Era uma tarde de inverno, quando Ricardo recebe a visita de Afonso e fica ciente de algo que colocava em risco toda aquela boa vida que usurparam a troco de violência e crime:
— Tenho novidades nada boas!
— De que se trata, parece nervoso?...
— Fernando me procurou para notificar a oficialização de um documento deixado por nossa irmã, onde declara todos os seus bens a seu único herdeiro direto
— Quem, o bastardo?
— Exatamente!
— Nem sabemos o paradeiro dele, que mal nos faria?
— Ela deixou um documento assinado nas mãos de um advogado que está acionando a justiça, pelo amor de Deus, você por acaso ainda está viajando no efeito das drogas que costuma usar? O caso é muito sério meu irmão!
— Claro que não! Acho um exagero de sua parte achar que com o poder que temos nas mãos temos que nos senti ameaçados com um assunto bobo desses! Verifique o preço deste documento e pague o que for preciso ao advogado, seja lá quem for, mas coloque uma pedra neste assunto!
— Mas que droga, não vê que já fiz isso?
Nem o advogado de Paula ou o Juiz responsável pelo caso aceitaram minhas propostas, estão mesmo decididos em localizar o pirralho e dá a ele os direitos declarados no testamento, ela o deu plenos poderes de nossos bens para ele antes de morrer! Esta revelação deixou Afonso enraivecido, explodindo em fúria:
— Está me dizendo que aquela louca e infeliz cometeu a insanidade de dar tudo o que nos pertence por direito àquele condenado, tornando-o um herdeiro direto de tudo o que temos?
— Sim, e pelo que fui informado, em poucos dias seremos convocados para a leitura oficial do testamento pelo juiz, o qual definirá a sentença
— Maldição! Temos de impedir isto o quanto antes!
— E como faremos?
— Parou de raciocinar? Entre em contato com nosso pessoal
— Está bem, farei isso!
Ricardo reuniu seus homens, eram matadores de aluguel que executavam suas ordens ao pé da letra, Afonso detalhou o propósito da reunião e especificou quais eram os alvos a serem eliminados.
O advogado Ricardo Santana e o juiz Visconde de Almeida, ambos responsáveis pelo caso. A ordem dada aos mercenários era de impedir a todo custo a leitura daquele testamento. Destruindo-o completamente antes que viesse à público a descoberta de sua existência. A missão se estenderia à procura incessante por Fabiano, localizar e matá-lo. Aquela ação passou a ser uma prioridade para os assassinos que em pouco tempo encontraram pistas seguras sobre a localização exata onde ele estava escondido, numa fazenda no município de Soure, na Ilha do Marajó.
Cujo acesso era possível apenas por pequenas embarcações. Deu-se início a operação criminosa, o advogado responsável por fazer publicamente a leitura do testamento deixado por Paula, foi executado a tiros. Morreu na presença da filha adolescente e da esposa. O magistrado que iria deferir a sentença foi morto à noite em sua casa, enquanto dormia.
As autoridades deram início a uma investigação que, como de costume, resultou em nada. A caçada à Fabiano começou naquela manhã de terça-feira, agora o que importava para seus inimigos era se livrar de toda ameaça e ele estava no topo da lista. Um grupo de homens armados ancoraram um barco às margens do rio que cercava a ilha e seguiram a pé em direção à fazenda.
Localizada há dois quilômetros dali. Berenice e o esposo estavam sentados à porta. Descendentes de índios e acostumados com o silêncio natural do lugar foi fácil notar que algo estava incomum. Os pássaros voavam assustados e até o vento soprava mais forte nas arvores, rapidamente correram para o interior do casarão e alertaram a Fabiano que seus inimigos se aproximavam rapidamente.
Após lhe dá alguns pertences, orientaram-no a sair depressa pelos fundos da propriedade e correr na direção norte, até chegar na reserva indígena dos Caiapós, onde diversas vezes esteve em visita com Berenice. Enquanto embrenhava-se na mata para fugir de seus perseguidores, testemunhou do alto da colina a chegada dos bandidos que se aproximavam da casa. Após terem mortos os demais funcionários da fazenda, invadiram a casa e arrastaram violentamente o casal para fora. Eles os espancavam para que revelassem o rumo certo que ele tinha seguido. Como não conseguiram intimidá-los a fornecer as informações que precisavam os mataram a tiros, os sons dos disparos foram ouvidos à distância.
Os Caiapós
A longa caminhada se deu através de um caminho já bem conhecido, desde cedo visitava a aldeia dos Caiapós e se familiarizou com os indígenas. Porém, não contava com aquela terrível tempestade que se formou logo após adentrar na mata, uma forte chuva começou a cair de repente, deixando o lugar alagado e escorregadio, poderia seguir pela estrada de chão, mas se tornaria uma presa fácil para seus inimigos.
O ideal seria prosseguir pela floresta e assim despistá-los. Passavam das três da tarde, há muitas horas em fuga, quando decidiu parar e descansar. Uma ventania balançava as arvores. Assustado e tremendo de frio adentrou numa caverna e lá aguardava o cessar do temporal. Enquanto o tempo ruim melhorava pouco a pouco, perdia-se meio as lembranças dos bons momentos que viveu ali, ao lado dos dois amigos que o acolheram. Chorou ao lembrar a forma como eles foram covardemente mortos diante de seus olhos, sem que pudesse livrá-los.
Da mesma maneira que o livraram tantas vezes da morte. Seria eternamente grato pelo sacrifício que fizeram por ele. Bem como jamais deixaria de agradecer em seu íntimo à Dona Paula, sua grande amiga e “mãe”, pela oportunidade que lhe deu de ser um novo homem e viver uma nova vida. Por preferir morrer meio a dolorosos martírios do que lhe entregar a seus inimigos. Entendia a imensa dívida que tinha com todos eles e o dever de vinga-los a todo custo.
Suspenso a tempestade que caiu de repente, seguiu a reserva. Seus inimigos também retomaram a perseguição, mais às escuras, pois desconheciam a região. Os Caiapós eram índios ferozes e pouco amigáveis, mas aceitariam sua permanência entre eles, pelo fato de considerá-lo neto do Cacique. Isso se dava porque Berenice era sua filha e o amava como um filho. Do alto de um monte estrategicamente colocado ali pela natureza, avistou as palhoças com as crianças brincando em torno delas. Eram todas feitas de palhas e formavam um grande círculo, o Pajé ficava no centro.
Ao chegar ali, de forma inesperada, logo despertou a curiosidade dos guerreiros que logo perceberam tratar-se de um eminente perigo, informados da perseguição armaram-se todos e ficaram em prontidão. Usando suas táticas de guerrilha escondiam-se nas arvores, com lanças e flechas. Além das armadilhas espalhadas por todo o lugar onde os inimigos certamente passariam.
