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Capítulo 4: Amigos e Inimigos

Mia Santana

Depois da dura conversa que tive com Nicolas, fui para casa, ao chegar lá encontrei minha avó na sala.

- Oi vó - disse enquanto fechava a porta.

- Oi querida, como foi na praia? - perguntou quando eu já estava sentada na poltrona.

- intenso - peguei meu telefone e liguei para a Raquel, minha avó se levantou, e foi para a cozinha.

- Oi Quel.

- Onde você está? Não consegui te esperar, estava muito sol - disse bufando - como foi a conversa?

- Foi boa, você tinha razão - declarei - precisávamos tê-la.

- lógico que tinham, então, se resolveram?

- Raquel, apesar de ter sido de um jeito diferente, tenho namorado e não quero ficar brincando com o sentimento dos dois. Estou com o Leonardo agora, e disse ao Nick que devemos seguir nossas vidas.

- Agora cabe sabermos se ele vai deixar - era verdade, Nicolas era bem persistente, apesar de ter conseguido adiar essa conversa por muito tempo, isso não quer dizer que ele não tentou se aproximar.

- Ele me beijou.

- Caramba! - gritou, afastei o celular do meu ouvido - por que não me disse isso primeiro, como foi?

- Não foi nada.

- Como nada Mia? Fala sério!

- Ele me beijou, mas, eu não sei, talvez ainda sinta algo por ele, isso é óbvio, mas...amar? Simplesmente não sei.

- Você tem medo amiga - disse ela, senti tristeza em sua voz - eu te entendo - suspirou como se pensasse em algo que aconteceu com ela - mas você tem o gato do Leonardo, vai superar esse seu ex rapidinho - falou de forma mais alegre, Raquel mudava de humor a cada cinco minuto, às vezes, era difícil acompanhar.

- Raquel! - eu não pude deixar de rir.

(...)

Acabou que desmarcamos o cinema, a Raquel disse que estava toda vermelha por causa do sol, juro que não a entendo, pois a ideia de ir à praia foi dela. Nesse momento, estava estudando para uma apresentação que faria na segunda-feira, estava muito nervosa, sempre fico assim nas vésperas de seminários.

- filha! - era minha mãe, ela havia chegado depois que terminei de falar com a Raquel ao telefone, nós almoçamos e então cada uma foi para o seu quarto. Quando desci as escadas, a encontrei na cozinha, ela e minha avó estavam preparando um bolo. Alguém colocou as mãos tapando meus olhos.

- Adivinha quem é anjinho?

- Leonardo! - disse rindo, me virei para ele, nos abraçamos, e o puxei para dentro da cozinha.

- É tão lindo vocês dois - minha mãe puxando saco como sempre.

- É mesmo Lídia - disse minha avó toda sorridente - só de ver o sorriso no rosto da minha neta, me faz aprovar muito esse relacionamento - Leonardo e eu sentamos à mesa.

- Então o que fez hoje? - perguntei.

- Estava na empresa com meu pai.

- Já sei da festa - informei.

- Sim, eu também, e anjinho saiba que você vai - disse todo carinhoso, cada vez mais Leonardo me surpreendia, ele parecia ter mudado muito.

- Cadê aquela peste de dentro de você?

- Ele cresceu - disse sorrindo, mas depois abaixou a cabeça desviando o olhar do meu, estava achando Leonardo um pouco estranho, ele parecia querer me contar algo.

- Mãe, nós vamos subir, ok?

- Tudo bem - ela sorriu e voltou a conversar com minha avó.

Entramos no meu quarto e sentamos na cama, ele sentou com as pernas para fora da cama, enquanto eu fiquei com uma fora e a outra dobrada.

- Léo? Você está bem?

- Tenho uma corrida marcada para o próximo mês - disse rapidamente.

- Pensei que tinha parado com isso.

- Eu gosto, sinto uma sensação incrível de liberdade - me aproximei dele - e vai ser a minha última corrida ilegal, prometo - senti que isso era algo muito importante para ele, algo importante e ele me contou. Sabia dos sentimentos de Leonardo por mim, precisava dar um voto de confiança para ele, demonstrar que me importava com ele, também sabia que mentiras e omissões nunca ajudavam. Suspirei.

