Quando o dia acabou no abrigo, Alex levou Jenifer até seu carro. Depois, retornou e pegou uma caixa que deixara na sua sala. Colocou na mala do carro.
Estela observava os dois saindo. Não conseguia acreditar que a menina estava indo embora de novo. Se bem que era indiferente. Não ia conseguir nada naquela noite com a menina. Precisava de uma solução urgente, o homem esperava que ela entregasse a menina o quanto antes.
Andou pela sala e se irritou mais uma vez. Teria que se livrar de Alex se quisesse ter a menina. Mas não era tão simples assim. Ele tinha uma grande influência e ela apenas tinha uma desconfiança de quem pudesse ser a pessoa por trás de Alex. Mal sabia que essa pessoa estivera naquele dia com ela no abrigo.
Tentou ligar para João. Queria saber se ele conseguira algum avanço em seu plano B. Como sempre, ele não atendeu o telefone. Ela ficara ainda mais irritada
As semanas seguintes passaram sem nenhuma mudança. Alex levava Jenifer para o abrigo e a trazia de volta no final do dia. Estela e João estavam quietos. O doutor continuava sua investigação e contatara o Capitão Silva.Tudo mudaria naquele dia.Alex e Jenifer foram para o abrigo pela manhã, como faziam sempre. Desceram do carro e carregaram seus pertences para a sala de informática. A menina, como sempre, estava abraçada a sua boneca.As aulas aconteciam normalmente.Alex percebeu uma diferente movimentação na sala de Estela. Dois homens, um usando um tapa-olho e outro de terno e gravata, conversavam com Estela e João, como que discutindo alguma coisa importante.Para sua surpresa, ele foi chamado para a conversa, assim que passou pela sala. Estela o gritou:– Alex, venha aqui, esse assunto cabe a você.Sem saber o que poderia acontecer, ao mesmo
Jenifer nascera em uma família com uma alta condição financeira. Sua mãe engravidara, Antes da menina nascer, ela já havia se separado do pai. Tiveram uma briga que resultou no final de um longo namoro. Ele nem ao menos soube que seria pai. E ela jamais o vira de novo para contar da menina.Gerente de uma grande loja de venda de produtos, ela passava grande parte do dia trabalhando em frente ao computador. Foi assim durante toda a gravidez.Quando Jenifer nasceu, teve a ajuda de sua mãe, já muito idosa, que tinha na neta a última fonte de alegria da vida. Ajudava a cuidar da menininha e a embalava em seus braços já gastos do tempo, acalmando-a. Era uma pessoa grata por ter visto a neta nascer.Os anos foram passando e, perto de Jenifer completar quatro anos, a avó adoeceu e morreu.Sozinha com a menina, em uma enorme casa de dois andares, ela sentia a necessidade de companhia. Ol
O doutor ligou para um amigo advogado e explicou toda a situação. Disse o quanto a menina sofria e o quanto precisava de uma solução rápida.– Doutor, vou entrar com um pedido agora para que ele seja investigado. Não sei se conseguirei algo hoje ainda.– Você não está entendendo a gravidade. O homem que batia nela tem sua guarda. E quer levar a menina.– Doutor, temos que seguir a lei. E, provavelmente, o juiz vai dar a guarda ao pai.– Padrasto.– Sim, mas ele vai alegar que criava a menina junto com a mãe. É o responsável legal. Não sei se conseguiremos vencer. Tentarei.– Obrigado.Estela, João e Marcelo esperavam o retorno de Alex com a menina. Estavam já impacientes pela demora. Marcelo foi o primeiro a se manifestar:– Onde está aquele desgraçado com
