- Bom dia, Júlio.
- Bom dia, doutora. Desculpe o horário Carolina, sei que é muito cedo, mas se não fosse assim não conseguiria manter nosso encontro semanal.
- Não se preocupe com isso, Júlio. Seis e meia da manhã não é tão cedo assim para começar a trabalhar. Rs...
- Eu não tenho outro horário disponível, estou atolado no trabalho. Saindo de um plantão e entrando em outro.
- Eu entendo perfeitamente. Aonde você está nesse exato momento?
- Dentro do carro. Vou para casa descansar e mais tarde volto para trabalhar.
- Você não está dirigindo, né?
- Não. Só quando acabarmos a sessão.
- Muito bem. Em relação a fazermos nossa sessão dessa maneira não tem problema algum. A chamada de vídeo é boa, conseguimos nos olhar e v
- Oi Júlio. Boa tarde, tudo bem? - Oi doutora Carolina. Estou novamente bagunçando o seu horário, né? - Não se preocupe com isso. Consegui remanejar a agenda e te encaixar. - Obrigada. - Eu adorei as flores, Júlio. Elas são lindas e toda paciente que atendo elogia muito. - Fico feliz, doutora, afinal com meus horários instáveis, você sempre consegue me atender, mesmo que seja por chamada de vídeo. É só uma forma de agradecer pela sua atenção. - Júlio... Pode não parecer, mas você me paga muito bem para que receber a minha atenção. - Hahaha! É verdade Carolina... É verdade. ... - Como está sendo a sua semana, Júlio? - No trabalho, tumultuada. - E com Tamires? - A mesma coisa de sempre. - Eu estava revisando em vários aspectos nossos últimos encontros e gostaria de continuar a falar sobre a sua ex-namorada Luísa. Acho que ela pode ser um grande ponto para desencadear algumas questõe
Ao longo do tempo, comecei a perceber uma transição quando ingressamos na faculdade.Não sei extamante em que momento tudo mudou.Se foi quando pegamos o resultado das provas ou quando as aulas tinham começado, mas acredito que tenha sido logo nos primeiros meses.Eu estava muito ansioso com o resultado do vestibular.Precisava passar para uma universidade pública ou então, não sabia o que faria da minha vida.Sofria muita pressão em casa, afinal já tinha sido reprovado na escola duas vezes e não passar para faculdade seria a gota dágua, principalmente para meu pai que não parecia muito satisfeito a investir em mais quatro anos de faculdade particular.Então não me restou escolha. Era passar ou passar e até hoje quando olho para trás, não sei como consegui ser aprovado, mesmo sem ter estudado, dedicando todo o tempo dispon&i
O fato de Luísa ter sido minha primeira namorada, provocou mudanças não somente em mim, mas em tudo relacionado a minha vida.Se por acaso teve algo real naquele relacionamento, além do amor que sentia por ela, foi o que de ruim ela trouxe para mim.Estava destruído e fechado para qualquer relacionamento.Passei algum tempo sem confiar ou acreditar em alguém.As pessoas conversavam comigo e eu duvidava de todas as histórias que ouvia e quando as histórias vinham de mulheres com quem ficava, era ainda pior.Eu desconfiava até a última palavra e mesmo preferindo namorar do que ficar casualmente com alguém, ainda sim evitava relações profundas.O medo de me envolver novamente e ser atraído para um buraco negro de mentiras e falsidades, me mantinha distante de qualquer pessoa.Dizem que a paixão nos cega e é prov&aac