- Já que você me contou algo, vou te contar também - respirei fundo - estive com o Nicolas hoje - ele se levantou bruscamente da cama - contei a ele sobre o passado...Leonardo, sei que você sabe de tudo, pois dona Abgail é melhor amiga da minha mãe e ainda tem o fato do seu pai ser o chefe dela, precisei esclarecer todos os fatos para ele e inclusive nosso namoro - apontei para nós dois.

- Você quer terminar? - perguntou. Como se fosse simples, minha mão surtaria se terminasse, e realmente estava tentando deixar fluir. Quem sabe assim pudesse me sentir mais próximo do que um dia eu fui.

- É estranho conversar sobre isso, pois nosso namoro foi arranjado, ou seja começou de maneira inusitada.

- mas..

- mas, é um namoro e eu vou te respeitar e você deve fazer o mesmo.

- Você quer dizer que somos exclusivos oficialmente?

- Ei! Pensei que já fossemos exclusivos! - o fuzilei com o olhar, e ele levantou as mãos em rendimento.

- Anjinho eu sou somente seu - ele se jogou na cama e me beijou me espremendo contra o travesseiro.

- Leonardo - disse retirando meus lábios dos seus - não posso esconder uma coisa de você - ele me encarou.

- Nicolas e eu nos beijamos.

- Você...

-  Para mim ele deve ficar no passado.

- Mia, eu vou fazer você esquecê-lo, eu vou fazer você me amar também, como eu amo você, sei que deve achar estranho pela forma como implicava com você antes, mas saiba, que eu te amo, isso não é uma mentira, realmente quero que esse namoro dê certo. Era tudo o que queria também, precisava que desse certo, apenas não queria ir contra minha mãe, e Leonardo me fazia bem, um bem que a muito tempo não sentia, poderia se muita burrice aceitar as condições impostas por dona Lídia, mas me sentia mais livre e menos culpada quando seguia suas imposições, assim ela não me culpava tanto sobre tudo.

- O amor para mim é algo difícil de fluir, eu tenho medo.

- Eu também tenho, mas não se é com você, pois, só tenho medo de te perder.

Leonardo sempre dizia exatamente o que eu queria ouvir, dessa vez, fui eu que procurei seus lábios. Talvez amar não seja só um sentimento, que faz seus joelhos tremerem ou que você sinta borboletas no estômago, o amor deve ser mais que isso, e de certa forma, estava aprendendo com Leonardo.

Percebi que o amor também era confiança, e eu estava aprendendo a confiar em Leonardo. É oficial, agora estamos juntos de verdade.

(...)

No dia seguinte. Era domingo, não tinha muita coisa para fazer, resolvi remarcar o cinema com as meninas para hoje. Leonardo estava ocupado, ele disse que o pai estava enchendo-o de serviço, depois que ele foi embora, continuamos conversando pelo celular até de madrugada.

Estava preocupada com a corrida, deveria tentar convencê-lo a não ir? Não era esse o motivo do senhor Gustavo querer comprometer o filho com alguém? Provavelmente estava sendo uma péssima namorada ao simplesmente ignorar essa decisão dele, porém, ele parecia tão decidido. Como posso persuadi-lo?

Por volta das seis horas da tarde, cheguei ao shopping.

- Mia! - Era Bruna, ela estava na entrada - parece que chegamos primeiro - disse parecendo animada, aquilo foi muito estranho, Bruna era...diferente.

- Oi - Não sabia explicar, mas tinha algo nela que me incomodava.

- Podemos ir na frente e escolher o filme, você sabe que se a Raquel chegar, ela vai querer mandar em tudo, e então vamos ter que fazer a vontade dela.

Assenti e segui Bruna. Ela exalava confiança e superioridade, parecia o completo oposto de mim. Não me sentia confortável quando ela estava por perto, era como se ela me analisasse o tempo todo, como se eu fosse errada.

Olhei ao redor, o shopping não estava lotado. Percebi que muita gente começou a ir pelo mesmo caminho. Cerca de dez homens e cinco mulheres, eles olhavam pelo canto do olho para Bruna, que andava na minha frente, será que ela não percebeu?

Tipo, não sou nenhum Sherlock Holmes, mas, em um shopping gigante desse, quinze pessoas indo na mesma direção que nós, olhando para nós..... Está bem, talvez eu estivesse sendo um pouco paranóica.

