Voltamos para casa pela parte da tarde, meu coração estava quase para sair pela boca, Sebastian faria um interrogatório quando chegássemos em casa e Marília parecia mais apreensiva que eu. O motorista dirigia pelo trajeto o mais rápido que podia, mas com a neve, era obrigado a acelerar o mínimo possível.Pedi aos céus que seu carro não estivesse na garagem, para eu pelo menos ter tempo de inventar uma mentira mais elaborada do motivo porquê meu rosto estava inchado. Além disso, tinha o fato da minha consciência pesar mais do que uma bigorna no oceano, eu o trai de maneira fria e consciente, nunca iria me perdoar por isso.Minhas orações pareciam não ter sido ouvidas, pois, assim que ultrapassamos o portão da propriedade o carro dele já estava em frente, estacionado mal, demonstrando que ele chegou às pressas. Desci do carro antes que o motorista abrisse a porta para mim, Marília saiu em seguida indo direto para dentro.Respirei fundo.Antes que eu pudesse entrar Sebastian apareceu na
Abri os olhos com dificuldade, minha cabeça estava girando e com meu corpo dolorido por estar deitada no chão. Quando finalmente consegui focar minha visão em algo percebi que não estava em casa, estava dentro de um quarto escuro iluminado por apenas um basculante meio aberto.Levantei do chão rapidamente, me sentando encostada na parede.Tentando lembrar do que aconteceu na noite anterior, embora minha memória estivesse apenas com alguns feixes. Alguém havia me apagado com um pano quando fui fechar a janela.Levanto do chão em pânico, caminho lentamente até a única porta na sala, com as mãos protegendo os braços e os dentes rangendo de frio. A porta estava trancada, foi então que comecei a me desesperar mais ainda. Bati com os punhos na porta, dando socos e chutes, mas foi completamente em vão.Comecei a chorar sentindo as lágrimas congelando em meus olhos, com as pálpebras rígidas igual a pedra.Que tipo de brincadeira de mau gosto era essa? Sebastian não podia ter ficado tão chatea
Arrastei a mesa até próximo do basculante, era pesada, mas com esforço consegui. Subi na mesa com dificuldade e aproximei meu rosto do basculante, do lado de fora só conseguia ver a floresta de pinheiros coberta de neve e atrás o sol se pondo. Passei meu braço pelo buraco da janela, o espaço era apertado demais para meu corpo. Sacudi o basculante numa tentativa de quebrá-lo, mas a solda nem sequer se moveu. Apoiei minha testa na parede, exausta e com frio.Todos os dias eu costumava fazer isso, quando os meus pensamentos me levavam a acreditar que nunca sairia daqui. Talvez eu nunca saísse.Alguns dias passaram, sabia quando era noite por conta do basculante e comia apenas uma vez por dia, geralmente era pão ou uma sopa com ingredientes duvidosos.Ouvi a porta sendo destrancada, desci da mesa em uma velocidade que me fez cair no chão.Anna apareceu com dois capangas, ela usava um batom vermelho vinho e o mesmo casaco de peles, porém desta vez era marrom chocolate.Saber que Anna estav
Não movi um músculo sequer, apenas absolvi o impacto do corpo do Sebastian junto ao meu.Apertei meus olhos sentindo seu perfume, seu toque e todas as sensações que ele me proporcionou. Pensei que nunca mais sentiria o calor de seu toque e o cheiro maravilhoso de perfume e menta que sua camisa social tem.A todo momento, na minha cabeça, eu pedia para não estar delirando, que Sebastian estivesse mesmo aqui.Não era um sonho, era real.Passei meus braços em volta de seu pescoço, o apertando mais firme contra mim, como se ainda houvesse espaço para ser preenchido entre nós.Meus olhos encheram-se de lágrimas, mas desta vez, era de felicidade.Eu queria dizer-lhe todas as coisas ruins que passei, mas minha garganta secou e eu só sabia chorar baixinho sentindo um alívio inexplicável.Ele me solta e encosta nossas testas, enxugando minhas lágrimas, pude ver seus olhos lacrimejando.— Me perdoe, por favor, me perdoe. — Pediu ele com a voz embargada. Eram tantos sentimentos que ficava difíci