Quando Gilberto chegou em casa, Rosana, meu pai e eu estávamos sentados na cozinha, enquanto tentava esclarecer detalhes do que acontecia. Sagazmente, Rosana me fazia perceber os pequenos detalhes nas histórias que Luísa contava e dos quais acreditava cegamente. Alguns tão bobos que me faziam rir de desespero, outros nem tanto a ponto de me fazerem literalmente cair em um buraco obscuro e fundo da loucura que se escancarava a minha frente. Gilberto colocou as crianças para o quarto e ficou conosco, para tentar entender também a dimensão dos problemas causados por Luísa e quanto mais falava sobre sua inocência, mais me arrependia ao imaginar a destruição que causaria por mentiras. Era inacreditável! Inviáve! Eu estava pasmo como todo mundo, com o labirinto que Luísa tinha montado para nos fazer de ratinhos de laboratório, pois era assim que me sentia. Toda a situação era surreal. Perdi as contas de quantas vezes, pedi perdão a Ros
Ao voltar para a realidade o meu mundo estava mais vazio e mais silencioso. Fiquei dois dias dentro do quatro, sem querer falar com ninguém. Sem querer ver ninguém. Desliguei o celular e fiquei recluso no escuro, na minha cama pensando e chorando. Eu não comia, não saía e automaticamente não interagia com meus próprios familiares. Pensava e repensava nos mínimos detalhes todas as histórias que Luísa havia inventado e juntando as peças, vi o quão ingênuo fui em suas mãos. Muitas vezes chorei de soluçar no chão do banheiro para que ninguém me ouvisse. Outras vezes, socava o travesseiro para abafar a minha raiva e então chorava semelhante a uma criança contrariada. Sentia saudades, mas na maior parte do tempo também sentia raiva. Muita raiva, convicto de não querer falar ou vê-la em hipótese alguma. ... Quando finalmente resolvi sair do quarto, dei o ar da graça na cozinha procurando o que comer e depar
OITO ANOS DEPOIS - Bom dia Carolina! - Bom dia, Júlio como você está? - Estou ótimo! Me sinto ótimo, apesar do cansaço do trabalho. - Isso é excelente. Você disse que tinha algo muito importante para me dizer. - Sim, sim... Desculpe mais uma vez ter que fazer essa sessão dentro do carro e por vídeo em pleno sábado as sete da manhã. - Não se preocupe, tenho paciente às nove. Mas diga o que houve? - Olha isso.... .... - Uau, Júlio! É um solitário? - Sim! É sim! - O que exatamente isso quer dizer, Júlio? - Que vou pedir a Vanessa em casamento. - Isso é ótimo !! - Sim! Estou muito empolgado e me sinto realmente pronto para dar esse passo. - Olha carolina... Quero muito
UMA SEMANA DEPOIS - Entre Júlio, por favor... - Obrigada por me receber. - Sem problemas. Quer uma água, um café? - Não. Estou bem. - Júlio fiquei muito preocupada com você a semana inteira. Como você está se sentindo? - Carolina, ainda não acredito que isso tudo aconteceu... - Me conte como foi que tudo aconteceu. - Foi no último dia que nos falamos. Eu estava saindo do trabalho e ia até a casa de Bricie deixar uma encomenda para ele... - Sim... - Quando desliguei o telefone, liguei o carro e fui para o meu destino. Eu estava tão cansado, Carolina... - Continue, por favor... - Eu estava me sentindo bem, mas um pouco cansado. Liguei o rádio para que pudesse ficar atento, mas eu estava com muitas dores de cabeça, então desliguei. Eu não sei, Carolina..
Escrever essa carta para despedir-me de você, foi a melhor maneira que encontrei. Sentado na beira do mar, onde um dia estivemos juntos contemplando o oceano e fazendo planos para o futuro me deixa mais a vontade para lhe falar que a sua morte não será em vão. Vendo por diversos ângulo o que aconteceu há uma semana, quando infelizmente adormeci no volante e te atropelei, não consigo medir em palavras o meu remorso. Passamos por tantas coisas juntos, que cada vez mais acredito que Deus tem planos para todos nós. Rever-te em condições lastimáveis causadas por minha irreponsabilidade, me mostra o quanto somos falhos e que sim... Nossa vida pode mudar da noite para o dia. Você me ensinou tanto, durante muitos anos que prever seu retorno à minha vida era praticamente impossível. Acreditei que tivesse tirado todas as lições do nosso relacionamento. Acreditei que tivesse sofrido o suficiente para essa vida.