Jenifer acordara cedo. Já se passara a segunda, a terça na praia, a quarta passara deitada com pensamentos ruins. Restavam apenas três dias e não queria de forma alguma perder nenhum tempo que pudesse passar com Alex.
Foi ao quarto. Ele dormia profundamente. Retornou para a cozinha. Olhou o que tinha ali e resolvera preparar o café da manhã. Pegou água, ferveu para fazer o café. Colocou leite na leiteira e esquentou. Arrumou em uma bandeja pão, queijo, presunto e geleia. Levou para a sala.
Alex, escutando o barulho na cozinha, despertou. Chegou na sala na hora que ela acabava de arrumar tudo:
– Acordou cedo, Jenifer.
A menina se assustou. Estava distraída.
– Oi, Alex. Eu preparei o café para nós.
– Vejam só! Cheia de habilidades!
Tomaram café juntos. Conversaram como se o dia anterior não tivesse acontecido. Riram,
Alex e Jenifer se acostumaram com a companhia um do outro. Aqueles sete dias juntos fizeram com que criassem um laço muito forte. Tão forte que não conseguiam nem mais pensar em viverem separados.Para Alex, era a renovação. Era a menina que mudara sua vida. Para Jenifer, era a chance de estar com alguém que realmente a amava.Mas o sonho estava acabando. Chegara o domingo de noite e, na segunda, Alex voltava a trabalhar e teria que levar a menina com ele. Ela deveria voltar para aquele abrigo frio, com o medo de Estela fazer alguma coisa.Aquela semana juntos passou muito rápido. O domingo despontara e nem mesmo sabiam como era possível. Jenifer pediu para não sair de casa naquele dia. Queria aproveitar a presença de Alex o dia inteiro.Quando a noite chegou, os dois se abraçaram. Ficaram abraçados, sentados na cama de Jenifer. Choravam. Choravam porque não queriam
Quando o dia acabou no abrigo, Alex levou Jenifer até seu carro. Depois, retornou e pegou uma caixa que deixara na sua sala. Colocou na mala do carro.Estela observava os dois saindo. Não conseguia acreditar que a menina estava indo embora de novo. Se bem que era indiferente. Não ia conseguir nada naquela noite com a menina. Precisava de uma solução urgente, o homem esperava que ela entregasse a menina o quanto antes.Andou pela sala e se irritou mais uma vez. Teria que se livrar de Alex se quisesse ter a menina. Mas não era tão simples assim. Ele tinha uma grande influência e ela apenas tinha uma desconfiança de quem pudesse ser a pessoa por trás de Alex. Mal sabia que essa pessoa estivera naquele dia com ela no abrigo.Tentou ligar para João. Queria saber se ele conseguira algum avanço em seu plano B. Como sempre, ele não atendeu o telefone. Ela ficara ainda mais irritada
As semanas seguintes passaram sem nenhuma mudança. Alex levava Jenifer para o abrigo e a trazia de volta no final do dia. Estela e João estavam quietos. O doutor continuava sua investigação e contatara o Capitão Silva.Tudo mudaria naquele dia.Alex e Jenifer foram para o abrigo pela manhã, como faziam sempre. Desceram do carro e carregaram seus pertences para a sala de informática. A menina, como sempre, estava abraçada a sua boneca.As aulas aconteciam normalmente.Alex percebeu uma diferente movimentação na sala de Estela. Dois homens, um usando um tapa-olho e outro de terno e gravata, conversavam com Estela e João, como que discutindo alguma coisa importante.Para sua surpresa, ele foi chamado para a conversa, assim que passou pela sala. Estela o gritou:– Alex, venha aqui, esse assunto cabe a você.Sem saber o que poderia acontecer, ao mesmo