E em pouco tempo avistaram inimigos que vinham apressadamente com suas armas de fogo, aproximando-se da reserva. Assim que a distância foi propícia passaram a disparar suas flechas e lanças em direção aos invasores, alguns deles tombaram ao chão diante do ataque repentino dos indígenas.
Enquanto o restante protegeu-se por detrás das rochas e responderam com disparos certeiros com armas de grosso calibre. Muitos guerreiros foram mortos naquela batalha, apesar da coragem que lhes eram típicas, não foram suficientes para deter as armas modernas que enfrentavam.
Encontrando-se na desvantagem recuaram e isto só aumentou a fúria dos adversários que saíram de seus esconderijos e invadiram a reserva com suas armas, tirando a vida de centenas de guerreiros, até mesmo os velhos, mulheres e crianças, todos foram cruelmente massacrados. Percebendo que seus defensores não eram páreos para impedir o avanço dos inimigos e vendo em volta todos eles sendo abatidos. Segurou firmemente nas mãos de maroly, sua amiga Caiapó de dez anos, filha do pajé Iapoqué, já morto no confronto.
Fugiu rumo as margens do rio na esperança de encontrar alguma embarcação. Algo que pudesse servir para socorrê-los da morte certa. Durante mais uma fuga desesperadora. Fabiano refletia sobre o mal que geralmente caia sobre todos que se ofereciam em ajudá-lo. Primeiro foi sua mãe adotiva quem foi assassinada pelos próprios irmãos, depois Berenice e o esposo, agora toda uma tribo de índios massacrada de forma impiedosa. Ainda bem que resgatou Maroly, se conseguisse sair dali com vida iria cuidar dela como uma irmã de sangue, dela jamais se apartaria.
Seus adversários, no entanto, eram mais poderosos e incansáveis na perseguição, principalmente pelo alto preço pago pelo serviço, e mesmo sem condições propícias para uma boa caçada eles prosseguiam nas buscas. Continuavam contando com a sorte e a alta experiência que possuíam em perseguir suas vítimas.
A chuva que caiu no decorrer da tarde deixou tudo alagado, o lamaçal tomava conta de todas as partes do lugar e os dois amigos tiveram que enfrentar toda aquela gama de lamas. Insetos e o risco de se deparar com algum animal feroz dentro da mata que os devorassem. Mas a vontade de ficar cada vez distante dos adversários e o desejo de sobrevivência lhes davam forças para continuar, durante toda a madrugada.
Sorte que Maroly era forte, acostumada com a situação, vivia correndo pela floresta desde de bem pequena. Ela conhecia como ninguém toda a ilha. E era ela que indicava a direção a ser seguida até as margens do rio. Escolhendo sempre a melhor rota de chegar ao destino antes dos perseguidores.
Depois de várias horas embrenhados naquela densa floresta, chegaram no local pretendido. Ao longe avistaram o barco que transportou os mercenários e se aproximaram sem que fossem notados pelo capitão do barco que aguardava seus passageiros. Armando-se de um pedaço de madeira, Fabiano subiu a bordo do barco e surpreendeu o homem, desmaiando o indivíduo, acertando-lhe certeiramente a nuca com intensa força. Em seguida, depois de jogá-lo para fora, deu partida rumo ao meio do rio, deixando para trás seus inimigos. E, estes, de imediato ouviram o barulho do motor.
Eles imaginaram que o timoneiro havia desistido da longa espera ou mesmo que os dois fugitivos tivessem conseguido escapar usando o barco no qual tinham tido acesso a ilha. A segunda hipótese estava certa, os dois sobreviveram ao ataque que quase culminou com suas vidas, fugindo naquela embarcação, sorte que Berenice o havia ensinado a pilotar antes de sua trágica morte.
Mas tiveram que aguardar por cinco horas, às margens do rio Guajará, até que um navio passasse e lhes resgatasse, visto que tiveram medo de seguir viagem em direção a cidade mais próxima. E serem apanhados por outros comparsas de Afonso e Ricardo, que certamente estariam no cais a sua espera. O capitão ouviu a história dos dois sobreviventes e se comoveu bastante com o relato a respeito de tudo que passaram, assim que chegaram no porto quis procurar as autoridades.
Mas foi impedido por Fabiano que o advertiu sobre o risco de ser entregue a seus inimigos por corruptos existentes dentro da polícia. Sem ter onde ficar foram conduzidos a casa do capitão, onde foram bem aceitos e lá permaneceram. Quanto aos criminosos, regressaram para Belém depois de dominarem um barco pesqueiro. O Plano Parecia que o antigo menino de rua tinha mesmo a sorte de ser ajudado por estranhos que se afeiçoavam dele, foi assim com os feirantes do Ver-O-Peso e com Dona Paula que o adotou.
Agora uma nova família o amparava e não mediria esforços para ajudá-lo a tomar posse daquela herança que lhe pertencia por direito. O capitão Eduardo voltou a realizar suas viagens de pescas e lhes deixou aos cuidados de sua mulher, que os via de bom grado. O filho mais velho do casal chamava-se Luís Antônio, que teve enorme afeição pelo novo amigo e vivia a maior parte do tempo a seu lado.
Como advogado se colocou à disposição para defendê-lo se o caso viesse a ser levado aos tribunais. Mais Fabiano sabia que seria preciso mais que isto para derrotar seus adversários, pois tratava-se de pessoas extremamente poderosas e perigosas. Os dois amigos decidiram usar de estratégia.
Passaram a tramar algo para tentar infiltrar um informante nas indústrias no intuito de colher mais informações que lhes permitissem saber a melhor hora de agir. E foi aí que Luís tomou a arriscada decisão de ser admitido no setor jurídico, enviando seu invejável currículo. Tinha na certeza de que seria aceito.
Convocado logo em seguida para uma entrevista, o jovem advogado foi de imediato aceito no quadro de funcionários das indústrias e encaminhado ao setor jurídico daquela imensa corporação. Com seu currículo cheio de boas referências foi fácil conseguir uma oportunidade de trabalho, passou a ser o braço direito de Afonso e Sofia, com quem começou uma profunda amizade. E em pouquíssimo tempo ficou informado de todos os detalhes precisos sobre seus novos patrões e começou a traçar um plano para ajudar Fabiano entrar em cena.
Certa noite, quando ele e Sofia jantavam juntos, passaram a falar sobre a história da moça e tudo que os Braga teriam feito contra seu pai. Citando ao amigo detalhes importantes sobre a origem da fortuna adquirida pela família mais poderosa do Pará. Luís Antônio percebeu a expressão de revolta na forma amarga e triste dela mencionar os fatos e concluiu que aquela poderia ser a oportunidade que esperava para agir. Então revelou a ela os verdadeiros motivos que o levaram a trabalhar ali e toda a injustiça cometida pelos patrões.
