Duas semanas se passaram desde que embarquei no navio, e durante esse tempo, tive aulas com Mei Ling, que me ensinou sobre práticas chinesas e comportamentos culturais locais. Mei foi muito dedicada e paciente, embora um pouco louca em alguns momentos. Ela é uma mulher cheia de vida e espontânea, agitada e devo dizer, fofoqueira, mas isso em nada atrapalhava sua elegância e educação. Compartilhou muitos conhecimentos valiosos comigo. Por exemplo, ela me ensinou a praticar Tai Chi todas as manhãs, explicando os benefícios dessa arte marcial chinesa para o corpo e a mente. Como usar um hashi e dicas de vestimentas, alegando que frequentemente eu irei precisar usar um Hanfu ou Qipao, sendo o segundo o mais comum, assim como o vermelho que ela usava no dia do festival. Ela também explicou que, em suas grandes maiorias, as mulheres e esposas nas máfias chinesas desempenham principalmente papéis de apoio e suporte aos membros masculinos. Nada diferente de onde fui criada. Elas podem talvez
Quando chegamos ao porto de Manhattan, exalei o cheiro familiar da minha cidade. Atracamos em uma região reservada, já que o porto era necessariamente para cruzeiros, porém, meus contatos me permitiam tal liberdade uma vez ou outra desde que não chamasse tanta atenção. Desci acompanhando Paola com uma das mãos pousada em sua cintura, guiando-a pela rampa abaixo em direção ao meu carro estacionado a alguns metros, que é um modelo preto do Hongqi H9. Há algumas pessoas nos olhando de esguelha e alguns homens, que não são dos meus, chegam a olhar para Paola de cima a baixo e não posso negar que ela está linda usando o vestido cinza que escolhi para ela. E foi terrivelmente irritante ouvir os professores de Jun sobre como não cairia tão bem a cor nela. De qualquer forma, deixei que Mei assumisse o crédito, mas pessoalmente solicitei que fosse uma cor clara e num modelo elegante, isso tudo fazia parte de um único objetivo, que com certeza ela não aprovaria. Abri a porta para ela, que entro
Paralisei quando encarei o homem à minha frente após me curvar como Lee havia me instruído; qualquer sinal de desrespeito seria o suficiente para que o Cabeça de Dragão adicionasse mais um item na lista de motivos para me matar. Eu estava tremendo enquanto lutava para me manter firme diante do assassino de meu avô, pois se Lee alegava que eu não podia culpá-lo, pois bem, aquele homem eu podia culpar. Era ele o responsável por arruinar minha vida, seu ódio por vingança me manteve longe de meus pais, me obrigou a viver reclusa, me perseguiu e sequestrou e me arrastou até aqui para ser uma maldita prisioneira!Um homem também de aparência asiática, mais velho que Lee, mas com a mesma altura, os cabelos negros penteados para trás, amarrados em um coque. Tinha barba e bigode curtos, também escuros. Tinha rugas e linhas de expressão, que comprovaram sua passagem do tempo em liderança como líder da Tríade. Os olhos negros como os do filho, com as pálpebras levemente caídas, mas em nada isso
Não digo nada durante todo o caminho de volta, me concentro em observar as ruas que passam do lado de fora da janela e seco uma ou duas lágrimas, me recusando a ceder e desabar aqui. Já chorei demais desde que saí daquela casa.Lee acelera no volante também em silêncio, mas percebo algumas olhadas em minha direção pelo canto dos olhos, e é justamente por isso que me recuso a chorar. Não vou desmoronar na frente dele. Não importa quanto medo sinto ou quanta raiva quero colocar para fora, aqui me manterei firme o máximo que conseguir. Ainda que não signifique muita coisa, isso me incentiva a manter o controle, pois não sei o que pode acontecer se eu deixar tudo sair agora.A realidade parece finalmente me atingir, e vejo que de fato estou em perigo aqui. Lee me tratou bem até demais se comparado ao seu pai. Seu cavalheirismo e bom comportamento me aleijaram para o que poderia me esperar naquela sala. Eu até poderia esperar palavras baixas e ofensivas, mas não agressividade. Por algum mo
