Capítulo II
ALMAS REJEITADAS
Iniciação
O restaurante Aliança à beira da estrada em um fim de tarde cinzento estava cheia de clientes, dois carros abasteciam no pequeno posto de gasolina próximo, enquanto algumas pessoas matavam a fome no pequeno restaurante, parecia à última parada antes de seguir caminho para Triunfo pela PE 320, apesar do Caldo de Cana Sabor do Sertão ficar bem à frente, que se podia apreciar caldo de cana, outro ponto que valeria uma visita seria a Cacimba de João Neco já na PE 365, que fica um pouco fora da estrada, mas chama atenção sua engenharia para se obter água no sertão. Apenas pouco mais de vinte quilômetros, depois de trezentos e noventa e poucos quilômetros de Recife. Cinco jovens oriundos da capital, lanchavam e zanzavam na proximidade, estavam ansiosos e pensando na chegada ao sítio próximo a serra Pico do Papagaio.
Diante da ansiedade e euforia não percebiam, que eram observados por um Beato, que os reparavam com um olhar atento por baixo da aba de seu Chapéu de Massa aba longa preto, enquanto tomava um café.
Os cinco jovens terminaram seus lanches e foram saindo da lanchonete conversando e sorrindo, sem perceber ou desconfiar, que eram observados.
Renata afastou-se do grupo e foi em direção de um pequeno quiosque de tijolos sem acabamento, na entrada tinha vários objetos feitos de barro e bugigangas penduradas por todos os lados nas paredes da pequena lojinha.
Curiosa, Renata começou a olhar cada peça e se encantava toda vez que encontrava uma diferente, sua curiosidade a levou para dentro do quiosque cheio de imagens esculpidas em barro, cada uma mais perfeita que a outra.
Na parte mais escura, por acumulação de peças do quiosque, Renata estendeu a mão para pegar uma peça que parecia um anjo de barro brilhante, quando foi interrompida bruscamente por uma mão fria, enrugada e desgastada. De dentro da parte escura do quiosque uma voz se fez presente:
- Filha, vocês vão para perto da serra, se você quiser viver não vá, hoje vai ser uma noite especial, a neblina na serra vai ser mais intensa e as almas rejeitadas irão descer e quem estiver perto vai ser possuído - após seu corpo ser tomado, a alma rejeitada vai se apossar e vagar com você para sempre, e sua alma ficará inválida - Diz com um olhar intenso, a Velha Senhora, que sai da escuridão, revelando seu rosto velho e cansado, a sua estatura é pequena, seus cabelos compridos e embranquecidos, mas com algumas mechas de cabelos pretos, que se destacam na maioria branca, veste apenas um vestido de chita meio desbotado.
Renata tem uma reação enérgica, arregala os olhos e puxa sua mão, sai correndo do quiosque assustada em direção de seus amigos, que já estão no carro à sua espera, entra no carro, se acomoda e fecha o semblante.
- O que foi Renata? Viu algum fantasma, que cara mais assustada - Diz Rodrigo, querendo puxar assunto.
- Não foi nada? É só uma Velha Senhora que me assustou – Diz Renata olhando para o quiosque pensativa.
A Velha Senhora fixa o olhar firme e penoso na direção de Renata, a qual nota que é observada, enquanto fica observando a jovem, seu corpo sente um rápido arrepio, algum pressentimento.
O Beato ainda tomando seu café, permanece olhando por baixo da aba de seu Chapéu de Massa aba longa preto, acompanha toda movimentação como se pressentisse aquela cena.
A Velha Senhora se sente observada por alguém, disfarça e retorna para seu refúgio escuro sorrateiramente, como se guardasse um terrível segredo.
No carro, após se acomodarem, os cinco jovens e começam sua viajem em direção a Triunfo, que depois seguiriam para a serra do Pico do Papagaio, onde iam passar uns dias no sítio próximo ao pico.
Pedro Beato tomou seu último gole de café, levantou-se, rebateu a poeira da calça, ajeitou a bata e o Chapéu de Massa aba longa preto, depois vagarosamente saiu em direção do quiosque.
