— Embora, como assim? — Saulo perguntou sem entender nada. Parece que Oliver não comentou com o amigo sobre a última conversa que tivemos. — Sou menor de idade, o senhor Oliver me mandou embora. — Quanto tempo para você completar dezoito? — Só dois meses, mas não é isso. — Continuava chorando. — E o que é então? — Mesmo que eu complete meus dezoito, não posso ficar aqui, pois não posso trabalhar registrada. — Acabei soltando a minha preocupação, que estava matutando na minha cabeça. Sandro descobriria onde estava, ele viria atrás de mim, acabaria com a minha vida ou sabe lá o que conseguiria fazer. — Aurora, você deve algo à justiça? Está fugindo de quê? — Saulo perguntou, sem entender. — Não é isso. Deixa quieto, você não entenderia. Nesse momento percebi o quão frágil estava, que quase ia contando a minha história para o Saulo. Me recompus, peguei o copo de água e me levantei. — Com licença, preciso ficar com o Noah. — Espera, só mais uma coisa, o Oliver sabe que você está a
Com aquele clima pesado na cozinha, eu não sabia o que fazer. — Só falta o pernil terminar de assar, senhor. — Denise respondeu. — Ande depressa, que estou morrendo de fome, sabe que gosto das coisas no horário certo. Após falar com a mulher, ele dirigiu o olhar para mim. — O menino já está melhor? — Perguntou sem expressão alguma no rosto. Eu não conseguia acreditar que aquele homem soubesse que seu filho estava doente e não demonstrou preocupação, saindo de casa cedo e indagando sem demonstrar preocupação. — Sim, senhor, o seu filho está melhor. — Enfatizei o nome filho, para ver se o comovia um pouco. Ele me encarou por alguns segundos, esperando talvez que eu falasse mais alguma coisa, mas simplesmente virei as costas e saí com o Noah. Fui passear no jardim, estava um dia lindo, andei perto das árvores, já era quase meio-dia e o sol estava muito quente, mas as grandes árvores davam uma enorme sombra. Noah estava acordadinho, seus olhinhos estavam abertos, coisa que era rar
Passeei mais um pouco com o Noah, minha barriga roncava de fome, mas só comeria depois que Oliver saísse da cozinha. Estava entrando na casa, quando meu celular tocou. Era um número privado, estranhei porque apenas Isa tinha meu número novo. — Alô. — Atendi. — Vagabunda, eu vou encontrar você, e antes de deformar a sua cara inteira, terminarei o que comecei. Após falar, desligou. Eu sabia muito bem quem era, conhecia aquela voz nojenta em qualquer lugar no universo, era ele, Sandro! Meu coração errou as batidas, por um segundo fiquei tonta e quase caí no chão com o Noah. Meu maior pesadelo estava acontecendo, ele estava atrás de mim, como conseguiu meu número? Será que ele já sabia onde eu estava? Minha cabeça girou mais um pouquinho, então por medo de cair do lado de fora com o bebê, fui para dentro da casa. Entrei tremendo tanto, que ignorei Oliver e Saulo me chamando, nem me importei, continuei andando e entrando no quarto, coloquei Noah na cama e me sentei no chão, esta
Acordei com o clarão de um raio. Havia dormido com o Noah e tinha me esquecido de fechar as cortinas da janela. Os raios clareavam o quarto vez ou outra, mas não se ouvia o barulho do trovão, a janela era bem lacrada à prova de som. Olhei e vi que Noah continuava dormindo como um anjinho, me levantei, arrastando com cuidado uma das poltronas até a janela, me sentei e comecei a observar a chuva caindo. Eu amava a chuva, amava os raios, eles eram tão lindos. Apesar de perigosos, era a coisa que eu mais admirava na natureza, tão imponentes, seguidos com sua voz majestosa de trovão. Olhei no relógio e vi ser duas e pouco da madrugada. Lá fora, tudo era assustador, lembrei que cheguei aqui numa madrugada como essa, raios, chuva e aquele homem. Lembrei-me do homem na ponte, do carro parado, dele prestes a se jogar e da minha interferência. Será que salvei a vida dele? Como será que ele estava agora? Quem era, e qual o motivo que o levaria a tentar contra a própria vida? Bem baixinho, pedi