Alex voltara a ter insônia. Aquela fora a pior de suas noites desde que se mudara para a cidadezinha. A menina não estava ali com ele. Era ela que lhe trazia alegrias. Era ela que lhe dava um motivo para viver de novo.Ao ver Jenifer entrar no carro e dizer “eu te amo”, um antigo sentimento, uma lembrança dolorosa, talvez a pior de todas, voltou à sua mente. Sua filha, em seus braços, olhando para ele e dizendo: “papai, eu te amo”, e fechando os olhos, sem vida. Ver Jenifer entrar naquele carro lhe trouxe de volta aquele sentimento, aquela sensação de que não era capaz de salvar ninguém. Sentia-se um lixo, um inútil. Fora justamente este sentimento, este acontecimento, que motivara Alex a fazer tudo que fez depois.Antes de levantar do sofá, seu celular tocou, indicando que recebera uma mensagem. Pegou e abriu. Era uma mensagem de Jenifer para ele:“Estou be
Alex desmaiou. Lembranças vieram na sua mente. Lembranças de outra época.Dois anos antes dos acontecimentos com Jenifer, levava uma vida tranquila. Era casado com uma mulher morena e alta e tinha uma filha. Sua filha era o motivo de sua felicidade. Aproveitava cada momento dela e procurava estar sempre presente.Ele trabalhava em uma grande firma do ramo de informática. Era um técnico respeitado e uma pessoa de alta confiança da empresa. Todos gostavam de Alex. Sempre sorridente, mostrava fotos da filha para seus amigos todos os dias.Sua mulher trabalhava em casa, com vendas online de joias. Ela era a responsável pelas vendas, enquanto outros entregavam os produtos.Moravam em uma casa simples, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Tinham um pequeno quintal onde a menina brincava sempre. A casa ficava próximo ao centro da cidade. Era uma área considerada tranquila.
Alex sangrava muito. Segurava o pano para tentar estancar o sangue, mas parecia inútil. Capitão Silva observava o rapaz. Estava também preocupado com Marcelo. O homem se mantinha desacordado depois da surra que levara de Alex. Não que não merecesse. A questão era que Capitão Silva sabia que ele poderia ser uma testemunha importante no caso da menina que estava investigando com o doutor.Jenifer estava inconsolável. Queria fazer alguma coisa. Ela se sentia inútil. Era como se seu mundo estivesse caindo.Duas ambulâncias chegaram ao mesmo tempo. Os paramédicos de uma delas foram diretos atender Marcelo, caído e quase morto. Outros dois viram Alex. Ele ainda sangrava muito e parecia que a bala estava alojada.Alex estava um pouco zonzo. Escutava os médicos falando. Não tinha forças para acordar. Sonhou. Sonhou com sua filha falecida que mais uma vez sorria para e
Amanheceu. Estela e João entraram no carro. Era o dia que combinaram com Marcelo para pegarem a menina. Estela carregava uma pequena caixa. Dentro dela, estava o vestido laranja e branca:– João, no dia em que jogaram fora, ainda bem que você conseguiu recuperar o vestido. Precisamos manter a tradição de entregar a menina com o vestido. É assim que eles sabem do que se trata e que abrem as portas para nós. Não quero dar explicações para aqueles seguranças, vamos levar a menina com o vestido.Tudo pronto. O carro começou a andar em direção a casa de Marcelo. Ali, pegariam a menina e levariam para seu chefe.Estela lembrava de várias coisas naquele dia. Abriu a caixa e olhou para o vestido.A mulher ganhara o vestido vinte anos antes. Foi o último presente que o seu pai lhe deu. Colocou nela e, depois, por conta
Estela e João foram levados para a delegacia mais próxima. Lá, foram colocados em celas separadas. Seriam ouvidos assim que o Capitão Silva chegasse, pois ele fazia questão de escutar os dois.A chegada do capitão se deu no final da tarde devido a tudo que resolvera na cidade na parte da manhã.O primeiro a ser ouvido foi João. O policial fez uma única pergunta:– Qual é o esquema, João?João olhou seriamente para o policial e respondeu de maneira fria:– O esquema é ganhar dinheiro. Ou você acha que a gente pega essas crianças para cuidar? Sabe o trabalho que é até entregarmos para o meu chefe?O policial foi incisivo:– Quem é o seu chefe?João riu, debochando do policial:– Desculpe, capitão. Eu não vou lhe entregar o homem que me ajudou a vida inteir