Observo Paola enquanto mostro à ela seu quarto temporário no navio, mantendo minha expressão inalterada. Ela está acorrentada à realidade de algo que não compreende e tenho minhas dúvidas se já conseguiu processar tudo. Seus olhos mostram medo, mas para mim é apenas um incômodo irrelevante que aprendi a ignorar, felizmente ou não, ela é necessária aqui.- O que acha que está passando pela cabeça da garota, além de estar com medo e provavelmente calculando todas as possibilidades de fugir? – Jun me pergunta em chinês, quando apareço na proa do navio, onde ele está encostado na grade, relaxado e com uma arma em seu coldre, o que é ótimo, considerando que eu queria mesmo falar com ele.- Você atirou no avô dela... – ele me encarou de volta e então olhou para o chão.- Sabe porquê fiz isso. – em seus olhos pude ver que não gostava nenhum pouco do que fora obrigado por meu pai a fazer.- O que ele lhe disse? – Jun respirou fundo com pesar, olhando ao redor antes de voltar para mim novament
Sozinho no corredor passei pela porta onde estava a garota e ao entrar em minha cabine tirei o terno, tirei as calças e me despi da cueca boxer para adentrar no chuveiro instalado ao canto do quarto, onde eu permiti que a água escorresse pelo corpo e relaxasse os músculos e ao fechar os olhos não pude encontrar nenhum pouco de paz, já que a imagem de Enrico Provenzano morrendo não saia da minha cabeça, e sua esposa gritando... Não que eu me comovesse com sua morte ou lamentar se como alguém que conheci, eu não podia dar vazão a qualquer empatia pela avó de Paola ou por ela própria, mas matar ou ver uma morte ao vivo e a cores não é o tipo de merda com que se possa acostumar, ainda que eu mesma tenha executado algumas.Naquele momento, o vapor d'água do chuveiro não era suficiente para dissipar a tensão que se acumulava em minha mente. Enquanto as gotas caíam, minha mente enfim começava a relaxar e por enfim poderia descansar um pouco, a maldita tarefa estava cumprida, eu a encontrei,
O som das ondas ecoa, misturando-se ao murmúrio do vento que acaricia o convés. Permaneço enclausurada na cabine interna, ele pediu que me servissem o jantar aqui mesmo, em meu refúgio diante do homem que me arrancou da minha vida. Lembro-me do rosto do meu avô, sua partida abrupta diante dos olhos, uma ferida dolorida que jamais permitiria que eu perdoasse Lee ou qualquer homem associado a sua maldita máfia.Eu o vi lá fora, limpo e ridiculamente intimidante até em suas roupas ridículas de dormir, sua presença imponente entre as sombras do navio. O ódio ferve em mim, uma chama que consome qualquer resquício de paz que eu poderia encontrar.Preferindo a solidão da cabine, mergulho nas memórias que o oceano sussurra. O passado se desenrola diante dos meus olhos, entrelaçando-se com o presente incerto. Enquanto a embarcação avança, minha mente está ancorada no passado, na imagem de meus pais me fazendo companhia, de minha avó feliz ao observar como seu filho me jogava para o alto antes
- Tentando fugir? – ouvi a voz masculina de Giang, alto o suficiente para atrair minha atenção. Os olhos dela se encontraram com os meus quando me aproximei. Devia admitir que era admirável, precisaria de muita coragem para cometer uma burrice daquelas.Em poucos passos, cheguei perto o suficiente para ver a tensão no rosto de Paola e o reflexo em seus olhos do medo que sentia.- Aonde pensa que vai, querida? – comentei, meu tom de voz transmitindo uma mistura de sarcasmo e ameaça. Eu podia sentir o olhar de Paola em mim, cheio de desconfiança e desafio.Era um jogo perigoso esse que estávamos jogando, e eu não pretendia deixá-la escapar tão facilmente. Meu pai desejava vingança, e eu estava disposto a alcançar meus próprios objetivos que, infelizmente para ela, a incluíam como peça crucial em tudo isso.Ela aprumou os ombros e ergueu o queixo, pude ver a determinação quando me olhou nos olhos novamente.- Pensei que você seria mais responsável quanto à vida de sua avó. – ela não resp