Depois de ouvir atentamente a narrativa do novo amigo, Sofia demonstrou interesse em participar do plano e se prontificou em ir conhecer Fabiano. Queria confirmar dele mesmo toda a história. No domingo, pela manhã, os três amigos reuniram-se num sobrado e ali passaram a discutir sobre o plano a ser colocado em prática para que seus inimigos fossem punidos. Ficou certo de que deveriam ser astutos e elaborar um plano para incriminar os dois irmãos diante da justiça.
Porém deveriam juntar provas concretas contra eles, obrigando-os a cometer algum erro, como tomar uma atitude precipitada, que os deixassem sem saída. Sofia decidiu ser a “isca do anzol” que serviria para “fisgar” o ambicioso Afonso e permitir que todo o plano traçado desse certo. Iria confrontá-lo diretamente pelos direitos que alegaria possuir em nome de seu pai. Esta atitude da moça lhe surpreenderia. Já que não esperava que a mesma dispusesse de tamanha coragem em confrontá-lo, isto sem dúvida o deixaria irritado e o levaria a tomar medidas extremas a seu respeito:
— Mas isto é muito ariscado, Sofia! Aquele maldito assassino não hesitou tirar a vida da própria irmã, quanto mais poderá fazer com você, minha amiga?
— Sei o quanto será arriscado confrontar-me com um homem tão poderoso, meus amigos, mas foi para isto que aceitei trabalhar naquelas fábricas, sempre tive o intuito de cobrar dos Braga pela forma covarde como trataram meu pai e agora chegou o tempo certo de começar a colocar em evidência meus verdadeiros objetivos. Estive aguardando este momento por dez longos anos e nada me impedirá de fazer o que deseja meu coração.
— Entendemos sua sede de vingança, mas teremos de planejar tudo observando todos os detalhes deste plano e levando em conta seus possíveis riscos, para evitarmos erros que levem você ou qualquer um de nós a cometer qualquer deslize e perder a vida nesta investida. Sabemos com quem estaremos lidando, são assassinos e não hesitarão em nos tirar de seus caminhos
— Sou obrigado a concordar com você, mas devo confessar que Sofia tem razões em querer punir aqueles miseráveis, não podemos permitir que eles continuem usufruindo de uma mordomia adquirida a custo de sangue inocente!
São uns canalhas sem escrúpulos. O que devemos fazer é preparar todo um esquema que deixe Sofia protegida, em caso de uma suposta investida
— Está bem, então vamos dá início a este arriscado plano, espero mais tarde não ter que chorar a perda de um de vocês!
Eles se abraçaram de forma carinhosa e deram continuidade ao que estavam planejando, confiantes que tudo daria certo. Na semana seguinte Sofia preparou-se e adentrou corajosamente a sala do presidente das indústrias Braga, de cabeça erguida e decidida a enfrenta-lo com toda a ira guardada em seu coração. Ela sabia dos riscos que correria desde aquele instante, mesmo assim deu início ao plano que destruiria o império criminoso:
— Bom dia, desculpe-me entrar em sua sala sem antes ser anunciada, não culpe sua secretária, a intromissão foi mesmo minha!
— Muito bem, minha jovem, em que posso lhe ser útil?
Observou aquele homem com ar irônico, de cabelos grisalhos, aparentando uns quarenta anos, quando na verdade possuía bem mais, e após sentar-se na cadeira propositalmente colocada de frente para sua mesa, fitou o olhar nele e passou a lhe falar a razão de se fazer presente ali naquela manhã de segunda-feira:
— Peço toda sua atenção para o que passarei a lhe falar neste momento: Como sabe sou a filha única de um ex sócio e fundador desta Empresa, à quem de maneira covarde foi lesado por seu pai. Que, segundo sei, retirou dele o direito sobre metade das ações desta companhia, restando para mim apenas míseros dois por cento dos quais tem sido pouco suficiente para manter seu tratamento desde que entrou em profunda depressão, devido tudo o que lhe aconteceu.
Hoje vim aqui para rever junto ao Sr e seus demais sócios uma reavaliação de meus direitos, desejo pedi que os senhores devolvam aquilo que seu pai tirou de minha família.
— Me pede assim, do nada? Minha querida e inocente Sofia, o que à leva pensar que daremos qualquer importância às suas exigências pessoais? — E com a seriedade de quem pretendia alertá-la do perigo que corria ao confrontá-lo, ele à ameaça: — Preste atenção, menina, não me permitirei ser pressionado por uma inútil como você! Nos negócios, bem como em tudo que está relacionado à dinheiro e poder, vence quem for mais esperto e foi exatamente isto que aconteceu entre nossos pais, o meu superou as expectativas do seu e saiu vencedor!
— Discordo de seu ponto de vista, o que sua família fez com a minha foi roubar descaradamente o que era nosso por direito! — Sofia aproxima-se mais da mesa que à mantinha separada dele e num tom de ameaças o desafia: — Os senhores devolverão metade das ações que se apoderaram indevidamente de meu pai, pois tenho um trunfo nas mãos que pode comprometê-los seriamente!
Afonso ergueu-se da cadeira e exclamou irado com a revelação feita pela sócia minoritária: — Você por acaso está me ameaçando, mocinha? Tem noção do risco que é me confrontar?
Ela sorri com ironia e encosta seu rosto bem próximo ao dele e acrescenta:— Não é apenas uma ameaça é uma certeza! Sei tudo a respeito do crime cometido por vocês contra Dona Paula, a perseguição feita recentemente à Fabiano que se encontrava escondido com seus tutores na Ilha do Marajó e como seus pistoleiros mataram aquele casal sem piedade numa fazenda naquela ilha!
Ah, sem esquecer o massacre que seus homens fizeram numa aldeia Caiapós, onde foram barbaramente assassinados dezenas de indígenas, entre eles idosos, mulheres e crianças! Ao ouvi as declarações de Sofia, voltou a acomodar-se calmamente, mantendo aquele olhar ameaçador calou-se por alguns segundos, depois relutou:
— Suas acusações são fúteis, não tem como provar nada, todos verão que isto é um grande absurdo!
— Engana-se, meu caro Afonso, como disse tenho provas concretas para apresentar ao ministério público e você sabe que apesar da maioria estarem sujeitos a subornos, existem também os que desejam muito poder provar o envolvimento dos senhores nestes crimes e colocá-los atrás das grades!
— Com esta atitude acabou de selar seu destino, não seremos piedosos com você!
