(Esmen)Apertei os olhos, incapaz de acreditar que estava sendo dispensada. Por um lado, estava aliviada, por outro, incomodada."Quão estranho seria, o marido, mesmo odiando a mulher, tê-la apenas para si, sem pensar em se aproveitar?"Aquela dúvida parecia uma pulga atrás da orelha, de tão insistente.— Concordar com? — Me vi errando. Com certeza, ele sentiu que eu o estava irritando de propósito.— Você! Não atrapalha o meu sono ou a minha passagem aqui dentro, e eu não sou obrigado a topar com você em outro lugar a não ser nesse cômodo e dividindo as coisas que aqui estão. Certo?Ele parecia tão resiliente. Eu deveria me sentir lisonjeada por sua falta de malícia e desejo?Mas por que parecia que faltava algo? Uma emoção, aventura, adrenalina, um pouco de medo e desconforto?Estava vivendo há tanto tempo em alerta por ele, que agora, sem aquele sentimento, me sentia desestabilizada.— Mas e a cama? — pareci procurar um defeito.— Dividimos, assim como o guarda-roupas. O resto não
(Esmen)Naquele instante, recordei-me de Gideon, pois seria ele a ser chamado, caso não fosse Tauron ou uma das empregadas.“A esta altura, todas as mulheres estão dormindo.”— As mulheres desse castelo dormem o mais rápido possível. Não se pode confiar nos soldados perto delas. — um arrepio correu por minha espinha, o estômago embrulhou em queimação.“Ele vai falar de Gideon…” me apressei a aceitar sua oferta de paz momentânea, aceitando-o para tal tarefa.— Se puder me ajudar… — quase tremi a voz com tanta pressa.— Não prefere os soldados? Ou...— Não! Faça! — Se estivéssemos frente a frente, ele notaria minha expressão nervosa. Apesar de imaginar que já tivesse percebido algo, por causa do meu comportamento.Quando ele começou a puxar cada ponta, projetei a invenção de Ernest na minha mente.“Farei laços. Assim, a expectativa do rei vai aumentar. Assim como a ansiedade na princesa.” Cruzei meus braços com o pensamento coagido pela própria dona.“Um péssimo cupido. Não sabe ver a d
(Tauron)— Agora vai dizer que sabe me manipular só olhando nos meus olhos? — Segurei a vontade de rir. Era tudo uma bobagem.— Está certo. Você está zombando de mim. Então veremos! — Ela deu um passo para o lado, tentando sair do meu campo de visão.— Vai tentar uma nova fuga? Não já é meio tarde? — A encarei.Esmen riu forçadamente, mostrando seus dentes brancos, criando uma imagem diferente daquela que eu estava acostumado a ver. “Como seria um sorriso verdadeiro?” Recordei por um segundo, dela me recebendo com um lindo sorriso quando achou que se tratava da serva dela.A lembrança não durou mais que segundos, ela me trouxe de volta com o som da sua voz.— Fugir? Eu não pretendo. — Aquilo não me convencia.— Lembre-se, aos olhos de todos, você é uma rainha agora. Não pode fugir de mim.— Não. Eu não sou. Não existe tal título.— Você se esquece tão fácil. — provoquei.— Não existe. O casamento não foi consumado. — Quis encerrar a conversa.Aquelas palavras me irritaram demasiado.