O carro com os jovens sumia na primeira curva da estrada, por que à tarde cinzenta já puxava a noite para ocupar seu lugar.
Pedro Beato chegou ao quiosque e começou a olhar todas as peças de barro e bugigangas penduradas, enquanto isso, aguardava Ana Gomes, que parecia tê-lo esquecido naquele lugar sombrio do sertão.
Pedro Beato entrou no quiosque com a intenção de encontrar a Velha Senhora, o qual a viu quando a jovem saiu correndo, mas parecia que a senhora tinha sumido, fato qual parecia impossível, pois não havia como sair dali sem ser percebido.
Após ficar por muito tempo observando as peças de barro e bugiganga pendurada sem êxito, Pedro Beato foi advertido pelo o dono do quiosque, este apresentava um aspecto esquisito: apresentava estatura pequena, olhos grandes, cabelos sem cuidados e despenteado, faltava-lhe alguns dentes na boca, vestia uma camisa bem maior que o recomendado para seu tamanho, usava uma calça caqui suja, arrastava uma alpargata de couro bem velha e carrega no ombro um pano encardido como se fosse um avental.
- Padre, o senhor quer alguma coisa?
- Gostaria de conversar com a Velha Senhora, que estava aqui neste instante, você sabe como posso encontra-la – Diz Pedro Beato querendo obter informação.
- Sinto muito Senhor Padre, mas aqui não tem e não tinha qualquer Velha Senhora que está procurando – Diz o dono do quiosque desconfiado e firme em sua resposta.
- O Senhor pode estar enganado, pois eu mesmo vi uma Velha Senhora aqui, estava conversando com uma jovem, que saiu assustada, indo embora com outros jovens em um carro na direção de Triunfo – Diz Pedro Beato mostrando que estava ciente dos acontecidos.
- Ela pode ter saído correndo por que os amigos estavam chamando-a e não por que aqui tenha alguma Velha Senhora para assustar turista, o senhor deve ter se engando – Diz o dono do quiosque, convicto e com rosto cerrado, demonstrando insatisfação.
Neste instante Pedro Beato ouve o barulho do Jeep chegando ao qual o faz sentir certo alívio.
Pedro Beato olha entre as peças e bugigangas a poeira que o Jeep faz ao frear, vê quando Ana Gomes abre a porta e desce batendo a poeira de suas roupas com um lenço, como se o mesmo fosse suficiente para conter toda aquela poeira.
- O senhor me desculpe, mas eu realmente queria conversar com a Velha Senhora que estava aqui há alguns instantes, é importante – Diz Pedro Beato insistindo em conversar com a Velha Senhora.
Quando o dono do quiosque tenta falar novamente, é interrompido por uma voz cansada, que vem do fundo escuro do ambiente, sem revelar-se, qualquer imagem na escuridão ainda não é visível, a penumbra que se tem formado por causa do início da noite densa não revela a dona da voz cansada.
- Filho? Pode deixar que vou falar com o Padre, acho que ele quer saber a verdade sobre o que sei – Diz a Velha Senhora, como se soubesse o assunto que Pedro Beato queria conversar.
- Mãe pare com isto? A senhora já vem com esta conversa de novo - Liga não seu Padre, minha mãe de vez em quando começa a falar coisas que até fico assustado – Diz o filho da Velha Senhora, querendo desconversar e protegê-la.
- Pode deixar moço, eu sei do que se trata e se o senhor não se importar eu gostaria de conversar com sua mãe a sós – Diz Pedro Beato, tranquilizando o filho da Velha Senhora, dono do quiosque.
- Tudo bem, o senhor é quem sabe, mas vai escutar uma história estranha e assustadora, que ela de vez enquanto conta, geralmente neste período e justamente em um dia com o de hoje – Diz o dono do quiosque alertando Pedro Beato.