Olhei para Bruna, na esperança dela ter percebido a movimentação estranha ao redor. Entretanto, era muito difícil saber se Bruna estava sendo sincera ou não em suas expressões ou atos, talvez o fato de fazer artes cênicas ajudasse, ela consegue esconder tão bem o que está pensando, isso é o que mais me incomoda, não consigo lê-la, geralmente sou boa em entender a personalidade das pessoas, no entanto, com Bruna era diferente, cheguei a pensar que ela teve um tipo de treinamento para esconder suas reais intenções. Acho que estou completamente louca mesmo! De onde vem esses pensamentos?

Coloquei-me ao lado dela. Parece que não tínhamos chegado primeiro, Raquel e Mel já estavam na praça de alimentação e acenaram para nós.

- Oi gente - disse me sentando com elas.

- Já compramos os ingressos - Mel nos mostrou - não vão querer comprar nada para comer? - Escutei quando Bruna bufou.

- Eu vou sim. E você Bruna?

- Estou bem - Na verdade, Bruna parecia "bem" entediada.

- Está tudo bem mesmo? - insisti.

- Sim - disse virando o rosto, como se fosse demais me encarar. Sério?O que eu fiz agora?

- Como foi sua mudança Bruna? Disse que iria morar com um amigo do seu pai - perguntou Raquel.

- Foi boa, vamos lá depois - Bruna disse com um sorriso.

- Sério? Eu posso. Não vai incomodar? - Do nada Bruna mudou o comportamento, e parecia contente pelo interesse de Raquel em ir à casa do "amigo do pai dela".

- Claro que não, passamos na sua casa, você pegar algumas coisas e depois vamos para lá - Ok, claramente Bruna não pretendia convidar Mel e eu, isso sim é mais uma prova do quanto ela é...iria dizer estranha, mas acho que a melhor descrição seja, ou arrogante, ou no mínimo anti-social, ou talvez ela apenas não gostasse de estar com muita gente.

Mel e eu trocamos um olhar cúmplice e nos levantamos da mesa.

- Vamos comprar algumas coisas meninas - Raquel acenou apenas, e Bruna....ela nem olhou para nós.

- Estou indecisa, sabe? Se gosto ou não da Bruna - revelou Mel enquanto caminhávamos em direção a uma das diversas lanchonetes - tinha esperança que ela não viesse, percebeu que a única pessoa que ela fala com interesse é a Raquel? Acha que ela é lésbica?

Comecei a rir - acho que é só o jeito dela, mas....Não sei, tem algo nela que me deixa desconfiada.

(...)

Bruna Martínez

- Vai ser demais! - disse Raquel animada - sempre dormi apenas na casa da Mia.

- Entendo - disse olhando para ela -  Vou avisar o Nicolas que você vai - Raquel arregalou os olhos.

- Como assim?

- Não te contei? - Falei com se não fosse nada - O amigo do meu pai é o pai de Nicolas.

- Nossa....

- Agora não dá mais para desistir! - disse fingindo enviar a mensagem, percebo que Raquel começou a batucar os dedos na mesa, sinal que estava nervosa - o que foi Raquel? - perguntei cínica.

- Não sei se é uma boa ideia.

- Por que ele é o ex da Mia? - questionei. Mia poderia ser muito ingênua para não perceber, mas eu não, sabia muito bem o motivo para Raquel estar tão nervosa.

Já visitei a casa dela antes, Nicolas estava lá, e ela ficou da mesma forma. Esse era o motivo para levá-la para a casa de Constantino, a nova casa de Nicolas também, pois ele e a mãe não moravam com Constantino até então.

Porém, como a mãe dele, Glória, viajou com Constantino, para ele fazer o tratamento, e Nicolas tendo que assumir a organização....

- Não! Só que - Raquel começou a gaguejar.

- Então, tudo bem. Você vai - tirei a atenção do celular - tudo resolvido.

- O que ele disse?

- Ele ainda não viu a mensagem - Por que eu não tinha enviado nada, mas ela não precisava saber.

Ela sorriu, mas era um sorriso que não chegava aos olhos. Retribui com um sorriso tão falso quanto.

(...)

O filme era uma merda, elas escolheram um filme de romance, na metade do filme saí, disse que não estava me sentindo bem e que queria respirar um pouco, quando voltei já estava passando os créditos.

- Você demorou! - Raquel limpava as lágrimas, enquanto saímos da sala de cinema.

- Não estava me sentindo bem, acho que foi algo que comi - disse na maior naturalidade.

- Não parece que estava  passando mal - disse Mel.

- Já passou um bom tempo desde que saí, e já me sinto melhor - isso não pareceu convencê-la, mas não é como se realmente me importasse sobre o que ela pensa ou não.

