Início / Romance / Breve Recordação / Capítulo 3 - O Sequestro
Capítulo 3 - O Sequestro

Paula era a filha mais velha e principal herdeira da milionária herança de sua família, composta por ela e seus três irmãos, além de ser uma das mais bem sucedida empresária no ramo de tecidos do país. Após a morte de seu pai assumiu a presidência das indústrias e todo o poder sobre aquele gigantesco império no mundo dos tecidos.

Com esta conquista adquiriu inimigos e seus opositores estavam presentes até entre os mais íntimos, como seus três irmãos mais novos. O mais ambicioso era Ricardo, que procurava incansavelmente reverter a posição subalterna diante da irmã. E, para isso, estava disposto em ir até as últimas consequências. Rogério Sena foi, no passado, um dos sócios majoritários e fundadores das fábricas de tecelagens.

O qual foi covardemente traído por Gustavo Braga, Pai de Paula, perdendo grande parte de suas ações. Por conta deste golpe inesperado caiu em depressão profunda, afastando-se definitivamente das Empresas.

Sua filha, Sofia Sena, assumiu seu lugar, herdando dele apenas os míseros dois por cento de ações que restaram após o golpe aplicado em seu pai. Enquanto dentro da poderosa indústria de tecidos crescia a disputa entre os irmãos e a sede de vingança daquela que não se conformava em ver o pai derrotado, lá fora crescia o futuro detentor de toda aquela enormidade de poder e riqueza.

Criada sobre uma plataforma de injustiças e extrema ganância. O mesmo que anos mais tarde herdaria o império dos Braga e causaria ira em seus adversários, originando neles um profundo desejo de morte, mas venceria a todos:   

 — É inadmissível a ideia de Paula em colocar nas mãos deste bastardo a presidência de nossas indústrias, afinal é a herança de nosso pai, deveria ser repassada dela para nós, legítimos Braga, como ela pode fazer isto conosco?

 — Você tem razão, Afonso, sem dúvida ele não concordaria em vida com essa decisão absurda, você deveria ser o substituto dela, haja vista ser o segundo mais velho, digno de assumir o posto que ela ocupa hoje, além do fato de Paula não possuir filhos

 — Somos seus irmãos de sangue e ele é um estranho qualquer que ela juntou das ruas e trouxe para nos afrontar, ela nos humilha com esta atitude absurda!

 — Concordo, é um absurdo sem precedentes!

 —  Em ​minha opinião, devemos ​tomar ​imediatas providências quanto a isto, antes que esta decisão absurda de nossa irmã acabe por nos deixar à ver navios!

 — E o que você propõe, Ricardo?

 — Estão planejando agir de forma violenta contra Paula?

 — Que outra medida urgente poderíamos tomar para evitar tamanha insanidade, ao ver Paula passar para este bastardo toda a herança que nosso pai nos deixou?

— Tirar a vida de nossa irmã???

— Coloquemos um fim neste assunto!

— Matá-la não é a solução mais inteligente, meus irmãos?

— Acredito que sim, e o quanto antes melhor!

— Se descobertos acabaremos presos e condenados por assassinato

 — Estamos diante de uma ameaça que em breve poderá nos levar a perder tudo o que possuímos! Nossa irmã enlouqueceu de vez e temos o dever de contê-la!   

      — Não contem comigo para cometer esta loucura! A ambição de vocês vai além da razão!

 — Nunca contamos com você para nada, você é uma desgraça, um covarde!

Após aquela conversa deu-se início a um plano maquiavélico contra Dona Paula, que passou a ser alvo da inveja de seus irmãos. À princípio foi decidido contratar homens de confiança para executarem seu sequestro e, caso não lhe convencessem a mudar de ideia, assassiná-la.

Num final de semana, retornava para casa, quando foi interceptada por outro veículo e forçada a parar.  Quatro homens desceram armados, atirando contra o veículo e o motorista que teve morte instantânea. Em seguida a passageira foi sufocada por um lenço umedecido de sonífero e levada para um local distante da cidade. A ordem dada aos sequestradores era aprisionar a empresária num cativeiro fora da cidade e aguardar novas instruções.