— Está admitindo que sempre responde as ameaças de seus opositores tirando-lhes a vida?
— Pense o que quiser! Agora retire-se de minha sala e repense na sua posição diante deste assunto, pois qualquer ação que nos comprometa à colocará literalmente em perigo, saiba que ninguém chantageia impunemente um Braga, minha jovem!
— Não pense que suas ameaças me intimidam, eu é que lhe aconselho a repensar em minha proposta, devolvam-me o que roubaram e esquecerei tudo o que sei a respeito, caso contrário declararei à imprensa e a justiça todos os seus crimes!
Concluiu a tensa conversa, dirigindo-se em seguida à sala de Luís Antônio e lhe deixou a par de tudo o que aconteceu. E retornou imediatamente a seu escritório antes de ser notada pelos demais funcionários. Á noite os três amigos voltaram a se reunir no sobrado e traçaram o próximo passo a ser dado. A maior preocupação dos dois era que ela viesse a sofrer algum tipo de atentado por parte dos homens que trabalhavam para os Braga, os mesmos que perseguiram Fabiano na ilha e mataram seus amigos Caiapós.
Mas a moça era mesmo valente e disposta a continuar enfrentando seus adversários, mesmo que isto significasse correr riscos de vida. Destemida, se dispôs a enfrentar com garra o voraz inimigo. Tentativa De Homicídio O final de semana foi cansativo com tantos documentos para avaliar e na segunda-feira já chegou no escritório ordenando que sua secretária solicitasse a presença de Sofia a sua sala, o que ela fez de imediato, acreditando ser a decisão final que ele teria tomado sobre a última conversa que tiveram:
— Bom dia, Afonso, me chamou?
— Você fez ameaças e propôs suas condições, pois bem, agora é minha vez de expor minha posição diante deste assunto: Minha proposta para que tudo isto se resolva de forma amigável entre nós é que você estipule um valor em dinheiro que a satisfaça e desista desta loucura toda! Fale quanto quer e autorizo o pagamento o mais breve possível.
Ela permanece em silencio, fitando-o com um olhar aborrecido, e esclarece: — Acho que você ainda não se deu conta de quem toma as decisões aqui, sou eu quem possuo seus pés em minhas mãos e, portanto, quem dá as cartas neste jogo. Não estou interessada em migalhas!
Quero tudo o que Gustavo Braga roubou de meu pai! Quero de volta aquilo que me pertence por direito, a herança que deveria ter sido deixada para mim por meu pai e que foi usurpado por vocês, isto ou não haverá acordo entre nós. Afonso percebeu que Sofia falava mesmo sério e que nada mudaria sua forma de pensar, então teve que agir com mais tenacidade para convencê-la a entender que correria riscos, que deveria desistir em insistir com aquele plano:
— Sabe muito bem onde está se metendo? Compreende que não vai colocar a mim nem meus irmãos numa parede, exigindo direitos perdidos há muito tempo atrás, sem se machucar?
— Sim, estou ciente dos riscos, afinal, não se desafia poderosos sem queimar um pouco a pele, mas o preço a ser pago será compensado com os resultados!
— Muito bem, seja como quiser! Se pretende mesmo levar essa loucura à diante convoque a imprensa, denuncie, faça como achar melhor. Mas saiba que não irei ceder aos seus caprichos!
— Então esta é sua resposta final? Tudo bem, que assim seja!
Finalizou, retirando-se do local. Ao sair deixou um ar de quem a partir daquele instante colocaria em prática seus propósitos contra seus oponentes.
Ele também se dirigiu a sala ao lado, pretendia relatar o ocorrido ao irmão, quem ainda não havia colocado a par da situação por saber que suas técnicas para resolver este tipo de assunto é sempre da pior forma possível e queria evitar mais assassinatos:
— Bom dia, Ricardo, terríveis novidades!
— O que foi desta vez?
— Estamos bem encrencados, meu irmão, é isto!
— Vamos direto ao ponto, Afonso, deixe de mistérios!
— Trata-se de Sofia, ela ameaça fazer ainda hoje declarações sobre nós à imprensa!
— Como assim, o que essa infeliz sabe sobre nós?
— Sabe de tudo e ameaça revelar se devolvermos a ela a parte das ações que alega ter nosso pai usurpado de sua família
Ricardo bate fortemente sobre sua mesa e fica alterado com a notícia: — Mas que droga, Afonso! Será que apenas eu tenho coragem o suficiente para deter estas ameaças que surgem em nosso caminho? Até parece que somente eu herdei o sangue de nosso pai! Mas pode deixar, eu mesmo darei um jeito nessa imbecil, ao meu modo, entendeu
— Era exatamente isto que eu queria evitar, Ricardo, você só resolve as coisas com violência, chega de tantas mortes!
— Covarde, se não fosse minha maneira de agir você não estaria sentado na cadeira da presidência desta Empresa! Ao invés de criticar meus métodos me agradeça pelo que tenho feito! Tomarei as devidas providências da forma correta e não interfira, este problema deixará de existir em breve!
Se aproximava do meio dia, quando foi notificado de uma coletiva de imprensa as quinze horas, no auditório.
Onde Sofia pretendia fazer suas revelações aos jornalistas sobre um sério escândalo envolvendo os Braga. Apreensivo, dirigiu-se a sala de Ricardo para saber quais medidas tomaria:
— Já está ciente da coletiva que Sofia pretende fazer com a imprensa?
— Sim, mas não se preocupe, já tomei as devidas providências para que ela não retorne depois da hora do almoço para esta coletiva!
— E o que pretende fazer, cometer outro crime?
— Calar o quanto antes esta miserável, é a única saída!
— Um verdadeiro líder deve saber a hora de agir com mais tenacidade! Esqueceu, por acaso, a posição que ocupa e o que nos acontecerá se ela levar à público o que fizemos?
— Certo, faça como quiser!
— Não é como eu queira, é como deve ser
Naquela tarde, quando retornava para o escritório, foi seguida de perto por outro veículo que propositalmente atravessou sua frente, forçando-a numa manobra brusca para a lateral da estrada e seu carro foi arremessado para um abismo as margens da rodovia. A reunião havia sido marcada para as quinze horas e todos da imprensa já se faziam presentes e ansiosos pelas novidades que seriam feitas em detalhes pela jovem advogada, naquela tarde. Mas, depois de tanto esperar chega a notícia do terrível acidente ocorrido horas atrás com Sofia, e ao invés do grande escândalo foi noticiado a trágica notícia envolvendo uma das sócias do Grupo Braga.
