— Você tá maluco? — Bella arfa, lutando para se manter na superfície. — Eu quase me afoguei!
— Você nada muito bem, Bella. Improvável que fosse se afogar aqui.
E eu não deixaria isso acontecer.
— De qualquer forma… — Ela pula em mim, tentando me pegar desprevenido. Suas unhas cravam em meus ombros e seu corpo emerge da água, me usando de impulso, mas eu não cedo e seu umbigo está na altura da minha boca, o que me dá uma vontade desgraçada de lambê-la.
Passo os braços pela parte de trás de seus joelhos, prendendo-a contra mim, derrubando-a por cima do meu ombro e mergulhando na água outra vez.
O restaurante é impecável. Velas acesas nas mesas trazem um tom aconchegante e a vista para o mar ao pôr do sol é arrebatadora. É estranho como parece que foi em outra vida que tive acesso a todo esse luxo, mas é muito fácil se acostumar com coisas boas.Caminho confiante e satisfeita em meu vestido de grife, a minha maquiagem impecável e as joias que Dante fez questão de comprar antes da viagem.Estranho, também, como as coisas mudam tão rápido, agora, cada passo ao lado dele é uma coreografia. Sua mão está firme na minha cintura, mas não há carinho, só uma espécie de posse calculada.Então, é assim que as esposas troféus se sentem, suponho. Como lindos adere&ccedi
Forço um sorriso lutando contra a vontade de explodir. Meu orgulho não me permite aceitar esse tipo de comentário sem uma resposta a altura, mas engulo em seco. Ciente demais de como posso piorar consideravelmente a situação.Leonel muda de assunto, se dirigindo a Maicon, dando nossa interação por encerrada, quase fico aliviado por não ter que estar mais no centro da conversa, seria o suficiente para me recompor, mas Maicon não parece satisfeito.— Dante, não desanime, às vezes parcerias mais discretas rendem frutos mais sólidos — comenta casualmente.Leonel dá um leve aceno, uma conversa silenciosa que sugere alguma intimidade.Os observo com mais atenção
O silêncio que fica depois que Dante sai do quarto é ensurdecedor.Sento na cama com os olhos fixos na porta por onde ele saiu. Parte de mim quer correr atrás dele, mas a outra parte está cansada.Dói perceber que talvez Dante esteja certo, estou pintando um cenário onde todos estão contra mim, mas a dor nos olhos de Dante me diz que eu também sou uma vilã mascarada na história dele.Revivo cada palavra do jantar, cada olhar atravessado e alfinetada de Margarete, cada provocação de Maicon, cada fração de realidade se assentando em Dante durante nossa pequena discussão.Antes de sair ele me olhou como se eu ainda não tivesse entendido de que lado deveria estar.
Os dias têm passado de maneira mecânica. Isabella respeitou meu pedido por um tempo e está me dando espaço, o que contraditoriamente faz eu me sentir ainda mais sufocado.Algo em tê-la perambulando pela casa, me evitando, acaba evidenciando minha solidão. Mas ainda estou irritado com ela, irritado com todos que não me levam à sério. E isso tem prejudicado meu rendimento no trabalho.Enquanto espero para entrar no escritório do meu avô, consigo prever a bronca se desenrolando à minha frente. Diferente das outras vezes, não penso em maneiras de contra argumentar, quando ele falar que estou distraído, vou ter que concordar. Vou ter que admitir que entendo agora porque ele exigiu que eu me casasse, visto a dificuldade que venho tendo para administrar esse relacionamento.Mas quando enfim entro em sua sala, Alberto não está com aquele ar energético de quem vai soltar os cachorros em cima de mim. Seus cotovelos estão apoiados sobre a mesa, as mãos unidas com os dedos entrelaçados e um vinco
Quando entro no apartamento, sou surpreendida com a presença de Dante. Pela primeira vez em dias, ele não está fingindo que sou parte da mobília ou dos empregados.Dante está olhando diretamente para mim com uma expressão assassina.Ele sabe. Penso.— Você voltou cedo hoje — tento disfarçar depois de alguns segundos atônita. Fecho a porta e deixo minhas coisas no aparador, pensando em como respirar sem ter um ataque de pânico.— Pois é — ele diz. — Achei que você estaria em casa, onde estava?— Fui ver meu pai — minto sem exitar. Meu estômago embrulha. Tenho mentido muito, para Dante ultimamente e ele está tão distante que achei que nunca fosse perceber.— É mesmo? — ele pergunta surpreso, deixando claro que não acredita em mim. — Como ele está?— Bem — dou de ombros.Ainda não tive coragem de ver meu pai. Trocamos mensagens polidas de atualização, mas com tudo o que está acontecendo, me sinto envergonhada de minhas decisões e não estou disposta a ouvir um “eu te avisei".Dante cruza
O apartamento parece menor agora, com caixas espalhadas por todos os cantos e móveis desmontados nos cantos. A governanta coordena funcionários como se estivesse de alguma forma satisfeita por me tirar desse imóvel.Bella embala alguns livros com olhos vazios, faz dias que ela não parece estar aqui, sempre com a cabeça em outro lugar. Em Maicon, suponho. Tenho me torturado tentando imaginar o tipo de relacionamento que eles estão criando. Se meu avô estiver certo, é estritamente profissional, mas mesmo que seja assim, conheço Maicon e ele não teria dificuldades de seduzir Bella.Talvez em outro tempo não fosse tão fácil, mas não estamos em outro tempo e meu relacionamento com Bella não é mais a rocha que costumava ser. Não passamos de uma pilha
Ainda que Dante não esteja em casa, sinto a necessidade de me esconder quando pego o celular para trocar mensagens com Maicon.Glória parece muito atenta a cada passo meu, se a mando de Dante ou de Alberto, eu não saberia dizer.Leio a mensagem cobrando uma atualização e respiro fundo, digitando devagar.Isabella: Ele não me deixou empacotar as coisas no escritório, a governanta não tira os olhos de mim. Eu disse que não ia conseguir nada.”Sento na beirada da cama e jogo as costas contra o colchão, encarando o teto. A resposta vem rápido.Maicon: Acha que ele esconde algo?Isabella:
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err