Acho que todas as pessoas têm um segredo sujo que precisa ser guardado a sete chaves. Bom, se nem todos têm, pelo menos metade da população esconde algo como se sua vida dependesse disso.Eu escondia uma coisa, ou melhor dizendo, escondia uma pessoa.Me lembro com muita clareza do dia em que meu pai foi embora de casa. Eu tinha apenas seis anos de idade mas quando fecho os olhos consigo visualizar a cena. Ele pegou uma única mochila, jogou algumas poucas peças de roupa dentro dela, junto com um maço de dinheiro que costumava guardar, e então foi até mim, se abaixou para dar um beijo em minha testa e, sem dizer adeus ou qualquer outra coisa, saiu porta afora.Minha mãe gritou como louca, se jogou no chão e puxou os próprios cabelos enquanto as minhas lágrimas silenciosas caíam ao ver meu pai se afastando mais e mais. Ele foi embora, deixou eu e minha mãe sem nem olhar para trás, e no fim nunca retornou, muito menos procurou saber como sua única filha estava.Não tive notícias dele
Talvez essa idiotice de fazer as pessoas esperarem era uma coisa que Tyler sentia prazer em fazer.Estava há mais de três horas sentada no sofá de sua sala enquanto uma funcionária me olhava de um jeito estranho. Eu com a postura de uma freira super correta, e ela encostada em uma parede com os braços cruzados, mastigando um chiclete que mais parecia um imenso pedaço de borracha. Minha vontade era de levantar e fazer a bonita cuspir aquela porcaria.Batuquei minha coxa com os dedos mais uma vez, iniciando aquilo no ritmo de uma música que havia escutado recentemente. Ficar com o celular nas mãos não era aceitável porque a cada dois minutos ele tocava em uma ligação de Benedict. Eu tinha a leve impressão de que poderia ser demitida se continuasse a ignorar suas chamadas, mas o mais importante era resolver o meu assunto primeiro.Quando decidi que ia me levantar e pedir que a mulher presente ali jogasse aquela merda de goma fora, a porta foi aberta e por ela passou o homem que mais
O homem à minha frente iniciou sua explicação. Ele contou que o casamento era algo muito simbólico para os Legards e que, para mostrar competência e responsabilidade, ele queria se casar mesmo que isso não fosse um super requisito exigido. Ele garantiu que não era um dever dele, mas que sabia que mudaria tudo se tivesse uma esposa ao seu lado.Inicialmente senti que as palavras dele não seriam capazes de me convencer, depois já sentia uma firmeza maior em seu modo de falar, e fui entendendo que ele realmente não estava me propondo aquilo apenas para atingir seu irmão com força. Não. Tyler estava disposto a me pagar muito bem para que passasse três anos ao seu lado, fingindo ser uma mulher apaixonada.Óbvio que ninguém poderia saber sobre a farsa, nem mesmo sobre o contrato de casamento. Se Chloe apenas sonhasse que estávamos nos unindo para que a separação viesse dali a três anos, ele garantiu que as coisas não seriam bonitas.— Sabe que se eu aceitar algo assim, não vamos ter na
Tinha muitas coisas para serem feitas. Se eu fosse parar para pensar, realmente tinha que me sentar sozinha e raciocinar porque eu havia acabado de agir por impulso e agora Tyler Legard estava providenciando um contrato de casamento para nós dois.Três anos. Por três anos estaria ligada a um homem que eu mal suportava, e que não bastando ser rico e conhecido, tinha seus próprios demônios internos que seriam um caos. Mas isso ainda era o de menos ao pensar que estava caminhando em direção ao meu chefe para dar a notícia de uma maluquice.Seria muito difícil para ele. Disso tinha absoluta certeza.Um tanto confusa e recebendo diversos olhares, passei pelo andar principal de cabeça erguida, sem desviar os olhos para os funcionários que cochichavam entre si, provavelmente comentando sobre o beijo e sobre a possibilidade de eu ter traído meu ex namorado. Não que todos soubessem sobre Joshua, mas claro que os que sabiam iam falar.Ao passar por Lauren com passos apressados quando alcanc