Quando acordei, já era tarde. As luzes dos postes de lamparinas iluminavam a estrada deserta da casa rodeada pela natureza que agora eu observava através do vidro da porta da varanda.Eu não a havia deixado aberta mais cedo?Fui até a porta do quarto e, ao abrir devagar, bisbilhotei pelo corredor. Na parte debaixo, a sala estava iluminada, mas vazia. Porém, pude ouvir vozes vindas do andar de baixo.Desci as escadas em silêncio, com os pés no chão e com o cabelo desgrenhado do penteado desfeito mais cedo. Segui em direção ao corredor com os três quadros e as vozes foram aumentando.- É claro que ela está assustada! – era a voz de Mei. – O que você esperava? – não houve respostas. – Agora será necessário paciência até que vocês consigam resolver tudo e ela possa se sentir segura aqui.- Eu disse a ela que você poderia protegê-la. – a voz de Jun ecoou com o que pareceu pesar e eu sabia que se referia a Lee, assim como o reconheci suspirando em resposta.- Infelizmente, isso não é totalm
Eu me olho no espelho, observando meu reflexo que reflete o terno azul escuro. Ajusto cuidadosamente minha gravata, que é alguns tons mais claros. O traje escuro contrasta elegantemente com minha pele clara. Os botões dourados adicionam um toque de sofisticação. Devo agradecer a Jun mais tarde pela ótima costureira que ele nos arrumou.Enquanto aliso o tecido macio do terno, meus pensamentos se perdem nas palavras de Paola ontem à noite. Hoje, passei o dia fora e a deixei na companhia de Mei, enquanto resolvia com Miles os detalhes de tudo que ele havia feito ontem sob minhas ordens e tudo que aconteceria hoje. Dei-lhe a ordem para que sumisse por um bom tempo. Felizmente, o que era necessário ser feito foi realizado com sucesso ontem à noite e pela madrugada. Me ligaram informando o que eu já sabia, mas me mostrei surpreso ao saber. A importância da reunião que estou prestes a enfrentar é o que mudará tudo, isso se eu conseguir sair vivo dela. Meu pai, sendo um homem poderoso e respe
Sinto meu coração acelerar em meu peito quando escuto as palavras de Mei Ling ecoarem em meus ouvidos. O choque toma conta de mim, meu corpo paralisado diante da revelação que acaba de acontecer. Lee, o homem que me sequestrou, mas que pensei por um segundo que poderia talvez confiar, acaba de anunciar que estarei presa com ele em um casamento indesejado, sendo Lee meu próprio inimigo. Sinto-me como uma peça em seu jogo doentio. Tudo isso não passa de uma estratégia.Meus olhos encontram os de Lee, buscando por qualquer sinal de arrependimento ou hesitação, toda a multidão se foi e só consigo enxergar ele diante de mim, com um sorriso presunçoso e sua mão estendida, um convite que não tenho o poder de rejeitar. Maldito seja! E quando busco algum sinal de que aquilo não se passa de uma piada ridícula, tudo o que vejo é determinação em seu olhar, mascarada com o triunfo de conseguir o que queria: destruir meu pai. O peso de suas palavras ecoa em minha mente, enquanto tento também proces
Lee me encarou surpreso, embora o tapa sequer parecesse ter tido algum efeito. Me fazendo questionar se não usei toda a força que imaginei ter usado. Alguns segundos se passaram enquanto eu o encarava com fúria e ódio e ele me olhando como se me visse de verdade pela primeira vez.- Eu... – ele começou, mas eu o interrompi, colocando toda a minha raiva nas palavras.Não me diga uma palavra maldita! – apontei meu dedo em sua direção e ele ergueu os dois braços, me pedindo calma. – Vá para os infernos com essa "calma". – avancei um passo contra ele em acusação e Lee recuou, mas eu estava furiosa demais para me surpreender com sua atitude, pois sabia que a última coisa que eu poderia fazer era intimidar de verdade aquele homem. – Você planejou isso! O tempo todo pretendia propor esse maldito casamento! Mas por quê? Tirar uma filha do seu pai não é punição o suficiente?- Fiz isso também para proteger você! – sua voz baixa e calma me causaram ainda mais raiva e qualquer controle que eu po