Chego na recepção dois minutos depois do fim do horário de visita. Explico minha situação e nem preciso fingir desespero. Assim que boto os pés lá, sinto absolutamente tudo dentro de mim e começo a chorar copiosamente, me sentindo mais sozinha do que nunca.
Daniel aparece e me explico outra vez, em prantos. Acabam me deixando entrar. O lugar parece mais silencioso do que me lembrava, provavelmente a maioria aqui repousa em um sono profundo e sedado.
— Ele está mais estável, mais calmo, isso deve ajudá-la — Daniel comenta enquanto me guia.
— Me ajudar com o quê?
— Você passou muito tempo longe, ele achou que tinha sido abandonado.
— Quer dizer que esse tempo todo você ficou trabalhando com o Maicon pelas minhas costas?Minha voz é firme, a raiva se acumulando na superfície, prestes a saltar da garganta.— Eu queria te contar, mas quanto mais eu descobria, mais fazia sentido te deixar fora disso.— Me deixar fora disso? Da minha própria vida, você quer dizer? — pergunto, forçando no deboche.— Sustento meu argumento. Ainda acho que quanto menos você souber, melhor pra sua defesa — Enzo garante.Ficamos nos encarando sentados no sofá de seu apartamento, a porta da varanda está aberta e o zumbido distante da cidade é a única coisa que ouvimos por
Não consigo parar de chorar. São tantas lágrimas que minha visão fica embaçada e eu mal consigo enxergar as letras no papel.Bem que Maicon avisou, não é uma história leve, mas suspeito que meu estado esteja muito mais relacionado com o sentimento novo aflorado que faz abrigo em minha barriga.Esfrego os olhos, tentando me recompor. Coloco a carta enfileirada com as cópias de boletins de ocorrência antigos, as transcrições de e-mails resgatados do servidor de uma empresa e a foto de uma mulher anexada a uma certidão de casamento. Célia Cipriani e Luigi Cipriani.Célia Romano, nome de solteira.A mãe de Maicon.A cart
O silêncio do apartamento está diferente, mais denso e frio. Talvez porque agora ele seja só metade da casa que foi um dia. A outra metade, Bella levou. Não muito diferente do que foi cinco anos atrás.Será que foi assim que ela se sentiu? Como se toda sua vida fosse uma mentira e você tivesse sido criado e moldado sob uma ilusão?As palavras de Enzo ainda martelam na minha cabeça, mesmo depois de dias. A pasta, os documentos, os depoimentos, as conexões, os padrões. Tudo, absolutamente tudo faz sentido agora e isso deveria me confortar, mas não conforta. Nem de longe.Porque, se tudo aquilo é verdade, então eu estive errado o tempo int
— Você? — pergunto ainda surpresa com a reviravolta. — Como assim, você também está envolvido nisso desde o começo?— O combinado era que ninguém soubesse — Maicon enfatiza com um tom acusatório.— Não é justo que Dante saiba e ela não! — Enzo se defende. Baixa os olhos e respira fundo. Quando me encara novamente está sério, mais advogado e menos amigo de infância. — Era só uma questão de tempo até você descobrir e confesso que estou um pouco ofendido que você não tenha cogitado que seu melhor amigo fosse capaz disso.Meu coração aperta, meus o
O envelope repousa sobre o balcão da cozinha desde a noite passada. Requintado, com meu nome impresso com letras douradas em alto-relevo.Reviro o convite na mão, um evento beneficente em nome de uma fundação privada de um dos círculos empresariais mais influentes do país. Seria uma noite perfeita de networking com figurões do mercado e outros nomes que, até meses atrás, eu teria feito questão de impressionar.Mas agora tudo parece contaminado, e não tenho coragem de trazer ninguém para perto da nossa empresa, muito menos para dentro dela.Encaro o relógio na parede, o evento começou quinze minutos atrás. Jogo tudo na lixeira, junto com embalagens de delivery e correspondências de propaganda.
Eu não achei que os hormônios da gravidez agissem tão cedo, mas tem sido um exercício e tanto tentar manter o controle das minhas próprias emoções.Quando notei que meu plano de despedida com Dante não daria certo, entrei em colapso, só o que conseguia fazer era chorar. Foram dias até me recuperar da frustração.E agora um envelope repousa sobre a mesa de jantar recém-adquirida. O brasão dos Vasconcellos estampado no canto superior esquerdo brilha sob a luz da manhã e meu coração martela no peito.Mesmo que eu esteja com a cabeça nas nuvens, ainda não estou ignorante a ponto de achar que esse convite é de Dante. O que só me deixa ainda mais angustiada, porque com certeza e
Nunca imaginei que ver essa casa sendo mobiliada pudesse me causar essa mistura de sentimentos. A entrada não é só mais um espaço vazio e caixas empilhadas. Há um vaso com flores frescas sobre a mesa de entrada e uma manta jogada casualmente sobre o sofá novo. Coisas pequenas e cotidianas, fazem parecer que alguém realmente vive aqui e que quer muito que o lugar se torne um lar.Pelo visto, Isabella está fazendo bom uso do cartão que dei para ela.Percebo alguns quadros nas paredes e me surpreendo a ver que entre eles, algumas fotos ocupam espaço. Fotos nossas, algumas antigas, outras atuais. Estou tão absorto pela visão que nem ouço seus passos, só me surpreendo quando ela diz:— Achei que alguém poderia m
Não é que eu não esteja nervosa, mas acho que eu não deveria estar tão calma.O salão parece diminuir quando Alberto se aproxima, com seu sorriso quase afável, estendendo a mão primeiro para Dante, que a aperta com relutância. Depois para mim, com seu toque seco, mas firme.— Isabella — ele diz. — Que prazer vê-la aqui. Eu temia que você estivesse… indisposta.Fecho a mão em punho disfarçadamente, só para conter a vontade de proteger meu ventre. Ele não pode estar falando disso. Ninguém sabe disso, eu não fui nem ao médico ainda, por medo de ele estar me investigando e descobrir, sei que isso seria um trunfo e tanto para ele me manipular.Último capítulo