Malditos fotógrafos! Malditos.Como podiam ser tão idiotas? Ficar na porta do prédio não ia mudar o fato de que eu não falaria com nenhum deles e que mandaria todos tomarem no meio do rabo. Se aquela merda continuasse por mais um dia, eu ia ferver água e jogar litros naquele bando de abutres.Joguei minha bolsa no sofá da sala assim que tirei meus saltos pequenos e quando soltei um suspiro longo e permiti que as primeiras lágrimas enfim caíssem, ouvi um barulho atrás de mim vindo da cozinha. Me virei sem muita pressa porque imaginei Arti fazendo sua típica bagunça no meu fogão mas quando coloquei meus olhos na figura masculina, quase caí para trás.Tyler levou o copo de água até a boca, e sem tirar os olhos de mim, bebericou o líquido límpido. E mesmo que sua presença fosse uma surpresa ruim, o que me deixou intrigada foi as roupas que usava.Eu nunca tinha o visto com calça jeans e camiseta preta com estampas infantis. Era como se aquele homem na minha frente não fosse o mesmo h
Uma mala. Apenas uma mala foi o que Tyler deixou eu pegar do meu apartamento. O engraçadinho alegou que eu teria de refazer todo o meu armário, e ainda teve a ousadia de dizer que minhas roupas não eram nada bonitas e não me favoreciam.Fazendo birra como uma criança boba, bati o pé mas me dei por vencida. Já que teria um cartão sem limites para usar, ia com todo o prazer nas lojas mais caras para gastar o dinheiro de Tyler.Quando dei o primeiro passo para adentrar a casa gigantesca, me dei conta do que estava prestes a iniciar, e de que, de certa forma ele tinha razão, aquele lugar pertenceria a mim também após o casamento. Por mais que fossemos nos separar quando os três anos se passassem, eu ainda seria uma Legard que poderia mandar e desmandar em várias coisas.Talvez até fosse começar mandando embora a funcionária de cara fechada que me lançou um olhar mortal ao me ver entrando na sala com Tyler logo atrás, arrastando minha mala.Deixei de pensar em todos os contras da minha
— Não acho que vou conseguir fazer isso — confessei em um murmúrio.— Passar três anos sem sexo? Não tem problema, eu te ajudo a resolver isso, tenho certeza que não vai reclamar.Irritada, cerrei os punhos sem deixar de olhar para seus atraentes traços faciais, e ele deixou um sorriso brincalhão estampar os lindos lábios.— Eu não vou suportar essas gracinhas, Tyler! E ficar longe da Calisto, longe do meu lar de verdade… É tudo tão estranho, tão repentino e tão… Não sei. Tão idiota da nossa parte.— Sei que é uma coisa difícil, pra mim também será um desafio. Mas veja pelo lado bom, o pior que pode acontecer é você acabar me matando, só que se fizer isso, terá todas as ferramentas para fazer as pessoas acreditarem que foi um acidente. Você vai se tornar alguém poderosa com o sobrenome Legard, e vai ter toda a minha fortuna em suas mãos.— Está me dizendo que é possível acabar com a sua vida e sair ilesa? Tem certeza que quer me deixar a par disso?Ele riu, olhou para os próprios pés
Ok. Eu sabia o que tinha inventado.Na verdade, Tyler quem inventou e iniciou toda a insanidade, mas eu estava compactuando com tudo, então não tinha como jogar a culpa da loucura somente nele. No interior da mansão nos juntamos ao advogado. O contrato foi assinado após debater um pouco mais sobre a questão dos "amantes", e então, assim como Tyler prometeu, a primeira parte do dinheiro caiu na minha conta.Cinco milhões. Cinco milhões para que eu fizesse o que bem entendesse. Não tinha como não ficar maluca ao ver todo aquele dinheiro na minha conta bancária. Era muita coisa. Era muito mais do que eu poderia conseguir em anos de trabalho árduo.Podia dizer que estava rica, mas quando acessei a conta conjunta que dividiria com Tyler, fiquei ainda mais embasbacada.Nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida. Eram tantos números que não poderia contar nos dedos, e Tyler estava me disponibilizando tudo aquilo para que fosse usado nos nossos anos de casamento. Para redecorar o