Raquel e Mia seguiram mais adiante, e Mel ficou do meu lado.

- Não acredito em você - sussurrou - Vou descobrir o que esconde Bruna - fiquei séria, sabia que ela me olhava tentando ver alguma reação.

- A única coisa que vai descobrir é - parei de andar e a encarei. Ela parou também demonstrando curiosidade - .... é que odeio filmes de Romance - deixei ela parada lá e segui atrás das meninas.

Já sei quem vai ser minha próxima vítima.

Entretanto, por enquanto, vou me concentrar no meu plano atual. Olhei para Raquel que ainda carregava os lencinhos de papel. Revirei os olhos, isso era tão ridículo, ela era muito instável em relação ao que sentia, mudava de humor a cada cinco minutos. Acho que o que planejei seria mais fácil do que pensava.

Quando chegamos ao lado de fora, nos despedimos uma da outra.

- Oi meninas - era Leonardo, ele cumprimentou Raquel e Mia, mas quando me viu congelou - Bruna?

- Oi Leonardo, vamos Raquel - Ele não sabia nem disfarçar.

- Eh...vamos Mia - Leonardo gaguejou. Ele levou ela, Mia nem se deu o trabalho de dar tchau. Acho que ela é eu somos o tipo de amiga falsiane, é do mesmo grupo social, mas só se suporta.

- Eles são tão perfeitos juntos - disse Raquel suspirando. Vamos ver até quando.

- Queijo e goiabada - Disse eu. Francamente me dava pena ter que estragar um casal tão bonito, coloquei a mão cobrindo os lábios, e segurei o riso, quem se importa? Mia é uma filha da puta, literalmente, e Leonardo é um babaca filhinho de papai.

- Acha mesmo Bruna? - perguntou Mel desconfiada.

- Você não?

- Leonardo olhou esquisito para você.

- Vai ver ele olhou para você, eu estava bem do seu lado - alfinetei.

- Não foi isso! - Às vezes a Mel parecia uma criança, quando cisma com algo, ela não desiste até conseguir provar seu ponto de vista, como se esse joguinho fosse o suficiente para me derrubar, mas já estava ficando irritante.

- O quê foi Mel? Por quê fica implicando com a Bruna? - Raquel se intrometeu. Ela era tão manipulável, seria muito bom ver ela sofrer um pouco, e ela era uma ferramenta muito importante nos meus planos.

- Tudo bem Raquel, nem todo mundo se acostuma com o meu jeito - Falei fingindo estar extremamente chateada, Raquel lançou um olhar cortante para Mel.

- Vamos - Disse ela rapidamente, percebi que ela falava comigo e deixou Mel de lado. Raquel segurou meu braço e saímos dali em direção ao estacionamento, onde meu motorista nos aguardava, olhei por cima do ombro e lancei um sorrisinho triunfante para ela. Mel estava de braços cruzados, ela estreitou os olhos para mim como se estivesse dizendo "Eu sei quem você é de verdade." Porém, ela não sabia mesmo. Conforme íamos nos distanciando, ainda podia sentir seu olhar fuzilando minhas costas.

(...)

- Acho que não deveríamos ter deixado Mel para trás, isso foi muita grosseria da minha parte - arrependeu-se Raquel ao se dar conta que a deixamos sozinha.

- Ela sabe se virar - disse enquanto colocava o cinto - podemos ir - quando levantei a cabeça meu olhar se encontrou com o do motorista, através do retrovisor. Era Ruan, meu segurança pessoal, meu pai insistia que tivesse um na minha cola, como Alonzo foi embora, restou Ruan para pegar no meu pé.

Ótimo.

Sabia que ele não era o único segurança. Alonzo era um pé no saco, tinha que mandar tanta gente para me acompanhar?....pensando bem, é a cara dele.  Por enquanto tudo estava indo como o esperado. De certa forma, não me orgulhava nem um pouco do que estou fazendo, mas, era tão difícil esquecer. A única coisa que me fazia levantar da cama todos os dias, era saber que acabaria com eles, destruiria suas vidas, ou as tornaria tão insignificantes possíveis.

Foi tão complicado, por quê ele morreu? Não podia aguentar mais um pouco até eu voltar. No fim, parecia que todos me esqueciam. Olhei pela janela, não havia estrelas no céu, estava escuro, completamente, assim como eu estava, e isso tudo é culpa dele.