Ana Gomes chega ao quiosque e logo vai se justificando pela demora, mas enquanto fala observa que Pedro Beato está em uma viajem sobrenatural, pois parece que ela nem está ali, com tanta atenção voltada para a Velha Senhora que começa a aparecer da escuridão do quiosque.
- Ei? Eu estou aqui e estou falando com você, só por que atrasei ficou chateado – Diz Ana Gomes, tentando uma conversa com Pedro Beato.
Pedro Beato vira-se devagar em direção a Ana Gomes e com um gesto a convida para se aproximar e participar da conversa com a Velha Senhora.
A Velha Senhora anda com um pouco de dificuldade em direção de uma velha cadeira de madeira de lei e acomoda seu corpo velho desgastado e cansado.
Pedro Beato e Ana Gomes seguem seus passos lentamente, acompanhando a dificuldade da Velha Senhora de se locomover.
O filho da Velha Senhora começa apressadamente a arrumar as peças de barro e bugigangas para guardar e fechar o quiosque, por que a noite chegava intensa e fria para aquela região do sertão.
A Velha Senhora se acomodou e com dificuldade, e logo começa a contar a história. Pedro Beato e Ana Gomes atentos, prestavam atenção na conversa.
- Padre, o lugar que estes jovens estão indo neste período do ano, acontece coisas que até hoje ninguém sabe contar direito o que é, mas sei que é aterrorizando naquela região - Os moradores, como se recebesse um aviso, não saem de casa e vão dormir após tomar um chá de plantas, que os fazem dormirem profundamente, para não verem o que está acontecendo – Diz a Velha Senhora com voz firme e olhos assustadores
- Eu já ouvi falar, minha Senhora, mas sempre achei que era uma história inventada para assustar os moradores da região – Diz Pedro Beato desconfiado.
- Pois é verdade senhor Padre, eu sei por que já estive lá e estou viva para contar, mas ninguém acredita em uma Velha Senhora de aspecto assustador como o meu – Diz a Velha Senhora demostrando ressentimento.
- A Senhora agora pode contar, pois nós iremos te ouvir com atenção e acreditar em sua história – Diz Ana Gomes motivando a Velha Senhora.
A Velha Senhora esboçou um sorriso espontâneo, mostrando as rugas de seu rosto e lábios desgastados pelo tempo, assim deu continuidade e começou a contar sua história.
Há muito tempo atrás, fui convidada por minha amiga Maria para visitar um tio dela lá em Triunfo, em um sitio próximo a Serra do Pico do Papagaio.
O tio de Maria me parecia um pouco estranho, mas não liguei por que estava como visita, então fiquei tranquila.
Quando a noite chegou, parecia que a noite lá chegava mais cedo e havia um frio que parecia que o lugar ia para longe do sertão, estávamos em outra região, em outro estado ou país de tão frio e escuro que ficava o lugar.
O tio de Maria se comportava estranho, fazia as coisas com mais rapidez. Todos da casa acompanhavam sua presa em deixar as coisas arrumadas, portas e janelas trancadas, parecia assustador vê aquele movimento, como se alguma coisa estranha naquela noite fosse acontecer.
Ouvia muitas histórias no sertão, lobisomem, aparições, mas aquilo que eu estava presenciando, era diferente, então comecei a estranhar.
Por volta das nove horas da noite, a mulher do tio de minha amiga Maria chegou com um chá e foi colocando nas canecas e todos que estavam na sala foram pegando e começando a tomar, parecia um ritual.
Peguei minha caneca com desconfiança e fiquei observando que todos tomavam o chá normalmente, mas não conseguia tomar aquele chá, então fingia ao colocar a caneca na boca, mas nada bebia.
O tempo foi passando e todos tomaram o chá, fingindo ter tomado juntos com eles, me prontifiquei a levar as canecas para a cozinha e coloquei minha caneca junto para que não desconfiassem.
Retornei e observei que todos estavam com muito sono e procurando um lugar para dormir, pareciam dominados por alguma coisa que eu desconhecia.
Aquela situação foi me deixando constrangida, mas nada podia fazer, não gostei do chá, por que iria tomar, só para agradar os outros.
A noite parecia cada vez mais assustadora, e eu ali, com pessoas que não conhecia, vendo-os dormindo, parecendo mortos vivos. O medo foi tomando conta e a casa foi ficando assustadora, pois o silêncio ficava cada vez mais perceptível.
Meia-noite, quando o silêncio predominava, um pequeno raio de luz rasgou a escuridão intensa e começou a aparecer e desaparecer por um pequeno buraco da janela de madeira velha.
Fiquei parada observando aquela luz. Um barulho fez minha atenção se voltar para a outra janela, quando esta foi se abrindo vagarosamente, como se alguém a estivesse abrindo para entrar sem ser notado.
Naquela sala escura, fiquei parada, com o medo arrepiando meu corpo e tomando conta de minha alma, fiquei totalmente inerte.
Com os olhos entreabertos, fiquei aguardando alguém entrar pela janela. Após alguns segundos de aflição, uma mão luminosa apareceu segurando uma parte da janela e em seguida foi aparecendo um rosto luminoso, que com um olhar preciso, vistoriou todo o ambiente, como se procurasse algo ou alguém.
Parada estava, parada fiquei, mas olhando aquela coisa luminosa com aspecto de ser humano, procurando alguma coisa.
Todo ambiente começou a ser conferido por aquela coisa luminosa, até que outro espectro a chamou. O espectro de humano não chegou onde eu estava, depois sumiu do mesmo modo que apareceu, de repente.
Fiquei alguns minutos ainda parada observando algum barulho ou movimento, mas nada mais ouvi, então levantei bem devagar e fui até a janela para tentar ver alguma coisa ou descobrir o que estava acontecendo.
Quando cheguei à janela, tentei olhar por entre seus talhes e brechas para saber o que acontecia lá fora. Fiquei surpresa quando vi vários espectros, como se estivessem em uma reunião de almas, todas reluzentes.
Tomei um susto ao ver aquelas coisas lá fora, mas fiquei tentando entender o que acontecia, quando acabei derrubando a jarra de chá e fazendo um barulho, chamando atenção dos espectros.
Uma delas, que parecia que coordenava as outras, virou para onde eu estava, com um olhar frio e tenebroso ficou parada e em silêncio, permaneceu observando algum movimento.
Fiquei parada e com tanto medo que até minha respiração parou por uns instantes.
Durante algum tempo nada aconteceu, então voltei a olhar para fora e não havia mais nada, era como se todas tivessem desaparecido em instantes.
O tempo parecia parado, até eu ouvir um grito ensurdecedor e lamentoso, vindo do vale envolta da Serra do Pico do Papagaio.
Fiquei assustada, mais nada podia fazer, estava presa ali, sem saber que atitude tomar.
O grito continuou, parecia que estavam tirando a pele de alguém vivo, pois os gritos de lamento causavam arrepio.
Eu estranhava por que ninguém acordava do sono profundo e os gritos ficavam cada vez mais intensos.
Mesmo com medo, tentei olhar de novo pela fresta da janela, quando observei que alguém vinha saindo da mata, próxima a casa, andando lentamente.
A pessoa parecia que sabia que eu estava ali, pois vinha lentamente em minha direção.
Novamente fiquei parada, sem forças para sair e fugir, enquanto a pessoa vinha em minha direção, como se soubesse que eu ali estava.
Fechei meus olhos, baixei a cabeça e comecei a rezar, mas estava com tanto medo que nem me concentrava direito no que fazia.
A janela começou a ser aberta lentamente, sem saber o que fazer, fiquei parada perto da janela, sem respirar.
A pessoa de vestes escura, trazendo frio em seu corpo, me olhou, rondou com seu rosto em volta do meu e parou um instante.
Senti que aquela pessoa não estava viva, mas também não estava morta.
Após algum tempo, a pessoa que não dava para saber que era se voltou para a mata e seguiu para seu interior, como se tivesse algum compromisso dentro daquela mata escura.