Assustei-me com o diabo. Ele aparecia do nada, como se teletransportasse usando sapatinhos de algodão, pois não conseguia ouvir seus passos quando chegava. — Aurora, levanta daí, está chorando pelo quê agora? — Nada, senhor, eu só estava distraída. Me olhava como se esperasse alguma brecha para dizer algo. — É pelo homem da ponte, não é? — Insinuou. — Claro que não, nem o conhecia! — Neguei imediatamente. — Ah, que pena, pois já descobriram a identidade dele, sabia? — Lamentou. — Mas, como você não se interessa no assunto, deixa para lá. — Blefou. Virou-se de costas para sair, mas minha curiosidade foi maior. Queria saber quem era o homem e o porquê dele ter feito tal ato e parecia que Oliver sabia disso e queria usar contra mim. — Espera, quem era ele? — Perguntei, me sentindo vencida por suas provocações. Oliver virou-se para mim outra vez, sorrindo como se tivesse ganhado a batalha. — O nome dele era Antônio Vargas Viana, tinha 49 anos, estava fugindo da polícia, após a i
No interior do escritório, dois homens conversavam. — Esta garota está achando que sou algum idiota. — Quem cara? — A Aurora! — Tem paciência com ela, cara, a coitada passou a madrugada toda com o menino no pronto-socorro. — Ela se esqueceu de que sou o patrão, eu que mando aqui! — O que ela te disse para você ficar tão nervoso assim, hein? Perdi alguma coisa enquanto estava fora? — Falou, se sentando na poltrona do escritório. — Deixa aquela pirralha para lá… —Oliver também se senta e abre o notebook. — Foi você quem começou falando dela.— Saulo zomba. — Me diz, onde você estava para encontrar a Aurora na estrada de madrugada? — Admirando a perfeição da vila. — Riu descaradamente. — Conta outra, Saulo. — Revirou os olhos. — Sério Oliver, a vila São Caetano é perfeita, cara, você projetou cada coisa ali como se morasse lá. — Mas moro de certo modo. — O mercado, o pronto-socorro, a farmácia, o banco, a escola e o bar. — Se animou. — Cara, aquele bar lá é bom demais, quando
Acordei com um raio de sol em meu rosto, mais uma vez esqueci de fechar as cortinas da janela para dormir. Estava me sentindo bem, apesar de ter um roxo horrível em minha testa. Fiz tudo que precisava fazer com o Noah, o coloquei no sling e saí para nosso passeio matinal. O jardim estava alegre, algumas flores estavam desabrochando e a grama parecia chegar a brilhar de tão verdinha que estava. Encontrei Denise no fundo da casa, ela saía de uma pequena casinha, que era ligada à casa principal, que parecia uma dependência. — Bom dia, Denise. — Bom dia, Aurora. — Respondeu com um largo sorriso. — Está linda hoje. — Denise não estava com o uniforme do trabalho e sim com um vestido longo florido, salto Anabela, brincos grandes de argola e uma bolsa muito linda, que parecia ser de grife. — Obrigada, hoje é dia de folga, vou aproveitar que é sábado e vou para a capital, fazer algumas comprinhas. — Que legal. — E você, não vai tirar o dia de folga? — Ah, não, meu serviço é em tempo in
Sentamos num banco que ficava embaixo de uma árvore enorme, cheia de flores. O lugar estava tranquilo, pois ainda era cedo da manhã. — Primeiro, quero que você me prometa que não vai contar ao patrão que eu te disse isso e nem a ninguém, nem a meu tio, nem a Saulo, nem a... — Tudo bem, Denise, eu já entendi, eu não vou contar a ninguém, eu prometo. — A interceptei. — Olha, espero que você não tenha pressa, viu? Pois a história é longa. — Ai, Denise, fala logo, porque estou ficando mais curiosa! — Você é igual a mim. — Riu — Mas é normal mesmo, quem não gosta de uma boa fofoquinha? E, afinal, eu imagino como está a sua cabeça, ao chegar numa casa e encontrar um recém-nascido sem a mãe. — Ainda bem que você me entende, Denise. Cadê a mãe do Noah? Ela faleceu? — Não, minha querida, a mãe do Noah está vivinha da Silva. — E onde ela está? — Perguntei curiosa. — Estou te falando que a história é grande, para você entender, tenho que te contar do início. — Então, começa logo, mulher