Flashback on

Estava no canto do quarto chorando, me perguntando dezenas de vezes como isso aconteceu? Como? Não tinha ideia.

Tinha muito sangue, e as últimas palavras dela feriram meu coração tão profundamente.

"Ele não te queria....não me quis, você tem que fazer isso Bruna, tem que destruí-los, cada um! Eles esqueceram de você, de nós...tá vendo - Oh meu Deus! Havia tanto sangue, tanto sangue, não conseguia reagir, não conseguia tirar a faca das mãos dela, ela cortava os braços com força, gritava de dor e chorava muito, e o sangue....aquele sangue escorria e caia em mim, nas minhas roupas - isso é culpa dele, deles! - Ela repetia, repetia e repetia infinitamente, até aquelas palavras estarem gravadas na minha mente.

Flashback off

Depois disso tudo ficou ainda pior, foram anos difíceis, cheios de lares, famílias que nunca me quiseram, sempre me achavam estranha demais, e me devolveram, até que conheci Alonzo, ele não me deixou até hoje, não sei se isso é bom ou ruim, mas foi tudo o que me restou, Alonzo e o papá. Entretanto, nesse mundo, nada é simples, poderia ser uma história linda. Um homem velho, com um único filho, esse homem adota uma órfã e assim viram uma linda e maravilhosa família.

Devo dizer que isso não acontece, não quando esse homem é um mafioso. Papá me ensinou tudo o que sei, principalmente....a matar, aquilo não era algo que realmente gostasse de fazer, mas era o preço, ele me ajudou, pagou psicólogos, minha educação, tudo, e sempre está por perto quando preciso, sei que ele me adotou apenas por insistência de Alonzo, mas também sei que ele me considera uma filha agora, por pior que ele seja, foi o melhor que encontrei naqueles tempos.

"Veja Bruna, isso é culpa deles"

Fechei os olhos, não iria chorar ali, não com Ruan me olhando pelo espelho retrovisor, e com Raquel ao meu lado, nunca deveria demonstrar fraqueza, foi isso que o papá me ensinou, respirei fundo, e sorri.

- Raquel? - Ela me olhou sorridente - preparada para a melhor noite da sua vida?

(...)

Durante a madrugada tudo estava tranquilo. Fiz uma ligação para saber alguma novidade.

- Más notícias - Alonzo parecia muito preocupado - nosso pai tem algumas desavenças no Brasil, e eles sabem que você está aí.

- Mas já? Droga!

- Você sabe que o melhor seria...

- É cedo para isso.

- Eu não entendo Bruna, isso não atrapalha seus planos, precisamos de aliados, precisamos de uma liderança sólida, nunca vão me levar a sério, vão continuar pensando que sou um moleque fingindo ser um líder. Essa é sua sina! Tem que fazer isso, não só por mim, mas pelo papá, ele está muito velho, eu assumi o posto dele e espero sinceramente que concorde de uma vez e faça o que deve ser feito.

- Não.Vou - Grunhi. Aquilo já estava ficando irritante. Por que Alonzo tem que ser tão...tão insistente?

- O que disse?

- Não. Vou.

- Tínhamos um acordo!

- Vai à merda com o acordo, Alonzo! - estava realmente irritada, não aguentava mais esse assunto.

- Como pode....como pode dizer isso? Eu sou um governante aqui, um capo, como pode virar as costas para mim!

- Você pode arrumar quantas garotas quiser Alonzo! Você pode! Só.Me. Esquece!

- Não! - ouvi o som de objetos sendo quebrados - Você não vai se livrar de mim!

Sentei no sofá da sala, me sentindo trêmula, ele iria começar de novo a falar sobre obrigações, sina, respeito e etc - Sinto muito, mas.... - Disse tentando fazê-lo entender.

- Não! Eu vou buscá-la assim que me livrar de algumas obrigações.

- Eu.Não.Vou - falei decidida - essa é minha última palavra, não mudarei de ideia.

Dessa vez o barulho foi maior. Alonzo estava transtornado.

- É isso que vamos ver! - Disse ele desligando em seguida. Isso não iria dar certo, já estava cansada de enrolar ele, se não dissesse isso agora, estaria em um altar amanhã mesmo, faz um bom tempo que ele me perturba com essa história, sei que ele precisa de um casamento com urgência, ele quer o respeito da máfia mexicana, mas sendo tão jovem é complicado, nunca o levam a sério, ele precisa se casar. E a felizarda escolhida, foi eu! Se bem que, não estou tão feliz assim, Alonzo me escolheu por puro capricho, ele poderia ter escolhido outra entre tantas garotas da máfia.