Sinto meu coração acelerar enquanto Jun me leva de volta para a cabine. Medo e raiva se entrelaçam dentro de mim, formando uma tempestade emocional que ameaça me consumir de frustração. Ele me guia para dentro e fecha a porta, voltando-se para mim.- Você não é muito inteligente, é? – disse ele, com um tom de ironia. Eu optei por não responder, mas não pude evitar revirar os olhos em resposta ao seu comentário ofensivo. Ele continuou com sua postura de indiferença. – Não banque a garota mimada comigo! Se você quer manter sua segurança, seria melhor fazer algo para garantir a benevolência do Lee.- Pouco me interessa a benevolência do seu querido Lee. – falei entredentes, transmitindo meu desdém e raiva. Jun se aproximou assumindo uma expressão séria.- Pense direito, Paola, se você quer manter sua virgindade ilesa, seria bom se começasse a colaborar. Caso contrário, você acabará se tornando um brinquedo sexual nas mãos desses homens que, provavelmente, estão loucos para foder uma buce
"Você é igual ao seu pai! Terrivelmente teimosa."Lembrei a mim mesma das palavras de minha mãe. E decidi que encararia toda essa droga de cabeça erguida e faria o que tivesse que fazer para fugir.Cada palavra ofensiva proferida por Jun ecoa em minha mente, eu sabia que era verdade, era exatamente daquela forma que os homens aqui me veriam. A sensação de ter meu caráter e dignidade sendo ignoradas completamente é insuportável. A vontade de me rebelar, de lutar contra aqueles que tentam me subjugar, cresce quase indomável dentro de mim, mas eu não perderia o controle, manteria o resto de sanidade possível. O que considerava não ser muita, já que cheguei a conclusão que o líder da Yakuza não aceitaria uma mulher que não fosse mais virgem como sua esposa.E foi assim que eu percebi que poderia viver a minha vida sem ter que me casar caso voltasse para meus pais, também qualquer chance de ter um casamento iria por água abaixo, mas sem amor do que isso valeria?Há poucas horas atrás eu es
Estava cheio de pessoas, homens e mulheres em diferentes roupas e estilos, mas todos elegantes. Enquanto eu observava ao meu redor, meus olhos capturam toda a decoração do navio, uma bela decoração foi preparada para o Festival chamado de Barco-Dragão, Jun agora me explicava, enquanto me guiava em meio a multidão, o que era a tal celebração. A festa consistia em honrar a memória de Qu Yuan, um poeta e estadista chinês do século III a.C. Sua história era profundamente inspiradora.- Naqueles tempos antigos... – continuou Jun, de forma teatral. – Qu Yuan se preocupava profundamente com o destino de seu país. Ele era um fervoroso defensor de políticas justas e éticas, mas suas palavras de sabedoria muitas vezes caem em ouvidos surdos. Desapontado e desiludido, Qu Yuan se jogou no rio Miluo como um ato final de protesto contra a corrupção e injustiça. – ele ergueu uma das mãos no ar, encenando a grandiosidade do ato do personagem. – Assim, para honrar a memória de Qu Yuan, as pessoas come
Eu me encontrava no meio de uma multidão animada. Lee havia me guiado até a borda para que pudéssemos assistir ao espetáculo que ocorria em pleno pôr do sol, envolto pela energia contagiante do festival para alguns ali presentes. O sol começava a se esconder, refletindo-se no mar cristalino que se estendia à minha frente. Eu estava prestes a assistir à corrida de barcos, uma das atrações mais esperadas desse evento, se havia entendido bem o que Jun me explicou.Enquanto os competidores se preparavam em seus barcos coloridos, meu coração batia acelerado no peito. Lee estava ao meu lado, sempre vigilante. Eu ocupava meu tempo ignorando-o, mas ele se provou alguém particularmente difícil de se conseguir ignorar.Observamos Jun desaparecer com Mei Ling na escada que dava para as cabines lá embaixo, e eu achei melhor não pensar muito sobre o que planejavam fazer, pois eu tinha uma imaginação um tanto quanto limitada para isso com base no pouco conhecimento que tinha, mas duvidava que a men