A Nova Aliada
Cientes do ocorrido com a amiga, Fabiano e Luís Antônio seguiram imediatamente ao hospital em que ela foi internada e constataram o que temiam, que seu estado de saúde era muito grave. Preocupados com o que poderia acontecer de mais grave com a amiga, foi solicitado mais segurança no local. Alegavam ser aquele acidente um atentado contra a advogada que pretendia fazer sérias revelações à imprensa, falar a respeito de escândalos envolvendo pessoas de alto poder social.
O juiz acatou a solicitação de proteção à testemunha e a guarda armada foi montada por vinte quatro horas, enquanto Sofia passava por cirurgias e tudo era feito para que logo se recuperasse, os dois amigos decidiram procurar a família de Fernando Marques. O então advogado de Dona Paula, morto pelos cruéis homens de Ricardo, quando decidiu requerer os direitos de Fabiano como herdeiro legitimo de sua cliente, como ela havia recomendado antes de sua morte.
Ao conhecerem a promotora de justiça, Poliana Marques ficou ciente de sua intenção em reabrir o processo sobre o crime de seu pai. E o interesse em desmascarar os mandantes daquele bárbaro crime. Sentindo-se mais confiante aliaram-se a ela para juntos colocarem fim àquela terrível violência. Poliana era íntima de Ioná Santiago, uma respeitadíssima juíza que atuava na Corte.
Local onde todos os crimes estavam sendo julgados. Além do que ela havia sido sua professora e amiga no curso de Direito na faculdade. E a amizade entre as duas era sólida. Com esta nova arma à seu favor, Fabiano sentiu que, pela primeira vez, existia uma forte esperança de derrotar seus inimigos e vingar o mal que cometeram contra à quem aprendeu a amar como se fosse sua verdadeira mãe.
Sempre agindo dentro da lei e sem usar as mesmas armas de injustiças que eles normalmente usavam para destruir quem cruzava seus caminhos, uma pesquisa se fez nas documentações de Fernando, guardadas em seus arquivos pessoais, cuja combinação deixou para sua filha, apesar de até aquele momento ela ainda não ter lido. Nelas foram encontradas várias anotações feitas entre o advogado e sua cliente, detalhando até os assuntos abordados entre ambos.
E as confidências trocadas pelos dois amigos que se conheciam desde o colegial e, como tudo indicava, já haviam sido amantes no passado. Nas anotações num diário antigo Paula confessava ao amigo toda a trama contra sua vida. Como que seus três irmãos, cheios de inveja e ira, a ameaçavam. Eram constantes as ameaças de morte, pois nunca aceitaram o fato de ter sido ela escolhida para suceder o pai na presidência das indústrias.
Em outras anotações o advogado declarava que Ana requeria dele que se algo de mal lhe acontecesse localizasse de imediato Fabiano. Em seguida apresentasse à justiça a documentação que o colocava como seu único herdeiro direto, passando para o mesmo toda a autonomia sobre seus bens, assim como o direito de assumir a presidência, como sócio majoritário, nas mesmas anotações ele também afirmava que sua cliente o alertou diversas vezes do risco de vir a ser mais uma vítima de seus irmãos.
que eles tinham por hábito eliminar seus adversários. Com todas estas provas nas mãos, o testemunho de Fabiano sobre as perseguições sofridas na Ilha e o assassinato de seus tutores, assim como a chacina dos indígenas. Já tinham respaldo mais que suficiente para pedir a reabertura dos processos. E foi exatamente isto que a promotora e o Advogado decidiram fazer, numa reunião formal com Ioná, os defensores públicos apresentaram a magistrada todos os documentos e indícios que apontavam os dois como mandantes dos crimes.
Depois de ficar conhecedora da terrível estória, envolvendo Fabiano e seus inimigos, além da chacina ocorrida no Marajó sobre a tribo dos Caiapós, a juíza decidiu intimar imediatamente os três acusados para uma audiência, nela ocorreria uma acareação entre ele e seus acusadores. Ao serem intimados reuniram-se para tentar entender o que estava acontecendo, porque até aquele momento ainda não tinham conhecimento da presença de Fabiano nem a respeito da ação movida contra eles no Tribunal, estavam tranquilos por saber que Sofia permanecia em coma e sem condições de lhes denunciar.
E que Fabiano estaria morto. Assim receberam a intimação e confusos ali compareceram acompanhados por seus advogados. Após todos se fazerem presentes naquela reunião os três irmãos e seus advogados estavam bastante preocupados, estranhavam a presença de Luís Antônio ali, sendo ele membro do corpo jurídico de suas indústrias e Fabiano, quem pensavam estar morto, já que ainda não tinham conhecimento de quem seria Poliana.
Somente depois de ser iniciada a reunião é que eles compreenderam a gravidade da situação e que teriam sido descobertos perante a lei, a primeira a ser ouvida foi a única filha do advogado de Paula, o mesmo que foi morto ao tentar requerer os direitos de herança de Fabiano. Ela apresentou todas as provas que apontavam os irmãos Braga como mandantes do assassinato de seu pai e das demais vítimas, em seguida Fabiano se identifica, deixa os três desesperados ao perceber que iriam ter que se confrontar diretamente com aquele que sabia tudo sobre seus crimes, pois haviam sido enganados por seus homens.
Recebendo deles a informação de que a missão teria sido um sucesso e Fabiano estaria morto, temeram ao vê-lo contar em detalhes a perseguição sofrida na ilha pelos pistoleiros, apontando o líder deles como guarda-costas pessoal de Ricardo. O massacre dos Caiapós, a sobrevivente Maroly, a morte bárbara de Berenice e o ódio que Afonso sempre demonstrou sentir por ele e os constantes desentendimentos entre ele e sua mãe adotiva, isso tudo foi amplamente enfatizado em sua narração.
Luís Antônio se apresentou como advogado de defesa e mostrou as anotações de Fernando, onde declarava que sua cliente confirmou ter sido muitas vezes ameaçada pelos irmãos, inconformados. Também testemunhou que seu pai, foi quem resgatou Fabiano e sua amiga num barco no rio Guajará. Acolhendo-os em sua casa, a morte de um jornalista bastante renomado poucos dias depois de mover uma ação judicial contra Ricardo.
Quando este o ameaçou de morte por ter lhe feito críticas. Finalizou seu discurso, evidenciando a tentativa de homicídio contra Sofia. Exatamente no mesmo dia em que ela pretendia fazer revelações à imprensa, envolvendo os três irmãos. Finalizada as declarações iniciais, deu-se à palavra aos acusados, que prontamente defenderam-se descaradamente das acusações, alegando total inocência.
Respaldados por seus advogados, sempre tentando provar que seus clientes nada tinham a ver com tais crimes. Como a audiência não era oficial, mas apenas de acareação os supostos réus foram liberados e o ocorrido permaneceu em segredo de justiça, a imprensa não foi notificada sobre o episódio. Ricardo Braga sempre foi o mais exaltado dos três irmãos e também o que cometeu mais crimes. Naquela manhã, após sair do Tribunal.