 Por sorte naquela ocasião ela tinha decidido enviar Fabiano a fazenda para ficar um tempo com Berenice, o desaparecimento da milionária foi logo percebido pelos criados. Porque todos estavam acostumados a vê-la retornar do trabalho sempre no mesmo horário. Nunca se atrasava, e estranharam sua ausência. Então decidiram comunicar o fato aos irmãos, que tomaram as devidas providências.

 A polícia foi notificada pelos próprios idealizadores do sequestro. Que demonstravam estar contristados com o ocorrido, e passou a fazer diligencias à procura de alguma evidência.  Mas até as primeiras horas os criminosos não mantiveram qualquer contato com a família. Ninguém sequer desconfiava ser seus próprios irmãos. Que eram os verdadeiros responsáveis por toda aquela situação.

Eles fingiam estarem mesmo bastante preocupados com a situação e exigiam resultados no trabalho de buscas feitas pelas autoridades.  Os federais foram acionados na tentativa de obter melhores resultados nas investigações. A quadrilha contratada para sequestrar a empresária foi orientada pelos mentores a mantê-la num esconderijo. Enquanto isso Fabiano permanecia no Marajó com Berenice, que ao saber do acontecido teve a ideia de escondê-lo em local seguro e não permitiu por nada seu retorno à mansão, de acordo com as orientações deixadas pela patroa se algo de ruim viesse a lhe acontecer.

Pois ela já desconfiava existir um complô por parte de seus irmãos, descontentes com suas recentes decisões. Naquela noite chuvosa, num lugar sujo e escuro, ela desperta do sono causado pela alta dose de sonífero inalado durante a violenta abordagem sofrida pelos bandidos.

Sentia fortes dores de cabeça e respirava com dificuldades. O local era de difícil acesso, possuía apenas uma porta e a circulação do ar vinha por meio de canos que vinham da parte externa, ao observar atentamente o lugar concluiu está no subsolo. Paulo havia sido vítima de um covarde plano projetado por seus piores inimigos. Depois de várias horas sem perceber qualquer movimentação ouviu o ranger da porta enferrujada pelo tempo, que se abria, alguém finalmente se aproximava.

Um homem mascarado veio até ela, trazendo água e comida, não tinha por hábito comer qualquer tipo de alimento. Mas como naquele momento sua fome era imensa por ficar muito tempo sem se alimentar viu-se forçada a aceitar de bom grado e sem fazer qualquer descaso o que lhe foi oferecido. Dias se passaram sem que fosse localizada, o caso virou destaque na primeira página dos principais jornais em todo o país, afinal tratava-se da mais ilustre empresária do setor de tecidos no Brasil.

Todos acompanhavam o desfecho do caso e torciam por seu retorno, Afonso dava constantes entrevistas e aparentava preocupação com a irmã. Ocultando do público suas verdadeiras intenções criminosas, afirmando está usando todos os meios para resgatá-la. Enquanto ele usava publicamente de hipocrisia, Paula permanecia aprisionada no cativeiro imundo e sombrio. Sem ter qualquer notícia de Fabiano, o que contribua para aumentar ainda mais a terrível angústia que sentia naquele momento.

 Porém, mesmo diante de tais circunstâncias sentia-se confortada. Lembrava que toda a documentação referente a sua ascensão como futuro presidente das indústrias Braga já estava devidamente assinada. E uma cópia dos direitos legais repassados para ele haviam sido entregues à Fernando, seu advogado de extrema confiança. Se por ventura perdesse a vida e não mais pudesse revê-lo, ele deveria agir junto à justiça para que o herdeiro fosse efetivado no cargo e todos os seus bens lhe fossem entregues.  Novamente o barulho na entrada do quarto úmido, sujo e sem luz. Alguém se aproximava.