— Você é o responsável por isso? — Sebastian não respondeu. — Claro que não, afinal durante todos esses anos não o fez. Você é fraco. Precisou do FBI para fazer isto. — Mas estou aqui, não estou? — Sua voz estava diferente, como nunca ouvi antes. Martíni solta um sorriso nasal, em seguida traga seu charuto soltando fumaça pelo nariz. — Pensei que estivesse aqui pela sua mulher, não por algo que aconteceu há muito tempo. — Ele se acomoda na poltrona. — Não seria idiota o suficiente para mover rios por uma mulherzinha sem sal como esta. — Você sabe todos os motivos para eu estar aqui. — Sim, sei e acho uma perda de tempo. Ainda guarda mágoas de mim pelo que fiz com sua mãe? — Sebastian suspira mais uma vez. — Qual era mesmo o nome dela? Sebastian saca sua arma apontando na direção do Martíni.Seu corpo inteiro tremia de puro ódio, eu podia sentir o calor emanando dele. Ele caminha em passos lentos até Martíni que continuava com uma expressão sarcástica. — Sai daí. — Martíni não o
Cai de joelhos no chão, olhando para o carro desaparecer na estrada.Ethan se abaixa a minha altura se apoiando nos calcanhares.— Precisamos sair daqui, você tem que descansar.— Como posso descansar depois disso?Começo a chorar, me sentindo fraca. A exaustão tomou conta de mim. Entrei no carro com o Ethan depois de muita insistência dele.Olhava a paisagem pela janela, sentindo meus olhos pesados e meu corpo sem força alguma, mas minha cabeça não parava de pensar nas coisas que vi hoje.Ethan me levou para o hotel que ele estava ficando na cidade, era um quarto simples com uma cama de casal e cozinha.Joguei-me na cama e adormeci.Acordei sentindo cheiro de comida, abri os olhos e vi que não estava em casa ou naquele quartinho frio cheio de mofo.Sentei-me na cama e olhei para frente, vi Ethan preparando algo em frente ao fogão, com uma camisa regata e uma calça moletom.Passei as mãos no rosto.Não foi um sonho.Levanto da cama cambaleando e acabo chamando a atenção dele, o mesmo
No dia seguinte fui prestar depoimento na respeito do Martíni e descobri que o Sebastian também assumiu a culpa pela morte do Omar, tive esperanças de ver o Sebastian, porém não pude. Isso é o que mais machuca em toda essa situação.Os agentes foram buscar Marília dois dias depois, ela acreditava que eu havia morrido, mas hoje seria nosso reencontro e o momento em que deixaríamos tudo às claras. Estava ansiosa para ver um rosto familiar e alguém que pudesse confiar.Ethan disse que no dia seguinte teríamos que fazer algumas mudanças no nosso visual e receber nossos novos documentos, durante esse tempo fiquei em um hotel modesto, pago pelo FBI. Ethan dormia aqui, mas em cama separada.A cada passo que dava me sentia ainda mais ansiosa.Vi o momento em que um carro preto parou em frente ao prédio, por conta da faixada não pude ver quem havia saído de dentro.Sentei no sofá sentindo meu coração palpitar.Ouvi passos no corredor e por fim a porta do meu quarto ser destrancada, um dos agen
Alguns anos depois...Os poucos meses que Ethan mencionou se tornaram anos. No aniversário do nosso quarto ano aqui em Ligonier tive certeza de que nunca estaríamos seguras. Passei todos esses anos sem saber notícias do Sebastian, sem ao menos poder trocar cartas, pois seria altamente perigoso para nossa proteção.Após 5 anos, nossa vida estava tão estável ao ponto de termos amizades na vizinhança, Marília adorava cultivar plantas, ela nunca pensou que teria um cantinho só seu. Enquanto eu, consegui arrumar um emprego de meio período em uma cafeteria, o salário não era lá essas coisas, mas evitava que de ficar em casa apenas pensando no passado.Ethan nos visitava pelo menos 3 vezes ao ano, ele quem trazia notícias sobre o Sebastian. Soube no ano seguinte que chegamos aqui que ele foi condenado a 6 anos de regime fechado sem possibilidade de condicional.Chorei uma noite inteira.Hoje, 4 anos depois, ainda penso nele todas as noites antes de dormir, faltava apenas 1 ano para sua saída