Decidiu por sua própria conta e risco enviar seus homens ao hospital dos acidentados para executar de vez por todas sua ex-funcionária. Ela que ali se recuperava do grave acidente sofrido durante o primeiro atentado. Diante das suspeitas levantadas contra ele e seus irmãos, se Sofia declarasse em juízo o que sabia eles não teriam a menor chance. Enquanto os criminosos eram orientados sobre como, quando e onde executarem a nova missão, Sofia, que já se encontrava fora da UTI e passava bem.
Pediu a enfermeira Luzia que lhe transferisse para o andar superior sem que ninguém percebesse. Pois temia que seus inimigos voltassem a atentar novamente contra sua vida. Assim se fez e ela foi removida para o terceiro pavimento do hospital. Ali somente sua enfermeira sabia o local, a intuição da paciente não foi em vão, pois logo no início da noite dois homens adentraram a ala medica onde ela se encontrava anteriormente e sem hesitação atiraram várias vezes contra a cama, acreditando que ainda estaria ali.
Mas não passava de travesseiros propositalmente deixados lá para enganá-los. Logo cedo a enfermeira visitou o local e comprovou que alguém havia atentado contra a vida de Sofia e lhe informou do ocorrido e em seguida ela pediu que seus amigos fossem avisados. Então lhes foi repassado a informação de posse da nova arma de acusação contra os Braga.
Poliana e Luís Antônio se encarregaram de deixar a juíza responsável pelo caso ciente de tudo. O delegado Floriano Peixoto foi incumbido de investigar o ocorrido, sabiam que Demétrius era dado a muita bebida e mulheres, então enviaram uma investigadora de polícia, bastante interessante. Foi enviada na missão de conquistar o paquerador.
Para, assim, tentar descobrir algo sobre o que ocorreu no hospital e tudo o mais que os incriminassem. A policial conseguiu seduzir facilmente o desapercebido “garanhão”. Que em pouco tempo já à convidou para conhecer sua suíte no edifício Avenida, listado como um dos mais sofisticados da cidade, durante o encontro na sua luxuosa cobertura, os dois beberam bastante.
E, quando ele já se encontrava totalmente embriagado e excitado ao vê-la nua, passou a lhe fazer carícias lhe perguntando sobre suas façanhas. Indagava sobre alguma estória impressionante que lhe contasse, além da conhecida vida de playboy que sempre viveu meio a tanta luxúria.
Usando de suas habilidades femininas, fez com que ele se exaltasse e começasse a falar das proezas que ele e seus irmãos fizeram no passado, quando o sol ainda nem despontava no alvorecer, Demétrius despertou sozinho em sua cama, meio confuso, ciente de que havia passado à noite com uma desconhecida, apesar dela não está ali. As gravações com as declarações dele, gravadas através de um minúsculo gravador portátil.
Propositalmente guardado pela agente enquanto ele teria ficado ausente, onde afirmava que Ricardo foi o mandante de todos os crimes ocorridos nos últimos anos na cidade de Belém, e que eles só se mantinham livres de qualquer suspeita pela influência.
Afirmou que as autoridades envolvidas nos casos recebiam propinas, citando nomes de pessoas importantes como do comissário Batista, que fazia vistas grossas para as maldades por eles cometidas. Foram apresentadas à Ioná e a juíza, após ouvi-las, decretou a prisão imediata dos três acusados e solicitou a urgente exoneração e prisão do delegado.
Afonso e Ricardo foram avisados por suas secretárias que haviam vários policiais adentrando o prédio, sem entender nada permaneceram apreensivos, aguardando a abordagem dos mesmos. O Delegado responsável pela execução da ordem de prisão expelida pela justiça agiu, foi até as Empresas Braga e ao entrar na sala do presidente deu ordem de prisão a ele e seu vice.
Empunhando o ofício que lhe dava plenos poderes para conduzi-los sob custódia à delegacia, onde aguardariam o dia do julgamento, que se daria tão logo que a data fosse firmada pelo poder público. Uma grande multidão se aglomerou diante da fábrica, o escândalo foi noticiado em todos os meios de comunicação, aquele julgamento tão importante era aguardado com ansiedade por toda a sociedade. Na cadeia, eles se acusavam e Ricardo apontava Demétrius como o culpado pela revelação de seus crimes:
— Seu bêbado infeliz, por sua culpa estamos nesta situação, vou te matar como fiz com todos os outros!
— Sim, pois é só isto que sabe fazer, tirar a vida das pessoas que atravessam no seu caminho! Por sua culpa é que estamos encrencados, você é o verdadeiro assassino e não nós!
— Vocês dois, por favor calem-se! Estão loucos? Se alguém ouvir o que estão falando seremos declarados culpados pelo que fizemos, fiquem calados, pelo amor de Deus!
— Fale isto apenas a Ricardo, Afonso, afinal foi ele quem mandou matar todas estas pessoas, até nossa irmã, agora eu e você também vamos sofrer os efeitos do mal que ele fez!
— Tudo que fiz foi para que hoje tivéssemos a boa vida que temos, sem isto Afonso jamais ocuparia a presidência e você não viveria esnobando com as prostitutas! Sem mim vocês não seriam nada!
— Pois era preferível continuar sendo nada a ter que apodrecer numa prisão!
— Calem-se, querem, por acaso, complicar mais ainda nossa situação neste lugar?
A angústia tomou conta daqueles que até pouco tempo eram considerados poderosos. Seus advogados faziam todo o possível para livrá-los das acusações, mas as declarações do playboy e todas as provas contra eles os colocavam em uma situação complicada. Sem a menor sombra de dívidas as palavras daqueles idiotas complicariam ainda mais suas já amaldiçoadas vidas, naquele momento crucial. Além do que agora havia o recente testemunho da enfermeira sobre o atentado contra Sofia logo após os suspeitos haverem sido interrogados.
Em todos os noticiários não se comentavam outro assunto, a suspeita de que eles tivessem ligação direta com a morte da própria irmã. E também dos demais deixou o público presente sedentos de que a justiça fosse feita. Vários protestos, passeatas em nome da paz e cobranças da população para que os culpados pagassem por seus crimes foram feitos diariamente em frente ao Tribunal. Importantes jornalistas paraenses, entre eles David Conrado e Vinícius Prado.
Ambos proprietários do Jornal Gazeta. Eles decidiram unir-se aos jovens, dando-lhes apoio por meio dos veículos de comunicação, incitando mais ainda a revolta popular. Ao perceberem que "a casa havia caído", os mercenários fugiram, livrando-se de qualquer envolvimento no crime.