— Como se sente, completamente indefesa e sem toda aquela arrogância que geralmente usa ao dá ordens a seus subalternos? E o que dizer das incontáveis vezes em que nós fomos humilhados por sua pretensão em querer provar nossa insignificância, minha irmã? 

— Está enganado, Ricardo, eu nunca tive intenção

— Agora que perdeu o trono de poder tentará me convencer de que todos estes anos de menosprezo foram apenas para mostrar o quanto nos ama? Ora, minha cara, não seja ridícula! Tenha mais respeito com minha inteligência, pois não seria idiota ao ponto de me convencer disso, sabemos que para nosso pai você sempre foi a predileta, pois ele acreditava ser a única com capacidade de dá continuidade ao poderoso império que construiu, mas enganou-se ao concluir isto sobre nós. Também somos tão capazes de administrar aquelas fábricas quanto você e iremos provar isto, quando tirarmos você e seu pequeno bastardo do caminho! 

 — Você age e fala como um louco, tirar minha vida não o tornará apto para assumir a presidência.

 Mesmo que seja eficiente o bastante para presidir as indústrias jamais será digno o suficiente para sentar-se na cadeira de nosso pai e herdar seu patrimônio. Nenhum dos três foram aprovados por ele pelo simples fato de não haverem sido honrados o bastante para conquistar sua confiança, vocês três sempre foram a vergonha de nosso pai! 

Ao ouvir tal declaração, Ricardo se encheu de furor e lhe espancou a face, irritado deu ordens ao carcereiro que a deixasse sem alimento naquele dia. Nas semanas que se seguiram recebeu diversas vezes a visita de seus irmãos e foi grandemente humilhada. Afonso decidiu forçá-la a assinar um documento que lhe daria autonomia sobre as indústrias e poder indefinido sobre todos os negócios da família, caso algo de fatal viesse a lhe acontecer. 

Ele pretendia matá-la aos poucos e após isso assumir imediatamente as Empresas. Por negar-se a concordar foi espancada e permaneceu vários dias sem direito a alimentar-se adequadamente. Pela falta de higiene e os maus tratos ficou desfalecida. A doença no sangue se agravou pela falta de cuidados médicos e da insulina que deveria ser aplicada diariamente, mas estava decidida a não ceder. 

 A Morte de Paula

Isolada no cativeiro, sem as condições adequadas para sobreviver e com uma idade acima dos cinquenta anos, Paula desfalece, suas forças lhe faltam e uma semana depois é encontrada sem vida pela polícia. Apresentava sintomas de desnutrição, feridas em todo o corpo. Possuía visíveis sinais de violência sexual. Certamente para dá a impressão de ter sido causadas por estranhos e não levantar suspeitas sobre os irmãos.

 A notícia se espalhou instantaneamente e houve grande comoção pelo falecimento da empresária que conquistou o amor de muitos pela forma simples e dedicada como ajudava a todos que buscavam sua proteção. Como de praxe Afonso, Ricardo e Demétrius apareceram diante das câmeras expressando tristeza, mas na verdade estavam felizes com o ocorrido. Porque agora com Paula fora do caminho ficaria mais fácil tomar posse definitivo do patrimônio da família e assumir a presidência.

Nada impediria Afonso de assentar-se na cadeira que um dia pertenceu a seu pai e comandar o império dos Braga. Tudo parecia indo bem, mas para surpresa dos assassinos Fabiano estava a salvo em lugar seguro. Bem distante de toda aquela violência.  E em breve voltaria a entrar em cena para rever seus direitos adquiridos como um herdeiro autêntico. Direitos estes declarados oficialmente por sua mãe adotiva que o fez merecedor de tamanho poder.

 A nova gestão de Afonso deu início numa época em que o governo enfrentava grande crise financeira e isto fez com que fosse preciso uma providencial recessão em todos os setores da economia. Causando enorme impacto, o que levou a maioria das indústrias demitirem funcionários para assim evitar uma possível falência. Apesar das indústrias possuírem uma boa base econômica, seus diretores decidiram não correr riscos desnecessários.

