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Capítulo 2: Verdade ou Mentira?

Mia Santana

A semana passou voando, meu namoro está normal, levando-se em conta que nada mudou exatamente, estou tentando evitar o assunto o resto da semana, ou seja, estou evitando  Leonardo, Raquel, e bom...é claro, o Nicolas, mas acho que ele não conta, já o evitava bem antes disso.

- Por que não foi mais ao refeitório? Aquele garoto vive te procurando - disse Mel se acomodando na carteira, ela sempre se sentava ao meu lado, o professor ainda não havia chegado.

- Leonardo?

- Ele mesmo.

- Sabe o que é...

- não ela não sabe, e pelo visto ninguém - disse Raquel. De onde essa criatura surgiu?

- Ah Raquel.

- Ah Raquel - disse imitando minha voz - eu sou sua melhor amiga e você não me disse nada! - franzi o cenho - não faz essa cara, por que não me contou que está namorando?

- Quem te disse! -perguntei, e em seguida mordi o lábio, mas o que Raquel tinha haver com o que eu faço ou deixo de fazer?

- Leonardo me procurou, querendo saber a sua classe...

- Um momento, você está namorando o Leonardo? - perguntou Mel.

- estou - respondi, porém pareceu bem mais como uma pergunta.

- Hoje você não escapa Mia, vai ao refeitório e pronto, vai nos explicar tudinho.

- Raquel, para com isso, não é como se eu tivesse que te dizer tudo, não é mesmo? - respondi com ironia.

- Desculpe Mia - desdenhou - você está querendo dizer que o meu título de melhor amiga não vale nada? - disse colocando a mão no peito e deixando a voz embargada.

- não é isso - aí meu deus, a Raquel era muito dramática, não queria ter que explicar para ela sobre esse namoro que não é fake, mas parece fake, aff nem eu entendo.

- Então o que é?

- Nos falamos no refeitório - disse, quando percebi uns olhares curiosos. 

(...)

Quando a aula de história da arquitetura acabou, Mel saiu me puxando para o refeitório.

- Calma Mel.

- Não é só a Raquel que está curiosa - disse, mas meu telefone tocou fazendo-a parar de me arrastar.

- Um minuto -  me afastei dela e fui atender - oi mãe.

Leonardo me ligou hoje cedo, para saber se estava doente, pois não a viu na faculdade desde segunda.

Mãe, eu gosto de ficar na sala de aula - menti.

É melhor você se esforçar para manter esse relacionamento'

Então não é só um título, tem as regalias? - respondi irritada - a senhora quer que eu ande pelos corredores de mãos dadas com ele, e o....- engoli em seco- ... beije'  - corei, me sentia estranha perto do Leonardo, ainda mais agora que ele vivia tentando me impressionar positivamente.

Sim! Pelo menos tente, sei que não vai ser ruim, vocês são jovens e pode ser bom curtir um ao outro.

Mãe se dá conta do que está dizendo? Tipo assim, filha "pegue bem" seu namorado, eu não ligo.

Viu só! está aprendendo, ele é seu namorado!

Que a senhora escolheu!

E muito bem escolhido - disse ela triunfante - mas uma coisa querida, convença a todos que está super bem com o Leonardo, principalmente a Raquel, ela pode ser bem inconveniente.

Vou contar do acordo para ela!

Não, não vai, você vai garantir que está perdidamente apaixonada pelo Leonardo, e te garanto filha que você vai aprender a amá-lo, pois o compromisso de vocês é muito importante - ou seja tem muito dinheiro envolvido, minha mãe desconhece limites.

Ok - ela desligou, fiquei encarando o telefone, até que percebi que Mel já havia entrado no refeitório.

Olhei para a porta, será que entro? senti um braço rodear meus ombros, era Leonardo.

- Oi meu anjinho.

- Meu anjinho? - ergui as sobrancelhas.

- Sim, você é ou não é, minha namorada? Portanto, meu anjinho - encarei-o sorrindo - viu, sei que gostou - ele estendeu a mão para mim - pronta para assumir nosso relacionamento ao mundo?

- Para de ser exagerado.

- Não estou exagerando, vai ser uma cena de novela.

Fomos para a porta e entramos de mãos dadas, então eu o vi, Nicolas, na fila da lanchonete, e minhas amigas na mesa, eles nos viram, então Leonardo colocou a mão na minha cintura e me puxou para um beijo...

Nossos lábios nem chegaram a se encostar realmente, quando Leonardo foi arrancado de mim com força e jogado no chão, Nicolas estava em cima dele e em seguida deu um soco em seu rosto.

- Nunca mais encoste nela!

Leonardo se levantou com facilidade e empurrou Nicolas, isso me lembrava que ele fazia Judô e Muay thai desde pequeno.

- Olha se não é o principezinho - Leonardo provavelmente reconheceu o Nicolas do meu aniversário de 15 anos, minha mãe queria que o Leonardo fosse o meu príncipe, mas eu estava namorando o Nicolas, então o escolhi. Isso também me lembrava que no ano seguinte aconteceu o acidente, e escolher um príncipe ou um bolo de aniversário simplesmente não importava mais.

- Olha cara, acho que posso tocar na MINHA namorada - revelou Leonardo. Não tive tempo para mergulhar em mais em auto piedade, quando fui surpreendida pela declaração de Leonardo.

- Sua namorada?

- Sim, minha namorada, admite que você perdeu que fica menos feio para você - Nicolas puxou-o pelo colarinho, mas, Leonardo não era fraco e se soltou com facilidade, Nicolas tentou pegá-lo novamente, porém, Leonardo desviou, sabia que ele estava evitando um confronto, ele não queria nenhum problema com o senhor Gustavo.

- Pare Nicolas! - me intrometi, peguei na mão do Leonardo e o tirei de lá, então percebi que todo o refeitório assistiu o espetáculo de camarote, um garoto puxou Nicolas de perto de nós, era Pedro, irmão da Raquel.

- Mia!

- E ele não desiste- reclamou Leonardo.

- Não se mova - disse baixinho, nos viramos ao mesmo tempo para encarar Nicolas.

- Não pense que engoli essa não!- disse Nicolas.

- Não me importa se você engoliu ou não, por mim que fique entalado - respondi já sem paciência, Leonardo riu.

- Vamos embora Nicolas - disse Pedro.

Nicolas deu um último olhar ameaçador para mim e saiu.

Leonardo e eu sentamos com as meninas, que nos encaravam de boca aberta.

- Então anjinho, não disse que iria ser uma cena de novela - dei uma cotovelada nele e ele riu. 

(..)

-Então vocês estão realmente namorando? - perguntou Raquel, estávamos esperando minha mãe, hoje Raquel iria dormir na minha casa.

- Sim.

- Quando isso aconteceu?

- Essa semana - suspirei - Você sabe como minha mãe é, ela gosta tanto do Leonardo.

- Verdade. Ela inclusive sempre te empurrou para ele - disse Raquel - mas você queria isso amiga? de verdade?

- Raquel, acho que devo isso a ela - e depois ela ameaçou minha avó, pensei, mas não falei - eu tirei tudo dela - outro fato que me atormentava e fazia-me ceder as vontades dela.

- e ela quer tirar tudo de você.

- Não, ela quer o melhor para mim - assenti - ela quer me ver formada, e depois ela disse que vai me arrumar um estágio na Fontoura construção, acredita! Esse namoro só a deixa mais satisfeita...acho.

- Não devia namorá-lo para impressioná-la, mas sim porque gosta dele.

- O Léo não é de todo ruim - disse na defensiva, mas tinha um pouco de verdade nas minhas palavras.

- e o Nicolas? - sabia que ela ia tocar no assunto.

- ele nada.

- Naquela época você era mais feliz - Eu não tinha matado ninguém, destroçado minha família.

- Nicolas te fazia bem, porque não deixou ele te ajudar a passar pelo luto.

- Raquel! Dá para entender que eu não queria me sentir bem, eu queria ficar no fundo do poço e fiquei por um bom tempo, eu ainda não mereço seguir em frente, mas veja estou tentando, estou tentando - desabafei.

Raquel abaixou a cabeça - Mia, você não os matou, você aguentou firme, quem ficaria bem quando descobre algo assim? Então o acidente ocorreu, o luto, sua mãe enlouqueceu. Ela perdeu muito tempo, e você também - Ela respirou fundo e levantou a cabeça - O que eu quero dizer é que você merece sim ser feliz, e encontrar alguém que você realmente goste.

Buzina. Um barulho de buzina nos tirou o foco da conversa. Avistei uma Ferrari branca, ela parou em nossa frente e o vidro foi abaixado.

- Leonardo?