O pior é que papá o apoia, pois, não somos irmãos biológicos, ele acha que nossa união seria perfeita, já que ele nos criou para liderar. Sem o casamento, papá não pode deixar o cargo de Capo completamente, não enquanto a imagem de Alonzo estiver fraca.

Apesar de dever muito a eles, não quero que minha vida se limite a isso, casar por obrigação seria como me entregar completamente a infelicidade. Ainda tenho esperanças de viver realmente, mesmo que até hoje tudo tenha sido uma merda, não quero continuar assim, sou muito orgulhosa para desistir de mim dessa maneira.

Escutei ruídos no andar de cima, pelo menos meu plano está caminhando muito bem.

(...)

Pela manhã de segunda-feira....

Raquel estava completamente apagada  no andar de cima, enquanto eu estava tomando um delicioso café da manhã. Nicolas apareceu na cozinha, estava péssimo, ele andava bebendo muito nos últimos dias. Ele bateu as mãos violentamente sobre a mesa fazendo-me dar um pulo e um pouco do café da xícara derramar.

- O que você fez!

Sorri e bebi um pouco de café.

- Você que transou com ela, não eu - disse na maior naturalidade, peguei o roteiro de uma peça que estava ensaiando e comecei a foliar. Ele o arrancou de mim e jogou no chão - acompanhei a trajetória que o papel fazia com olhos, e em seguida o encarei.

- Você armou isso Bruna! Ela é irmã do meu melhor amigo e amiga de infância da Mia!

- Sem sentimentalismos, seja mais firme Nicolas, você é líder de uma organização criminosa agora, deve ser frio e calculista!

- Que Merda! - Nicolas passava as mãos no cabelo - Como isso foi acontecer?

Ergui as sobrancelhas.

- Você está sempre bêbado, e pode acreditar que ela quis muito isso.

- eu...me lembro, me sinto culpado.

- Por qual motivo? Bebemos um pouco, mas você e ela estavam lúcidos quando decidiram subir! Me poupe de showzinho agora - me levantei, peguei o roteiro novamente e voltei a me sentar - ele arrastou a cadeira e sentou de frente para mim.

- Está certa, mas não esperava por isso.

Fingi interesse no roteiro.

- O que vamos fazer? - perguntou, revirei os olhos.

- Sei lá, o que quer de mim? - voltei a encará-lo.

- Quero que guarde segredo - comecei a rir.

- Olha aqui Nicolas, acho melhor começar a se preocupar com a próxima corrida, tenho ótimas novidades.

- Tem?

- Leonardo está dentro.

- Você conseguiu?!

- Sim, ele caiu direitinho, acho que ele é completamente viciado nesse esporte perigoso, foi muito fácil.

- E Mia? Será que ela sabe?

- Não sei....talvez, mas ela vai ficar no triste dilema, será que apoio? Será que entrego ele? Aquela menina é toda problemática.

- Não fala assim dela!

- Sempre me disseram que a verdade dói.

- Bruna - ele respirou fundo - Quem é você?

Arregalei os olhos.

- Eu?

- Sim, você parece disposta a me ajudar a voltar com a Mia, por isso aceitei toda essa história de fazer Leonardo voltar para a organização, se arriscar em mais rachas, mas agora não sei, você trouxe a Raquel aqui, e você sabe o que aconteceu. Não entendo seus objetivos, e eles não parecem ser os mesmos que os meus. Não sei se devo confiar em você, no entanto, meu pai garantiu que era o que deveria fazer.

- Nesse mundo não devemos confiar nem na nossa própria sombra.

Essa era a verdade. Sentia-me completamente sozinha, não podia confiar em ninguém, além de Alonzo e o papá, mas agora, depois de recusar me casar, era complicado.

- Temos que ser amigos e inimigos Nicolas, conte comigo para detonar o Leonardo, para separá-lo da Mia, mas não conte comigo para te ajudar a reatar com ela.

Nicolas assentiu.

- Como assim? Por que quer separar a Mia e Leonardo? O que querem dizer com isso? - Disse uma voz diferente.

Nicolas e eu voltamos o olhar para a entrada da cozinha ao mesmo tempo e encaramos Raquel. Aquilo estava ficando interessante.

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