Logo ocorreram centenas de demissões nas filiais de todo o país. Gerando protestos em massa por trabalhadores que reclamavam das iniciativas tomadas pelos patrões, sem levar em conta a situação precária em que ficariam os ex-funcionários e suas famílias, os que permaneceram exercendo funções decidiram apoiar os desempregados em greve.

 Isso trouxe imenso atraso no fornecimento de tecidos aos distribuidores. E estes passaram a entrar na justiça com pedido de indenizações pelos danos causados. Visto que perdiam muito dinheiro por não ser possível atender dentro do tempo exigido seus numerosos clientes. Como Paula havia previsto antes de sua morte, mesmo que eles assumissem a direção das fábricas fracassariam.

Não seriam capazes de dá continuidade ao poder empresarial deixado por seu pai, pois eram incompetentes demais para isto. Cada dia que se passava aumentava a recessão e mais pessoas perdiam seus empregos. Começou pelos níveis mais baixos e alcançou também os altos postos, como encarregados e gerentes de produção.

 À princípio, acreditava-se ser apenas uma crise sem muitas proporções. Mas, depois foi se agravando. Aos poucos começava a se expandir externamente. E a imprensa passou a divulgar que o poderoso império dos Braga ameaçava se desfazer em pouquíssimo tempo. Certa manhã, quando leu uma crítica feita por um jornalista de um dos principais jornais da capital paraense. Estampada na primeira página, Ricardo irou-se ao ponto de ligar para a redação e ameaçá-lo. Isto lhe rendeu mais críticas e um processo caríssimo. 

Dizem que depois de se cometer o primeiro crime fica difícil parar, e isto parece ser mesmo verdade. Os dois irmãos mais audaciosos que por ambição cometeram o bárbaro assassinato da irmã mais velha. Desde então se tornaram arrogantes ao ponto de ameaçar eliminar qualquer um que se colocassem como seus inimigos. Aquele processo movido na justiça feriu o orgulho de Ricardo, o mais violento, pelo fato de ter sido noticiado na imprensa. E seu ódio explodiu ao limite de ordenar a seus pistoleiros que de imediato o eliminassem.

O jornalista Raul Vilella foi raptado, agredido e morto na manhã de sexta-feira, 23 de agosto de 1950. Seus assassinos ainda depositaram seus restos mortais em frente à sede do jornal onde trabalhava, gerando uma onda de protestos contra as autoridades. Enquanto estas se mostravam coniventes com as atrocidades cometidas pelos poderosos. O coronel Eduardo Cintra visitou o empresário e o notificou de ser o principal suspeito pelo bárbaro assassinato do jornalista. Visto que havia uma rixa entre os dois. 

Mas ao retornar da conversa deu ordens a seus comandados para que o deixassem fora de qualquer suspeita, acreditava-se que tivesse recebido uma boa propina para calar-se. A recessão chegou ao fim e a economia brasileira estabilizou-se, apesar da dívida externa e os altos juros que o governo teria que pagar. Houve uma acentuada queda na produção das indústrias durante aquele período, mas o setor superou a crise e começava a restaurar-se mesmo que lentamente.

 Os irmãos Braga e seus associados comemoravam a vitória diante da turbulência econômica, voltando à suas vidas de regalias e gastos excessivos. Esta era a razão pela qual Gustavo Braga decidiu nomear Paula como sua sucessora. Na presidência das indústrias e não um de seus filhos.  O ano de 1955 trouxe novidades para os setores da moda. Com o surgimento de novas tendências no mercado europeu, que logo foram seguidos pelo mundo feminino e masculino. Grandes conquistas, como os "Direitos Iguais" para todos.

 Também permitiu uma maior expansão na produção de tecidos mais modernos levando as fábricas. Tiveram mais lucros, gerando novos empregos. Tudo parecia seguir seu curso natural, sem maiores problemas.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo