entrada. Embora o rosto do beta não mostrasse qualquer alteração, as suas mãos em forma de punho e a sua testa ligeiramente carrancuda davam a entender a Hades que ele lhe daria um murro no meio do nariz se ele se mantivesse à distância certa. Tal era a confiança que tinham um no outro.-Sara- acenou com a cabeça para a loba e deixou-a fazer a sua magia, acalmando o marido.-Irmão- Leoxi abraçou-o com uma palmadinha nas costas, -Futura rainha- inclinou ligeiramente a cabeça e voltou a atenção para a gémea para gritar, -O que se passa convosco, posso saber? Quase arrancámos os cabelos a tentar conter este beta com quem não se podia falar porque estava muito tenso de tanta papelada. Não voltes a desaparecer assim, pelo menos diz para onde vais.Hades sorriu e levantou os ombros com indiferença. Ele, a sua beta e os seus pais eram os únicos que lhe podiam falar naquele tom sem vacilar.-Eu também senti falta deles.-Não tens remédio- protestou Siran e v
Hades esperava tudo menos aquela confissão.Rodrigo, por sua vez, sentiu todo o peso se esvair de repente, mas só podia observar como o alfa à sua frente não se movia, embora seus olhos tivessem se tornado de um prateado mais profundo e frio. As suas unhas tinham crescido e estavam a cravar-se com força, lascando a madeira dos apoios de mão.Ela engoliu em seco, tinha confessado o que a mantinha acordada desde que a mãe tinha sido resgatada. Mas talvez não tivesse sido uma boa ideia. O seu pai tinha razão, era melhor ficar calada. Sempre.-Porque não fizeste nada?- para surpresa dela, o alfa permaneceu na mesma posição e, apesar da mudança de aspeto, a sua voz manteve o mesmo tom.-Por que eu faria isso? Essa resposta só fez com que Hades estreitasse os olhos, contendo a sua parte mais selvagem, lembrando-se das suas próprias palavras. -Até há pouco tempo, tudo o que eu sabia sobre a minha mãe era que ela tinha abandonado a sua alcateia e usado o seu poder em benefício próprio. Esse e
Hades tinha de admitir que se havia uma coisa que ele detestava na sua alcateia, era aquela quase tradição incutida pelo fundador da alcateia de que todas as lobas que iam ser rainhas tinham de ter uma elevada tolerância ao álcool para não fazerem figura de parvas perante o seu alfa numa reunião especial. E os seus membros tinham levado isso a peito com cada uma das poucas rainhas que tinham sido ao longo da sua história. Uma das melhores tinha sido a sua mãe. O pai dizia sempre, irritado, que ela podia acabar com a despensa e continuar lúcida, por isso guardava-a sempre a sete chaves, embora depois de os ter não tivesse consumido nem mais uma gota, pelo menos à frente deles. Mas agora, os seus adorados lobos estavam a submeter esta ómega e futura rainha a um desafio que ela não fazia ideia de como iria terminar e que sabia que lhe caberia a ela resolver. Mais tarde, ela repreenderia os promotores que tinham iniciado isto sem o seu consentimento.A azáfama aumentava à medida que ela
Nebraska remexeu-se pesadamente nos lençóis, reconhecendo duas coisas. Primeiro, que aquela não era a sua cama, ou pelo menos não era a cama do quarto que lhe tinha sido atribuído. Em segundo lugar, que essa mesma cama tinha o cheiro de Hades por todo o lado e que este estava agora a infiltrar-se na sua pele.Com dificuldade, abriu os olhos, pestanejando apenas para receber um forte latejar na cabeça, levando a mão à testa. As memórias do dia anterior voltaram a inundá-la. Só se prolongaram até ao segundo jarro de vinho. A partir daí, não se apercebeu do que tinha acontecido.Inclinou a cabeça para cima e verificou se a roupa estava vestida e suspirou de alívio. O pescoço também não lhe doía e não sentiu que alguma coisa tivesse mudado. Ele sabia, por pouca experiência, que o álcool afectava os ómegas de várias formas, tirando-lhes o raciocínio e deixando apenas o instinto para aquilo para que tinham sido trazidos ao mundo, procriar, e muitos lobos aproveitavam-se desse facto para os
Nervosa. Talvez essa fosse a palavra certa para Hades. Todos os que o viam pensavam que ele estava bem, normal, o seu alfa de sempre, sério, elegante, bonito, inatingível, imaculado, seguro de si, bondoso, justo, mas ninguém podia imaginar o caos que era o seu interior. O motivo. O casamento deles seria amanhã. Sob a lua.Ele não podia estar mais feliz com esse facto. Apesar de ter alguns problemas para resolver, tudo se estava a desenrolar com passos positivos. Nos últimos dias, tinha conseguido que Rodrigo não se fechasse no seu quarto e que, pelo menos, os acompanhasse ao almoço e ao jantar sem querer levantar-se o mais cedo possível, aceitando até uma carícia na cabeça da sua mãe de vez em quando. Por seu lado, as coisas com Catalina não melhoravam nem pioravam, estavam num impasse total. A rapariga não cedia. Recusava-se a pedir desculpa a Nebraska por a ter levado para um sítio tão perigoso quando ele estava com o cio ou a aceitar o facto de que ela não seria rainha. Ele tinh