- Oi anjinho, Dona Lídia me ligou e pediu que eu levasse vocês - deu um sorriso brilhante.

(...)

A viagem foi tranquila, Leonardo acabou almoçando em casa e agora estava na sala assistindo novela mexicana com a minha avó, ela adorou ele.

Estava lavando a louça e Raquel enxugando.

- amiga, me enganei.

- o quê?

- você pode até não amar o Leonardo agora, mas do jeito que ele é fofo, você vai se apegar - joguei água nela - ei!! Você sabe que eu não estou mentindo.

- o Léo....mudou - pelo menos ele não dá mais nó no meu cabelo e nem me mata de susto a cada instante.

- e além disso, ele é muito gato.

- Ei! Pode achar ele bonito, mas não precisa ficar me dizendo.

- Está com ciúmes? - Ela deu um sorriso malicioso.

- Não!

- Será mesmo ou você está mentindo para si mesma - Será? Balancei a cabeça negativamente.

- Raquel, eu nem passei tanto tempo assim com ele.

- Haha, só a vida toda, vai ver você já sentia algo por ele, essa situação só fez atiçar o fogo da paixão que vocês sentiam - comecei a rir.

- Raquel, você também ama novela mexicana, é?- falei rindo - vamos para a sala.

Sentei ao lado do Leonardo, e ele foi logo colocando o braço no meu ombro, deveria ter tirado, mas ele era meu namorado, certo? E namorados fazem isso. Sei que estava sendo ridícula ao aceitar as condições da minha mãe, mas estava extremamente cansada de ficar brincando de cabo de guerra com ela, então iria apenas deixar acontecer. O que for para ser será.

- Minha neta, seu namorado é muito engraçado.

- Que bom que gostou dele, vó.

- E você querida? - olhei para Leonardo e depois para Raquel e por fim para minha avó.

- é claro - disse sem graça.

- Ela gosta, senhora Regina, e se não gosta, ainda vai me amar, porque eu a amo desde quando a vi pela primeira vez - olhei para ele, ele me roubou um selinho e sorriu, como se tivesse dito algo simples.

Amar? É um sentimento tão confuso, não sei se mereço isso. Depois de ouvir o que Leonardo me disse, talvez devesse procurar o Nicolas e esclarecer de uma vez por todas o passado, eu não sei se sinto algo pelo Leonardo, mas só vou entender tudo o que está acontecendo comigo, quando fechar essa porta que ainda está aberta no meu passado.

(...)

- Tenho que ir anjinho - estávamos na frente da casa.

- Tudo bem....então até logo - disse sem graça, ficou um silêncio estranho, então fiz algo na tentativa de parecer natural, afinal éramos namorados, beijei sua bochecha, ele ficou surpreso, provavelmente pensou que eu nunca tentaria nada, mas era só um beijo na bochecha, o que tem de mais?

Ele sorriu.

- Obrigada por ter sido legal com a minha avó - Sério Mia? Legal com a avó? Acho que falar da avó numa situação dessas é completamente quebra clima. Ele me encarou sério.

- é claro, beija minha bochecha de novo - franzi o cenho, me aproximei e na hora que iria beijá-lo ele virou o rosto. Eu não estava preparada para isso....

Nossos lábios se encostaram bruscamente, porém ele deslizou a boca na minha com suavidade. Ele circulou uma mão na minha cintura e a outra segurou minha nuca, fazia tanto tempo que não beijava alguém, e devido a surpresa, minha primeira reação foi ficar estática, e quando seus lábios macios encostaram nos meus e um onda de eletricidade se espalhou pelo meu corpo, foi o momento que cedi e incrivelmente correspondi ao beijo. Se algum tempo atrás me contassem que eu beijaria Leonardo, eu com certeza daria um tiro na minha cabeça. No entanto, estar ali parecia.....Certo.

Leonardo aprofundou o beijo, e juro que o ouvi gemer, a forma como nossos lábios dançavam um sobre o outro era mágica, e nunca tinha sentido algo assim. Empurrei-o aos poucos.

 - sabia que ia fazer isso - Ainda estávamos muito próximos.

- Então eu sei que gostou - deu um sorriso, colocou as mãos nos bolsos e foi para o carro.

A verdade era que de alguma forma Leonardo me fazia bem, entretanto, não conseguia entender se isso era bom ou ruim.

A mentira era que eu queria me iludir e não acreditar no amor.

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