Capítulo 2
Quando Camila abriu os olhos novamente, o céu já estava escuro.

Olhando para o quarto vazio, um sorriso frio e irônico passou pelos seus olhos.

A enfermeira, com o relatório médico em mãos, se aproximou e explicou rapidamente o diagnóstico, informando que ela deveria pagar a conta e sair no dia seguinte.

Ela folheou o prontuário enquanto seu celular, deixado de lado, vibrava incessantemente.

Eram mensagens de Daniela.

Ela havia enviado dezenas de fotos, não parando de se exibir.

António a carregava nas costas a caminho de casa, enquanto Pedro, com um avental, preparava comida para ela. Os dois homens a cercavam com um carinho imenso, e aos seus pés, uma pilha de presentes...

[Irmã, o António e o Pedro me mimam demais, sou realmente a garota mais feliz do mundo!]

Camila deu uma olhada rápida nas fotos, mas não respondeu a nenhuma mensagem.

Após uma noite de descanso, ela completou os procedimentos de alta e voltou para casa.

Ao entrar, ela viu os três reunidos, assistindo a um filme. Os dois homens a protegiam no centro, Pedro lhe oferecendo frutas, António lhe entregando uma bebida.

O grande rastro de sangue no chão, que causava um impacto visual forte, já havia sido limpo, e ninguém parecia se importar.

Camila desviou os olhos e, silenciosamente, se retirou para o seu quarto.

Ela tirou uma caixa de papelão e começou a guardar várias coisas dentro dela.

Quando a caixa estava cheia, ela a abraçou e saiu com ela.

Algum tempo depois, o fogo que se acendeu do lado de fora atraiu a atenção de António e Pedro.

Foi então que eles perceberam que algo estava errado. Eles se levantaram rapidamente e correram para fora, só para ver Camila parada em frente a uma grande fogueira, jogando algo no fogo.

Imediatamente, ambos os homens tiveram uma sensação ruim.

— Camila, o que você está fazendo?

Camila não respondeu. Ela apenas retirou um véu da caixa e olhou para António.

— António, isso foi o que você me deu quando tinha sete anos. Naquele tempo, brincávamos juntos, e você me disse que eu só poderia ser sua esposa. Foi quando você me deu esse véu, dizendo que ele seria o véu do nosso casamento no futuro. — Sem hesitar, Camila o jogou diretamente na fogueira.

No próximo segundo, sob os olhares atônitos de todos, ela tirou outro talismã da caixa.

— Irmão, este foi você quem me deu quando eu tinha quinze anos. Naquela época, minha saúde era frágil, eu ficava doente com frequência e tinha febres constantes. Você se importava muito comigo e, ao ouvir que a Montanha Shiel tinha o poder de curar, correu até lá. Subiu mil degraus, se ajoelhou a cada um, pedindo pela minha saúde, pela minha segurança. — Terminou, e Camila, sem hesitar, o jogou novamente na fogueira.

O próximo item foi a carta de confissão de António.

O seguinte, o sapatinho de cristal que Pedro lhe deu.

E o próximo, o vestido longo que António lhe presenteou.

Vendo-a queimar todas as suas memórias, até mesmo as fotos de quando era criança, António não conseguiu mais se controlar. Correu até ela e agarrou sua mão.

— Camila, eu sei que ainda está brava com o que aconteceu ontem, mas a Daniela é filha adotiva, sempre foi insegura. E em breve, ela vai se casar com a família Azevedo em seu lugar, os dias bons dela estão contados. Isso é algo que você devia a ela. Você realmente quer competir com ela?

Pedro também olhava para ela com decepção, sua voz carregada de raiva.

— Camila, você está apenas se machucando, mas o que Daniela está prestes a perder é a felicidade de uma vida inteira. Parece que a Daniela estava certa, você realmente foi mimada demais, não entende nem metade do que ela entende!

Camila balançou a cabeça.

— Não, vocês estão errados.

Quem iria se casar com a família Azevedo era ela, e não Daniela!

Observando as chamas que se apagavam lentamente, deixando para trás apenas cinzas, ela se virou e foi para o quarto, sem explicar uma única palavra.

Na manhã seguinte, ao se preparar para sair, Camila avistou os diversos pacotes empilhados na porta.

Ela sabia que eram presentes de António e Pedro.

No passado, mesmo que os dois a deixassem com raiva, ela nunca ficava triste até o dia seguinte.

Pedro ficava na porta, com os olhos vermelhos, esperando o dia e a noite inteiros.

— Irmã, se você não me perdoar, eu não vou embora.

António, por sua vez, aparecia com uma pilha de presentes, fazendo uma expressão de pena.

— Camila, se ainda estiver brava, me bata, me xingue, mas não se magoe por causa disso.

Mas agora, nenhum dos dois estava lá. Apenas uma pilha de objetos frios e sem alma.

Camila, no entanto, não se importava mais. Deu uma risada amarga para si mesma e jogou tudo no lixo.

Foi nesse momento que Daniela, que acabara de acordar, viu a cena e, com um gesto dramático, levou as mãos à boca, fingindo surpresa.

— Por que você jogou tudo fora? Irmã, você não gosta dessas ofertas? Eu avisei Pedro e António que você sempre foi mimada demais e, com certeza, não ia gostar disso. Eu sugeri que eles te dessem as coisas boas que eu tinha, mas eles insistiram para que eu ficasse com elas. Eu sou só uma filha adotiva, sem ninguém, e você é a verdadeira filha da família Gomes... Eles sempre foram tão bons comigo...

Camila forçou um sorriso.

— Parabéns então, agora esta família é toda sua.

E, sem se importar com o olhar confuso e surpreso de Daniela, ela se virou e saiu.
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