(Esmen)Minha confusão se dissipou, as roupas usadas na noite passada para promover bom conforto durante o sono estavam penduradas no cabideiro de madeira, do mesmo lado em que ele havia dormido.Me convenci de que o alívio sentido era por acordar sozinha e não por ter tido a melhor noite de sono dos últimos dias. Talvez fosse obra do cansaço mental.Me levantei da cama, seguindo para o banheiro, depois de uma breve visita ao cômodo menor, retornei para vestir outra roupa, deixando a minha camisola no segundo cabideiro de chão do meu lado.Não parecia errado dividir o quarto daquela forma, assim mostrava os limites de cada um, mesmo tendo que compartilhar.Mal encontrei o vestido certo, enquanto me avaliava no espelho, estranhando minha pele mais relaxada pela noite de sono, alguém bateu na porta.Imediatamente, recordei dos meus receios.— Senhora, sou eu! — não precisava ela continuar, o alívio foi meu combustível.Quase corri em direção à porta, pronta para receber Ernest, com muit
(Esmen) Parecia existir mais perigo sem a aproximação do rei, sem sua atenção em mim, do que me entregando a ele. Mas concordei imediatamente com suas palavras, fingindo mais confiança em mim. — E quem disse qual é a minha preferência? — Aquilo me causou um pouco de confusão, por isso apenas engoli novamente, a comida invisível, tratando de capturar mais um bolinho. Sob o olhar gélido de Tauron, mergulhei o bolinho no molho claro, no centro da mesa. — Aceite isso como ajuda. Não precisará explicar para ninguém o porquê de não querer ‘sua esposa’, vai estar evidente — digo, antes de levar o bolinho aos lábios. Tauron assistiu à cena com estranheza. Mas não perdeu a concentração; pelo contrário, voltou a comer, colocando mais suco no próprio copo. — Não poderia estar mais enganada. Continuei degustando o bolinho, mesmo já estando cheia. — Exigência?! Quanto mais carne, melhor, não? — Suas palavras me provocaram uma crise de tosse, por engolir o conteúdo na boca com muita pressa.
(Esmen) Tauron não me ouviria. Para ele, eu não tinha do que me queixar, parecia apenas uma cativa querendo mais oportunidades para fuga. Minha sina era viver sendo seguida por pessoas que me desagradavam. — Chame sua serva! — ele ordenou, ainda ali, muito próximo. Sem tocar. — Ernest? — Virei o rosto na direção da porta de entrada. — Chame-a! Engoli o bolo que se formou na garganta. Estava nervosa, desgostando de sua dominância. Fiz um leve movimento nas cordas vocais, preparando-me para chamá-la em alto som. — Ernest! Não havia imaginado que ela estava do outro lado da porta, mas apareceu, curvando-se de longe e nos saudando, como sempre que nos via, especialmente na presença de Tauron. Seus olhos espertos correram entre mim e o rei, de forma discreta. Nossa suposta aproximação transmitia uma impressão evidente. — Acompanhe Sua Majestade e apresente-lhe os domínios! — ordenou a Ernest. — Sim, Sua Majestade! — Ela se curvou novamente, aceitando as ordens. — Rogo-lhe que me
(Esmen) Só então, notei minhas mãos geladas alisando meus ombros por cima das mangas franzidas do vestido. Olhei na direção de Ernest, ela não tinha ciúmes, tinha admiração por sua forma atenciosa para comigo, mesmo que não fosse com ela. — Bem… — pensei em negar, mas o movimento atrás de mim me recordou da tentativa de Gideon de parecer agradável. — Agradeço! — falei por fim. Ernest capturou seu casaco para que ele não me tocasse, por ser rainha e não uma mulher comum. Vi nos seus olhos como ela gostou de ter aquele tecido nos dedos, então me vestiu. O calor era bem-vindo desta vez. Os olhos de Gideon me perfuraram. Fingir não me preocupar, abraçando o casaco com naturalidade. O aroma de lavanda veio acariciar minhas narinas geladas, pois as golas do casaco estavam altas. — Peço perdão por não ser uma capa! — preocupou-se com minha cabeça ao vento. Neguei com a cabeça, descartando aquilo como necessidade no momento. Não me preocupava tanto com o rosto sendo atacado pela nev