(Esmen)Minha confusão se dissipou, as roupas usadas na noite passada para promover bom conforto durante o sono estavam penduradas no cabideiro de madeira, do mesmo lado em que ele havia dormido.Me convenci de que o alívio sentido era por acordar sozinha e não por ter tido a melhor noite de sono dos últimos dias. Talvez fosse obra do cansaço mental.Me levantei da cama, seguindo para o banheiro, depois de uma breve visita ao cômodo menor, retornei para vestir outra roupa, deixando a minha camisola no segundo cabideiro de chão do meu lado.Não parecia errado dividir o quarto daquela forma, assim mostrava os limites de cada um, mesmo tendo que compartilhar.Mal encontrei o vestido certo, enquanto me avaliava no espelho, estranhando minha pele mais relaxada pela noite de sono, alguém bateu na porta.Imediatamente, recordei dos meus receios.— Senhora, sou eu! — não precisava ela continuar, o alívio foi meu combustível.Quase corri em direção à porta, pronta para receber Ernest, com muit
(Esmen) Parecia existir mais perigo sem a aproximação do rei, sem sua atenção em mim, do que me entregando a ele. Mas concordei imediatamente com suas palavras, fingindo mais confiança em mim. — E quem disse qual é a minha preferência? — Aquilo me causou um pouco de confusão, por isso apenas engoli novamente, a comida invisível, tratando de capturar mais um bolinho. Sob o olhar gélido de Tauron, mergulhei o bolinho no molho claro, no centro da mesa. — Aceite isso como ajuda. Não precisará explicar para ninguém o porquê de não querer ‘sua esposa’, vai estar evidente — digo, antes de levar o bolinho aos lábios. Tauron assistiu à cena com estranheza. Mas não perdeu a concentração; pelo contrário, voltou a comer, colocando mais suco no próprio copo. — Não poderia estar mais enganada. Continuei degustando o bolinho, mesmo já estando cheia. — Exigência?! Quanto mais carne, melhor, não? — Suas palavras me provocaram uma crise de tosse, por engolir o conteúdo na boca com muita pressa.
(Esmen) Tauron não me ouviria. Para ele, eu não tinha do que me queixar, parecia apenas uma cativa querendo mais oportunidades para fuga. Minha sina era viver sendo seguida por pessoas que me desagradavam. — Chame sua serva! — ele ordenou, ainda ali, muito próximo. Sem tocar. — Ernest? — Virei o rosto na direção da porta de entrada. — Chame-a! Engoli o bolo que se formou na garganta. Estava nervosa, desgostando de sua dominância. Fiz um leve movimento nas cordas vocais, preparando-me para chamá-la em alto som. — Ernest! Não havia imaginado que ela estava do outro lado da porta, mas apareceu, curvando-se de longe e nos saudando, como sempre que nos via, especialmente na presença de Tauron. Seus olhos espertos correram entre mim e o rei, de forma discreta. Nossa suposta aproximação transmitia uma impressão evidente. — Acompanhe Sua Majestade e apresente-lhe os domínios! — ordenou a Ernest. — Sim, Sua Majestade! — Ela se curvou novamente, aceitando as ordens. — Rogo-lhe que me
(Esmen) Só então, notei minhas mãos geladas alisando meus ombros por cima das mangas franzidas do vestido. Olhei na direção de Ernest, ela não tinha ciúmes, tinha admiração por sua forma atenciosa para comigo, mesmo que não fosse com ela. — Bem… — pensei em negar, mas o movimento atrás de mim me recordou da tentativa de Gideon de parecer agradável. — Agradeço! — falei por fim. Ernest capturou seu casaco para que ele não me tocasse, por ser rainha e não uma mulher comum. Vi nos seus olhos como ela gostou de ter aquele tecido nos dedos, então me vestiu. O calor era bem-vindo desta vez. Os olhos de Gideon me perfuraram. Fingir não me preocupar, abraçando o casaco com naturalidade. O aroma de lavanda veio acariciar minhas narinas geladas, pois as golas do casaco estavam altas. — Peço perdão por não ser uma capa! — preocupou-se com minha cabeça ao vento. Neguei com a cabeça, descartando aquilo como necessidade no momento. Não me preocupava tanto com o rosto sendo atacado pela nev
(Esmen) Tauron, sempre atento a mim como um falcão, percebeu meu estranho estado. — De onde? — Ele deixou que o outro respondesse a todas as suas perguntas. Meus olhos lacrimejavam, e meu corpo ficou pesado, assim como as lágrimas. "Não! Não pode ser!" — Ela veio do reino de Vitorian. — E como ela chegou até aqui? — Vi o vulto embaçado de Tauron se levantar de seu lugar. Eu já não conseguia prestar atenção neles, apenas fixava o olhar na madeira da mesa, enquanto lutava para que minhas lágrimas não caíssem. "É outra pessoa. Não é ela. Não é ela!" A solidão me envolveu, junto com o medo excessivo, o desespero, a descrença e a saudade. Seria esse o sentimento da perda? Mas não era apenas isso. Era uma dor esmagadora, que sufocava meu coração, mente e corpo. — Ela tentou escapar de alguém. — A voz do homem se tornava cada vez mais distante. — Esmen? — ouvi a voz de Tauron. Levantei o rosto e o encontrei ao meu lado, uma mão pousava em meu ombro direito. — Beba isto! — Ele me