Jenifer nascera em uma família com uma alta condição financeira. Sua mãe engravidara, Antes da menina nascer, ela já havia se separado do pai. Tiveram uma briga que resultou no final de um longo namoro. Ele nem ao menos soube que seria pai. E ela jamais o vira de novo para contar da menina.Gerente de uma grande loja de venda de produtos, ela passava grande parte do dia trabalhando em frente ao computador. Foi assim durante toda a gravidez.Quando Jenifer nasceu, teve a ajuda de sua mãe, já muito idosa, que tinha na neta a última fonte de alegria da vida. Ajudava a cuidar da menininha e a embalava em seus braços já gastos do tempo, acalmando-a. Era uma pessoa grata por ter visto a neta nascer.Os anos foram passando e, perto de Jenifer completar quatro anos, a avó adoeceu e morreu.Sozinha com a menina, em uma enorme casa de dois andares, ela sentia a necessidade de companhia. Ol
O doutor ligou para um amigo advogado e explicou toda a situação. Disse o quanto a menina sofria e o quanto precisava de uma solução rápida.– Doutor, vou entrar com um pedido agora para que ele seja investigado. Não sei se conseguirei algo hoje ainda.– Você não está entendendo a gravidade. O homem que batia nela tem sua guarda. E quer levar a menina.– Doutor, temos que seguir a lei. E, provavelmente, o juiz vai dar a guarda ao pai.– Padrasto.– Sim, mas ele vai alegar que criava a menina junto com a mãe. É o responsável legal. Não sei se conseguiremos vencer. Tentarei.– Obrigado.Estela, João e Marcelo esperavam o retorno de Alex com a menina. Estavam já impacientes pela demora. Marcelo foi o primeiro a se manifestar:– Onde está aquele desgraçado com
Alex voltara a ter insônia. Aquela fora a pior de suas noites desde que se mudara para a cidadezinha. A menina não estava ali com ele. Era ela que lhe trazia alegrias. Era ela que lhe dava um motivo para viver de novo.Ao ver Jenifer entrar no carro e dizer “eu te amo”, um antigo sentimento, uma lembrança dolorosa, talvez a pior de todas, voltou à sua mente. Sua filha, em seus braços, olhando para ele e dizendo: “papai, eu te amo”, e fechando os olhos, sem vida. Ver Jenifer entrar naquele carro lhe trouxe de volta aquele sentimento, aquela sensação de que não era capaz de salvar ninguém. Sentia-se um lixo, um inútil. Fora justamente este sentimento, este acontecimento, que motivara Alex a fazer tudo que fez depois.Antes de levantar do sofá, seu celular tocou, indicando que recebera uma mensagem. Pegou e abriu. Era uma mensagem de Jenifer para ele:“Estou be
Alex desmaiou. Lembranças vieram na sua mente. Lembranças de outra época.Dois anos antes dos acontecimentos com Jenifer, levava uma vida tranquila. Era casado com uma mulher morena e alta e tinha uma filha. Sua filha era o motivo de sua felicidade. Aproveitava cada momento dela e procurava estar sempre presente.Ele trabalhava em uma grande firma do ramo de informática. Era um técnico respeitado e uma pessoa de alta confiança da empresa. Todos gostavam de Alex. Sempre sorridente, mostrava fotos da filha para seus amigos todos os dias.Sua mulher trabalhava em casa, com vendas online de joias. Ela era a responsável pelas vendas, enquanto outros entregavam os produtos.Moravam em uma casa simples, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Tinham um pequeno quintal onde a menina brincava sempre. A casa ficava próximo ao centro da cidade. Era uma área considerada tranquila.
Alex sangrava muito. Segurava o pano para tentar estancar o sangue, mas parecia inútil. Capitão Silva observava o rapaz. Estava também preocupado com Marcelo. O homem se mantinha desacordado depois da surra que levara de Alex. Não que não merecesse. A questão era que Capitão Silva sabia que ele poderia ser uma testemunha importante no caso da menina que estava investigando com o doutor.Jenifer estava inconsolável. Queria fazer alguma coisa. Ela se sentia inútil. Era como se seu mundo estivesse caindo.Duas ambulâncias chegaram ao mesmo tempo. Os paramédicos de uma delas foram diretos atender Marcelo, caído e quase morto. Outros dois viram Alex. Ele ainda sangrava muito e parecia que a bala estava alojada.Alex estava um pouco zonzo. Escutava os médicos falando. Não tinha forças para acordar. Sonhou. Sonhou com sua filha falecida que mais uma vez sorria para e