Minhas mãos estavam suando quando encarei a entrada da mansão em Turim que pertencia aos meus pais. A casa que eu cresci e que tive que deixar quando entrei para o exército e nunca mais me senti bem-vindo. Agora eu tinha diversos motivos para retornar para aquele quadrado de paredes alaranjadas, e muitas perguntas cujas respostas se escondiam nos segredos da família.
Deixei o carro respirando o doce aroma dos pinhais e das fazendas de uva. O vento começava a ficar mais gelado naquela época do ano. Fechei a porta e caminhei devagar, quase arrastando os pés para a entrada e Marino já estava lá, me aguardando.
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Enquanto sobrevoava o mar que separava a Itália de Malta, tive certeza que meus sentimentos por Daniel não eram uma paixão passageira e que os dele não eram ilusão. Pensem o que quiserem, julguem o que acharem mais fácil, mas sentimentos sólidos como os nossos não são simplesmente impostos. Para o plano de Vass-Dragovich dar certo, havia muitos riscos e não fazia sentido que uma Confraria inteira de bruxos demoníacos depositasse suas esperanças em uma operação que tinha mais elementos para dar errado do que certo. Posso estar cego de amores, mas não sou um completo idiota.Desci do helicóptero antes mesmo de Bella conseguir pousá-lo e dei uma cambal
Contemplei ali o nosso fim. A Confraria Vass-Dragovich caçava e decapitava os híbridos como nossos ancestrais fizeram com os dragões no passado. O que eu, um mero meio-humano de sangue sujo, poderia fazer contra um metamorfo de centenas de anos de idade? A resposta desesperadora é: absolutamente merda nenhuma.Esperei o golpe. As chamas já tomavam conta de toda a sala do castelo, queimando quadros e cortinas, eu podia sentir o calor fluindo pelo ambiente da mesma forma que sentia meu sangue escorrendo e o coração de Daniel cada vez mais fraco. Não consegui me mover, nem falar, eu estava apavorado diante daquele demônio camuflado de um homem comum e de meia-idade. A fumaça escura permaneceu ali dentro, rasgando os pulmões de quem quisesse respirá-la, e o homem deu um passo na minha direção. As solas de suas botas esmagaram os cacos de vidro e a poeira dos escombros.Por algu
Um arrepio percorreu meu corpo como um alerta ruim. Segurei a mão de Daniel, puxando sua atenção. Ele tirou os olhos azuis da vista que passava na janela, as grandiosas nuvens que precediam a tempestade. A aeronave já estava se afastando de Malta em direção à Itália e levaríamos algumas horas.— O que você combinou com Nero enquanto eu me banhava? — Beijei a palma de sua mão, sentindo o aroma típico de sua pele.Daniel ensaiou um sorriso, mas não entendi o peso em seu olhar azulado. Não sei dizer se ele estava sem jeito porque, no assento ao lado, Marino e Benício jogavam cartas fingindo que não estavam prestando atenção em nós. Disfarçou, fazendo o carinho na minha barba, arranhando as unhas no meu queixo.— Você disse que Anna queria usar Nero contra você no Carosello e que ele tinha mág
Mihai era menos assustador amarrado com corrente em uma cadeira de metal, nu, sem um palito de dentes rolando pela língua. Porém, seus olhos me perseguiram pela sala, mesmo que houvesse um espelho refletor entre nós. Eu podia vê-lo, mas ele não deveria ser capaz de me ver.Benedetto estava de braços cruzados, observando seu prisioneiro. Eu podia ver as marcas no corpo de Mihai, pareciam torturas bem antigas e tive certeza que um homem que não sente dor e foi treinado, modificado, para não sentir nada, nunca abriria a boca.Bella, que estava ao lado de meu pai usando um vestido rodado antiquado
Vomitei o líquido vermelho e a água ficou parecendo suco de tomate. O caos se instalava no meu peito com mais perguntas do que respostas. Agora, ainda por cima, Daniel era meu irmão? E como isso seria possível? O que eu sentia ao saber disso? Por acaso o tesão que eu tinha por ele diminuía? Não, nem um pouco, eu continuava desejando-o, amando-o… E foda-se essa relação de DNA. Daniel não é, nunca foi, como um irmão para mim.Vomitei mais, com nojo. Era incrível que eu tivesse bebido tanto sangue, apenas chupando a boca de Daniel. Como poderia ser? Quando senti novamente o vazio no estômago, joguei o corpo para trás, me sentando, abracei as pernas e comecei a chorar. Não sei por quanto tempo fiquei assim, mas eu estava sozinho no último andar na mansão em um quarto de hóspedes — desde que deixei a casa dos meus pais, não voltei
O vento gelado entrava pelas frestas da janela e o cheiro de chuva se espalhava pelo ar naquela noite. Deslizei as calças pelas pernas e, apenas de cueca, deitei ao lado de Daniel na cama de um dos quartos de hóspedes da mansão Lambertini em Turim, que ficava no andar térreo.Senti sua pele macia e morna contra a minha, foi confortável. Daniel virou a página do livro que estava lendo. Coloquei a mão em sua testa, de forma protetora.— Como está se sentindo? — perguntei.— Tudo bem, eu acho. — Ajeitou-se na cama, encaixando o corpo no meu. Deslizei a mão por seu braço, descendo até as coxas. — E você?— Tirando a dor de cabeça com toda aquela informação.... É, eu estou bem.— Mesmo?— Nero e Jamie entraram na cozinha, atrás de comida, mas meus pais não poderão escon
De traseiro doendo, montei na moto e estendi a mão para Daniel. Ele colocou o capacete. Apenas seus olhos azuis ficaram visíveis. Sorri. Ele segurou na minha mão e sentou atrás de mim. Adorei empinar a bunda para ele de novo, mesmo que eu estivesse sem condições físicas para mais uma foda.Sempre escutei sobre essa ressaca depois de um bom sexo: os músculos doendo, algum mau jeito e claro, aquela sensação orgástica que arrastava as primeiras horas da manhã. Foi a primeira vez que realmente senti tanto prazer. Fazia muito tempo que eu não fazia sexo daquela forma, com tesão incontrolável, mas que, ao mesmo tempo, dava desgaste corporal.
Em um fim de tarde de outono, deixei um vaso de flores no túmulo de Marino. O cimento estava tocado pelo orvalho e as folhas secas cobriam quase todo o chão. Fiz uma oração para que sua alma fosse bem acolhida pelos Seres Celestiais, suplicando de todo o meu coração para que ele fosse absolvido de seus pecados.A morte de Marino abatia sobre meus ombros um peso forte. Sentia que era impossível aceitar aquela derrota. Marino foi um amigo fiel, de valiosos conselhos e, por vezes, animador. Sua morte foi incontrolável, mas ainda pior por saber que foram as mãos do homem que amo — mãos tão hábeis em me conceder prazer — que haviam inferido a morte em meu amigo.Marino não tinha esposa e nem filhos, gostava de se deitar com uma garota da Sociedade, de beber vinho e de cozinhar seu próprio almoço, sempre esquivando-se de restaurantes. Ele foi um dos poucos hom