O Julgamento
A cidade de Belém do Pará se transformou numa verdadeira confusão, toda a sociedade mobilizada em prol da causa dos "Jovens Justiceiros", exigindo severa punição, que fosse feita a justiça sobre os culpados pela morte de inocentes, pessoas como Paula Braga, que era admirada por sua compaixão pelos mais necessitados, ela mantinha grande aproximação com o lado mais carente da sociedade, criou orfanatos, investiu recursos em hospitais.
Abriu postos de saúde e iniciou um programa de amparo aos idosos e crianças de rua. Além do atendimento especial para as gestantes das famílias de baixa renda, algo que lhes dava direito ao acompanhamento médico gratuito. Do início da gravidez até o nascimento do bebê, tudo com imediato atendimento em hospitais e clinicas particulares de excelente qualidade. com todos os recursos da medicina disponíveis, na realidade, Paula pretendia candidatar-se à vereadora no ano seguinte ao de seu assassinato.
Ela defendia o partido de oposição ao atual governo e muitos acreditavam que sua morte poderia ter sido por causa de rixas políticas, mas, com as revelações feitas nas últimas semanas a ideia de crime político foram descartadas e mudou-se completamente o cenário, dia da audiência se aproximava e a imprensa de todo o país se mobilizou para conseguir as melhores manchetes.
Que davam destaque ao assunto, aquela terça-feira ensolarada dentro do Tribunal de Justiça, grande quantidade de pessoas lotavam os assentos para participarem. Todos queriam assistir o maior julgamento já realizado naquele lugar, desde sua fundação. Em frente à delegacia de polícia inúmeros repórteres de várias partes do país.
Além deles havia uma multidão de curiosos acompanhavam o momento em que os três réus seriam levados por uma escolta armada até o local de julgamento. As imagens dos Braga, saindo algemados da cadeia em que se encontravam detidos a mais de uma semana. Por ordem judicial, foram divulgadas em rede nacional e a confirmação antecipada de que eles eram de fato os mandantes dos crimes hediondos pelos quais estariam sendo julgados.
Deixavam as pessoas cada vez mais desejosas de vê-los pagando um alto preço pela maldade que fizeram. Ao chegarem no local da audiência foram recebidos pelos populares com enorme indignação, gritos eram entoados por todos e se fez necessário a intervenção policial para acalmar os ânimos. Deu-se início ao julgamento, Fabiano e os amigos que decidiram apoiá-lo naquela causa estavam juntos, aguardando para a convocação no interrogatório
Acusações ali citadas. Poliana e Luís Antônio não puderam advogar o caso nesta ocasião por serem parentes próximos das vítimas e diretamente ligadas ao caso, sendo filha de uma das pessoas supostamente assassinadas pelos acusados e ele o melhor amigo de Fabiano, tiveram que passar a defesa para o Ministério Público. Os réus foram interrogados cada um por sua vez, sempre negando as acusações proferidas e se dizendo inocentes das culpas lançadas sobre eles.
Todos ouviam em silêncio os testemunhos relatados pelas vítimas. Fabiano contou toda sua história, desde seu encontro com Paula Braga até sua adoção como filho e herdeiro. Sua fuga para a Ilha do Marajó com Berenice logo depois de sua mãe adotiva ter sido morta. Relatou em detalhes a chegada dos mercenários à fazenda onde se escondia a alguns anos. Incentivado por Paula Braga antes de seu assassinato.
O bárbaro assassinato de seus amigos, a perseguição sofrida durante o escape pela mata, a corrida desesperada em direção à reserva indígena dos Caiapós. O massacre sofrido por eles ao tentar protegê-lo. Maroly foi ouvida enquanto descrevia os momentos de angústia e desespero vividos naquela noite em que viu seus pais, irmãos e toda a sua tribo sendo assassinados.
Mortos sem a menor chance de defesa e de forma impiedosa. A forma como escaparam e o resgate feito por um barco pesqueiro que os levaram à família do advogado Luís Antônio, que os acolhera. Depois de ouvir todas as declarações expostas pela acusação, ouvir o testemunho das vítimas, o Júri entrou em recesso.
Iria analisar o caso em questão e decidir pelo destino dos culpados. A audiência durou cerca de quatro horas e no final tiveram que aguardar mais uma hora para a leitura do veredicto. Após o recesso todos retornaram ao local de julgamento e o oficial responsável em anunciar a decisão dos jurados entregou à juíza um documento, que depois de ler devolveu ao mesmo, e então foi anunciado a decisão final do júri sobre aquele caso:
― Convidamos aos réus e vítimas, juntamente com seus advogados, que fiquem de pé para ouvirem a sentença que será proferida por esta Corte:
“Depois de ouvir e analisar cada declaração aqui feita, por ambas ás partes, réus e vítimas, este Júri decide pela imediata condenação dos acusados, mediante as provas apresentadas e pela veracidade dos fatos que não deixam dúvidas quanto ao envolvimento direto dos réus nos crimes citados e julgados por este tribunal., aos três acusados, sócios e proprietários das indústrias Braga, pela forma cruel como executaram suas vítimas sem lhes permitir qualquer chance de defesa.
Considerando massacre contra a reserva dos índios Caiapós e a maneira como infligiram a lei deste Estado e País... Este corpo de jurados condena os réus aqui citados. A pena será de trinta anos de prisão em regime fechado, sem direitos a visitas ou qualquer outro benefício, tão pouco seus advogados poderão recorrer da sentença aqui proferida!
“A juíza concluiu que se cumprisse o que determinava a lei. No mesmo instante os condenados foram levados sob custódia para o Presídio São José, uma das mais temidas casas de detenção do país por guardar em suas celas criminosos da mais alta periculosidade. Uma multidão seguia de perto a viatura que conduzia os três elementos para a casa de detenção.
Em todo o Brasil pessoas pararam com seus afazeres para acompanhar pelo rádio ou na televisão o ocorrido. Era a notícia do momento, os homens mais poderosos do meio empresarial brasileiro descendo da alta posição que ocupavam, porque se tornaram réus pelo assassinato de Paula Braga e foram, por isso, condenados.
Viveriam o resto de suas vidas ao lado de indivíduos considerados a escória da sociedade, com quem eles teriam agora de conviver até o fim de seus dias. Não houve tempo para despedidas com alguns amigos que porventura ainda existissem, pois com todo aquele escândalo seria quase impossível contar com a amizades, pois na alta sociedade todos viram as costas para alguém que declina de sua posição social, voltando a pobreza ou perdendo seus valores.
Ao chegarem na carceragem, onde permaneceriam presos pelo restante de seus dias, pagando seus débitos com a sociedade, o clima lá dentro não era dos melhores, havia indícios de uma possível rebelião por parte dos presos insatisfeitos com a superlotação nas celas e pelas severas penas a que eram expostos naquele lugar, sem que autoridades tomassem qualquer providencia à este respeito. Por possuírem formação superior os dois deveriam receber um tratamento diferenciado dos demais detentos dentro da prisão, ficando em celas separadas e isto só aumentou a revolta dos que já estavam chateados com a forma injusta em que eram tratados pela carceragem do presídio. Para contê-los, os colocaram num compartimento do andar superior, bem próximo do terraço. O Presídio “Os detentos do Presídio São José, em Belém do Pará, viviam sob condições sub-humanas. Eram mantidos dentro de celas sujas e úmidas, cercados de ratos e correndo sérios riscos de contra
Seria numa romântica manhã de primavera, diante de um altar florido e cercado por uma multidão formada por amigos e repórteres, na mansão dos Braga, que Poliana deveria dizer "Sim" mais uma vez ao apaixonado noivo, que não via a hora de tê-la definitivamente como esposa. Mas, como sempre, o destino interferiu e mudou radicalmente o final daquela história e permitiu mais uma dolorosa ferida no já ferido coração de Fabiano. As horas se passavam lentamente, a noiva demorava a chegar e cada segundo tornava aquela espera ainda mais angustiante, ninguém entendia a razão de tamanha demora.A cerimônia estava marcada para às dez horas e já se passavam das onze, era normal um pequeno atraso, mas começava a preocupar. Cansado de tanto esperar, Fabiano decide enviar alguns de seus seguranças até a residência da noiva para saber sobre sua demora, enquanto isso a imprensa já se preparava noticiar o fato". Certamente uma notícia espetacular seria publicada nos jor
Fabiano e os demais foram informadas do suicídio cometido por Sofia, quando o navio "Soledad " retornava ao porto das docas para que ela fosse entregue às autoridades. Apesar do mal que ela tivesse causado a tristeza foi tamanha, pois eles lembravam dos bons momentos vividos com a amiga antes dela agir com violência contra Poliana, que se recuperava dos maus tratos sofridos durante o cativeiro. Foi decretado dois dias de luto nas fábricas do grupo Braga pela morte da ex sócia. Semanas se passaram e tudo voltou a fluir normalmente na vida do casal, que após a completa recuperação remarcaram o casamento. Depois de tantas lutas e perseguições, aquele menino que viveu parte de sua infância e adolescência nas ruas. Mendigando o pão e sonhando em ver se abrir a porta que lhe daria uma chance de mudar sua história, teve a paz que tanto sonhou. O casal viajou em lua-de-mel pela Europa, onde tiveram a chance de descobrir novos mercados para a expansão das tecelagens no exterior, o que ocorr
— Sr. Fabiano, se passaram meia hora desde que lhe convidamos para o café matinal, até quando teremos se lhe esperar? — Está bem, está bem, já estou indo! — Nada disso, eu mesma vou levá-lo desta vez, vamos lá! A enfermeira conduziu o idoso por um corredor estreito em direção a sala, onde os demais idosos o aguardavam inquietos em orno de uma ampla e farta mesa, para juntos participarem da refeição matinal e, por um breve momento, lhe foi possível deixar para trás as amargas lembranças daquele passado sombrio que por tantos anos lhe fez perder a alegria de viver. Através da janela, estrategicamente colocada naquela sala onde a solidão fez morada, ainda se podia ver o reflexo das sombras que passavam a longos passos sobre aquela velha calçada de pedras. A arvore plantada no jardim da praça, cujos ventos embalavam suavemente seus galhos, também ainda estava ali, enquanto uma chuva fina molhava a rua que ele costumava admirar em silêncio. Todos os dias, enquanto se perdia nas
Os becos sujos e sempre repletos de ratos, serviam como campos de futebol para a maioria daqueles meninos que nasceram e cresceram em completa pobreza, sem perspectiva alguma de mudança. A pequena vila de Icoaraci, localizada a alguns quilômetros de Belém, era habitada em grande parte por famílias pobres, feirantes, vendedores ambulantes, domésticas e ainda uma enorme quantidade de desocupados que causavam terror permanente a quem passasse naquelas ruelas escuras e desertas, fazendo suas vítimas, muitas vezes fatais. Dentre estes estavam Pedro e Felipe, os dois filhos mais velhos de Dona Suely, uma mulher determinada, batalhadora, de extremo caráter moral, decidida a manter o sustento da casa de forma digna e honesta. Qualidade essa ensinada exaustivamente aos dois filhos, mas que nunca deram ouvidos e acabaram por se envolver com o mundo do crime, as más amizades, o mau caminho. Sua rotina era sair para o trabalho bem cedo só retornando no meio da noite, trazendo algum alimento das
Paula Braga era uma importante mulher, pertencente a elite da sociedade brasileira, mas que apresentava traços de cansaço e trazia estampada no rosto a idade que possuía, devido o excessivo trabalho nas centenas de indústrias de tecelagens espalhadas por todo o país. Pouco visitava suas propriedades, passando esta tarefa aos subalternos como Berenice, que era responsável pela fazenda Três Marias, localizada no Marajó. Ela administrava com o esposo as propriedades de Paula, por ter mostrando-se altamente competente, ao ponto de conquistar a confiança de sua patroa, que não hesitou em recebê-la na sua mansão, localizada na principal avenida da capital paraense.: — Desculpe-me por incomodá-la, mas o assunto é urgente — Fez bem em me procurara, do que se trata? — Trata-se de uma situação bastante delicada. Tenho em meu poder uma criança que ficou órfão e tem como familiar apenas uma tia desajustada, que o abandonou nas ruas a
Paula era a filha mais velha e principal herdeira da milionária herança de sua família, composta por ela e seus três irmãos, além de ser uma das mais bem sucedida empresária no ramo de tecidos do país. Após a morte de seu pai assumiu a presidência das indústrias e todo o poder sobre aquele gigantesco império no mundo dos tecidos. Com esta conquista adquiriu inimigos e seus opositores estavam presentes até entre os mais íntimos, como seus três irmãos mais novos. O mais ambicioso era Ricardo, que procurava incansavelmente reverter a posição subalterna diante da irmã. E, para isso, estava disposto em ir até as últimas consequências. Rogério Sena foi, no passado, um dos sócios majoritários e fundadores das fábricas de tecelagens. O qual foi covardemente traído por Gustavo Braga, Pai de Paula, perdendo grande parte de suas ações. Por conta deste golpe inesperado caiu em depressão profunda, afastando-se definitivamente das Empresas. Sua filha, Sofia Sena, assumiu s