Onde estava, fiquei até dormir de cansada, ao acordar percebi que todos estavam em casa, tranquilos, como se nada tivesse acontecido.
Quando menos esperei, o silêncio é interrompido por um grito desesperador, o grito tinha vindo da direção do caminho que dava para a casa do sítio.
Uma mulher chorava desesperada, procurava seu filho, que tinha desaparecido sem deixar vestígios, enquanto era apoiada por uma velha senhora, que falava bem alto. “Elas vieram novamente e levaram mais uma alma viva, até quando isto vai acontecer. Malditas almas rejeitadas...”
As duas seguiram o caminho e todos seguiram suas tarefas como se nada tivesse acontecido.
Então seu Padre, essa é a história que aconteceu comigo, sei que é difícil de acreditar, mas é verdadeira.
Pedro Beato olha para Ana Gomes, demostra-se encantado com a história, depois levanta-se devagar, a Velha Senhora o acompanha com seu olhar triste e cansado.
Ana Gomes se levanta, se dirige para a porta velha do quiosque e observa João do Jeep sentado e os aguardando tranquilamente.
Noutro canto do Sertão um carro segue pela estrada em direção a Triunfo...
Capítulo IIIA Chegada das almas Os cinco jovens já tinham passado pelo o centro da cidade de Triunfo e seguiam pela estrada empoeirada e esburacada que dava no sítio. Enquanto o carro ia desviando de alguns buracos, levanta poeira na pequena estrada, a noite vai sugando o dia, assumindo o mundo em volta da serra. A diversão dentro do carro é intensa. Renata mais contida é chateada por Rodrigo, que não perde um instante sem fazer gozação, ainda se lembrando da Velha Senhora do quiosque. Claudia chama atenção de Rodrigo: - Rodrigo deixa a Renata em paz? Parece que estar apaixonado por ela
Capítulo IVO Espectro Negro A noite parece longa, o tempo não passava e Renata inquieta, com os olhos assustados, ficava sentada em um canto da casa, envolvida com a capa de Pedro Beato aguardando algum sinal. Pedro Beato tentava acalma-la, mas nada adiantava, parecia que Renata estava aguardando o Espectro Negro aparecer do fundo escuro da floresta e arrastá-la para o Senhor das Almas Rejeitadas. Um uivo sonoro invade toda a serra, chamando atenção de Pedro Beato e Ana Gomes, que rapidamente cercam Renata, tentando protege-la de algo desconhecido, mas naquele instante é apenas um uivo.&nbs
BIOGRAFIA Leonires Barbosa Gomes (Léo Bargom) nasceu em Iguaracy-PE, a 5 de fevereiro de 1961. Antes de completar 10 anos de idade, os seus pais levaram-no para Brasília onde permanece até hoje. Cresceu por entre livros, gibis e outros tipos de leituras, gosto incutido em si pela mãe desde a tenra idade. Da leitura à escrita foi um longo passo, e foi no ciclo secundário que começou a criar poesias. Aos 15 anos passou a conhecer melhor a ditadura brasileira e sofrer influência dos escritores e grandes festivais de músicas. Com 17 anos iniciou a aventura de escrever uma poesia, mas a noção de que lhe faltava vocabulário, conhecimento e vivência levaram-no a reconsiderar tal tarefa. Era ainda novo para tal empreendimento.&nb
Capítulo IO MISTÉRIO DAS MORTES NO POÇO FUNDO Pedro Beato começou a subir os degraus da igreja São Sebastião em Iguaracy, quando chegou ao último degrau, parou e olhou sobre o ombro para sua esquerda e avistou a “bodega do Vicente” ainda vazia. Vicente varria vagarosamente a calçada, a lentidão naquela manhã parecia ser cúmplice do dia que parecia longo. Pedro Beato desceu os degraus em direção à bodega, tirou o chapéu em feltro preto, segurou por sua aba e bateu em sua perna direita como se quisesse tirar algum resto de poeira do chapéu e de suas roupas, se aproximou de Vicente e o cumprimentou:&
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