(Esmen) Tauron, sempre atento a mim como um falcão, percebeu meu estranho estado. — De onde? — Ele deixou que o outro respondesse a todas as suas perguntas. Meus olhos lacrimejavam, e meu corpo ficou pesado, assim como as lágrimas. "Não! Não pode ser!" — Ela veio do reino de Vitorian. — E como ela chegou até aqui? — Vi o vulto embaçado de Tauron se levantar de seu lugar. Eu já não conseguia prestar atenção neles, apenas fixava o olhar na madeira da mesa, enquanto lutava para que minhas lágrimas não caíssem. "É outra pessoa. Não é ela. Não é ela!" A solidão me envolveu, junto com o medo excessivo, o desespero, a descrença e a saudade. Seria esse o sentimento da perda? Mas não era apenas isso. Era uma dor esmagadora, que sufocava meu coração, mente e corpo. — Ela tentou escapar de alguém. — A voz do homem se tornava cada vez mais distante. — Esmen? — ouvi a voz de Tauron. Levantei o rosto e o encontrei ao meu lado, uma mão pousava em meu ombro direito. — Beba isto! — Ele me
(Tauron)Apertei meus dedos contra as palmas das mãos, enquanto olhava na direção da porta. Eu não gostava de Esmen, mas prometi não machucar seu corpo. Como poderia permitir que outra pessoa o fizesse? Ainda mais no meu quarto, onde ela deveria estar protegida."O que ele tem na cabeça?"Conseguia ouvir cada passo meu, as botas batendo furiosamente no chão enquanto meus passos largos me levavam de volta ao quarto."Que tipo de ser honrado faria mal a uma mulher enquanto ela está sob efeito do sono ou de qualquer substância que a deixe indefesa?"— Pare! Deixe-a! — ouvi a serva gritar.Adentrei o cômodo como uma tempestade de neve, com os olhos fixos no homem que havia acabado de empurrar Ernest em direção à parede para se aproximar de Esmen. A loira estava machucada a ponto de não conseguir se levantar imediatamente do chão.Me vi arrancando-o de perto da cama, empurrando-o na direção de Ernest, que, rastejando, se afastou para os pés da cama. Com um baque surdo, bati suas costas con
(Gideon)— Para que fizestes isso? Não precisamos de mais comida. — Cruzei os braços, chateado.Ouvi sua gargalhada enquanto ela vinha na minha direção. O vestido, antes cinza, agora estava com uma grande mancha vermelha se espalhando por sua saia, assim como o pequeno animal, que tinha sangue pingando da garganta cortada enquanto pendia de suas pernas.— Eu gosto de ouvir os lamentos antes da morte. Sabe disso. — disse maldosamente.— Isso é um desperdício de alimento. — resmunguei, caminhando ao seu lado quando ela me alcançou.Belle usava um casaco fino de lã e parecia nunca sentir o frio o suficiente para reclamar dele. Uma criança estranha aos olhos de todos. Eu era diferente. Odiava desperdício, e tinha a temperatura corporal mais alta que a dela. Belle era fria.— Além do mais, posso criar algo com a pele dele. — disse, alisando os pelos do cadáver.— Um gorro? — desacreditei de sua mente.— Algo assim.— Você tem que parar com isso. Assim, todos vão me apontar o dedo de novo.
(Gideon) Seu noivado era falado por todos. Uma jovem de família humilde havia se tornado noiva do rei. Belle, no entanto, deixava a notícia cada vez menos agradável aos olhos dos súditos de seu noivo. Ela começava a perder, aos poucos, a pose de donzela indefesa, já mostrando indícios de como seria se tivesse poder. — Você está deixando sua máscara cair antes do casamento? — toquei em seu braço quando ela passou pelo mesmo corredor que eu. Ela me encarou; parecia me evitar nos últimos dias. De repente, um sorriso surgiu nos seus lábios. — O que isso importa? Acha que perderei o cargo de rainha? — perguntou, colocando a mão sobre a minha, que segurava seu braço. Cheguei muito perto dela. Ela ainda tinha cheiro de angústia e dor, ao menos para mim. — Não está confiante demais? — indaguei, perto de seus cabelos. Agora eu era apenas um simples soldado para ela; não parecia que tínhamos um laço sanguíneo. — Ele jamais me deixará. Sou como uma rosa rara que desabrocha no gelo. — Se